segunda-feira, setembro 17, 2007

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Pelo que diz o Público ontem numa manifestação contra a política europeia em matéria de OGMs, convocada pelo Greenpeace e a Plataforma Transgénicos Fora, estavam quarenta pessoas.

A manifestação era convocada coincidindo com a reunião dos ministros de agricultura no quadro da presidência portuguesa da União Europeia, ou seja, era uma manifestação com data bem escolhida, aproveitando a mediatização deste tipo de reuniões e estava um dia medíocre para a praia. No site do GAIA anuncia-se como uma Grande Acção, não violenta, com música teatro e dança.

Quando se reclama a representação de mais de dois terços dos cidadãos para justificar moralmente acções como as de Silves, quarenta pessoas (ou oitenta, não tenho meio de saber, mas o que conta é a ordem de grandeza) é pouco.

Pode optar-se pela explicação clássica: em Portugal as pessoas não são civicamente maduras. Mas no mesmo dia em Lisboa, numa acção sobre o DARFUR, embora estejamos também a falar de poucas dezenas de pessoas, havia bastante mais gente a manifestar-se contra uma situação indigna mas que não as atinge directamente.

Pode ainda admitir-se que a oposição aos OGMs ficou com má fama depois de Silves, mas não me parece justificação suficiente.

É tempo de pensar por que razão não se conseguem grandes mobilizações (ou médias, ou mesmo pequenas mas não tanto) por uma Europa livre de OGMs.

Talvez seja tempo de redefinir o objectivo: informação e direito de escolha parecem-me, nesta matéria, opções bastante mais abrangentes que a radical opção dos mais conhecidos activistas deste assunto.

henrique pereira dos santos

11 comentários:

Anónimo disse...

Você tem a certeza que trabalha no Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade?

É que às vezes fico seriamente na dúvida.

Quanto à mobilização é simples: numa teve o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda na mobilização e na outra não teve nenhum partido por detrás a mexer as "camionetas".

Fica ao seu critério perceber qual foi.

aeloy disse...

Pois eu penso que é fácil perceber porque razão os transgénicos vão fazendo o seu caminho.

Descobri hoje no blog do deputado Carloto Marques, com quem tive alguns precalços e divergências e que no caso saudo, umas novas perolas.
E ainda dizem que são não violentos, tss, tss.
Ver:
http://blogs.parlamento.pt/acidadeeasserras/

Anónimo disse...

Gostava de chamar a atenção para o facto de toda a gente falar dos interesses económicos das multinacionais na comercialização de OGM, sem que no entanto, praticamente ninguém fale dos interesses económicos das empresas que comercializam produtos biológicos a preços proibitivos, acessíveis só a uma reduzidíssima franja da população. Evidentemente que a estes últimos, não interessa a produção de produtos francamente mais baratos que lhes podem estragar o negócio. Assim sendo, inventam depois uma enorme bateria de argumentos, a maioria deles perfeitamente falaciosos e ao melhor estilo do Bloco de Esquerda, contra os OGM.

Já neste espaço alertei para o facto de não existirem verdades absolutas e, nesse sentido, sob um determinado ponto de vista, as variedades GM são francamente mais amigas do ambiente do que as variedades convencionais, nomeadamente ao nível da conservação da biodiversidade existente, quer seja no solo, quer seja acima dele, pela enorme redução no uso de produtos fitofarmacêuticos que permitem.

Assim sendo, não me espanta que na manifestação tenham estado só 40 pessoas que, se forem todas iguais a algumas que conheço, nem sequer conseguem explicar muito bem o que é um OGM…

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro anónimo,

Gostaria de ver fundamentada a objecção de fundo de que alguma coisa pode correr mal e haver uma contaminação dificilmente controlável, isto é, gostaria de perceber de onde vem a certeza da impossibilidade de haver analogia com a introdução de exóticas e de que o risco para a conservação da biodiversidade é zero.

