quinta-feira, agosto 23, 2007

Separar águas

No meu post anterior já fui suficientemente claro quanto ao que penso sobre a inqualificável acção de um bando de vândalos cobardes em Silves.

Posto isto convém olhar um pouco mais de perto para a questão de fundos dos OGMs, o que me obriga a um post imenso com longas citações no fim, que só lerá quem quer.

O movimento anti-ogm reitera que há centenas de estudos que provam a nocividade dos OGMs para a saúde das pessoas.

Isto é pura e simplesmente mentira. Não há um único estudo que prove que os produtos aprovados para consumo humano provocam qualquer problema de saúde. Com cerca de 100 milhões de hectares de culturas transgénicas no mundo (mais de dez Portugais inteiros) e cultivados há mais de dez anos não há um único estudo credível, com peer review, que tenha identificado problemas sérios para a saúde resultantes de qualquer especificidade da tecnologia.

Quer isto dizer que não há nem haverá problema nenhum com os OGMs? De maneira nenhuma.

O problema com a saúde pode surgir em qualquer momento a partir de qualquer produto OGM, tal como vai acontecendo com os medicamentos, alimentos, brinquedos, pesticidas e etc., que vão sendo aprovados. E tal como acontece com muitos produtos naturais.

O que os OGMs podem trazer é uma maior variedade de oportunidades e uma maior velocidade de expansão aos potenciais benefícios e prejuízos de cada um dos seus produtos.

Qual é a questão nova específica da tecnologia quando sai dos laboratórios para o meio aberto?

É que se torna virtualmente incontrolável a sua expansão por polinização cruzada. Isto é, ao contrário de um medicamento que pode ser imediatamente retirado do mercado uma vez identificados os riscos que desaconselham o seu uso, não é possível retirar completamente o efeito da introdução de um novo produto na cadeia de reprodução de uma espécie, uma vez que esteja inscrito no seu código genético.

Os efeitos podem ser minimizados e o controlo pode ser melhorado, mas os custos sociais de procurar remediar a introdução e expansão de uma qualquer característica geneticamente impressa numa espécie podem ser brutais.

Talvez o paralelismo mais evidente seja com a introdução de espécies exóticas em novos meios, que tem efeitos admiráveis nalguns casos (o caso do milho, feijão e batata neste nosso cantinho, por exemplo) e tem efeitos de devastadores noutros casos, como é o caso da epizootias do coelho (e do próprio coelho na Austrália), virtualmente impossíveis de extirpar.

Do mesmo modo os efeitos na biodiversidade da introdução de novas variedades de espécies com características novas pode implicar uma substituição das variedades existentes por outras mais adaptadas e agressivas (quer sejam OGM, quer sejam híbridos), com perdas significativas para o nosso património biológico.

Ou seja, estamos a falar de uma das questões mais difícieis de enquadrar na gestão social das decisões: a decisão sobre riscos colectivos, neste caso dificilmente reversíveis.

E é aqui que o movimento OGM tem razão em dois pontos: os cidadãos tem todo o direito a ser informado; os programas de monitorização e produção de informação independente têm de ser substancialmente reforçados.

Se é compreensível a radicalidade de quem tem a noção da dimensão dos riscos e da sua irreversibilidade associados ao uso desta tecnologia em campo aberto, já nada justifica quer a permanente e despudorada manipulação da informação e a deriva violenta que claramente caracteriza o movimento anti-ogm.

Na produção da informação o movimento OGM tem posto toda a tónica nos riscos para a saúde e na toxicidade dos produtos OGM por razões de mera oportunidade política e social: a saúde individual mobiliza mais facilmente os cidadãos que riscos gerais de contaminação genética. E nesta sua procura de apoio social e financeiro não hesita em empolar riscos, manipular e mentir com o maior dos descaramentos. Faz até uma coisa interessantíssima que é assumir, em sentido inverso, o que considera o maior embuste da investigação sobre os efeitos dos OGMs: avalia os riscos para a saúde da proteína em causa e depois atribui os efeitos negativos, potenciais ou reais, à tecnologia.

Um dos mais curiosos aspectos da vulgata anti-ogm é o de que a produção científica produzida está inteiramente submetida aos interesses das multinacionais de biotecnologia. Tirando meia dúzia de cientistas e instituições que não são pagas pela indústria (são financiadas por donativos que dependem directamente do medo que cada um de nós sentir da tecnologia) tudo o resto não é fiável.

Isto é, o movimento anti-ogm entende que o sistema de produção de informação que assenta na elaboração de estudos feitos pelas empresas interessadas a partir de protocolos padronizados e revistos cientificamente, auditados posteriormente pelas administrações públicas de um conjunto de estados democráticos é menos fiável que a produção de informação feita por empenhados activistas e sem revisão independente.

Ora este tipo de argumentação só convence quem está convencido à partida, construindo cenários conspirativos permanentes para justificar toda a informação que não confirme a posição de partida. E conduz directamente à lógica de que os fins justificam os meios, a base seminal da violência sectária.

É pois preciso separar as águas.

Liberto das suas fragilidades e irracionalidades básicas, o movimento anti-ogm faz sentido enquanto movimento de cidadãos com direito a informação e participação na discussão do risco associado à disseminação por via genética de novos produtos mas também na discussão dos eventuais benefícios resultantes da nova tecnologia.

Numa atitude pré-iluminista quase todos os activistas anti-ogm já o eram antes da produção de qualquer informação científica sobre o assunto. Mas vale a pena lembrar nem sempre as intuições pré-iluministas estão erradas.

E neste caso é preciso ouvir o essencial sobre OGMs antes de tomar decisões precipitadas e irracionais. O que não inclui ouvir os vândalos de Silves, nem as companhias de biotecnologia, mas reforçar os mecanismos de informação e auscultação democrática de todos os cidadãos.

