Os fogos no dia 21 de Março. Repare-se na direcção das plumas e, já agora, na dimensão destas fogueirinhas de Primavera (cortesia do Paulo Fernandes que me mandou a imagem)
Pedro Vieira tem uma série de posts sobre fogos e áreas protegidas aqui em que refere criticamente o facto das áreas protegidas arderem estatisticamente mais que o resto do território.
José Manuel Fernandes pergunta no editorial do Público de hoje "Custa a perceber como a serra do Gerês voltou a arder com tanta facilidade quando ainda estamos em Março. ... Perderam-se árvores centenárias e muito raras, apesar de as chamas não terem atingido o coração da zona mais preciosa ... exige-se um inquérito à forma como está a ser gerida aquela área protegida...".
O facto de arder estatisticamente mais nas áreas protegidas é normal e razoável, sobretudo neste caso em que os fogos estão quase todos concentrados a Norte do Douro, por uma razão: o que faz estas áreas serem protegidas é o que faz estas áreas arderem.
Como o Pedro Vieira demonstra no seu livro sobre os incêndios, há mais fogos nas áreas com mais gente (porque há mais factores de ignição) mas há mais área ardida onde há menos gente (porque há mais factores de acumulação de combustível).
É por isso normal e razoável que arda mais nas áreas protegidas.
Discussão diferente, e bem mais interessante, é se, dentro das áreas protegidas, arde o que devia arder e não arde o que não devia arder, mas essa discussão fica para outra altura.
Já o que diz José Manuel Fernandes, que além de ter mais informação que o comum dos cidadãos é biólogo de formação, me causa mais estranheza pela sua distorcidíssima noção da realidade.
Eu bem sei que desde a última alteração gráfica do Público o boletim meteorológico que lá se publica é uma porcaria. Uns bonecos que reproduzem os bonecos do Instituto de Meteorologia mas sem toda a outra informação que é proporcionada pelo IM, nem sequer a previsão descritiva.
Se José Manuel Fernandes tivesse perdido um bocadinho mais de tempo a olhar para a meteorologia não dizia que não se compreende porque arde, se estamos em Março. Teria visto com certeza humidades por volta dos 20%, mesmo às cinco da manhã pouco maiores. Teria visto velocidades do vento por volta do 20Kms/ hora (as rajadas teria de as ler descritas noutros lados, claro). Teria percebido que com dez dias de vento Leste (um interregno de dois dias que soube a pouco, para este efeito) o que arde é normal, seja em que época do ano for (já houve episódios destes em Dezembro, lembra o Paulo Fernandes o Outono de 2007, penso que em Novembro, com resultados semelhantes, tendo o Paulo o cuidado de sublinhar as diferenças, como sejam um longo período sem precipitação prévia ao episódio do Outono de 2007 em contraponto com as baixíssimas humidades atmosféricas deste episódio).
O que não é normal é ter helicópteros pesados a despejar água nestes fogos. O que não é normal é tentar apagar estes fogos sem razões sérias para isso (pessoas, casas, infra-estruturas ou valores naturais sensíveis ao fogo, por exemplo). O que não é normal é o circo, incluindo mediático, à roda do assunto, com referências a árvores centenárias e muito raras, que gostaria muito de confirmar se arderam e onde (aquelas encostas sempre arderam, com ciclos de fogo muito mais curtos e estão a recuperar exactamente porque o ciclo do fogo se alargou, dando origem a fogos mais violentos mas mais espaçados).
O que está a arder é o melhor que conseguimos fazer para evitar tragédias no Verão uma vez que nos demitimos de gerir devidamente o combustível que produzimos, criando emprego no mundo rural e garantindo um Portugal mais equilibrado económica e socialmente falando.
Se este episódio meteorológico estivesse a ocorrer em Agosto posso garantir que estaríamos perante uma verdadeira tragédia (não tanto do ponto de vista de conservação mas sobretudo do ponto de vista social e da afectação dos dinheiros públicos).
Há tantas razões sérias para fazer auditorias e inquéritos à gestão das áreas protegidas, por que razão escolher uma que é marginal para à gestão?
Querem fazer auditorias e inquéritos a propósito dos fogos?
Então que façam onde devem: aos dinheiros das políticas do mundo rural.
Perguntem ao Ministério da Agricultura por que razão o PRODER afunda 11% do seu orçamento em Alqueva e deixa no mato sem cão os pastores e o mundo rural das serras e das áreas marginais de produção. Perguntem porque apoia mais a produção intensiva de azeite que a produção de biodiversidade. Perguntem por que razão impuseram as alterações que impuseram ao Plano Sectorial da Rede Natura, incluindo o desaparecimento de todas as referências ao seu financiamento, que já eram o mínimo dos mínimos: a transcrição do que está nos regulamentos comunitários.
Não gostam de fogos, de todos os fogos? Eu não estou de acordo, mas se não gostam e querem arranjar responsáveis para a sua existência (para além de S. Pedro) então por favor dirijam-se ao Ministério da Agricultura, às políticas para o mundo rural e deixem em paz quem trabalha com as migalhas que sobram e ainda tem de explicar todos os dias, aos seus próprios dirigentes, que as migalhas para a biodiversidade não são dinheiro deitado fora.
henrique pereira dos santos
Adenda:
Aqui vai o gráfico actualizado. Os sinais hoje são pouco encorajadores: diminuição da humidade atmosférica outra vez, aumento do vento, concentração dos fogos nas serras do Norte, o que quer dizer inevitavelmente áreas protegidas (neste caso sobretudo gerês e um pouco de outras)
15 comentários:
"O que não é normal é tentar apagar estes fogos sem razões sérias para isso (pessoas, casas, infra-estruturas ou valores naturais sensíveis ao fogo, por exemplo)."
