terça-feira, abril 21, 2009

O que os números não dizem

Picanço-barreteiro
Lanius senator
(foto sacada daqui)

Recentemente, a SPEA nomeu o Picanço-barreteiro como a sua "Ave do Ano 2009". Estive a ler alguma da informação disponibilizada pela SPEA aqui sobre esta espécie e encontrei este gráfico:

No texto, acrescenta a SPEA que "os primeiros resultados do Censo de Aves Comuns [CAC] apontam para uma descida de cerca de 26% na população de Picanço-barreteiro entre 2004 e 2007". Se é certo que o que diz o texto é a leitura linear do gráfico (ou, pelo menos, da diferença entre o valor de 2007 relativamente a 2004), não me parece correcto disponibizar esta informação sem referir explicitamente que um reduzido número de anos de seguimento populacional não permite conhecer com segurança a verdadeira tendência populacional.

Aproveitei para verificar o que dizia o EBCC-European Bird Census Council, que publicou vários indicadores obtidos pelo Pan-European Common Bird Monitoring Scheme (PECBMS) onde são incluídos os dados do CAC e de programas semelhantes em curso noutros países. Encontrei isto (tirado daqui):


Numa leitura grosseira do gráfico, o que verifico é que após uma muito acentuada queda verificada de 1996 para 1997, o índice mantem-se relativamente estável (entre os 50% e os 65%, relativamente a 1996) até 2006. Para o mesmo período, o EBCC conclui que globalmente as populações de Picanço-barreteiro se encontram em "declínio moderado", que define como "significant decline, but not significantly more than 5% per year. Criterion: 0.95 < upper limit of confidence interval < 1.00".

Intrigado com a tendência populacional apresentada pelo gráfico do EBCC, tentei investigar as fontes de informação que o sustentam e cheguei à conclusão que a informação tem origem em apenas 5 países (na Europa, o Picanço-barreteiro distribui-se ao longo da bacia mediterrânica). Surpreendentemente, verifico que entre 1996-1999, apenas Espanha forneceu informação. Só mais tarde, Itália (2000), França (2001), Portugal e Bulgária (2004) aderiram ao programa. Decidi pois, visitar ao site da SEO-Sociedad Española de Ornitologia que é quem coordenada o SACRE (um projecto análogo ao CAC), em território espanhol.

Cheguei ao seguinte gráfico, (aqui reproduzido na íntegra, já que no site da SEO o mesmo estava em versão pdf):

Considera a SEO que, entre 1998 e 2008, as populações espanholas de Picanço-barreteiro apresentavam uma tendência "estável". Ainda assim, faz a salvaguarda que outros não fizeram, afirmando que "a medida que aumente el número de años de muestreo las tendencias serán más representativas de la realidad, por lo que estos resultados hay que interpretarlos, de momento, con precaución".

Posto isto, fico estupefacto com a forma ligeira usada pelo EBCC para referir que a população europeia de Picanço-barreteiro se encontra em "declínio moderado", tendo por base exclusivamente dados obtidos em Espanha, sendo que os dados que suportam tal pessimismo são relativos a apenas um ano (1996). Acrescente-se ainda que, estes dados foram recolhidos no primeiro ano do projecto SACRE, em regiões relativamente limitadas.

E fico a pensar que, mostrassem os dados o inverso e haveria muito mais cautelas no que se dizia...

Gonçalo Rosa

7 comentários:

Anónimo disse...

Ouçam a nova música da Banda Zé Ninguém:

Corrupção

Corrupção em Portugal
Não vai nada nada mal
Este país é a loucura
Está pior que uma ditadura

O governo é uma piada
Nem o circo tem tanta palhaçada
Este país à beira mar
Vamos todos afundar

Por isso eu digo não
Por isso eu digo não
À corrupção
À corrupção

E depois, quem vai pagar!
Andamos todos a brincar!
Nem o gato nem o cão!
Eu aposto um milhão

Autarquia fraudulentas
Presidentas pestilentas
Sabem de quem estou a falar
Ou é preciso explicar?

Senhoras e senhores:
Bem vindos a Portugal!
O País mais corrupto da Europa!
Mais corrupto da Europa!
Não tenha medo, aqui ninguém vai preso!
Ninguém vai preso!
Mais corrupto da Europa!
Mais corrupto da Europa!

Este país é uma demência
É uma grande decadência
Autarquia fraudulentas
Presidentas pestilentas

E depois, quem vai pagar!
Andamos todos a brincar!
Nem o gato nem o cão!
Eu aposto um milhão

Por isso eu digo não
Por isso eu digo não
À corrupção
À corrupção

Banda Zé Ninguém
www.myspace.com/bandazeninguem

Gonçalo Rosa disse...

Caros leitores,

Talvez a inclusão de vários gráficos (?), tenha originado um problema técnico qualquer e desformato/cortado parte importante do texto.

O problema foi agora resolvido e o texto em falta incluído.

As minhas desculpas!

Gonçalo Rosa

Anónimo disse...

Mais info:

http://www.birdlife.org/datazone/species/BirdsInEuropeII/BiE2004Sp5548.pdf

Pedro Cardia

Gonçalo Rosa disse...

Caro anónimo,

Agradeço o envio da informação que já conhecia e que só não referi porque a informação que apresento é bem mais recente: Portugal (2004-2007), Espanha (1996-2006) e Europa (1996-2006). As estimativas populacionais nacionais que indica referem-se, na melhor das hipóteses, aos anos 2002 ou 2003 havendo várias relativas à década de 1990.

De qualquer forma, o trabalho que gentilmente envia salienta aspectos importantes:

1) Que em Espanha nidifica a maioria da população europeia; a tendência em 1992 era possivelmente de regressão (os parêntesis significam, se bem me recordo, é algum grau de incerteza quanto ao valor/tendência); há época não havia um programa de seguimento como o SACRE e não faço ideia como é que essa tendência foi encontrada; actualmente (1998-2008), como pode ver pela informação disponibilizada pela SEO, a tendência é "Estável";

2) Para Portugal, as estimativas e a tendência tem grande margem de dúvida. Estimam-se 10.000-100.000 casais e a tendência é possivelmente em regressão. Sabe como foram obtidas? É a mera opinião de alguns ornitólogos que, com todo o respeito (e há época não havia hipótese de recorrer a informação concreta pelo simples motivo que esta não existia), vale o que vale;

3) Não discuto os dados, propriamente ditos, do CAC (SPEA), SACRE (SEO) e PECBMS (EBCC). É informação concreta como provavelmente não existia para nenhum dos países quando foi produzido o documento que refere. O que discuto foi a falta de cuidado na apresentação da informação do CAC, por parte da SPEA e, muito mais grave do que isso, a análise errónea dos dados apresentados pelo EBCC.

Gonçalo Rosa

Unknown disse...

Caro anónimo,

Pequeno lapso... a informação que apresentei para Espanha é para 1998-2008 e não 1996-2006, como havia referido.

Anónimo disse...

Para "anónimo" até que assinei o texto de uma forma bem evidente...

Pedro Cardia

Gonçalo Rosa disse...

Peço desculpa, Pedro. Não havia reparado. Mais uma vez obrigado pelo link.

Cumprimentos,

Gonçalo Rosa