“Seis anos depois dos dramáticos incêndios de 2003, a floresta portuguesa continua à mercê do seu principal calcanhar de Aquiles: o minifúndio.”
Assim começa Ricardo Garcia o seu trabalho de 27 de Julho sobre a floresta e os fogos.
Reportagem é boa, mas esta ideia de que o minifúndio é um grande inimigo da floresta, apesar de persistente e generalizada, está errada.
A ideia tem a sua base na opinião de técnicos florestais de que o ganhos de escala nas operações de silvicultura são decisivos na gestão florestal das nossas matas.
No entanto as mais interessantes áreas do país para a produção florestal, excluindo a fileira da cortiça, e aquelas onde é realmente criada uma boa parte da nossa riqueza florestal, que mantêm alguma gestão e com fogos, sim, mas raramente catastróficos, correspondem a uma zona ao longo do litoral, desde Lisboa ao Minho.
Ora a faixa onde realmente a riqueza florestal é produzida é fortemente dominada pelo minifúndio, com destaque para o Minho.
A zona do Pinhal Interior, o centro da reportagem citada, é também de minifúndio, mas o problema de gestão da sua floresta está longe de ser um problema de propriedade.
O problema é mais complicado: o problema é a rentabilidade da floresta.
Ao contrário do que acontece na faixa litoral citada a verdade é que a gestão não existe nem existirá com base nos rendimentos que a floresta pode proporcionar em muitas áreas que se florestaram por razões que ultrapassam a racionalidade económica de cada produtor.
Não por acaso quase todos os intervenientes a que a reportagem dá voz falam dos apoios públicos como essenciais. E repetem que sem esses recursos alocados à floresta, o país arderá sempre, mais tarde ou mais cedo.
Na verdade, pelo país inteiro, nos anos oitenta, esta fragmentação da propriedade não foi obstáculo a que as empresas de celulose florestassem áreas vastas através de acordos com o proprietários.
Há outros factores essenciais para a competitividade da floresta que pesam muito mais que as economias de escala proporcionadas pelas dimensões das propriedades.
Basta ter em atenção que as duas celuloses que existem em Portugal têm vastas áreas do seu património com outros usos que não a floresta de produção porque não compensa gerir áreas com produtividades abaixo de determinados valores.
A ideia de que a floresta é boa em si mesma, sem consideração pelos diferentes benefícios que resultam dos diferentes tipos de floresta, associada à ideia de que o que não é agrícola é florestal tem mantido a ficção da necessidade de encontrar mecanismos para gerir áreas no quadro da política florestal, o que vai acabar sempre na reivindicação de mais e mais recursos públicos afectos quer à gestão florestal quer ao sistema de combate ao fogo.
Talvez seja tempo de parar de florestar sem racionalidade económica, entrar em consideração com outras actividades na ocupação do território, como a pastorícia, rever os critérios de afectação dos dinheiros públicos para o mundo rural e considerar a hipótese de não gestão em áreas a afectar à conservação da natureza.
Os fogos não acabarão, aqui e ali poderão ser mais violentos, mas o balanço global será socialmente mais positivo que continuar a enterrar dinheiro público em áreas onde a actividade não é competitiva, qualquer que seja a dimensão da propriedade.
henrique pereira dos santos"
Assim começa Ricardo Garcia o seu trabalho de 27 de Julho sobre a floresta e os fogos.
Reportagem é boa, mas esta ideia de que o minifúndio é um grande inimigo da floresta, apesar de persistente e generalizada, está errada.
A ideia tem a sua base na opinião de técnicos florestais de que o ganhos de escala nas operações de silvicultura são decisivos na gestão florestal das nossas matas.
No entanto as mais interessantes áreas do país para a produção florestal, excluindo a fileira da cortiça, e aquelas onde é realmente criada uma boa parte da nossa riqueza florestal, que mantêm alguma gestão e com fogos, sim, mas raramente catastróficos, correspondem a uma zona ao longo do litoral, desde Lisboa ao Minho.
Ora a faixa onde realmente a riqueza florestal é produzida é fortemente dominada pelo minifúndio, com destaque para o Minho.
A zona do Pinhal Interior, o centro da reportagem citada, é também de minifúndio, mas o problema de gestão da sua floresta está longe de ser um problema de propriedade.
O problema é mais complicado: o problema é a rentabilidade da floresta.
Ao contrário do que acontece na faixa litoral citada a verdade é que a gestão não existe nem existirá com base nos rendimentos que a floresta pode proporcionar em muitas áreas que se florestaram por razões que ultrapassam a racionalidade económica de cada produtor.
Não por acaso quase todos os intervenientes a que a reportagem dá voz falam dos apoios públicos como essenciais. E repetem que sem esses recursos alocados à floresta, o país arderá sempre, mais tarde ou mais cedo.
Na verdade, pelo país inteiro, nos anos oitenta, esta fragmentação da propriedade não foi obstáculo a que as empresas de celulose florestassem áreas vastas através de acordos com o proprietários.
Há outros factores essenciais para a competitividade da floresta que pesam muito mais que as economias de escala proporcionadas pelas dimensões das propriedades.
Basta ter em atenção que as duas celuloses que existem em Portugal têm vastas áreas do seu património com outros usos que não a floresta de produção porque não compensa gerir áreas com produtividades abaixo de determinados valores.
A ideia de que a floresta é boa em si mesma, sem consideração pelos diferentes benefícios que resultam dos diferentes tipos de floresta, associada à ideia de que o que não é agrícola é florestal tem mantido a ficção da necessidade de encontrar mecanismos para gerir áreas no quadro da política florestal, o que vai acabar sempre na reivindicação de mais e mais recursos públicos afectos quer à gestão florestal quer ao sistema de combate ao fogo.
Talvez seja tempo de parar de florestar sem racionalidade económica, entrar em consideração com outras actividades na ocupação do território, como a pastorícia, rever os critérios de afectação dos dinheiros públicos para o mundo rural e considerar a hipótese de não gestão em áreas a afectar à conservação da natureza.
Os fogos não acabarão, aqui e ali poderão ser mais violentos, mas o balanço global será socialmente mais positivo que continuar a enterrar dinheiro público em áreas onde a actividade não é competitiva, qualquer que seja a dimensão da propriedade.
henrique pereira dos santos"
Publicado no jornal Público de 1 de Agosto de 2009
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