??!!!
A ver se percebi e não estou a dizer disparates: salvo situações prioritárias como pessoas, casas, infra-estruturas ou valores naturais sensíveis ao fogo, deve-se deixar arder. Talvez porque o investimento no combate a esse incêndio é demasiado dispendioso. Como alguém dizia na década de 90, "deixa arder que é mato".
Quanto à má gestão, ou simplesmente a falta dela, estamos completamente de acordo.
No entanto, não entendi a as seguintes afirmações:
"O que está a arder é o melhor que conseguimos fazer para evitar tragédias no Verão uma vez que nos demitimos de GERIR devidamente o combustível que produzimos"
e
"Há tantas razões sérias para fazer auditorias e inquéritos à gestão das áreas protegidas, por que razão escolher uma que É MARGINAL PARA A GESTÃO?"
As áreas protegidas não poderão, realmente, ter muitas responsabilidades nesta matéria, uma vez que o Orçamento de Estado as deixou quase sem fundos para as suas despesas correntes. Assim, devemos realmente pedir contas às outras autoridades (florestais, protecção civil, etc.).
E mais uma vez concordo: onde e como foram aplicados durante anos a fio os fundos europeus para a floresta (PAF's PAMAF's) e para o mundo rural? Na minha opinião, só vieram incrementar o problema, financiando a florestação de produção agressiva e desregrada, dentro e fora das áreas protegidas.
Não, não gosto fogos. Abomino (quase) todos os fogos florestais, sejam em áreas de mato, eucaliptal ou bosque autóctone. E até relativamente ao fogo controlado, estou à espera que haja consenso relativamente a sua efectividade. Em Portugal, o ciclo de fogos é demasiado frequente para que se possa comparar com os incêndios que há milénios atrás eram factores de renovação. Mas o seu a seu dono. Não tenho qualquer dúvida (por que já o presenciei e ninguém me contou) que um grande número de incêndios se devem às queimadas (legais ou não) para pasto, que se descontrolam ou são criminosa e conscientemente ateadas. Aliás, são as próprias pessoas destas zonas que me referem casos em que isto acontece. Mas não se perca o norte. Existe um pântano de outras causas, interesses, incompetências, ingerências e irresponsabilidades. Grande parte delas, como o Henrique refere, imputáveis ao Ministério da Agricultura.
PS: Quando digo que presenciei situações de fogo posto em áreas de pastoreio, refiro-me a uma altura em que, com um amigo, estava na Serra da Peneda, perto de Lamas de Mouro, há já vários anos atrás. Vimos então um senhor que, descontraidamente, vinha na nossa direcção, de sacola a tiracolo, deixando um denso rasto de penachos de fumo numa plantação de jovens pinheiros silvestres (realizada pelo Parque há alguns anos atrás). Quando tentei vê-lo melhor, fugiu. Desistimos do passeio e descemos, indo directos falar com os Guardas da Natureza em Lamas de Mouro. Resposta: "Onde é que disse que era? A norte da Aguieira? Não se preocupe, o guarda do Soajo já deve ter visto." E assim se ficaram. Numa Área de Ambiente Natural, dentro de uma das principais áreas protegidas do território nacional.
A tua análise, Henrique, é interessante e subscrevo particularmente as tuas críticas ao abandono do mundo rural e às «políticas» do Ministério da Agricultura.
No entanto, discordo em relação á questão da gestão das áreas protegidas. Se é certo que globalmente as áreas protegidas ardem mais do que as áreas não +protegidas, a situação piora em algumas áreas específicas, porque as contas no meu livro incluíam as áreas todas (húmidas e de litoral, algumas sem grande vegetação).
Além disso, a questão mais importante - e que releva as críticas justas á gestão das APs em Portugal - tem a ver com a incapacidade do ICNB (e obviamente do Governo) em gerir áreas sensíveis numa «nova realidade»: com ausência de população e de gestão humana passiva (conceito que significa os usos rurais do quotidiano que eram seculares).
Por outro lado, o que se está a passar particularmente no Gerês parece denunciar situações de conflito. Não sou, como sabes, adepto da tese do incendiarismo, mas há algo de estranho na quantidade de ignições. Além disso, se a extensão rural e fiscalização no sentido de sensibilização das populações para os cuidados a ter com queimadas se deve generalizar para todo o país, mais ênfase de deve dar dentro das APs. Mais ainda no nosso único Parque Nacional. E isso, com os actuais meios técnicos e financeiros do ICNB, duvido que esteja a ser feito.
E depois: que anda o Ministério do Ambiente a fazer? Nem um ai ouço do Humberto Rosa e do Nunes Correia...
Caro Miguel Rodrigues,
Efectivamente o efeito destes fogos nesta altura é mais positivo que negativo e por isso não vale a pena apagar. O que arder agora é um bom corta fogo no Verão.