henrique pereira dos santos

Cito da Plataforma Transgénicos Fora:
Às três, será de vez?
Diz-se que há uma primeira vez para tudo. No caso dos organismos geneticamente modificados (OGM) a inocência terminou a 16 de Outubro de 1999 com a publicação, na prestigiada revista científica Lancet, do artigo de Ewen e Pusztai intitulado «Effect of diets containing genetically modified potatoes expressing Galanthus nivalis lectin on rat small intestine». Nele se relata a forma brilhante como se detectaram efeitos - inesperados e negativos - que as batatas transgénicas acarretaram aos animais que as comeram... mas não por causa da proteína transgénica presente no tubérculo. Ou seja, o processo de transgénese (independentemente da proteína a introduzir) pode acarretar alterações metabólicas específicas na planta, com consequências visíveis para a saúde, para além do que a proteína transgénica também possa induzir.
Este trabalho deveria ter levado, de imediato, a uma reavalição de todos os OGM em circulação. Isto porque, com base num dogma que só a fé pode explicar, os estudos de segurança alimentar assumem a seguinte equação como inquestionável: OGM = planta original + proteína transgénica. Por isso os ensaios de toxicidade de OGM são feitos, não com o OGM, não com a proteína extraída do OGM, mas sim com a proteína isolada de um microrganismo onde foi clonada. Mas, como Ewen e Pusztai mostraram, tal equação não podia estar mais longe da verdade. O todo é maior que a soma das partes e o produto a estudar tem de ser visto como alterado para além da mera adição proteica.
Mas não houve qualquer reavaliação - nem sequer um sobressalto por parte das autoridades competentes. Falta de tempo? de atenção? de cientistas para explicar?
Também se diz que à segunda só cai quem quer. Para os OGM a segunda veio pela mão de Manuela Malatesta. Esta cientista e a sua equipa da Universidade de Urbino publicaram em 2002 na revista Cell Structure and Function o artigo «Ultrastructural Morphometrical and Immunocytochemical Analyses of Hepatocyte Nuclei from Mice Fed on Genetically Modified Soybean» onde se demonstrava que o OGM mais cultivado do mundo - a soja transgénica 40-30-2 da Monsanto, que ocupa 58,6 milhões de hectares (57% da área global dedicada a transgénicos) - tinha um impacto profundo (embora reversível) no núcleo de hepatócitos. As mudanças incluiam alteração da forma do núcleo e dos nucléolos, maior número de poros na membrana nuclear e concentrações alteradas de numerosas proteínas, num quadro sugestivo de aceleração metabólica.
O dogma da Monsanto, de que os transgénicos são tal qual os alimentos convencionais de que derivam, pelo menos do ponto de vista nutricional, cai assim por terra. Além disso o fígado é um dos principais orgãos de depuração do organismo, e qualquer alteração metabólica representa motivo de preocupação a vários níveis. Mas os Estados-Membros da União Europeia, que no âmbito do artigo 20º da Directiva 2001/18 são obrigados a ter em conta novas informações relativas a riscos para a saúde humana por forma a que sejam tomadas medidas comunitárias adequadas, que podem chegar à proibição do OGM...
... não foram por aí. Ninguém foi. Falta de quê, desta vez? de vontade? de força?
Às três, como todos sabem, é de regra ser de vez. E ei-la que chegou agora mesmo: o artigo acabou de ser publicado online na revista Archives of Environmental Contamination and Toxicology e tem por título «New Analysis of a Rat Feeding Study with a Genetically Modified Maize Reveals Signs of Hepatorenal Toxicity». Os estragos, neste caso, referem-se ao milho MON 863, aprovado para consumo na União Europeia desde Janeiro de 2006. E os dados foram obtidos... pela própria Monsanto. Neste artigo é feito o tratamento estatístico dos números que a empresa se viu obrigada, após tribunal, a disponibilizar.
Os resultados? Toxicidade hepatorrenal, com aumento de até 40% dos triglicerídeos do sangue em ratos fêmea e uma redução de até 35% do fósforo e sódio na urina de ratos macho. Também se detectaram alterações no peso dos animais: os machos aumentaram um pouco menos de peso que os animais de controle, e as fêmeas aumentaram um pouco mais. Estes valores são estatisticamente significativos e estão directamente relacionados com o consumo do milho transgénico. O estudo durou apenas 90 dias e não existem dados sobre efeitos de longo prazo.
A questão agora é: vai acontecer alguma coisa ou a ciência afinal não serve para nada? Os Estados-Membros tencionarão cumprir finalmente o seu papel? Ainda é cedo para dizer, e a esperança só morre no fim. Mas a minha perspectiva muito pessoal é de que a saúde das pessoas não é a primeira prioridade, para o nosso e restantes governos. Talvez precisem de um empurrão.
Porto, 19 de Março de 2007
Margarida SilvaBiólogaVice-presidente da QuercusCoordenadora da Plataforma Transgénicos Fora

Cito da WiKipedia três comentários sobre controvérsias nesta matéria:

Safety disputes
[edit] Toxic GM-potatoes
In August 1998 widespread concern, especially in Europe, was sparked by remarks by nutrition researcher, Dr Árpád Pusztai, regarding some of his research into the safety of GM foods.
Pusztai claimed his experiments showed that rats fed on potatoes genetically engineered to express a lectin from snowdrop had suffered serious damage to their immune systems and shown stunted growth. The lectin expressed by the genetically modified potatoes is toxic to insects and nematodes and is allegedly toxic to mammals. He was criticized by leading British politicians, the majority of scientific peers with expertise in the area and by the GM companies because the announcement of his results in a television interview, preceded the scientific publication of his results. When his studies were finally published in The Lancet,[4] no evidence of stunted growth or damage to immune system was substantiated. The Lancet paper's actual summary was:
Diets containing genetically modified (GM) potatoes expressing the lectin Galanthus nivalis agglutinin (GNA) had variable effects on different parts of the rat gastrointestinal tract. Some effects, such as the proliferation of the gastric mucosa, were mainly due to the expression of the GNA transgene. However, other parts of the construct or the genetic transformation (or both) could also have contributed to the overall biological effects of the GNA-GM potatoes, particularly on the small intestine and caecum.
The paper was accompanied by an editorial explanation for allowing the paper's publication (Genetically modified foods: "absurd" concern or welcome dialogue?[5]), and an independent critique which had a contrary evaluation of the data: Adequacy of methods for testing the safety of genetically modified foods.[6] This was followed by a lively follow up debate in several later issues of the journal.
Nonetheless, controversy about Pusztai's assertions still lingers, caused by strongly held but opposing views on his conclusions and data. On the one hand, there are claims of misrepresentation of Pusztai's results by Rowett Research Institute, but on the other hand, there are concerns by scientists about overstatement of the quality of his findings by non-governmental organizations, and emphasis on matters well removed from the actual laboratory observations which are rarely discussed in public debate, against the context well over one hundred other studies published by 2006 that support the safety of GM foods and feeds,[7] and commentaries such as that of Nina Fedoroff[8][9] .
Research protocols were sent by Pusztai to 24 independent scientists in different countries (including experts in physiology, medicine, toxic pathology, nutrition, microbiology and biochemistry).[10] These disagree with the conclusions of the review committee and argued that his research was of good quality and justified his conclusions. Among 'casualties' in these events was Dr Andrew Chesson, vice chairman of European Commission scientific committee on animal nutrition and former top scientist at the Rowett Institute who was fired for publicly defending Pusztai's research.
Various reports concerning the politicisation of the peer review process and alleged deliberate misrepresentation of Pusztai's results were voiced by newspapers and some scientists.[11]
[edit] Dangerous corn
Another controversy recently arose around biotech company Monsanto's data on a 90-Day Rat Feeding Study on the MON863 strain of GM corn [12]. In May 2005, critics of GM foods pointed to differences in kidney size and blood composition found in this study, suggesting that the observed differences raises questions about the regulatory concept of substantial equivalence[13]
The raising of this issue prompted the European Food Safety Authority (EFSA) to reexamine the safety data on this strain of corn. The EFSA concluded that the observed small numerical decrease in rat kidney weights were not biologically meaningful, and the weights were well within the normal range of kidney weights for control animals. There were no corresponding microscopic findings in the relevant organ systems, and all blood chemistry and organ weight values fell within the "normal range of historical control values" for rats [14]. In addition the EFSA review found that the statistical methods used by Séralini et al in the analysis of the data were incorrect [15]. The European Committee has approved the ΜΟΝ863 corn for animal and human consumption[16].
Séralini et al have now completed a similar analysis of the NK603 strain of corn and have come to similar conclusions as they did in their previously discredited study[17].
[edit] Allergenicity
A gene for an allergenic trait has been transferred unintentionally from the Brazil nut into genetically engineered soybeans while intending to improve soybean nutritional quality for animal feed use. Brazil nuts were already known to produce food allergies in certain people prior to this study. In 1993 Pioneer Hi-Bred International developed a soybean variety with an added gene from the Brazil nut. This trait increased the levels in the GM soybean of the natural essential amino acid methionine, a protein building block commonly added to poultry feed to improve effective protein quality. Investigation of the GM soybeans revealed that they produced immunological reactions with people suffering from Brazil nut allergy, and the explanation for this is that the methionine rich protein chosen by Pioneer Hi-Bred is the major source of Brazil nut allergy.[18] Pioneer Hi-Bred discontinued further development of the GM soybean and disposed of all material related to the modified soybeans.
While this study indicates the possible risks of GM foods, and indeed any new food source, some point out it establishes the commitment the developmental community has toward consumer safety as well as the competence of current safeguards. Food allergy problems occur with many conventional foods, and Kiwi fruit, for instance, as a relatively new food in many communities, has become widely eaten despite provoking allergies in certain individuals.
Another allergy issue was published in November 2005, when a pest resistant field pea developed by the Australian CSIRO for use as a pasture crop was shown to cause an allergic reaction in mice.
Respected plant scientist Maarten J Chrispeels has made interesting comments about this example that illustrate how foods offer many different types of risks:
The recent Prescott et al paper in JFAC contains a very interesting study on the immunogenicity of amylase [starch digestion enzyme] inhibitor in its native form (isolated from beans) and expressed as a transgene in peas. First of all, amylase inhibitor is a food protein, but also a "toxic" protein because it inhibits our digestive amylases. This is one of the reasons you have to cook your beans! (The other toxic bean protein is phytohemagglutinin and it is much more toxic). This particular amylase inhibitor is found in the common bean (other species have other amylase inhibitors). Even though it is a food protein, it is unlikely ever to be used for genetic engineering of human foods because it inhibits our amylases. What the results show is that the protein, when synthesized in pea cotyledons has a different immunogenicity than when it is isolated from bean cotyledons (the native form). This is somewhat surprising but may be related to the presence of slightly different carbohydrate chains.[19]
The immunologist who tested the pea noted that the episode illustrated the need for each new GM food to be very carefully evaluated for potential health effects.[20]

17 comentários:

Zé Bonito disse...

Os acontecimentos de Silves, podem ser vistos em dois níveis: a acção em si mesma (destruição da cultura daquela propriedade) e a previsão quanto a acções futuras em que uma acção individual, privada, ameaça a colectividade ou é sentida como tal. No primeiro caso, parece evidente que a acção foi mal pensada, sem continuidade, quase parecendo haver uma questão pessoal com aquele produtor em concreto. Quanto ao segundo, aí sim parece justificar-se alguma reflexão. Não são apenas os OGM que podem constituir uma ameaça, já que é fácil prever situações extremas a partir da privatização das águas (mero exemplo). Perante cenários destes, como conciliar "propriedade privada" com interesse colectivo? É este debate que me parece valer a pena e a que toda a gente está a fugir. Porque em matéria de "fundamentalismos", não basta que um deles tenha, conjunturalmente (a posição dos estados sobre os OGM já mudou várias vezes), a lei pelo seu lado.

Ricardo S. Coelho disse...

"não há um único estudo credível, com peer review, que tenha identificado problemas sérios para a saúde resultantes de qualquer especificidade da tecnologia."

"a inocência terminou a 16 de Outubro de 1999 com a publicação, na prestigiada revista científica Lancet, do artigo de Ewen e Pusztai intitulado «Effect of diets containing genetically modified potatoes expressing Galanthus nivalis lectin on rat small intestine»."

Ou seja: na sua opinião, a Lancet, a mais prestigiada revista científica na área da medicina a nível mundial, não é credível nem tem "peer review".

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Kandimba,
A lancet é prestigiada e tem peer review, mas o artigo não prova que existem riscos para a saúde, limita-se a levantar umas hipóteses que oito anos depois ninguém conseguiu provar.

Leia bem o que escreve a wikipedia sobre o assunto (e que já está transcrito no texto principal, mas aparentemente sem sucesso):

Toxic GM-potatoes
In August 1998 widespread concern, especially in Europe, was sparked by remarks by nutrition researcher, Dr Árpád Pusztai, regarding some of his research into the safety of GM foods.
Pusztai claimed his experiments showed that rats fed on potatoes genetically engineered to express a lectin from snowdrop had suffered serious damage to their immune systems and shown stunted growth. The lectin expressed by the genetically modified potatoes is toxic to insects and nematodes and is allegedly toxic to mammals. He was criticized by leading British politicians, the majority of scientific peers with expertise in the area and by the GM companies because the announcement of his results in a television interview, preceded the scientific publication of his results. When his studies were finally published in The Lancet,[4] no evidence of stunted growth or damage to immune system was substantiated. The Lancet paper's actual summary was:
Diets containing genetically modified (GM) potatoes expressing the lectin Galanthus nivalis agglutinin (GNA) had variable effects on different parts of the rat gastrointestinal tract. Some effects, such as the proliferation of the gastric mucosa, were mainly due to the expression of the GNA transgene. However, other parts of the construct or the genetic transformation (or both) could also have contributed to the overall biological effects of the GNA-GM potatoes, particularly on the small intestine and caecum.
The paper was accompanied by an editorial explanation for allowing the paper's publication (Genetically modified foods: "absurd" concern or welcome dialogue?[5]), and an independent critique which had a contrary evaluation of the data: Adequacy of methods for testing the safety of genetically modified foods.[6]

joserui disse...

