"Dívida externa cresce dois milhões de euros por hora" é o título da entrevista que Francisco Van Zeller dá ao Público, Rádio Renascença e RTP2.
A entrevista é toda ela muito interessante (ao contrário da minha expectativa quando a comecei a ler) nomeadamente na defesa que Francisco Van Zeller faz do aeroporto de Lisboa como única das grandes obras públicas anunciadas que entende que vale a pena serem feitas.
Para a sensibilidade de qualquer pessoa preocupada com a sustentabilidade esta é uma posição difícil de defender, visto estar-se a privilegiar o mais insustentável dos modos de transporte: o avião. As razões de Francisco Van Zeller são sobretudo económicas (diz que é dos projectos previstos o único que pode ser rentável, nas condições que ele próprio enuncia: se for desenhado de forma progressiva, por módulos...se não tiverem vergonha de utilizar os 5000 hectares para utilizações económicas).
É uma formulação interessante, porque na prática, se bem entendi, corresponde à defesa da Portela + 1 (ou 1+ Portela, como se queira) e alavancada em outras utilizações que não a mera operação aeroportuária. Ou seja, uma posição bem mais próxima do que tem sido algum consenso do movimento ambientalista no sentido de diminuir os riscos construindo módulos à medida da procura da aviação, que ninguém sabe como vai evoluir.
Mas a questão que é chamada para o título da entrevista é mesmo a mais próxima da temática da sustentabilidade: "temos de reduzir os nossos consumos, temos de passar a gastar menos"..."mais tarde ou mais cedo essa correcção vai ter de ser feita"..."São dois milhões de euros por hora...de onde vem?...da gasolina, da comida".
Qualquer ambientalista, incluindo os mais catastrofistas, subscreve estes pedaços da entrevista, penso eu.
E qualquer subscreve a ideia de que as duas questões centrais da sustentabilidade estão bem identificadas: a energia e o prato.
Ao ler lembrei-me do meu jantar de ontem. Tinha por aí uma farinheira e lembrei-me de procurar na internet qualquer coisa com farinheira e couve, lembrando-me de um prato de batatas cozidas, couve galega e pedaços de alheira que era bem bom e tinha comido em casa de um dos meus irmãos. Apareceram-me vários pratos de arroz de farinheira (muitas vezes leva couve e farinheira), a maioria de uma arroz a fugir que não me dava jeito fazer, dada a hora incerta a que se janta nesta casa (para além da minha incompetência culinária). Mas a ideia de um arroz de farinheira pareceu-me simpática. E lá encontrei um que era seco e pelos vistos a mãe de alguém fazia para acompanhar o cozido.
Reparei que o arroz de farinheira era considerado um acompanhamento, sobretudo de carne assada, carne grelhada e coisas que eu não tinha a menor intenção de fazer para o jantar, pelo decidi que com uns ovos mexidos não devia ficar mal (digo eu, que gosto muito de ovos mexidos com farinheira).
Lá se fez o tal arroz de farinheira e acabámos por comê-lo só assim, sem carne e sem ovos. Ao jantar lá se chegou à conclusão de que deveria ficar bem com feijão, o que dispensaria definitavamente a carne à posta.
Foi disso que me lembrei para discordar de Francisco Van Zeller: reduzir consumos, quer na energia, quer no prato, às vezes pode ser mais uma questão de imaginação que de sacrifício.
henrique pereira dos santos
PS O próximo arroz ficará melhor: vou juntar a farinheira só no fim do estrugido (eu sei que já há pouca gente de chame estrugido aos refogados, mas é preciso diversificar as palavras para algumas morrerem mais lentamente), cortada às rodelas fininhas como sugeria uma das receitas e pôr só meia farinheira, para ver se ao sabor, que ficou magnífico, se junta a consistência, que ficou um desastre. E provavelmente terei reduzido o consumo, melhorando o prato.
1 comentário:
E eu faço parte de um blogue ligado ao Património
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