E é exactamente por andarmos a discutir o sexo dos anjos acerca dos fogos controlados (onde há consenso científico) que acabamos por ter estes fogos descontrolados.
Pedro,
É pouco importante saber por que razão começa um fogo, o importante é saber porque não se consegue apagá-lo. Até pode ser por haver conflito mas duvido. De qualquer maneira dos mais de trezentos fogos no Domingo só meia dúzia foram no Gerês. O que os distingue dos outros não o facto de terem começado mas o facto de ser difícil pará-los.
Repara que hoje já há bastantes mais fogos a Sul do Douro. A concentração de fogos é sobretudo uma questão de condições meteorológicas locais.
henrique pereira dos santos
Agora sim, estou chocado.
Criar um corta-fogo obedece (ou deve obedecer) a regras estritas, especialmente se, em vez de maquinaria pesada se recorrer a fogo controlado. Peço desculpa pela forma como vou colocar isto, mas não se me ocorre outra: usar os "incêndios de inverno" como forma de reduzir o combustível é o maior disparate que ouvi ultimamente.
Segundo essa forma de pensar ("o efeito destes fogos nesta altura é mais positivo que negativo e por isso não vale a pena apagar"), porque não atearmos incêndios deste tipo todos os invernos? A ver se percebi: como não se recorre ao fogo controlado ou outras formas de redução do combustível (e só os métodos e a justificação para isto dava um congresso), o melhor é deixar arder. Insisto: e se, por azar, ninguém atear o fogo durante o "inverno", porque não provocar a dita situação?
E ainda mais chocado!
"É pouco importante saber por que razão começa um fogo, o importante é saber porque não se consegue apagá-lo". O que se depreende desta afirmação é que não interessa analisar os causas mas sim o que mantém um incêndio activo. O que equivale a dizer: esqueçam o Ponto Um da prevenção (compreender e controlar as causa de ocorrência de fogos florestais); vamos é perceber como se apaga isto. Isso se houver interesse em apagar, pois até pode ser que este seja útil. E eu que pensei que compreender o que leva à ocorrência destes incidentes era o principal para os evitar. Desde que haja interesse em os evitar.
Uma nota ainda para a superficialidade com que diz: "só meia dúzia foram no Gerês".
Pois claro! fogos controlados de Inverno e Primavera, nos matos, entre as áreas florestais, criando barreiras aos fogos de Verão. Para esses fogos controlados não é necessário computadores, universidades ou maquinaria pesada, apenas a experiência dos antigos serranos nos contra-fogos, infelizmente desprezada pelos senhores das cidades que em tudo mandam. As populações serranas sentiriam mais segurança ao verem à volta das aldeias escuras áreas tampões onde o fogo não poderia progedir, que depressa se poriam verdes, continuando contudo a cumprir a função durante dois ou três anos. E o governo aplicaria noutras coisas os milhões que vai gastar no Verão a apagar fogos.
O texto do Miguel Rodrigues está eivado de preconceito e desconhecimento. O que distingue um fogo controlado dum incêndio que ocorra em iguais condições ambientais? No essencial nada, a não ser o facto do 1º ser confinado a uma área pré-definida e, em floresta, o uso de padrões de ignição que limitam a intensidade do fogo de modo a salvaguardar a integridade das árvores. Na verdade, o "controlado" refere-se muito mais ao controlo das condições em que se faz a queima (a definição da prescrição, que conduz directamente ao controlo da intensidade ou severidade do fogo) do que ao controlo da sua dimensão. Como o fogo planeado nunca atinge as metas de área tratada pré-definidas é normal (EUA, por ex.) que se permitam incêndios (isto é fogo não planeado) em áreas protegidas, desde que dentro da prescrição meteorológica requerida por um determinado objectivo de gestão. Não tenho qualquer dúvida em afirmar que estes fogos em matos de Fevereiro e Março estão dentro da prescrição, bastando recorrer a um indicador simples, o índice de humidade na manta morta.
A justificação e os métodos para a gestão de combustíveis em geral e o f.c. em particular alicerçam-se em investigação e evidências do mundo real que se foram acumulando nos últimos 70 anos, pelo menos. Quererá o Miguel pôr em causa este corpo de conhecimento?
Aquilo a que chama o Ponto 1 da prevenção está claramente sobrevalorizado, e mais valia que a educação em relação ao fogo considerasse também o papel do fogo nos ecossistemas, talvez assim se evitassem as baboseiras que se escreveram no Público de hoje a respeito da mata da Albergaria. Conhecer as causas dos fogos é importante, claro, principalmente para racionalizar o uso do fogo quando ele é mais desregrado (usualmente substituindo o fogo do pastor pelo fogo técnico). Mas muito dificilmente esse conhecimento conduzirá a reduções significativas na área ardida por incêndios severos. Em situações extremas de secura as causas de ignição são variadas e frequentemente inesperadas. Sabendo que <5% dos fogos originam >80% da área ardida é muito reduzida a probabilidade dos fogos negligentes evitados (a prevenção de ignições muito dificilmente tem efeito sobre as restantes causas humanas)contribuirem para aqueles 80% caso não fossem evitados.