"O movimento anti-ogm reitera que há centenas de estudos que provam a nocividade dos OGMs para a saúde das pessoas."

Não entendo esta afirmação. O que é o movimento anti-OGM? Refere-se a organizações específicas como a Plataforma Transgénicos Fora ou às, dezenas, centenas, de entidades ambientalistas em geral -- onde ainda não encontrei nada de favorável relativamente aos transgénicos?

"Com cerca de 100 milhões de hectares de culturas transgénicas no mundo (mais de dez Portugais inteiros) e cultivados há mais de dez anos"
Exige rigor e começa logo com esta frase de uma falta de rigor atroz. "Mais de 10 anos", são 11. O resto pura e simplesmente não é verdade. Hoje podem ser 100 milhões de hectares, em 1996 eram 1,7 milhões. Um bocadinho diferente daquilo que afirma.

O paralelismo com a introdução de espécies exóticas é aquilo que se chama um verdadeiro clássico (a par da "manipulação genética" realizada pelos agricultores desde há muitas gerações). Em 1500, tinham uma desculpa que não me custa respeitar: A ignorância. Qual é a desculpa para hoje?

Portanto a ver se entendo. "Não há um único estudo que prove que os produtos aprovados para consumo humano provocam qualquer problema de saúde", mas existem (muitos?) estudos que provam o contrário? Ou primeiro introduz-se os produtos no mercado e quem quiser que tente provar que são prejudiciais? Recentemente, deu-se o caso dos ratos e do milho BT, em que a Monsanto só libertou os dados depois de passar pelo tribunal e mesmo assim correspondentes a apenas 90 dias, ou também nega isso?

É avisado, achar que estes estudos apresentados pelos próprios interessados, são conclusivos? A Soil Association, Union of Concerned Cientists e tantas outras organizações vivem só de "razões de mera oportunidade política e social"? E os outros, vivem de quê? Suponho que seja de razões de mera oportunidade comercial -- e falamos de empresas cujo registo ético é verdadeiramente admirável (e ainda fala de ética no post segunte!).

Além de ser mentira. Estrategicamente é óbvio que a saúde humana vem sempre em primeiro (já não o choca nos estudo pró-transgénicos), mas têm sido abundantemente lavrados alertas sobre os riscos ambientais -- da resistência às toxinas BT, ao roundup, da polinização cruzada à perda de biodiversidade (que lhe é tão cara -- pelo menos noutro contexto).

Digo-lhe, estou a tentar arduamente que o meu "bias" não me afecte o julgamento, mas desculpe que lhe diga, de ambientalistas como o senhor anda o Mundo carregadinho. E ainda leio que participou nas discussões da Comissão Europeia sobre a tomada de decisão sobre estes assuntos? Se isto é uma amostra do tipo de argumentos que por lá passou, só alguém radicalmente distraído se pode admirar que os transgénicos já andem descontrolados e a caminho de fazer parte das nossas vidas em termos definitivos.

Eu gostava de saber é se lá nessas longas discussões de quase dois anos, alguém explicou, nem que seja em esboço, para que servem os transgénicos, quais os benefícios e quem precisa deles. Isso sim seria interessante.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro José Rui,

No post que fiz estão bastantes referências, incluindo a discussão sobre a questão dos ratos e do milho.

Essas referências incluem caminhos quer para o trabalho de Séralini, quer para a crítica posterior desse trabalho.

O que lhe peço é que leia os documentos, não fique pela vulgata que sobre eles aí circula.

Nem o Séralini diz o que dizem que ele diz, nem ele demonstra afectação nenhuma (ele levanta dúvidas, a sua tese é a de que os resultados não permitem a conclusão de segurança que todos os outros tiram do estudo, mas em lado nenhum diz que há evidência de afectação).

Claro que para aprovar uma substância qualquer para alimentação não basta não haver estudo que demonstre afectação, o princípio, e bem, é o inverso.

Ora os estudos foram feitos, apresentados neste caso pela Monsanto, e foram auditados por várias entidades externas.

A afirmação mil vezes repetida de que a EFSA nem analisa os estudos apresentados e por isso não detecta os seus erros e omissões é pura e simplesmente falsa. Leia o documento da EFSA que resulta da polémica levantada por Séralini e verá que há trabalho e trabalho profundo de revisão dos estudos.

Quanto ao resto, eu não disse em lado nenhum que estive a discutir OGMs durante dois anos, eu nunca discuti este assunto a não ser em fóruns como este e decididamente não sou especialista na matéria.

Penso que se refere a uma citação que fiz de um artigo do António Vitorino no Diário de Notícias e que respondia apenas à alegação de que os produtos OGMs são aprovados sem decisões democráticas.

Tem razão na questão dos 100 milhões de ha, pensei nela quando escrevi, mas achei que não era fundamental e dar-me-ia muito trabalho ir saber da evolução da área cultivada com OGMS, como disse sou leigo na matéria. Tem razão no facto de dizer que a forma como eu ponho essa questão específica empola o meu argumento.

Por isso corrijo, em dez anos passou-se de um pouco mais de um milhão de hectares cultivados para 100 milhões, e ainda assim não existe reportado (em fontes com credibilidade científica, não estou a falar de histórias da carochinha) nenhum problema minimamente consistente em relação a intoxicações.

Isso não prova que os OGMs não têm problemas ambientais, que as alergias não podem aumentar ou que no longo prazo não se venham a verificar problemas.

Apenas prova que as alegações de toxicidade e os prejuízos para a saúde das variedades aprovadas para consumo humano são, até ao momento, infundadas.

henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Julgo que o problema está, como o Henrique afirma mas que acaba, a meu ver, por não lhe dar a devida importância, no facto da ausência de provas cientificas não significar a inexistência de risco.

No entanto, pode se argumentar que o risco zero não existe, mas considero que as incertezas no tema dos OGM's superam em larga escala as certezas que se têm sobre o assunto.

