As imagens que usei neste verbete visam evitar complicações com a exarcebada sensibilidade de algumas ONGs em Portugal face ao uso do seu logotipo. Espero que os enfermeiros americanos e a universidade de Indiana sejam menos susceptíveis que as organizações portuguesas que consideram abusivo o uso do seu logotipo quando são criticadas
Tenho sido bastante crítico do movimento ambientalista em Portugal.
Isso não significa que não o apoie, significa apenas que não me revejo em muitas das suas opções.
Recentemente foi aprovado um diploma de alteração da legislação da Reserva Agrícola Nacional que tenho contestado fortemente.
Tenho colaborado com a QUERCUS na contestação este diploma, sempre de boa mente. As minhas divergências com a QUERCUS, nomeadamente com o seu anterior presidente, nunca seriam suficientes para eu deixar de colaborar numa matéria central do ordenamento do território do país.
Para meu grande espanto a petição que lançámos atingiu as mais de 2500 assinaturas e continua a ser assinada todos os dias.
Mas para meu ainda maior espanto, as minhas diligências, e de outras pessoas, junto de algumas organizações, no sentido de apoiarem a petição, que apenas pede mais debate e alteração de normas que são, na prática, o fim da Reserva Agrícola, têm sido um fracasso.
As duas principais organizações que se têm furtado a assumir uma posição institucional favorável à petição e à defesa da RAN são a LPN e a SPEA.
A SPEA tem uma posição curiosa, visto que uma boa parte dos seus dirigentes assinam a petição, vai dizendo informalmente que sim e mais que também mas até hoje não tem, no seu site e que eu tenha visto, qualquer posição favorável à petição.
Mas a verdadeira surpresa é mesmo a LPN.
Dir-se-ia que a LPN não considera importante a matéria. Poderia ser, mas não bate certo com as numerosas vezes que invoca a RAN para justificar a sua discordância com projectos e muito menos com o encontro que organizou no Porto, já neste Maio e cuja descrição, feita pela LPN, transcrevo:
"A LPN, em parceria com a Fundação de Serralves, promoveu no passado dia 21 de Maio mais uma Conversa de Fim-de-Tarde, na Fundação de Serralves, desta vez com a temática “Solos: uma gestão insustentável?” em discussão. Este evento contou com a intervenção de oradores especialistas na área dos Solos e Ordenamento, nomeadamente do Prof. Eugénio Sequeira (LPN) que abordou a questão da poluição e preservação dos solos com a sua habitual energia e empenho, da Eng.ª Alexandra Ribeiro (Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa) que apresentou algumas alternativas para a descontaminação dos solos e do Prof. Paulo Pinho (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) que falou da importância do Ordenamento do Território, baseando a sua apresentação num trabalho de Planeamento realizado nos Açores. Ao contrário de anteriores debates, os especialistas e o próprio público foram consensuais em considerar que os solos estão no centro de um conjunto de questões cada vez mais urgentes em Portugal e na Europa. Todos salientaram a necessidade de melhorar o ordenamento do território em Portugal, de acabar com as pressões e combater os interesses instalados (mais uma vez a abundância de projectos PIN foi referida). Todos foram unânimes em considerar que a população tem que participar mais em todos os processos de tomada de decisão que envolvam o ordenamento do território e a protecção dos solos. Como já vem sendo habitual, nesta série de debates, a sala esteve completamente preenchida com uma audiência atenta e participativa, criando uma discussão muito elucidativa e esclarecedora promovendo uma maior consciencialização dos presentes para a protecção deste recurso."
Li uma vez, li duas, ainda tentei convencer-me de que alguma referência à alteração do regime da RAN me tinha escapado, lendo três vezes.
Não, a LPN faz um debate sobre solos agrícolas, em pleno processo de recolha de assinaturas para a defesa da RAN e não se lhe refere.
Coitados, estão assoberbados a combater uma campanha de comunicação de uma empresa, que como se sabe é muito mais importante que um mero diploma de extinção da RAN.
Têm falta de meios, não chegam para tudo.
Para que não restem dúvidas sobre a falta de meio aqui fica a lista de assessores da Direcção da LPN (que suponho que são funcionários pagos):
Ana Emauz - Ana Sofia Ribeiro - Cátia Marques - Eduardo Santos - Filipa Loureiro - Inês Henriques - Inês Machado - Maria Lopes - Miguel Lecoq - Nuno Castanheira - Rita Alcazar - Rui Constantino - Zélia Vitorino.