P. Fernandes
Caro Jaime
Está bastante enganado. Para realizar um fogo controlado é necessário um conhecimento preciso de: humidade do combustível potêncial; humidade atmosférica e sua evolução anterior; previsão rigorosa da intensidade e direcção dos ventos; inclinação do terreno; pontos de água disponíveis; factores que poderão ajudar a conter o fogo dentro da área a tratar ou que poderão descontrolar a situação; entre outros.
Isto não se consegue recorrendo ao aparelho de precisão mais querido dos portugueses: o olhómetro.
São inúmeras as situações em que fogos que o seu autor pensava serem "controlados", mesmo em situações bem estudadas, provocaram incêndios devastadores, muito para além da área planeada ou com muito maior intensidade e/ou velocidade de propagação do que a esperada. Apenas um exemplo: Yellowstone, EUA, década de '80. Uma catástrofe, derivada de um fogo controlado, que obrigou ao encerramento do parque nacional. E isto num dos países com mais experiência nesta área.
Fogo controlado só para técnicos credenciados. E só quando estritamente necessário.
Se as populações locais fizerem a sua parte, limpando algumas áreas prioritárias, o trabalho será muito mais fácil, menos perigoso e com menor impacto para os ecossistemas e para as pessoas (e para os dinheiro dos contribuintes).
Caro Paulo
O que distingue um incêndio de um fogo controlado são SÓ todos os factores (e provavelmente vários outros) que descrevi acima. Mas com uma agravante: um incêndio, intencional ou não, não escolhe o melhor local ou a data mais indicada. Assim, mesmo em condições semelhantes, um incêndio não pode, de maneira nenhuma, substituir um fogo controlado bem planeado e bem gerido por especialistas experientes.
"Na verdade, o "controlado" refere-se muito mais ao controlo das condições em que se faz a queima (...)". Pelo que o próprio Paulo afirma, são estas mesmas condições em que se faz a queima que estabelecem TODA a diferença entre as duas situações. O que afirma antes e depois, contradiz em grande parte esta frase.
"A justificação e os métodos para a gestão de combustíveis em geral e o f.c. em particular alicerçam-se em investigação e evidências do mundo real que se foram acumulando nos últimos 70 anos, pelo menos. Quererá o Miguel pôr em causa este corpo de conhecimento?" De forma alguma, até porque, já deve ter percebido, não estou contra a utilização fogo controlado, sempre que não exista alternativa.
"Aquilo a que chama o Ponto 1 da prevenção está claramente sobrevalorizado". Cada vez estou mais chocado. É um pouco o que os sucessivos governos têm andado a fazer. Acudir à desgraça sem perceber porque aconteceu. Pensei que a ideia era EVITAR OS INCÊNDIOS FLORESTAIS. Se calhar não...
É por demais evidente que o fogo tem um incontornável papel de renovação dos ecossistemas. Está a tentar comparar o ciclo natural do fogo com a incidência dos incêndios em Portugal?
Ainda aqui não li nada acerca de outra polémica: como, onde e em que circunstâncias se deverão realizar limpezas de matos. É que quando começa a arder, "a culpa é sempre do mato", "o que fazia falta era limpar as matas todas".
Aproveito para definir a minha posição: o mínimo imprescindível. Um forma possível é realizar as limpezas em largas faixas ao redor das áreas florestadas e ao longo de vias de comunicação e povoações.
Para que serve uma floresta/bosque sem sob-coberto? Para produção industrial. O seu interesse ecológico é mínimo quando comparadas com estruturas vegetais que incluam todos os andares do coberto e a maior diversidade possível. Isto em qualquer área, mas muito especialmente nas Áreas Protegidas.
Caro Paulo Fernandes,
O problema é comparar o que não é comparável.
Portugal não é a América e os valores naturais que estão em causa no Gêres não são os de Yellowstone, por exemplo.
Passo a explicar...
Ninguém nega que precisamos e muito de uma política nacional de gestão de combustíveis, nomeadamente através de fogos controlados (entenda-se "fogos planeados" por técnicos competentes).
E, eventualmente, um fogo não planeado pode cumprir esses objectivos...Mas cuidado com o "deixa arder". É que nós temos nichos de biodiversidade em matas como a de Albergaria, da Margaraça e do Solitário e não centenas e centenas de hectares como nos EUA.
Por alguma coisa a política norte-americana do "wildland fire use" não é, tanto quanto conheço, seguida noutros países europeus (por exemplo).
Muitos dos habitats de Yellowstone terão beneficiado muito da renovação provocada pelo fogo, necessária a cada 200 ou 300 anos. Sim, é verdade, ninguém contesta isso...
Mas será que Yellowstone tem problemas como tem o Gerês com as últimas populações autóctones viáveis de Taxus baccata em Portugal? (as da Serra da Estrela são inviáveis a médio prazo, ver "El tejo en el Mediterráneo Occidental - Jornadas internacionales sobre el tejo y las tejeras en el Mediterráneo Occidental").
Será que Yellowstone tem problemas como tem o Gerês com invasoras alóctones pirófitas, como tem o Gerês com a Acacia dealbata? Se esta "entrasse", favorecida por um incêndio na área da Mata de Albergaria, os eventuais benefícios provocados pela renovação do fogo seriam totalmente eclipsados pela ocupação de território pelas mimosas.
E olhe que elas já andam bem perto de Leonte...