Ou seja, tivemos tempo para que se pudessem estudar os diversos impactes associados quando decidimos introduzir determinada espécie nos ecossistemas, quando a decidimos comercializar ou introduzir na cadeia alimentar? Eu acho que não.

E não havendo certezas, faz sentido entrar no mercado, com produtos resultantes de uma tecnologia que ainda não se domina? É esta situação comparável com os medicamentos ou outro sector regulamentado? Continuo a achar que não.

A meu ver continuamos a repetir os mesmos erros do passado, que dado o avanço cientifico, nos responsabiliza ainda mais pois o impacte das nossas actividades parece ser cada vez maior.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Simão,

A sua alegação de que não faz sentido introduzir tecnologias sobre cujos resultados não há certezas é de facto inexpugnável na medida em que não é possível sair da situação de falta de conhecimento sem o uso da tecnologia.

A questão está em se considerar como base o risco zero.

Se se considera este ponto de vista como base, com certeza não há discussão possível e não é aceitável qualquer a produção em campo aberto de qualquer OGM (mas repare que grande parte da argumentação se rende com a saúde e a segurança alimentar, cujos processos têm, com erros aqui e acoli, demonstrado serem razoavelmente adequados nos medicamentos, nos pesticidas, nos brinquedos, etc. para a protecção das pessoas).

Se se considera que devem ser avaliados riscos e benefícios em cada caso (é o meu ponto de vista), então a discussão concreta de cada produto é fundamental.

Repare, na hipótese do gene introduzido numa planta não se fixar no pólen, os problemas da polinização cruzada deixam de se pôr e estamos portanto perante um grau de risco incomparavelmente menor que noutras circunstâncias.

Ou seja, a discussão do risco e dos benefícios é central, porque recusar os benefícios dos OGM tem custos para alguns (e ao contrário da vulgata anit-ogm, podem não ser só as grandes multinacionais, pode ser qualquer senhor José Menezes ou populações inteiras).

E por isso o meu post posterior.

Repito, nada disto faz sentido para quem defender o risco zero porque aí não há discussão possível.

Defender democraticamente o risco zero é legítimo e razoável, defendê-lo com violência sobre pessoas indefesas é próprio de quem não tem respeito pelos outros, não de quem age em legítima defesa.

henrique pereira dos santos

joserui disse...

Caro Henrique Pereira dos Santos, o que ainda ninguém me respondeu foi à simples questão -- para que servem os transgénicos e quem precisa deles.

A sua resposta ao meu texto que alguém colocou na lista é um cliché terrível. Falando por mim, o pessimista, é nos cinzentos que eu vivo e gostaria de continuar a viver, não vê porque não lhe interessa. Parece é que os tecnocratas não querem deixar.

PS: Já agora um pouco sobre a Catarina Eufémia no Kontratempos.

Anónimo disse...

Há que ressalvar que a destruição foi quase demonstrativa já que não foi a plantação toda destruida mas um hectare.

Há que ressalvar que os "vandãlos" se ofereceram para replantar o hectare com outro milho não-trangénico.

Se toda a acção fosse passada e se o Gualter não tivesse metido as mãos pelos pés se calhar a mensagem passada tinha sido outra.

E com isto não quero dizer que aprovo ou não mas que esta acção tirou da modorra e da escuridão em que a plantação de OGMs se passa em Portugal lá isso tirou.

Estamos numa nova Ditadura de uma espécie muito conveniente aos políticos e aos grandes interesses - a Ditadura do Correcto e da Democracia (mesmo que seja uma com "d" pequeno em que o cidadão cada vez tem menos poder de intervir).

Por vezes, as acções violentas são justificáveis.

Seriam seguramente estas pessoas que hoje chamam "vandâlos" aos activistas mais radicais que chamariam "hunos" aos que fizeram a Revolução de Abril caso o resultado fosse outro.

É lamentável certa verborreia e certo pôr-se em biquinhos dos pés de certas pessoas.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Mário Silva,
Confundir uma revolta armada contra uma ditadura, levada a cabo pessoas que realmente arriscaram a sua vida e o seu futuro com uma acção contra uma prática legal num regime democrático praticada por uma pessoa desarmada, tirando partido de um número desproporcionado de participantes é completamente ridículo.

henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Tenho pena que tenha sido censurado mas o blog é realmente vosso e fazem o que quiserem dele.

Deixo aqui uma última nota já transposta para o meu próprio blog.

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uma acção contra uma prática legal num regime democrático - hps

Legal? Legal e validado por quem?

Fazem-se referendos sobre o aborto e sobre a regionalização e sobre uma questão desta importância para a saúde e para a preservação da biodiversidade basta que meia dúzia de burocratas e de lobbyes "aprovem" em Bruxelas e que sejam depois transpostas de forma bastante discutível para Portugal e já acha que está bem?

E porque não é "legalmente" disponibilizada a lista das propriedades para que se possa verificar se tudo está nos conformes?

E porque o proprietário não quiz processar os "vândalos invasores"? Será que tudo estaria nos conformes da "Lei"?

Democracia tivemos após o 25 de Abril, em que as pessoas se interessavam e participavam (e nem sou de Esquerda, só para referir). Agora esta democracia das minorias, corrupta e corruptora...

Concordo que o que foi feito foi mal feito, pela forma e não pelo conteúdo, mas daí a chamar-lhes "vandâlos" e epítetos ainda piores vai um grande passo.

Quando cá tivermos as Leis "democraticas" anti-terrorismo que já grassam por essa EU fora é que quero vêr os arautos dos regimes democráticos a sair à rua em sua defesa.

Devo dizer que à bem pouco tempo subscrevi a lista da AMBIO e pelo que lá passa já cancelei.

Já dizer que este blog é este blog e não a lista é um bocadinho falacioso da vossa parte, ou então mudem o texto lá em cima que diz que os "artigos poderão advir de mensagens publicadas na lista ambio ou incluir artigos não divulgados na lista" para algo mais honesto e independente. É que lendo a lista e lendo estes últimos artigos que por cá têm escrito nem lhes noto nenhuma diferença.

Até mais.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Mário da Silva,

O que o Sr. José Menezes fez é legal e validado pelas órgãos do Estado sujeitos ao escrutínio dos cidadãos.

Não é verdade que não tenha existido debate sobre a regulamentação OGM, bem pelo contrário, a União Europeia adoptou inclusivamente uma moratória para dar mais tempo ao debate e para avaliação de todas as objecções que foram levantadas, incluindo o tal estudo de seralini e a sua verificação por várias entidades.

