Não está em causa a qualidade magnífica do grupo escultórico que José Rodrigues executou em memória do recontro de Valdevez, fundador do país, e tomara eu que mais de 90% das intervenções que a recente riqueza pública destes centros urbanos permite tivesse ao menos metade da qualidade desta intervenção exemplar, do ponto de vista do desenho urbano.
A questão não está aí mas sim no corte profundo que se operou nestes centros, que deixaram de ser os centros organizadores de territórios produtivos, reconhecendo portanto a dependência da sua riqueza da riqueza destes territórios, para passarem a olhar para si como os centros económicos que suportam o território.
Na realidade a pobreza da agricultura (aqui se juntando a floresta e a pastorícia) envolvente, a sua associação com o atraso económico e social são dados como adquiridos e portanto estes centros olham-se agora como o motor do emprego que fixa as pessoas e, consequentemente, como a escapatória para a sua progressiva perda de influência.
Ao longo dos últimos quarenta anos esta ilusão tem sido suportada numa efémera riqueza relativa destes centros urbanos que, paradoxalmente, se alimenta parcialmente da ruína dos campos envolventes.
Para além de alguma industrialização aqui e ali, com altos e baixos que dependem essencialmente de processos económicos não controlados localmente, o que tem suportado a riqueza destes centros é a contrução civil decorrente da melhoria geral das condições de vida e do desvio do investimento das famílias das aldeias para as vilas e da infra-estruturação em que o país era largamente deficitário, a expansão muito rápida de serviços públicos, em especial no sector da educação, saúde e segurança social, na canalização de recursos gerados externamente, quer pelo trabalho dos que vivem fora mas mantêm raízes suficientes para ter uma casa na região (depois de uma fase inicial na aldeias, passaram a ser crescentemente nas vilas), quer pela prestações da segurança social com um peso que não deve ser escamoteado.
Mais recentemente, aos primeiros sinais de que estes processos têm um efeito limitado no tempo porque não suportam gente suficiente para justificar a manutenção artificial dos serviços públicos, quase todas as autarquias de pequena e média dimensão olham para o turismo como a tábua da sua salvação e, pela primeira vez em muitos anos, dão-se conta de que o território envolvente seria mais atractivo se não estivesse socialmente em ruínas (há aspectos vantajosos do abandono agrícola para o turismo, o problema é mais de ambiente social e de controlo social do território que permita ao visitante não o sentir como hostil).
A crise do imobiliário, mas sobretudo a constante diminuição de pessoas com raízes suficientemente fundas nas regiões para garantir o permanente fluxo de recursos gerados externamente vai obrigar estes centros urbanos a olhar de novo para os seus recursos endógenos.
Mas até lá é bem possível que as políticas públicas continuem a ser o que hoje são: políticas que partem do princípio de que emprego e território são duas realidades pouco interdependentes.
henrique pereira dos santos
1 comentário:
Boa! Mas porque cortaram as patinhas aos cavalos? Não houve nenhuma manifestação ambientalista???
Ecotretas
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