segunda-feira, julho 20, 2009

Carros eléctricos


"Primeiros cinco mil carros eléctricos terão cinco mil euros de incentivo cada"

Esta foi a promessa de hoje de Sócrates. Não pretendo discutir se é boa ou má mas simplesmente perguntar se alguém que saiba suficientemente do assunto me pode explicar se do ponto de vista ambiental faz sentido ter muitos ou poucos carros eléctricos.
Do ponto de vista do ambiente micro, isto é, da qualidade do ar e do ruído nas cidades, sem dúvida.
Mas do ponto de vista global?
O que significa o ciclo de vida destas baterias? O que significa aumentar a percentagem dessa forma nobre de energia que é a electricidade? O que significa de pressão para novos centros de produção eléctrica (barragens, eólicos, térmicas, nuclear?).
Conheço pessoas que querem ter um carro eléctrico porque produzem a sua própria electricidade e isso permitiria melhorar a sua perfomance do ponto de vista da pegada carbónica.
Mas não será isso que estará em causa com a generalização dos carros eléctricos assente numa rede de abastecimento pública que será, penso eu, inveitavelmente alimentada pelos grandes centros de produção.
Confesso que não percebo nada disto mas gostava de ouvir opiniões descomprometidas sobre o assunto.
E insisto, estritamente do ponto de vista ambiental (que do ponto de vista global de sustentabilidade, que inclui as vertentes económicas e sociais a medida é desastrosa. Basta ter em atenção que o incentivo do Estado, que resulta também do dinheiro dos pobres, vai ser aplicado a apoiar quem pode comprar carros acima dos 20000 euros, em vez de ser aplicado em sistemas mais eficientes de transportes públicos).
henrique pereira dos santos
Adenda: encontrei este link, pode ser que ajude. Colocarei outros se os encontrar e com pontos de vista diferentes e que me pareçam minimamente crediveis (sim, numa base de opinião pessoal, não tenho outra base). Para além do comentário do Francisco que está na respectiva caixa.

5 comentários:

Unknown disse...

Faz sentido se a tendência for de uma maior produção de electricidade de origem renovável e tão em regime de microgeração quanto possível associada a um uso eficiente da mesma. Descodificando melhor, havendo um menor consumo devido à eficiência energética, investindo na microprodução cujos preços estão a descer e tenderão a descer ainda mais, aproveitando as renováveis e ouras que possam surgir no sistema de grande produção (eólica off-shore, por exemplo), sabendo-se que a reciclagem de pelo menos 95% dos materiais incluindo baterias é possível, tudo bem... mas é preciso falar dos dados a sério: Portugal teve 27,6% de electricidade renovável em 2008 (e não os 43% à custa de correcções); as emissões de CO2 de um pequeno carro eléctrico que experimentei eram de 80 g/km; um híbrido da Honda, bem maior, tem 101 g/km de emissões de CO2 (a diferença não é grande...). E já agora duas questões - como vai o Governo cobrar as fantásticas receitas do Estado sem ISP? e se o CO2 é o critério principal do actual imposto sobre veículos, porque é que nos carros híbridos, após 5 anos de incentivos, se continua a isentar 40% do imposto e não nos limitamos ao CO2 que é mais baixo nestes automóveis?

Nuno Ribeiro disse...

Nunca é demais alertar para a falsa "solução" para a mobilidade sustentável que são os carros eléctricos.

Se o critério das ajudas concedidas a este brinquedo para uma reduzida minoria é ambiental então que se extenda a outro tipo de transportes mais vantajosos como o uso diário da bicicleta e autocarro nas cidades e na demorada actualização da rede ferroviária convencional.

Quem vê estas medidas isoladas ainda acaba por pensar que vivemos num país carro-cêntrico, deus me livre(benzo-me 3 vezes).

Henrique Pereira dos Santos disse...

Perguntas se faz sentido ter muitos ou poucos carros eléctricos. É complicada a resposta, mas essencialmente diria - sim, faz sentido, se se perceber bem o que se quer.
Globalmente, não conheço nenhum estudo comparativo entre ciclo de vida de um carro eléctrico e carros normais, mas duvido mesmo que faça sentido fazer uma análise desse tipo, dada a falta de normalização da tecnologia eléctrica, e o seu rápido desenvolvimento. Falar nas baterias de iões de lítio actuais tendo por base o que elas eram hà cinco anos ou mesmo há três anos seria simplesmente errado.
Depois, será sempre óbvio que, para qualquer solução de motorização, o interesse ambiental será sempre maior na aplicação de soluções de transporte colectivo. O "carro eléctrico" pode ser interessante, o autocarro eléctrico o é ainda mais (daí a recuperação em alguns casos dos "trolley buses"). O maior problema ambiental em Portugal ligado ao transporte tem sobretudo que ver com a falta de mobilidade e as emissões acrescidas por essa falta de mobilidade.
A revolução do carro eléctrico contudo é a possibilidade de atingir uma espécie de "santo Graal" da energia eléctrica: a possibilidade de utilizar uma capacidade permanente de armazenagem de electricidade para, em ligação com a rede, optimizar a gestão de rede. Tal possibilitaria a entrada na rede de muita maior capacidade de geração distribuída (microgeração, renováveis) e levaria a que estas tecnologias fossem mais competitivas com as tecnologias centralizadas (carvão/gás natural). A alternativa a ter essa capacidade de armazenagem de electricidade sob a forma de baterias de automóveis é aumentá-la através da construção de barragens, sobretudo de barragens com contra-embalse e bombagem. Indirectamente, e se fosse atingido esse tal Graal, talvez os argumentos "eléctricos" para o plano de construção de barragens fossem francamente fragilizados.
O programa Nissan/Renault atingirá esse Graal? Duvido, sobretudo por causa da retracção do mercado europeu e português de automóveis, que possivelmente inviabiliza uma renovação de frota.
Por último uma nota: não conheço a forma concreta do subsídio em causa na notícia, mas se se confirmasse que o subsídio fosse de 5000 euros independentemente do modelo em causa, esse subsídio seria progressivo e seria tendencialmente mais para os "pobres" do que para os "ricos", dentro do universo de quem compra carro em Portugal. Obviamente, tal progressividade dependeria da existência de modelos económicos eléctricos. E tens razão: a medida socialmente mais progressiva seria provavelmente a maior penalização da aquisição de todos os automóveis: a gasolina ou a gasóleo ou eléctricos, pois todos contrbuem para a falta de mobilidade e para o congestionamento nas cidades.

Um abraço,
Pedro Martins Barata

Anónimo disse...

Sugiro:
http://a-ciencia-nao-e-neutra.blogspot.com/2009/07/baterias-onde-mais-doi-o-carro.html

Bruno Ferreira disse...

Faz sentido. É claro que o mundo não acaba aqui. A Terra vai continuar a girar e devem aparecer soluções ainda melhores. Ninguém diz que não. O carro eléctrico tem potencial. Eu não acredito que, com toda a inovação e desenvolvimento tecnológico de hoje não seja possível fazê-lo em condições! Vamos entrar num momento determinante! Ou aderimos ao carro eléctrico ou não. Sendo que o sucesso do carro eléctrico depende de uma boa adesão. Nesta altura há muitas interrogações. Se acha que um eléctrico puro pode deixá-lo ficar mal, opte por um eléctrico + gasolina. 100km com motor eléctrico e a partir daí funciona a gasolina. Todos os dias aparecem novas soluções. Acompanhe tudo aqui http://ocarroelectrico.blogspot.com