Tal como o resto da legislação, esta foi produzida pelos órgãos normais da Democracia representativa. Na sua opinião esta é uma porcaria de democracia. Muito bem, tem todo o direito de o dizer e de me procurar convencer disso, não tem é o direito de começar a atacar violentamente todas as pessoas e bens que entende que deviam ser sujeitos a legislação diferente da que existe.

É só esta a minha questão.

henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Caro Henrique e demais companheiros de opinião semelhante,


1. Eu não disse que acho bem o que fizeram e como o fizeram. Foi, claramente, mal planeado.

2. Para mim esta democracia não o é. É um simulacro e cada vez mais é cerceado o Direito dos cidadãos de se expressarem ou sequer o Direito a serem informados do que se anda a passar, como bem o demonstram as últimas alterações ao Direito Penal.
3. Não sei bem se estas acções não se incorporarão no Direito à Resistência ainda consagrado na nossa constituição.

4. Não é por uma Lei ser legalmente produzida que é de todo justa ou feita com o espírito Democrático em mente. Cada vez temos mais exemplos disso. E quantas em existência não são inclusivé inconstitucionais?

5. Não o quero convencer de nada. Você é irredutível nas suas convicções.

6. Quem até começou com ataques inaceitáveis e violentos não fui eu mas sim vocês, ou sito abaixo é o seu conceito de mimo e carinho verbal?

"No meu post anterior já fui suficientemente claro quanto ao que penso sobre a inqualificável acção de um bando de vândalos cobardes em Silves."

É o ínicio deste mesmo artigo e nos outros anteriores e subsequentes deste blog sobre o tema os epítetos são todos da mesma jaez, vindos de si ou dos outros co-autores do mesmo.

7. Se eu lhe tivesse respondido à letra (nem lá estive por isso) acho que nem seria publicado. Aliás, um dos meus comentários nem sequer apareceu.

8. Assiste-me, no mínimo, o Direito de o tratar a si da mesma forma "carinhosa" com que o amigo trata os outros sem sequer ter tido o cuidado de averiguar o que realmente se passou -- e que como se sabe hoje foi bem diverso do que as televisões e demais interesses quiseram que passasse. E eu não o fiz pelo que até fui mais cordato do que você e do que os seus colegas.

9. Lamento que o meu estilo não seja mais "redondinho" ou mais "politicamente correcto" mas cada um é como é e nasce como nasce.

Se achar que vale a pena responder, responda, mas eu acho que já está tudo dito.

Eu acho que a Lei não se sobrepõe aos Direitos, Liberdades e Garantias que a Constituição da República Portuguesa nos dá.

Você e os seus correlegionários (mesmo os de histórico ambiental e de luta pela Liberdade "brilhante") acham que a Lei, se "democráticamente" produzida com "amplas" consultas públicas e "imensos" debates, é que é o alicerce a preservar e a cumprir, sem reservas nem condições.

Como nenhum de nós mudará de opinião...

Até mais.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Mário da Silva,

Está meio enganado. Eu acho que o repeito pela lei é um referencial de convívio social bem melhor que a ausência de respeito pela lei, sobretudo em regimes democráticos.

A lei é a defesa dos fracos.

Mas a Democracia não impede a existência de leis iníquas e injustas que podem e devem ser combatidas, legalmente se possível, ilegalmente se necessário, com violência se não houver alternativa.

O combate ilegal a uma lei é perfeitamente justificável quando se adopta uma posição de desobediência civil. O que pressupõe o seu não cumprimento (ou a criação de um obstáculo ao seu cumprimento) de cara descoberta e a disponibilidade para assumir as consequências e sanções desse acto.

Ora o que este vândalos fizeram não tem nada a ver com isto. O que eles fizeram não foi não cumprir uma lei, foi atacar um cidadão indefeso tirando vantagem da desproporção de pessoas presentes, de cara tapada e procurando fugir às suas responsabilidades.

Isto é de facto arruaça arbitrária, vandalismo e cobardia.

Quanto a si, apenas contestei a sua ideia de que estas leis não são democráticas e referi que o facto do Mário achar que "esta democracia não o é. É um simulacro e cada vez mais é cerceado o Direito dos cidadãos de se expressarem ou sequer o Direito a serem informados do que se anda a passar" não lhe dá o direito a incendiar o carro do seu vizinho, de cara tapada e negando que o tenha feito para chamar a atenção para o problema do aquecimento global.

Fazê-lo seria de facto arruaça arbitrária, vandalismo e cobardia.

henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Com o título "Separar águas" o Henrique apresenta
no blog da ambio um post (ver
http://ambio.blogspot.com/2007/08/separar-guas.html)
de cerca de seis páginas recheado de adjectivos e
processos de intenções que me vou abaster de
comentar porque me quero centrar no essencial.

E esse fulcro, tanto quanto o entendo, é saber o
que é que a ciência já provou ao certo em termos
de impacto dos OGM na saúde e no ambiente. Num
artigo que escrevi (Às três, será de vez?), e que
o Henrique transcreve integralmente no post,
refiro-me a três artigos científicos que - no meu
entender, naturalmente - demonstram claramente
esse tal impacto.

O Henrique, por outro lado, tenta mostrar,
citando textos da Wikipedia, que esse não é o
caso e que tais provas não existem. Vou pois
tentar rebater com algum detalhe o que tais
textos dizem sobre os três artigos por mim
mencionados e demonstrar que as provas se mantêm.
Não esquecer que estes três não são os únicos
artigos científicos que incriminam os OGM. Mas se
se mostrar que existem três provas já é
suficiente para efeitos de mostrar a existência
vs. ausência. (Isto de discutir argumentos e
contra-argumentos é mesmo só para quem gosta...
podem parar de ler por aqui se se sentirem
impacientes!)