Aliás, é o que acontece actualmente na Beira Interior, onde a área ocupada anteriormente pelo pinhal de Pinus pinaster e que estava a ser reocupada pelo carvalhal autóctone de Quercus pyrenaica, está a ser invadida em larga escala pelas mimosas.
E se após os primeiros incêndios a luta ainda é "igual" entre o carvalho e a mimosa, após um segundo incêndio ninguém pára as mimosas.
Posso-lhe mostrar isto pessoalmente em dezenas de locais nos concelhos da Covilhã e Belmonte, muitos dos quais arderam duas a três vezes nos últimos 20/30 anos.
Portanto, não nego a necessidade do fogo planeado e posso até aceitar, no plano teórico, que se aproveite um "fogo não planeado" para cumprir essa tarefa.
Mas cada caso é um caso e esta situação do Gerês só não correu muito mal por eventual sorte.
As realidades portuguesa e americana são bem distintas. Será, por exemplo, que eles têm o mesmo regime de fogos que nós temos?
Este "magnífico" fogo de Inverno no Gerês poderia ter queimado os últimos teixos do Gerês. O Professor Catarino poderia explicar a muito boa gente porque é que isso seria criminoso.
Caro Miguel Rodrigues,
O meu tio-avô Artur já não pode ler o que escreve porque morreu há uns 20 anos. Mas pode ser que lhe assombre as noites, como vingança por desdenhar do que ele e outros souberam fazer bem, sabedoria passada de geração em geração, do tempo em que os bombeiros era uma invenção das cidades e não se sonhava ainda com helicópteros ou aviões.
O Verão de 1975, tal como todos os outros enquanto estudante, passei-o todo na serra, Verão esse que por todo o lado que se olhasse via-se uma coluna de fumo. Sabe como é que as populações das aldeias salvavam pinhais e casas de arder, e como é que extinguiam fogos melhor que os cannadaires? com o fogo! claro que já nessa altura era proibido contra-fogos sem a presença da GNR ou dos bombeiros mas... havia sempre um Ti-Artur que mandava: rapazes, à minha responsabilidade! ninguém foge! E lá se formava uma linha de rapazes, homens e mulheres, armados de ramalhos e alviões, pegando fogo e apagando o que vinha para cá, deixando arder o que ia para lá. Claro que os pêlos dos braços, pestanas e sobrancelhas desapareciam, mas era um regalo ver os dois fogos encontrarem-se e apagarem-se num ápice, como por encanto.
Participei em muitos fogos e contra-fogos, em pleno Verão, coordenados pela experiência dos que percebiam do assunto, cujo olhómetro era mais fiável que a sabedoria dos bombeiros de secretária e computador. Por vezes o lume fugia por onde não devia? sim, contudo o saldo era sempre positivo.
Desde tempos imemoriais que o fogo se combateu com o fogo. E pode ter a certeza que os factores que enumerou não eram descurados, antes avaliados, e muito rapidamente, que a necessidade obrigava a agir depressa.
Hoje em dia, com os meios existentes, propiciando a rápida extinção de um fogacho que fuja para onde se não quer, seria uma estratégia absolutamente a considerar queimarem-se matos entre a floresta, em sítios estratégicos, funcionando essas zonas como eficazes aceiros para o pior que se adivinha.
Provavelmente alguns ambientalistas iriam protestar pela perda de habitat das carriças e pintassilgos. Mas mesmo assim valeria a pena.
Jaime
Caro Pedro Santos, vamos por partes:
"O problema é comparar o que não é comparável.Portugal não é a América e os valores naturais que estão em causa no Gêres não são os de Yellowstone, por exemplo."
Não fui eu que fiz essas comparações.
"Mas cuidado com o "deixa arder". "
Também não advoguei o deixa arder, mas repare que o deixa arder é a prática (não declarada, claro) do combate a incêndios em Portugal.
"É que nós temos nichos de biodiversidade em matas como a de Albergaria, da Margaraça e do Solitário e não centenas e centenas de hectares como nos EUA."
Estas matas são altamente sobrevalorizadas e só são muito importantes porque são tão raras. Onde é que está a biodiversidade de uma mata decrépita e escura sem sub-bosque nem regeneração natural? Mais tarde ou mais cedo uma perturbação (o fogo ou outra) vão ser necessárias.
"Será que Yellowstone tem problemas como tem o Gerês com invasoras alóctones pirófitas, como tem o Gerês com a Acacia dealbata? Se esta "entrasse", favorecida por um incêndio na área da Mata de Albergaria, os eventuais benefícios provocados pela renovação do fogo seriam totalmente eclipsados pela ocupação de território pelas mimosas."
Na verdade não sabemos se essa ocupação aconteceria. E todos os ecossistemas têm as suas exóticas, prontas a beneficiar de alterações no regime de fogo.
"E se após os primeiros incêndios a luta ainda é "igual" entre o carvalho e a mimosa, após um segundo incêndio ninguém pára as mimosas."
Também há muitas áreas que arderam bem mais que 3x em 30 anos e onde não há mimosas. Aliás, é bem conhecido o elevado grau de invasão dos carvalhos. Não sei se a persistência das acácias é tão grande como se pensa, e no Gerês é fácil encontrar regeneração de Quercus e outras espécies no meio de acaciais densos.
"Mas cada caso é um caso e esta situação do Gerês só não correu muito mal por eventual sorte."
