sexta-feira, dezembro 11, 2009

Sweeney Todd, 11 de Setembro e Climategate



Há uns tempos atrás fui ao cinema ver Sweeney Todd: the demon barber of Fleet Street, um filme de Tim Burton, de 2007, adaptado de um musical da Broadway que relata a história de Benjamin Barker (interpretado brilhantemente por Johnny Depp), um barbeiro londrino, que vivia feliz com sua a mulher e filha. Um dia, um juiz interessou-se pela sua mulher e, sob falsas acusações, mandou prender Benjamin e exilá-lo para a Austrália.

Muitos anos mais tarde, de volta do seu exílio, Benjamin (agora sob o nome de Sweeney Todd), volta à antiga Londres do século XIX. O barbeiro envolve-se com Mrs. Lovett, uma torteira falida, sem dinheiro para comprar carne para fazer as suas tortas. Sweeney Todd decidido vingar-se do juiz, junta o “útil ao agradável” e começa, com as suas navalhas de prata, a preparar a macabra morte de quem o condenara. Para treino, “exagera” no corte das barbas dos seus clientes fornecendo carne à sua parceira. Depois de degolados, os corpos são aviados através de um túnel que liga a barbearia, no primeiro andar, à cozinha da tasca, no rés-do-chão. Lá em baixo, são descarnados e a carne picada. As tortas fazem grande sucesso.

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No rescaldo do 11 de Setembro, surgiram teses conspirativas perversamente arquitectadas, que apontavam o dedo à administração Bush, acusando-a de fabricarem os atentados nos EUA. Tudo sustentado com factos ditos indesmentíveis feitos provas (algumas risivelmente amadoras) como a forma do buraco nas paredes do Pentágono, segundo os autores destas teses, em forma de míssil, ou ainda ao modo como o World Trade Center se desmoronou, sendo que, reflexos observáveis em imagens vídeo suportam a explicação de que estes seriam resultado explosões em sequência de bombas previamente colocadas a mando da Administração. De muito má memória, é certo, aquela administração era assim acusada de perpetrar crime tão hediondo contra o povo que a elege e que representam, como forma de justificar, na opinião pública americana e mundial, um desejado ataque ao Afeganistão. Mero exemplo de como de forma insana, completamente fantasiosa e impunemente se fabrica uma história.

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Acerca do Climategate e bem antes de toda esta confusão de e-mails que vieram a público, um pequeno grupo de pessoas oferecia à opinião pública uma visão céptica sobre as alterações climáticas globais, suportada, em boa medida, por argumentos simplistas e que facilmente confundem a opinião pública. Depois, um conjunto de “crentes” (da existência duma enorme falácia que sustenta a teoria das Alterações Climáticas Globais e suas causas antropogénicas) - como me parece mais correcto designar porque a designação de “cépticos” é mais adequada aqueles que, com dados e factos científicos questionam honestamente as hipóteses e conclusões dos outros – acusando um sem número de investigadores e denunciando um tremendo e maquiavélico plano perpetrado por aqueles a mando de grandes interesses económicos. Estes crentes, motivados essencialmente por uma questão de fé, cega, quase religiosa, acirrados por tudo o que de mais válido a possa contradizer e aparentemente tão ignorantes nesta matéria como eu, armou cruzada e brindam o público com demonstrações inequívocas da aldrabice, como “um mês bastante mais frio que o habitual” e outras tontices do género, procurando abalroar trabalho científico com disparates e maledicência. Henrique Pereira dos Santos no seu O Elogio da Ignorância, sublinha bem este estranho orgulho que alguns assumem na sua ignorância, e que lhes permite não terem nenhum problema, sentindo-se à vontade para discutir com investigadores, contrapondo estudos científicos - que certamente podem (e devem) ser questionados caso necessário, com argumentação sólida - com as referidas tontices.