SOBRE O PRIMEIRO ARTIGO CIENTÍFICO

Isto é o que eu escrevo no meu texto:

"No caso dos organismos geneticamente modificados
(OGM) a inocência terminou a 16 de Outubro de
1999 com a publicação, na prestigiada revista
científica Lancet, do artigo de Ewen e Pusztai
intitulado «Effect of diets containing
genetically modified potatoes expressing
Galanthus nivalis lectin on rat small intestine».
Nele se relata a forma brilhante como se
detectaram efeitos - inesperados e negativos -
que as batatas transgénicas acarretaram aos
animais que as comeram... mas não por causa da
proteína transgénica presente no tubérculo. Ou
seja, o processo de transgénese
(independentemente da proteína a
introduzir) pode acarretar alterações metabólicas
específicas na planta, com consequências visíveis
para a saúde, para além do que a proteína
transgénica também possa induzir. "

E isto é a parte da Wikipedia que pretende mostrar que o artigo não prova nada:

"Pusztai claimed his experiments showed that rats
fed on potatoes genetically engineered to express
a lectin from snowdrop had suffered serious
damage to their immune systems and shown stunted
growth. The lectin expressed by the genetically
modified potatoes is toxic to insects and
nematodes and is allegedly toxic to mammals. He
was criticized by leading British politicians,
the majority of scientific peers with expertise
in the area and by the GM companies because the
announcement of his results in a television
interview, preceded the scientific publication of
his results. When his studies were finally
published in The Lancet,[4] no evidence of
stunted growth or damage to immune system was
substantiated." O texto continua, referindo-se a
opiniões de mais ou menos especialistas dos dois
lados da barricada, mas sem dizer mais nada de
concreto quanto à substância do artigo em causa.

E agora o meu comentário:

O texto da Wikipedia supostamente, segundo o
Henrique, desacredita o artigo do Lancet. Mas o
que lemos é uma crítica ao que o artigo não diz
(sistema imunitário, crescimento) e não ao que o
artigo diz. E não há nada na Wikipedia que ponha
em causa o aspecto mais importante: o artigo
mostra que um transgénico não é igual à sua linha
isogénica convencional mais o gene/ proteína
transgénica. Os resultados que o artigo encontrou
nos animais de teste que consumiram batatas
transgénicas (espessamento da parede do jejuno
devido a proliferação celular e, no ceco, um
decréscimo do espessamento normal da respectiva
mucosa), sintomas esses ausentes dos animais que
comeram batatas normais adicionadas da proteína
transgénica, provam que é a própria alteração
genética que pode acarretar problemas, seja qual
for a proteína inserida. Ou seja, o problema que
eles encontraram - muito fácil de antecipar em
termos teóricos, para quem se queira dedicar ao
estudo - põe potencialmente em causa todos os
transgénicos desta geração que temos no mercado.

Devo acrescentar que o trabalho relatado neste
artigo não foi repetido por mais ninguém, donde o
processo científico ainda não terminou. É preciso
repetir, validar, responder a um monte de outras
perguntas. Mas enquanto não for publicado nenhum
artigo científico (opiniões de cientistas não
contam, please) a mostrar que este artigo tem um
trabalho mal feito, vale como prova.

SOBRE O SEGUNDO ARTIGO CIENTÍFICO

Isto é o que eu escrevo no meu texto:

"Para os OGM a segunda veio pela mão de Manuela
Malatesta. Esta cientista e a sua equipa da
Universidade de Urbino publicaram em 2002 na
revista Cell Structure and Function o artigo
«Ultrastructural Morphometrical and
Immunocytochemical Analyses of Hepatocyte Nuclei
from Mice Fed on Genetically Modified Soybean»
onde se demonstrava que o OGM mais cultivado do
mundo - a soja transgénica 40-30-2 da Monsanto,
que ocupa 58,6 milhões de hectares (57% da área
global dedicada a transgénicos) - tinha um
impacto profundo (embora reversível) no núcleo de
hepatócitos. As mudanças incluiam alteração da
forma do núcleo e dos nucléolos, maior número de
poros na membrana nuclear e concentrações
alteradas de numerosas proteínas, num quadro
sugestivo de aceleração metabólica."

E isto é a parte da Wikipedia que pretende mostrar que o artigo não prova nada:

"[nada]"

E agora o meu comentário:

O trabalho deste artigo também não foi repetido
por ninguém (que eu saiba) e não sofreu qualquer
desacreditação em termos dos seus resultados e
conclusões. Vale como prova científica, portanto.

SOBRE O TERCEIRO ARTIGO CIENTÍFICO

Isto é o que eu escrevo no meu texto:

"Às três, como todos sabem, é de regra ser de
vez. E ei-la que chegou agora mesmo: o artigo
acabou de ser publicado online na revista
Archives of Environmental Contamination and
Toxicology e tem por título «New Analysis of a
Rat Feeding Study with a Genetically Modified
Maize Reveals Signs of Hepatorenal Toxicity». Os
estragos, neste caso, referem-se ao milho MON
863, aprovado para consumo na União Europeia
desde Janeiro de 2006. E os dados foram
obtidos... pela própria Monsanto. Neste artigo é
feito o tratamento estatístico dos números que a
empresa se viu obrigada, após tribunal, a
disponibilizar. Os resultados? Toxicidade
hepatorrenal, com aumento de até 40% dos
triglicerídeos do sangue em ratos fêmea e uma
redução de até 35% do fósforo e sódio na urina de
ratos macho. Também se detectaram alterações no
peso dos animais: os machos aumentaram um pouco
menos de peso que os animais de controle, e as
fêmeas aumentaram um pouco mais. Estes valores
são estatisticamente significativos e estão
directamente relacionados com o consumo do milho
transgénico. O estudo durou apenas 90 dias e não
existem dados sobre efeitos de longo prazo."

E isto é a parte da Wikipedia que pretende mostrar que o artigo não prova nada:

"Another controversy recently arose around
biotech company Monsanto's data on a 90-Day Rat
Feeding Study on the MON863 strain of GM corn
[12]. In May 2005, critics of GM foods pointed to
differences in kidney size and blood composition
found in this study, suggesting that the observed
differences raises questions about the regulatory
concept of substantial equivalence[13]. The
raising of this issue prompted the European Food
Safety Authority (EFSA) to reexamine the safety
data on this strain of corn. The EFSA concluded
that the observed small numerical decrease in rat
kidney weights were not biologically meaningful,
and the weights were well within the normal range
of kidney weights for control animals. There were
no corresponding microscopic findings in the
relevant organ systems, and all blood chemistry
and organ weight values fell within the "normal
range of historical control values" for rats
[14]. In addition the EFSA review found that the
statistical methods used by Séralini et al in the
analysis of the data were incorrect [15]. The
European Committee has approved the MON863 corn
for animal and human consumption[16]."

E agora o meu comentário:

O que a crítica da Wikipedia devia deixar claro
logo de início é que esses "críticos dos OGM" são
cientistas e que o trabalho que fizeram foi
publicado numa excelente revista científica após
ter sido sujeito a revisão pelos pares. Tem pois
um valor acima da mera opinião pessoal, uma
validação que mais nenhum trabalho - nem os
comunicados de imprensa da EFSA - podem alegar.

