quinta-feira, junho 26, 2008

Uma encruzilhada?

Os dois posts anteriores, de José Carlos Marques e Aline Delgado são muito interessantes quando lidos sucessivamente.
Devo dizer que discordo substancialmente dos dois posts: nem tenho a visão desencantada do José Carlos Marques da história do movimento ambientalista nem estou de acordo com a Aline na defesa da excessiva intervenção do Estado nas organizações da sociedade civil.
Mas estou parcialmente de acordo com os dois, por exemplo na ideia de que a mistificação mina o movimento ambientalista, sendo necessário recuperar liberdade de movimentos ou de que o Estdo para reconhecer o estatuto de utilidade pública a qualquer organização deveria exigir uma contabilidade organizada de acordo com regras de rastreabilidade.
Se mais três ou quatro pessoas escreverem sobre o movimento ambientalista é bem possível que outras perspectivas surjam.
Há muito tempo que a estratégia mediática substitui, nas mais influentes ONGAs, o foco nos sócios pelo foco nos agentes de mediatização e se por uma lado tem sido a mais poderosa alavanca de crescimento das ONGAs em Portugal por outro conduziu à actual encruzilhada.
O tempo da imagem pública de um movimento ambientalista moralmente inquestionável morreu.
E, se assim for, não bastam declarações de intenções, não bastam as boas relações mediáticas é preciso adoptar as melhores práticas de gestão em matéria de transparência para garantir o suporte efectivo dos sócios.
Antes que as dúvidas se tornem um ácido corrosivo que mine as organizações internamente.
henrique pereira dos santos

4 comentários:

Anónimo disse...

Numa encruzilhada também me parece estar o Henrique Pereira dos Santos. Quando Quercus e quejandos atacavam o "seu" ICN o Henrique, que nunca vira cara a uma boa discussão, punha empenhos a esmerilar a navalha. Agora, com negócios e biodiversidade a untar a barbela dos mal-dizentes, a lâmina começou a enferrugar...

Como apenas cães tolos mordem na mão de quem lhe dá de come, sendo pouco tolos os businessogreen, afigura-se-me que o Henrique vai passar por um jejum prolongado:-).

Jaime Pinto

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Jaime Pinto,
Se estou numa encruzilhada, se sou um vendido, se critico em função dos meus interesses é irrelevante discutir aqui porque ou estou dentro da lei e ninguém tem nada com as minhas opções pessoais ou estou fora da lei e é um caso de polícia.
Já critiquei a QUERCUS de muita maneira e feitio, sendo a crítica mais frequente o facto da quercus ter trocado os seus sócios pelos jornalistas como destinatérios principais das suas acções.
Mas em matéria de uso indevido de dinheiros sou muito cauteloso nas acusações, sempre.
Neste caso em concreto não tenho informação suficiente das partes envolvidas para ter opinião, excepto a que decorre da constatação da falta de transparência.
Foi por isso que escrevi o post.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

O Henrique parece que não quer que as suas opiniões pessoais sejam comentadas ("ninguém tem nada a ver com as minhas opções pessoais"). Contudo isso contraria a ideia que tenho de si. Provavelmente não é isso que quer dizer, eu é que estou a entender mal o seu escrito.

Da mesma forma o Henrique entendeu mal o meu comentário, ou eu expliquei-me mal. Aqui vai o que penso, claro como água do luso, um resumo muito pessoal de encruzilhadas, argoladas e ADAS:

O PS, no tempo de Gueterres, apanhou o susto da sua existência com a queixa que as 3 maiores ONGA fizeram a Bruxelas a propósito da Ponte Vasco da Gama. Numa reunião dramática do executivo com representantes das ONGA, que entrou pela madrugada, estas foram postas entre a espada e a parede: ou desistiam da queixa ou Portugal arriscaria a não entrada na zona euro. A ponte, com ou sem ajudas da UE era para se fazer. Sem ajudas o défice orçamental seria superior ao máximo permitido.
As ONGA desistiram da queixa.
Até aqui sei eu, pois a coisa é mais ou menos pública.
Suponho que o Governo PS passou a ter muito respeitinho pelas ONGA, após psicoterapia intensiva para se refazer do sobressalto. Quanto ao resto...pergunto eu (perguntar não ofende...): Não se discutiram contrapartidas para essa desistência? Coisas como sedes novas (ou reconstruídas), herdades para adquirir, verbas para gerir herdades já adquiridas, projectos aprovados para as principais ONGA? Não terá o PS ficado com um tal calhau no sapato que, novamente no Poder, pensou e repensou soluções para moderar, no futuro, o ímpeto das queixas das ONGA? Um minuto verde de reflexão bastaria para o governo PS relembrar o sudedido...

Continuando...pessoas claramente identificadas com partidos políticos assumirem cargos de direcção nas ONGA é péssimo. Pior quando se é presidente. Muito mau quando passam das ONGA para cargos partidários. Mil vezes pior quando o partido está no governo. O "NÃO GOVERNAMENTAL" das ONGA deveria ser mais levado à letra. Será que não me é permitido manifestar desconforto por esta situação, como sócio ou ex-sócio de várias ONGA? da mesma forma que os dirigentes/agentes duplos (triplos) governo/oposição/ONGA não abdicam dos seus direitos constitucionais que lhes permite veleidades destas, eu não possuo igualmente um qualquer direito que me permita comentar a questão?
De permeio: evidentemente que concordo com as suas criticas quanto à luta titânica desencadeada pelos principais dirigentes das ONGA em aparecer nos noticiários em detrimento de outras causas e empenhos.

Continuando...O que aconteceu na Quercus com a Aline não é caso único. Pressagio que o mau ambiente que actualmente se vive vai ficar péssimo: Dinheiro fácil a entrar, enorme desemprego entre os jovens licenciados (principal massa crítica das ONGA), lutas fratricidas pela participação nos projectos, ONGA de referência a tentar anular ONGA pequenas...( já me tocou na pele e...doeu muito!).

Quanto à sua encruzilhada: O Henrique argumenta de forma exemplar, tem consciência disso e não vira a cara a uma discussão. (Eu suponho que) também tira um, digamos... intimo prazer supremo, algo quase orgástico :-) das discussões mais inflamadas. Das discussões mais quentes que tenho lido, reportam-se algumas à sua defesa do ICN, contra ataques das ONGA. As ONGA vão passar a ser mais cautelosas nos seus ataques ao ICN. Ou os tais almoços, que o Henrique refere como sendo sempre pagos, serão neste caso grátis? A sua encruzilhada será pois a ausência das tais discussões acaloradas com dirigentes das ONGA, com o consequente défice de prazer a elas associadas. Ficou isto assim tão dissimulado no meu primeiro comentário?

A polícia aqui não tem nada a bulir. Trata-se, apenas e somente, de questões éticas e morais.

O dinheiro é peçonhento? É!
Nota: não me estou a referir a si. Explicação provavelmente óbvia e desnecessária, contudo receio mais mal-entendidos.

Jaime Pinto

Zé Bonito disse...

Os comentários do Jaime Pinto revelam a verdadeira encruzilhada do movimento ambientalista. Essas "pequenas dependências" que se foram (vão) criando, mostram a necessidade da discussão ambiental passar para a sociedade, para grupos organizados em torno de problemas específicos. Depois, pelo caminho que as coisas pelos vistos levam, é menos arriscado dialogar com os "ambientalistas" identificados com esta ou aquela corrente partidária. desses, sabemos o que esperar (para além do debate ambiental ser sempre político, logo, identificado com opções representadas por partidos).