Ana Emauz - Ana Sofia Ribeiro - Cátia Marques - Eduardo Santos - Filipa Loureiro - Inês Henriques - Inês Machado - Maria Lopes - Miguel Lecoq - Nuno Castanheira - Rita Alcazar - Rui Constantino - Zélia Vitorino.
Há dezasseis anos ininterruptos que a LPN gere projectos Life (cinco). O seu orçamento anual anda pelos 700 000 euros. É proprietária e tem rendimentos de 1700 hectares no Alentejo.
Não será por falta de meios que a LPN (e já agora a SPEA), não tomam posição sobre uma matéria que inegavelmente consideram relevante. Eu, que tenho muito menos meios, não tenho tido qualquer dificuldade em participar no debate sobre a defesa da RAN.
Se não é por falta de meios, se não é por falta de interesse, o que faz a SPEA e a LPN evitarem pronunciar-se sobre uma das decisões ambientais mais precupantes deste Governo?
Eu não tenho explicação.
Ou melhor, tenho mas não acredito que se tenha descido tão baixo e que o financiamento das organizações já esteja a condicionar tanto as opções de política destas ONGs.
Eu próprio não acredito na explicação mais racional que consigo encontrar para entender este absurdo.
Alguém me pode ajudar e dar uma explicação em que eu possa acreditar?
Adenda: Para quem quiser vir com a conversa de que em Portugal as pessoas não participam, não há voluntários e etc., aconselho a leitura das muitas notícias deste fim de semana, de que deixo aqui em pedaço: "Milhares de voluntários estão hoje e domingo à porta dos supermercados, onde vão distribuir sacos que os clientes poderão encher de alimentos, para que o Banco Alimentar possa «fazer face a um crescente número de pedidos de apoio».
... Pedem-se alimentos não perecíveis, como leite, pão, azeite, massa e arroz. Mais de 23 mil os voluntários participam nesta iniciativa."
... Pedem-se alimentos não perecíveis, como leite, pão, azeite, massa e arroz. Mais de 23 mil os voluntários participam nesta iniciativa."
henrique pereira dos santos
12 comentários:
Há outra explicação:
A LPN está cheia de "dead wood" e a juventude que lá anda, está preocupada com os seus pequenos projectos mas não tem minima vocação de lobby ambiental.
Quanto à SPEA deve ser que os patronos Britânicos não devem gostar de polémicas com os governos a não ser que seja para o bem das aves.
Caro anónimo,
O seu comentário faz sentido mas tem um problema: é que ao mesmo tempo estas organizações envolvem-se em coisas tão relevantes como uma campanha de comunicação de uma empresa, uma discussão bizantina sobre o carácter invasivo do eucalipto ou as aberturas da lagoa dos Salgados, esse magno problema de conservação das aves em Portugal.
Ou seja, pura pressão política. Que é orientada para estas coisicas e não para outras coisas.
Porquê?
henrique pereira dos santos
Henrique,
Em boa hora escreve este post. Como bem sabe, sem quaisquer resultados práticos, tenho tido algumas conversas com pessoas ligadas à SPEA, nomeadamente com o seu Presidente, no sentido de solicitar uma maior envolvência desta Associação nesta causa em concreto.
Por diversas vezes exprimi a minha opinião sobre o que andam as ONGA's nacionais a fazer e estes são sinais que confirmam as minhas ideias. Fazer lobby e pressão política sem o objectivo de conseguir um qualquer projecto ou uns floreados, atirando areia para os olhos dos seus sócios, deixa de fazer sentido. É perda de tempo e tem o condão de poder pôr em causa novos projectos/financiamentos.
Entendo também que esta temática tem que ser revisitada. Confesso que me assusta o caminho que diversas associações - SPEA e LPN, incluindo - estão a trilhar, e pergunto-me até onde fará sentido chamarmos a estas entidades de ONGAs.
Gonçalo Rosa
A sua pergunta é fácil de responder.
Os mais novos movem-se à custa de dinheiro fácil que lhes entra no bolso de variadíssimas formas.
