terça-feira, julho 28, 2009

quem paga o quê?

Janeiro de 2006

Julho de 2008

Abril de 2009

Durante vários anos e até 2007, 15 ou 20 casais de cegonha-branca nidificavam numa linha com cerca de uma dúzia de cedros, plantados para ornamentar e dar sombra a um pequeno monte, nas proximidades de Castro Verde. Lentamente, os cedros foram sendo queimados pela urina e excrementos das cegonhas, acabando por morrer.
Em 2008, um grupo de 100 ou 200 casais de garças-boeiras juntou-se às cegonhas. Nidificou nos cedros e nalgumas das poucas laranjeiras existentes nas proximidades. No Verão, quando as crias abandonaram os ninhos, aquelas laranjeiras estavam queimadas.
Já em 2009, o número de casais de garças aumentou muito consideravelmente (400 a 600 ninhos ocupados). A colónia espalhou-se por todo o laranjal nidificando ainda num pequeno canavial. No final da época de nidificação, todo o laranjal estava destruído (infelizmente não tenho fotos). Não falei com o proprietário do terreno, mas tenho fortes dúvidas que esteja radiante com o sucedido. Desconheço se procurou apoio junto da administração pública para resolver a situação.

Eis um bom exemplo de danos consideráveis e visíveis causados por fauna selvagem.

Em todos os casos em que existam danos consideráveis e inusitados, deve ser dado o apoio necessário ao proprietário, por forma a mitigar conflitos entre conservação da natureza e actividades humanas. E esse apoio deve considerar a relevância dos valores em causa em termos de conservação da natureza. Nalguns casos, em que os valores naturais teem pouca relevância, é aceitável uma posição mais "agressiva", que pode passar, por exemplo, pela remoção de ninhos ou espantamentos. Noutros, o apoio deve passar por um busca activa de soluções de compromisso, ou mesmo pelo pagamento de compensações pelos danos causados, à semelhança do que acontece exclusivamente para os prejuízos causados pelo lobo.

O Estado, ou seja, todos nós, não podemos deixar de assumir os custos da conservação da natureza que tanto (e tão justamente) defendemos. Não é aceitável assobiarmos para o ar, esperando que um punhado de desafortunados assumam uma parcela desproporcionada da factura, escudando-nos na ilegalidade e na imoralidade de um qualquer acto desesperado para perpetuar a situação, ano após ano.

Gonçalo Rosa

1 comentário:

edite disse...

Completamente de acordo.

Infelizmente, neste caso das aves, há danos colaterais consideráveis que devem ser assumidos pelo Estado, sob pena de os proprietários menos sensíveis declararem guerra às espécies em causa (ou aos lobos, ou às águias...).

Exijo que o meu Estado indemnize estas pessoas e as sensibilize para a protecção. Não basta enviar o cheque; é preciso um contacto personalizado e pedagógico pela preservação da biodiversidade.

Just my 2 cents.

Parabéns pelo blog.