Não foi sorte, foi o trabalho árduo de uma equipa mista GAUF/GIPS/ICNB que nos píncaros da serra travou o fogo com o fogo
"As realidades portuguesa e americana são bem distintas. Será, por exemplo, que eles têm o mesmo regime de fogos que nós temos?"
Os EUA e Portugal não têm 1, mas diversos regimes de fogo.
"Este "magnífico" fogo de Inverno no Gerês poderia ter queimado os últimos teixos do Gerês. O Professor Catarino poderia explicar a muito boa gente porque é que isso seria criminoso".
O que tenho frisado é que estes fogos, nas condições em que decorrem, são perfeitamente aceitáveis, pelo menos em áreas de montanha ocupadas por matos. São eles o garante simultâneo de actividades económicas tradicionais e da manutenção de muitos valores florísticos e faunísticos (aqueles que estão associados aos chamados cataclímaxes). O que é trágico é a ausência de uma política de gestão do fogo que simultaneamente permita que o fogo cumpra o seu papel onde esse papel é relevante, e que exclua o fogo de onde ele deva ser excluído. O fogo do Gerês degenerou no que se sabe ao descer das alturas. Não sei até que ponto os vales que arderam são representativos da população residual de teixos, mas a julgar pelas fotos que vi o incêndio pode realmente ter dado um golpe severo nessa população. Mas não sei se o Prof. Catarino pode explicar assim tanta coisa... afinal foi ele que disse que a mata da Albergaria nunca foi perturbada pelo Homem.
Caro Paulo Fernandes,
Eu também não escrevi que o Paulo tinha afirmado textualmente que "O problema é comparar o que não é comparável.Portugal não é a América e os valores naturais que estão em causa no Gêres não são os de Yellowstone, por exemplo."
Mas as comparações com a realidade dos EUA subentendem-se em muitas das ideias que o Paulo defende, o que em si não é um problema ou criticável em si mesmo, excepto pelo facto que eu continuo a advogar que cada caso é um caso (dentro de Portugal e ainda mais, dadas as suas dimensões, dentro dos EUA).
Mas a verdade é que vale a pena questionar, nem que seja no plano teórico, se os EUA utilizariam "wildland fire use", de forma regular, em áreas protegidas se tivessem um regime como nós temos em que certas zonas têm ardido em ciclos muito curtos.
E é isso que me preocupa...O fogo recorrente, provocado ou não, em certas zonas (sobretudo em áreas protegidas, ou seja, pela biodiversidade que encerram) e o efeito que isso tem na regeneração natural e no avanço de invasoras.
O Paulo disse: "Também há muitas áreas que arderam bem mais que 3x em 30 anos e onde não há mimosas".
Claro que se não houver mimosas, ou outras invasoras, em zonas circundantes e se estas não forem introduzidas por outros mecanismos, elas poderiam arder ainda mais sem que as mesmas surgissem. Mas isso não faz desses fogos em ciclos muito curtos uma coisa boa, pois não?!
O incêndio de Yellowstone pode ter tido efeitos muito positivos e necessários à regeneração dos habitats, como um novo incêndio poderá vir a ter daqui a uns 200 ou 300 anos. Mas se essas zonas de Yellowstone ardessem a espaços de 10 anos que impacto teria isso nesses habitats?
É essa recorrência de fogos em certas áreas do nosso país o que me assusta, como já tive ocasião de discutir aqui com o Henrique. Essa recorrência anula,em minha opinião, a tendência positiva que um único fogo poderia ter na renovação de muitos habitats.
Tem razão, o valor de Matas como a de Albergaria é sobrevalorizado precisamente, como diz, porque são tão raros no nosso país. É por isso mesmo que a sua gestão merece atenção particular.
E é aqui que chegamos a um paradoxo...Talvez a sua regeneração tenha que ser feita artificialmente pela mão do homem.
Mas quando for provado cientificamente que ela está em acelerado processo de declínio e que é incapaz de se auto-regenerar, a intervenção humana terá que ser muito bem pensada.
Em primeiro lugar, há outras formas de provocar isso que não o fogo.
Em segundo lugar, se se utilizar o fogo, terá que ser com a garantia que essas zonas serão depois devidamente monitorizadas nos anos seguintes, para avaliar o evoluir da situação. Disse o Paulo: "Na verdade não sabemos se essa ocupação aconteceria (a das mimosas)".
Pois é, Paulo...Essa possibilidade é provável demais para que não seja acautelada.
Por isso, essa renovação pelo fogo se algum dia for assumida como uma necessidade, espero que seja feita segundo um plano integrado que pense no "dia seguinte" e que não ocorra na forma de um fogo que ninguém pensou e que se deixe aquilo ao desleixo permitindo o avanço de exóticas invasoras tão agressivas como as mimosas.
Desculpe lá, mas duvido muito dessa regeneração de autóctones no seio de áreas de mimosas e quanto ao carácter invasor do carvalhal...Bom, esse deve ser apenas o "menor dos problemas" ambientais em Portugal!
Por isso, ainda bem que sentiu a necessidade de responder à minha "provocação" acerca dos fogos do Gerês não terem sido apagados por sorte! Ainda bem que escreveu que os fogos de Invernos também têm der ser combatidos e controlados, até porque existem no Gerês habitats que reagiriam bem pior a um incêndio do que Albergaria...Os tais vales profundos em que se esconde o teixo e para os quais, estes incêndios poderiam ser um revés difícil ou impossível de ultrapassar.