Os mais velhos, melhor instalados na vida, passam bem sem esse dinheiro fácil mas não o descuram. Sempre atentos, aguardam que o protagonismo lhes dê a possibilidade de voarem mais alto. E instigam os novos a aproveitar o momento, excelente estratégia para comprometer todos e calar críticas internas. Eugénio Sequeira e José Alho, bons velhos rapazes do PS, são um paradigma dos tempos que correm, tempos do vale tudo e da desavergonha.
Não duvido que amanhã ou depois surja uma leve crítica ao governo (previamente combinada com os patrões da gamela). Apenas os lobos mordem na mão de quem lhes dá de comer. Os cães há muito que aprenderam a dar a patinha.
Caro Anónimo,
Ainda que não se possa descartar totalmente a hipótese que coloca, a maioria das pessoas que constituem o movimento ambientalista são com certeza boas pessoas e bem intencionadas.
A questão de fundo continua a ser: mesmo que as direcções de algumas ONGs estejam em grande parte manietadas pelas suas estruturas técnicas de apoio, cujo ordenado depende mais dos projectos que dos sócios, como é possível que se mantenham situações como esta que diz respeito à Reserva Agrícola sem que dentro das ONGs se sinta alguma tensão?
Isto é que me leva a achar que a coisa não deve ser exactamente como parece, independentemente de estar de acordo consigo em relação a uma certa endogamia que faz com que os dirigentes sejam todos protegidos uns pelos outros sem qualquer prurido pelos zigue zagues de vários deles, que naturalmente prejudicam seriamente a reputação do movimento ambientalista.
henrique pereira dos santos
Pessoas de bem? Ora essa! Alguma vez por aqui as "pessoas de bem" se deram ao trabalho de responder aos críticos que a coisa não era bem assim?
Quem não se sente não é filho de boa gente.
Caro Anónimo,
Por feitio eu também responderia mas reconheço que nem toda a gente tenha estômago para isso, sobretudo em Portugal onde críticas são imediatamente transformadas em questões pessoais.
Continuo a achar que de facto a maioria das pessoas envolvidas no movimento ambientalista são pessoas de bem.
O que não entendo é a forma como somos complacentes com modelos de gestão que não permitem que se perceba o que se passa.
Repare-se, a minha crítica não se prende com o facto de alguém não querer assinar a petição, respeitaria integralmente uma posição clara nesse sentido de qualquer organização.
O que não entendo é como convivemos com estas águas turvas em que as coisas não são carne nem peixe e ninguém parece achar necessário explicar publicamente as posições (e sobretudo as omissões) de organizações que são intrinsecamente favoráveis à transparência.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique,
Tenho acompanhado com interesse as discussões e torno das ONGA’s despoletadas a partir de posts que puseste no AMBIO. Este último sobre a nova legislação da RAN toca mais uma vez em questões centrais relativas à actividade destas organizações e põe a descoberto a forma pouco confortável como elas encaram a crítica, pois, mais uma vez, não aparecem a comentar o que é dito no blog.
Penso que seria necessário levar o debate sobre o papel das ONGA’s na sociedade para fóruns mais alargados do que o AMBIO (estou a falar de cor pois não sei quantos visitantes tem o AMBIO regularmente) onde se pudesse discutir o modo como se financiam, o modo como são definidas as suas prioridades e a profissionalização das suas estruturas. Creio que sem transparência relativamente a estas questões as organizações tenderão a fechar-se cada vez mais sobre si próprias em torno de interesses (muitas vezes) particulares o que, sendo bom para alguns, não é certamente bom para a defesa do ambiente.
Rui Rufino
Caro Rui,
A Ambio é visto por bastante gente, digamos, entre 150 a 200 pessoas dia.
A questão de fundo não é a da falta de visibilidade.
Acredito que em parte esta ausência de reacção se deva ao facto do post ser escrito por mim, muita gente considera a minha maneira de discutir agressiva e deselegante, o que eu admito que seja.
Outra parte é porque pura e simplesmente não há interesse nenhum em discutir este assunto, quer por parte das direcções, quer por parte dos corpos técnicos que efectivamente têm um peso determinante na vida das associações.
Continuo a dizer que não tenho nenhuma razão para supôr que as pessoas agem assim por má fé. Acho que estão convencidas de que estão a fazer o melhor pela conservação.