Mas vejamos o que diz a EFSA. O primeiro busílis
está na sua afirmação de que "[as diferenças]
were not biologically meaningful." Repare-se que
a Directiva 2001/18 obriga a testes em animais
por forma a ver se há diferenças. Não há testes
em humanos, como nos medicamentos, por isso
assume-se que, se não houver diferenças entre os
animais de teste e de controlo, o OGM em
princípio é seguro, e se houver diferenças, o OGM
pode ser inseguro e não deve ser aprovado.
Normalmente os estudos que as empresas entregam à
EFSA não apontam diferenças e a EFSA pode
descansadamente aprovar sem estados de alma. Mas,
no raro caso (como foi este) de as diferenças
aparecerem, a EFSA tem optado por um passe de
mágica: reconhece as diferenças (que remédio!
neste caso eram 40 as diferenças significativas
em parâmetros fisiológicos!) mas inventa uma
figura de estilo (a relevância biológica) para
concluir que está tudo bem na mesma.

Em lado algum é definido o que é isso da
relevância biológica. A Directiva não prevê esse
conceito e a EFSA nunca explicou onde o foi
buscar. Não sabemos quando é que as diferenças
entre os animais passam da irrelevância para a
relevância e a EFSA não obriga a que se faça mais
nenhum estudo. Para quê, então, os estudos em
animais previstos na Directiva? Isto, se não
fosse tão grave, chamar-se-ia desonestidade
intelectual.

Mas o problema não termina aqui. A EFSA comete um
atropelo científico grave ao comparar alhos com
bugalhos. Qualquer um entende, mesmo sem treino
em ciência, que a comparação entre duas quaiquer
situações deve ser controlada de modo a que a
diferença entre elas seja atribuível a uma única
variável. Para comparar OGM com não-OGM eles
devem ser cultivados ao mesmo tempo, no mesmo
local, sujeitos aos mesmos factores químicos e
ambientais, colhidos ao mesmo tempo, etc, etc.
Mas a EFSA pega nos dados dos animais que comeram
transgénicos em determinadas circunstâncias muito
concretas e começa a compará-los com "historical
values" relativos a circunstâncias muito
diversas, o que já permite retirar quaisquer
conclusões que nos agradem. Isto não é ciência -
é a erosão fatal da integridade científica, como
já alguém disse.

A EFSA comete um outro pecado mortal: não cumpre
a lei. Está previsto e é obrigatório que sejam
realizados estudos para analisar os efeitos de
longo prazo que o consumo de OGM possa ter. Mas a
EFSA faz vista grossa e nem este milho MON 863
nem nenhum outro OGM foi sujeito a tal avaliação.
Isto, por si só, não prova dano, claro. Mas prova
a postura da EFSA, com toda a clareza, e permite
interpretar melhor tudo o que têm feito nesta
arena.

A EFSA também diz algumas enormidades. Por
exemplo, afirma que os efeitos observados não
devem ser importantes porque não são
proporcionais à dose ministrada (quando nós
sabemos da toxicologia química que a relação
dose-resposta em muitos casos é não linear) e
porque variam de acordo com o sexo (quando nós
sabemos que há químicos como os desreguladores
endócrinos que têm efeitos diametralmente
diversos consoante o sexo).

Onde é que para a EFSA está a "incorrecção da
análise estatística"? O argumento específico é
que há demasiada variabilidade individual nos
pesos dos animais, o que pode pôr em causa
algumas conclusões. Mas isto é um problema de
design da experiência - uma falha da Monsanto,
portanto - e face a isto a EFSA só tinha uma
coisa a fazer: mandar repetir a experiência, com
esta falha corrigida. Mas isso não aconteceu.

A EFSA diz uma coisa muito certa, mas disso a
Wikipedia não faz eco: é pouco provável que as 40
diferenças observadas no grupo de teste sejam
todas devidas ao acaso. Mas o raciocínio fica por
aí e a conclusão óbvia não sai do tinteiro.

Eu poderia desmontar a EFSA mais um bocado, mas
não vale a pena. Acho que a argumentação ficou
clara. A opinião da EFSA não tem o valor de um
artigo científico e além disso não passa sequer o
crivo da lógica básica.


RESUMINDO

Há provas científicas contra os OGM. São poucas,
e subsistem muitas dúvidas. Mas que as há, há.

Saudações,
Margarida Silva

Anónimo disse...

Não se canse, Margarida, que daqui não leva nada e só está a queimar as pestanas e a desgastar o teclado.

Para o Henrique estamos todos errados. Já me faz lembrar um outro para o qual não existem alterações climáticas nem nada. Miragens, são tudo miragens e alucinações de gente que não quer o progresso. Ou então vândalos e neo-liberais, conforme o interlocutor a falar.

Até mais.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Cara Margarida,

Responder-lhe-ei mais detalhadamente na lista de discussão por entender que teria de produzir aqui um comentário demasiado extenso.

Por aqui deixo algumas notas.

Nenhum dos três artigos demonstra qualquer risco para a saúde, o que os artigos concluem é que há alterações decorrentes dos OGMs e portanto levantam dúvidas de potenciais riscos para a saúde. Há uma diferença abissal entre dizer que há dúvidas sobre a inocuidade dos OGMs para a saúde e dizer que a ciência já demonstrou os malefícios para a saúde.

Nestes dez anos de OGMs são citados três artigos, dois dos quais tão controversos que a Wikipedia tem entradas sobre o assunto. Sobre aquele que não tem entrada se não me engano o próprio artigo diz que não pode concluir que existem efeitos negativos (embora mais uma vez fale em alterações que levantam dúvidas). Apesar da controversia as conclusões dos artigos não forma replicadas pelo sistema de investigação, o que é compreensível no caso do artigo de 2007 (que apesar disso já tem duas outras análises estatísticas mais robustas que contestam as suas conclusões) mas é pelo menos invulgar num artigo como o das batatas.

Terceiro ponto, a wikipedia vale o que vale, mas não é uma fonte parcial, não toma partido. E essa fonte independente tem uma grande virtude: tem muitas referências bibliográficas directamente acessiveis para que cada um de nós faça o juízo que entender.

Há dúvidas? Há sim senhor. Há alguma demonstração clara de efeitos negativos para a saúde? Não, não há. Quantos artigos levantam dúvidas? Meia dúzia. Quantos artigos dizem o contrário? Centenas. Quer isto dizer que por serem mais têm mais razão? Não, claro, mas o que evidentemente não é possível é reividincar-se a defesa de uma posição com base na informação objectivamente falsa de que a ciência já demonstrou os efeitos negativos dos OGM na saúde (questão diferente é a contaminação).

henrique pereira dos santos