Quem lesse o texto original do Henrique e consequentes comentários atá poderia pensar que valia a pena arriscar e deixar sucumbir num incêndio de Inverno, as últimas populações viáveis de uma espécie tão sensível ao fogo como o teixo. Isto apenas para criar corta-fogos para o Verão!
Eu apenas aludi, e reafirmo, aos conhecimentos do Professor Catarino em relação aos conhecimentos que o mesmo sobre as populações de teixo em Portugal ( e que estão publicadas). Se tiver outras referências bibliográficas sobre as mesmas agradecia sinceramente que as mencionasse. Não fiz qualquer referência a qualquer outro conhecimento do citado professor que, aliás, não precisa dos meus elogios ou que eu o defenda.
Caro Pedro Nuno Teixeira dos Santos,
Vejamos o que eu disse no post original: "O que não é normal é ter helicópteros pesados a despejar água nestes fogos. O que não é normal é tentar apagar estes fogos sem razões sérias para isso (pessoas, casas, infra-estruturas ou valores naturais sensíveis ao fogo, por exemplo). O que não é normal é o circo, incluindo mediático, à roda do assunto, com referências a árvores centenárias e muito raras, que gostaria muito de confirmar se arderam e onde (aquelas encostas sempre arderam, com ciclos de fogo muito mais curtos e estão a recuperar exactamente porque o ciclo do fogo se alargou, dando origem a fogos mais violentos mas mais espaçados)."
E mais, tenho dito que a afectação do fundo dos vales com teixo ou dos pinheiros da Matança são razões sérias de conservação. E por isso deve evitar-se que o fogo os afecte.
O que é muito diferente de dizer que o fogo é uma desgraça porque afecta a mata da Albergaria e tolices que tal.
Uma das maneiras de evitar que o fogo afecte o fundo desses vales com teixo ou os pinheiros da Matança é exactamente arderem nesta altura do ano em vez de arderem em Julho ou Agosto.
A alternativa, ao contrário do que se possa pensar, não é entre arder ou não arder, é entre arder de uma forma, ou arder de outra.
Ao contrário do que o Pedro Nuno diz a recorrência de fogos em Portugal está imensamente mais pequena que há quarenta anos atrás, quando quase todas estas encostas ardiam com ciclos de fogo entre os quatro e os sete ou oito anos, no intervalo dos quais eram duramente pastoreadas.
É exactamente porque isto desapareceu, possibilitando a sua recuperação e acumulação de combustíveis, que existem hoje fogos mais severos mas muito menos frequentes.
Estamos de acordo em considerar a infestação por mimosas como uma das consequências negativas dos fogos mas, repito, fogos existirão sempre e as suas consequências negativas, incluindo a infestação por mimosas, é muito pior se os fogos forem em condições mais desfavoráveis.
Os sistemas de supressão de fogos eficazes são responsáveis por desastres sociais causados pelos fogos.
Por fim, as áreas que hoje queremos proteger do fogo por serem santuários botânicos reliquiais são as que naturalmente estão mais defendidas do fogo: é por isso que elas resistiram onde todas as outras desapareceram.
Nota: Espero que ao falar de trabalhos publicados sobre o teixo pelo professor Catarino não se esteja a referir ao textinho que aparece nas primeiras jornadas de conservação da serra da Estrela e que é uma coisinha escrita com base num trabalho académico numa disciplina dada por uma assistente sua e que diz pouco mais que zero sobre o teixo. Se quer ler mais alguma coisa sobre teixo no Gerês aconselho o que escreveu Lurdes Santarém, esse sim, um trabalho exaustivo de campo e não uma historieta sobre referências bibliográficas acrescentadas por uma análise completamente casuística de um qualquer núcleo de exemplares de teixo na serra da Estrela.
Não sendo esta a referência agradecia muito que indicasse em concreto o que posso ler do Professor Catarino para me explicar como se consumaria o crime de deixar queimar os últimos teixos do Gerês com um fogo como que esteve por ali a lavrar. É que ainda não percebi.
henrique pereira dos santos
As afirmações que fiz sobre a viabilidade das populações de teixo na Serra da Estrela e, consequentemente, sobre a importância de manter as populações remanescentes no Gerês, referem-se ao trabalho: "Taxus baccata en Portugal y sus perspectivas futuras frente al cambio global" de David Draper e Isabel Marques. Este trabalho foi publicado no âmbito da obra "El tejo en el Mediterráneo Occidental" - Jornadas internacionales sobre el tejo y las tejeras en el Mediterráneo Occidental, que recolhe diversas estudos sobre a situação do teixo no entorno do Mediterrâneo e que foram compilados a partir das "Primeras jornadas internacionales sobre el tejo y las tejeras en el Mediterráneo Occidental" que decorreram, de 19 a 22 de Junho de 2006, em Alicante.
Como este trabalho foi publicado por dois investigadores da mesma faculdade do Professor Catarino e como foi este que me aconselhou a leitura deste trabalho, deduzi que o mesmo teria participado neste estudo. Esta dedução foi minha...Se o Professor Catarino não teve nada a ver com esta investigação, apesar de ser citado na mesma, peço desculpa publicamente ao próprio e aos citados autores.