E sobretudo acham, uma ideia muito enraízada no movimento ambientalista, que os fins justificam os meios até certo ponto.
E esté é o problema.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique,
Quando refiro a necessidade de levar a discussão para outros fóruns não estou apenas a pensar na visibilidade. A minha ideia é sobretudo a de tirar esta discussão de um espaço que é, apesar do número apreciável de visitantes, relativamente fechado e levá-la para um campo onde os diferentes grupos de interesses se tenham de confrontar com a opinião pública em geral.
Também não tenho razões para supor que as pessoas ligadas às ONGA’s agem de má fé e não penso que seja por aí que a discussão deva seguir. Creio que a questão central está na forma como são definidas as prioridades de acção destas ONGA's, que depende, no essencial, dos fundos (comunitários) disponíveis para projectos. Enquanto estas organizações não tiverem uma forma de assegurarem o seu financiamento de forma independente dos projectos comunitários terão sempre as suas agendas condicionadas por terceiros.
A ideia de que os fins justificam os meios está de facto enraizada mas, na minha opinião, muitas vezes funciona contra a conservação, pois a realidade acaba sempre por se tornar evidente descredibilizando opções menos transparentes e quem as propôs.
Rui Rufino
Caro Rui,
Estamos de acordo na ideia de que no curto prazo até pode parewcer justificável o uso de meios questionáveis para atingir fins respeitáveis, mas no médio longo prazo isso funciona seguramente contra a conservação.
Também estamos de acordo que a discussão sobre a forma como as prioridades são definidas é a questão central.
O problema está em saber como se consegue fazer essa discussão sair do meio claustrofóbico e endogâmico da conservação para paragens mais arejadas e com mais contraditório.
Nâo é fácil porque só meia dúzia de marginais dos movimentos cívicos estão interessados nisto: o mais stream não quer ondas, os jornalistas têm longas histórias de proximidade com fontes habituais das suas notícias, ao poder convém esta forma suave de lidar com grupos sociais potencialmente incómodos (como se vê nesta história da RAN mas também na inacreditável telenovela das energias renováveis, cujo silêncio, ou no máximo, murmúrio sobre a publicidade efectivamente enganosa por parte do primeiro ministro contrasta com a histeria com a camapnha da EDP) e portanto não massa crítica para discutir.
Há sim umas águas turvas em que toda a gente diz não se rever mas também não querer agitar.
henrique pereira dos santos
Olá Henrique,
* Desafio
Relativamente ao valor que apresenta de visibilidade diária deste blogue coloco o desafio de oficializarem estes números tornando-os visíveis em tempo real, por exemplo identificando quantas pessoas estão online no momento em que se abre a página do Ambio.
* Resposta à questão "...o que faz a SPEA e a LPN evitarem pronunciar-se sobre uma das decisões ambientais mais preocupantes deste Governo?"
Julgo que se calhar as 2 ONGA (a LPN e a SPEA) têm mais que fazer do que INVESTIR TEMPO em lhe responder; é que você não está interessado em ouvir os outros mas sim, e tão só, em falar, atacar e marcar presença.
(Este post faz-me lembrar uma música em que às tantas o Boss AC diz "a boca abre e diz o que quer bla, bla, bla", isto porque você chegou ao cúmulo de escrever os nomes dos técnicos da LPN! Qual a utilidade da publicação dos nomes? Assim se vê o quão bem intencionado está/va.)
Em adenda, refiro que assinei a petição da RAN que encabeçou porque as úteis figuras de OT (RAN e REN) e os valores de Conservação da Natureza e da Biodiversidade falam mais alto do que simpatias/antipatias que possa sentir por si.
Os bons trabalhos elogiam-se (exemplo da petição que vocês despoletou) e os maus, não construtivos e desonestos (exemplo deste seu post onde a avaliação que faz dos meios, a falta de interesse das ONGA, entre outros pontos, equipara-se às suas críticas à ciência/vodu) podem surtir nos outros reacções distintas, sendo a não resposta a adequada reacção destas ONGA à sua provocação.
Como não sou membro de nenhuma direcção destas ONGA senti-me na liberdade de lhe responder, usando algum do meu tempo disponível consigo.
Até breve,
Outro anónimo.
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