Também gostaria de o ver assinar os comentários, mas essa já é uma opção sua.

henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

A polinização do milho é efectuada sobretudo pelo vento. Embora as abelhas recolham pólen das flores masculinas desta espécie, é francamente improvável que este seja utilizado em polinização cruzada, já que as flores femininas, que se encontram separadas das masculinas, não produzem néctar, não sendo portanto atraentes para as abelhas. No entanto, para precaver qualquer eventualidade remota de polinização cruzada entre milho GM e milho não GM, existem regras muito específicas e tecnicamente até algo exagerado segundo a minha opinião, que impõem, para além de uma série de obrigações aos agricultores que semeiem milho GM, uma distância mínima de 200 metros, entre variedades GM e não GM. No entanto, admito que alguma eventual contaminação seja possível, mas a níveis perfeitamente insignificantes.

No que toca à biodiversidade a questão é simples: o milho, GM ou não GM, não se cruza com outras espécies vegetais, pelo menos que eu saiba.

Questões idênticas foram levantadas há muitos anos, quando se introduziram os milhos híbridos: aí, dizia-se que estes iriam acabar com as variedades regionais, o que acabou por não acontecer, ainda por cima sem qualquer tipo de regras ao nível da coexistência.

Espero ter respondido às questões.

Quanto ao anónimo, por agora prefiro assim… Até breve.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro anónimo,

As suas observações fundamentam o baixo risco (se estão certas ou não, não sei), mas não fundamentam uma hipótese de com o milho (ou outra espécie) uma dia alguma coisa correr mal e se espalhar um problema cuja detecção só seja possível tarde demais.

Esta discussão sobre o risco que as pessoas estão dispostas a correr não é uma questão técnica, é claramente uma opção política a ser decidida pelos cidadãos.

henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Sinceramente, não quero ver este tipo de opções políticas sem fundamentação técnica... É por essas e por outras que todas as pessoas falam de OGM, sem saberem muito bem do que andam a falar.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro anónimo,
Confundiu o facto de eu falar em decisões políticas com falta de fundamentação técnica. De qualquer maneira mantem-se a minha questão: está convencido de que existe risco zero? Se está, estou esclarecido. Se não está, de que riscos estamos a falar e qual a sua magnitude.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Risco zero não existe; aproximadamente zero existe e assim sendo, estamos a falar de ocorrências sem qualquer expressão significativa.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Anónimo,
A partir do momento que se assume que o risco zero não existe e que estamos a falar de processos de auto-reprodução não completamente controlada, é legítimo que a decisão política de assumir os riscos seja tomada em plena consciência da magnitude e natureza dos riscos e da magnitude e natureza dos benefícios potenciais.

E é aí que a discussão merece alguma atenção.

Registo, por exemplo, a sua afirmação de que o milho não se cruza com outras espécies (sempre com a sensata ressalva, "pelo menos que eu saiba"). Mas cruzam-se as várias variedades de milho. É certo que em Portugal não existe milho selvagem e quase ninguém usa variedades tradicionais. Mas admitamos que eu quero usar essas variedades e que tal tem um valor de mercado.

Os 200 metros de separação (ou menos, em algumas circunstâncias) de separação do campo do meu visinho que usa OGMs são suficientes para garantir que não existe perda de valor de mercado na minha produção? Que estudos existem que monitorizem o que tem estado a acontecer nos vários milhões de hectares em redor dos também milhões de hectares que existem com culturas transgénicas? Por que razão a Alemanha suspendeu a autorização do milho transgénico na Alemanha com o argumento de que os programas de monitorização não existiam?

Responder claramente a estas perguntas, e sobretudo criar sólida informação de acompanhamento do que se está a passar na envolvente destes campos seria muito útil para ajudar a perceber efectivamente de que riscos de contaminação estamos a falar.

henrique pereira dos santos

Nuno disse...

Agricultura Biológica: trabalha com a natureza, polinização é a "original", benefícios para fauna, sabor incomparável, preços inflacionados

Agricultura com OGM: exaustiva do solo, trabalha "apesar" da natureza (senão mesmo contra ela), facilita o trabalho de produtores (única razão da sua existência), sabor nicles, riscos desconhecidos (infertilidade provada em animais de laboratório) INÚTIL