O referido livro foi-me enviado por membros da Associação espanhola "Amigos del tejo" que estão interessados em organizar no próximo ano um encontro ibérico em Portugal, reunindo investigadores de ambos os países especializados nesta espécie.
Que melhor ocasião, se se vier a concretizar, para aí continuarmos essa discussão.
Em segundo lugar, para finalizar, não conte comigo para discutir na praça pública a competência do Professor Catarino, pelo menos sem que este tenha conhecimento do que aqui é escrito para que, obviamente, tenha oportunidade para se defender.
O Henrique poderia até ter toda a razão do mundo, mas quando se refere ao trabalho dos outros como "textinho" ou "coisinha escrita" perde muita da razão.
Para este tipo de discussão em que se discutem pessoas e não ideias, não conta mais comigo.
Cumprimentos e bom fim-de-semana.
Caro Pedro Nuno,
Procurei esse texto, encontrei umas actas desse encontro, incluindo o texto que refere num seu comentário anterior, mas não encontrei referências à Estrela. Por isso lhe pedi que me indicasse para poder ver. Vejo neste seu comentário que aparentemente a sua afirmação sobre a inviabilidade dos teixos na Estrela decorre que questões gerais e não das políticas de conservação mas gostava de ver o trabalho em concreto.
Já agora, sobre as populações de teixo do Gerês é bom ter a noção que tem uma distribuição razoavelmente extensa, embora bastante fragmentada, e não seria um fogo de Primavera que as conseguiria atingir significativamente. Mas gostaria de ser claro a dizer que acho que as zonas de teixo são daquelas em que se justificampolíticas de supressão do fogo.
Referi um textinho a propósito de um textinho que identifiquei. E que é, inegavelmente, um textinho e nem pretende ser outra coisa.
Que seja claro, eu não discuti pessoas em si mesmo. O que discuti, e continuo a discutir, é o efeito que a reverência excessiva em relação a pessoas pode ter ns políticas de conservação.
Uma coisa é o que eu digo, que tem uma importância relativa porque ninguém me reconhece nenhum curriculum científico. Outra coisa é quando ideias com efeitos negativos reais sobre os valores conservacionistas são veiculadas por pessoas cuja reputação lhes dá uma credibilidade acrescida. E tive o cuidado de dizer que admito que não seja totalmente isento nos meus comentários.
Esteja descansado, não só o blog é público como tudo o que aqui disse sobre o Professor Catarino (e que volto a repetir diz apenas respeito ao contexto da discussão) já o disse, pelo menos nas suas linhas gerais, ao Professor.
E a demonstração de que o nome do professor Catarino é usado na discussão exactamente pela sua reputação é o facto do Pedro Nuno não citar os autores do estudo mas sim o professor.
Eu, há muitos anos, que me recuso a aceitar argumentos de autoridade.
henrique pereira dos santos
De volta às ideias...O citado artigo, de David Draper e Isabel Marques, tem uma parte sobre questões de etno-botânica e depois, numa segunda parte, traça alguns cenários eventuais para o futuro da espécie em Portugal continental. Parte desses cenários partem do pressuposto que determinadas alterações climáticas poderão ocorrer (as quais podem , pelo menos no plano teórico, não acontecer ou não acontecer como previsto).
O que é mais preocupante no caso da Serra da Estrela é que me parece que falamos cada vez mais de indivíduos isolados e não de verdadeiras populações com capacidade de regeneração (esta falta de regeneração também é citada no referido artigo e parece ser uma realidade concreta, independentemente de possíveis alterações climáticas futuras). Acresce que este artigo não deve ter tido em consideração o incêndio de 2005 que afectou, parcialmente, o melhor núcleo de teixo na Estrela, situado no Vale do Zêzere. E cujas consequências, no caso destes teixos, teremos que continuar a acompanhar.
O artigo não é exaustivo e não me parece que esclareça parte do que aqui temos discutido, excepto na parte que referi, ou seja, que tudo aponta para uma crescente inviabilidade da espécie na Estrela o que, indirectamente, reforça a importância das populações do Gerês.
Este artigo cita na bibliografia um trabalho que desconheço, e que não sei se o Henrique conhece, mas que deverá ser interessante: Carvalho, A. et al. (1999). Distribuição e regeneração natural do teixo na Parque Nacional da Peneda-Gerês e no Parque Natural Baixa Limia Serra Xurés, Revista de Biologia 17:43-49.
Não me vou alongar em mais comentários sobre o referido artigo pois também não sou especialista na matéria, nem tenho pretensões a tal. Sou apenas um licenciado em Biologia mas que exerce como professor e não como biólogo, tendo um interesse especial sobre algumas questões relativas à política de conservação como, neste caso em particular, em relação às populações de teixo. Daí a “emoção”...
A possibilidade do tal encontro se realizar em Portugal parece-me plausível, pelo que me foi dito, e seria uma maneira de juntar todos aqueles que, no nosso país, estudam e investigam sobre esta espécie. Até porque o artigo que cito levanta uma questão muito importante: será de investir na preservação do teixos na Serra da Estrela, onde supostamente a espécie não tem viabilidade a médio prazo; ou deveremos apostar tudo na preservação e proliferação das populações do Gerês?
(E sobre isto é tudo pois estou a começar a acumular muito trabalho noutras áreas).
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