quarta-feira, abril 22, 2009
É tarde...
Já aqui abordei, por diversas vezes, quer uma certa tendência para o alarmismo do movimento ambientalista, quer a dificuldade que este tem no seu relacionamento com os media.
A respeito do post de ontem publicado neste blog - "O que os números não dizem" -, um amigo fez-me chegar um link para um artigo publicado no passado dia 12 de Abril, no DN Ciência, e que pode ser lido na íntegra aqui. O seu título "Ave do ano em risco de extinção", é demolidor. É porém justo salientar a prudência do técnico da SPEA, de quem, aliás, sou amigo pessoal, que afirma que "os dados sobre a redução desta espécie não são fidedignos. Isto porque, em Portugal, a monitorização só começou em 2004, o que faz com que os primeiros resultados sobre o picanço-barreteiro, bem como as restantes espécies, só estejam concluídos em 2014". Tarde demais. O título arrasa com qualquer explicação à posteriori.
É o jornalismo que temos, bem sei. Eu diria até mais. É a sociedade que temos e que consome, preferencialmente, tudo o que é bombástico. Tudo o que choca. Mas é o que temos e já vai sendo tempo de aprendermos a lidar com os media. E convenhamos, quando publicamos informação "não fidedigna" (como a contida no gráfico que coloquei no post anterior retirada integralmente do site da SPEA, ver aqui), arriscamos títulos como este.
Gonçalo Rosa
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4 comentários:
Gonçalo,
Não percebi a relação com a discussão sobre o grau de ameaça do passarinho mas o artigo acaba assim:
"Estudo sem asas para voar
O picanço-barreteiro foi escolhido como ave do ano, mas é apenas a "espécie-bandeira" para sensibilizar o público em geral para a conservação da Natureza e para as alterações climáticas.
Domingos Leitão explica que "os dados sobre a redução desta espécie não são fidedignos". Isto porque, em Portugal, a monitorização só começou em 2004, o que faz com que os primeiros resultados sobre o picanço-barreteiro, bem como as restantes espécies, só estejam concluídos em 2014. "Dentro do panorama ocidental, somos os mais atrasados na monitorização das aves", lamenta o biólogo.
O estudo das aves depende da boa-vontade dos 150 voluntários da SPEA, pois "nestes cinco anos não houve qualquer financiamento estatal." A organização não tem rendimentos fixos, o que dificulta em muito o trabalho no terreno e impede a concretização de um dos grandes objectivos da SPEA: "sensibilizar a população no geral, através de acções de formação". Ainda assim as "bolsas de mérito" dão para manter viva a SPEA que anualmente faz o censo de aves comuns e realiza uma contagem de aves no Natal e no Ano Novo.
Para ajudar as aves a SPEA desenvolve acções de sensibilização (ver caixa), que têm uma dupla função: angariar fundos e envolver a sociedade civil nos projectos. Por falta de financiamento, os voos da ornitologia em Portugal continuam a ser mais curtos que os do pequeno picanço-barreteiro."
henrique pereira dos santos
Henrique,
Sei bem onde quer chegar e também sabe bem que, nesta área, temos pontos de vista bastante comuns.
Muito haveria (haverá!) a dizer sobre a sustentabilidade das ONGA's, como se teem vindo a descaracterizar, como deixaram de viver PARA a Conservação da Natureza e Preservação do Ambiente para passarem a viver DA Conservação da Natureza e Preservação do Ambiente, como e porque se dramatizam as situações populacionais de algumas espécies e, a passos não tão curtos como isso, se vão transformando em centros de emprego.
Sei também que este é um discurso polémico e bastante incómodo para alguns, mas estou totalmente convicto de que a discussão deste problema (porque é efectivamente disso que se trata) é fundamental, se tivermos a pretensão de alterar o actual estados das coisas.
E bem sei que em Portugal há uma certa tendência em ler mais nas entrelinhas do que nas linhas. O que escrevi ontem levanta questões sérias e o que afirmo decorre exclusivamente de factos concretos. Cá espero que os contestem.
Gonçalo Rosa
Desculpe o off-topic mas gostaria de alertar para algo que parece pertinente:
Petição contra a nova IC6, que ultrapassa a barreira da inutilidade para entrar no domínio do destrutivo (neste caso REN e RAN) e financeiramente insustentável:
http://www.peticao.com.pt/assinar-peticao.html?peticao=589
Agradecemos a divulgação
Estamos no país em que o telejornal de sexta da TVI é líder de audiências, uma coisa que se auto intitula de jornalismo mas que parece retirado do Taetro do absurdo.
O jornalismo sério só sobrevive em países com massa crítica suficiente para pagar jornalismo sério. Portugal não é, seguramente um desses países.
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