Por estes dias foi anunciado um tremendo apoio do Governo ao desenvolvimento da água quente solar.
Não quero discutir esse apoio sem saber exactamente em que consiste mas para já o que aparentemente circula por aí significa que o Governo escolhe, através dos bancos (ou os bancos através do Governo, não percebi) dois fornecedores de paineis solares a quem concede uma vantagem competitiva leonina (exige um desconto significativo mas paga o suficiente para que o consumidor final pague metade do que pagará na concorrência) durante um ano.
Eu que moro num prédio naturalmente puz-me a olhar para a minha situação para tentar perceber se poderia aproveitar este autêntico bodo aos pobres que me permitiria ter água quente sem pagar a partir do terceiro ou quarto ano.
De uma discussão na lista Ambio retirei a candura da resposta às minhas preocupações: desde que os condóminos estejam de acordo, não há nenhum impedimento a que os moradores em prédios beneficiem da medida.
O prédio tem alguns anos, tem casas compradas e outras arrendadas, tem gente sozinha e sem filhos e gente com filhos, gente com dinheiro e gente remediada, gente complicada e gente simples. O trivial nestas situações.
O que seria então preciso para que estas pessoas normais se pusessem todas de acordo?
Que as vantagens económicas sejam muito evidentes ajuda muito: todos gostam de ter mais dinheiro que menos, esse é um ponto forte para garantir um acordo num grupo heterogéneo.
Mas para materializar esta vantagem, e materializá-la com rapidez suficiente para aproveitar uma vantagem que durará apenas nove meses é preciso ser muito claro.
O benefício inclui compra e instalação de paineis. Não sei, em qualquer caso, se os cinquenta por cento menos incluem qualquer instalação ou se apenas instalações standard.
Suponho que em relação ao preço dos painéis o peso relativo de instalar tubos para abastecer seis andares de água quante seja maior que numa moradia mas não tenho a certeza.
Admito então que o projecto resolverá o assunto. Projecto? Não sei também se está incluído no benefício ou não, mas estou a ver que metade do tempo disponível ainda pode desaparecer com o projecto.
Mas resolvidas estas questões começa a discussão dura com os meus condóminos: quem paga o quê?
Os que são donos e têm arrendatários não querem saber do assunto, que um paga e outro beneficia. Os arrendatários poderão estar interessados, mas não querem pagar benfeitorias em casas de terceiros. E os que gastam pouca água acham que não se justifica pagarem o mesmo e beneficiar menos.
Acho que vou ter muito trabalho diplomático antes de ver o assunto resolvido.
E no entanto grande parte da questão poderia ser ultrapassada doutra forma: a administração do prédio faria o investimento e venderia a água quente aos condóminos, pagando cada um na proporção que consumisse.
Era tão mais simples.
Espero que esteja contemplado esta possibilidade na medida agora aprovada e estou convencido de que estará porque confio que foram feitos estudos sérios para tomar as opções mais correctas e não gastar ingloriamente os recursos públicos.
Tanto mais que passado este apoio de um ano, desestruturada a oferta e coutado o mercado para as duas empresas escolhidas tenho ideia de que os anos seguintes serão mais complicados que os anteriores para quem queira instalar paineis solares para ter água quente.
Talvez importar venha a ser uma solução interessante para o consumidor (para o país é que é mais duvidoso, mas isso é um problema para resolver na próxima legislatura).
henrique pereira dos santos
2 comentários:
Sabes como foram escolhidas as empresas? critérios, concursos, etc...
Não, não faço ideia, a única informação que tenho é a da associação do sector que protestou veementemente.
O que me dizem é que são as únicas de fabricam em Portugal (embora não as únicas que montam painéis em Portugal).
Tanto quanto percebi não houve concursos e coisas que tal. Mas espero que ao longo de Março finalmente se esclareça efectivamente em que consiste o programa, embora nada disso resolva o meu problema de condomínio.
henrique
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