Ainda que acredite que a maioria das pessoas não vai atrás destas paranóias, a sociedade saliva por polémicas deste género, seja ficção honestamente assumida, como em Sweeney Todd, seja servida como a mais pura e dura das realidades, como nas teses conspirativas do 11 de Setembro e das Alterações Climáticas. Porque vende, a comunicação social publica numa lógica de trazer ao público não o que é realmente notícia, mas o que o público exige.

Confesso ter pouca tendência e paciência para teorias da conspiração e não tenho por onde acreditar viver num mundo onde uns servem de carne e outros comem as empadas, com um enorme bando de cientistas loucos e aldrabões pelo meio, que esfregam as mãos deleitados, tal como Sweeney Todd afiava as suas navalhas de prata em Fleet Street.

Gonçalo Rosa

7 comentários:

aeloy disse...
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Gonçalo Rosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Pois é, teorias da conspiração vindas dos Estados Unidos? Que absurdo! Aquelas armas de destruição maciça que o Iraque tinha, isso foi o quê? Não foram eles que declararam guerra a Espanha aquando do afundamento do USS Maine? O 11 de Setembro no Chile, isso foi o quê? E as conspirações entre Estados Unidos e União Soviética, as que se sabem e as que se vão sabendo? Ora desmintam também estes pedaços de História, da mesma maneira como querem reescrever os períodos quentes anteriores, perfeitamente documentados, que permitiram a prosperidade do Império Romano e a colonização pelos vikings da Terra Verde.
Em relação aos OCS, isso que afirma é falso. Nos últimos seis anos não houve um único artigo em revista, jornal ou programa de televisão ou de rádio que não falasse do Aquecimento Global antropogénico, não deixando qualquer dúvida sobre a exclusiva responsabilidade humana nesta situação. Até os manuais escolares já contêm esta matéria como certa e inquestionável. Só a partir de Setembro, salvo erro, num programa da RTP2, Sociedade Civil, quando surgiram essas personagens tão pouco gratas a declarar que afinal o AG não é causado pelo Homem (um deles afirmando mesmo que não há aquecimento) é que começaram a surgir notícias contrárias à tese vigente. Que não deixam de ser, elas próprias, outras manifestações de fé. Por um lado temos a fé de que o Homem domina o Clima, do outro temos a fé de que o Homem é um ser inocente nesta história.
No entanto, não compreendo como alguém argumenta que "a sociedade saliva por polémicas deste género" e é incapaz de satisfazer a dúvida deste leitor: como se calcula a temperatura média do planeta Terra? Será uma fórmula assim tão complicada de escrever?
Depois também convinha explicar porque razão se pretende combater o CO2, vital à vida e se despreza o CO, SO2 e outros produtos tóxicos resultantes da queima de combustíveis fósseis. Em conversa com vários colegas, foram todos unânimes a defender a teoria do aquecimento provocado pelo Homem e que alguma coisa é preciso fazer para travar esta catástrofe. Mas quando sugeri que se acabasse com as viagens privadas de automóvel, foi um tumulto. Não pode ser, o carro é um instrumento imprescindível. E os políticos também não prescindem dele, a começar pelo PM. Nem aquele defensor-mor do Al Gore, nem a versão portuguesa do dito, o prof Filipe Santos. Coerência é o que lhes falta.
Para ser justo, no entanto, uma palavra de apreço a um deputado do BE, José Soeiro, que vai de bicicleta para o Parlamento, como forma de combater o aquecimento global. Não vejo a bicicleta como alternativa, mas pelo menos este deputado mostra um pouco mais de coerência com aquilo que defende.
Pedro, Montijo.

RioDoiro disse...

http://www.youtube.com/watch?v=JjQAdjaAt0s

Jorge Oliveira disse...

Caro Gonçalo da Rosa

Não sei se consegue aperceber-se de que, na perspectiva daquilo que pretende defender, deu um subtil tiro no pé quando compara as teses conspirativas posteriores ao 11 de Setembro com as reacções aos e-mails que vieram a público no âmbito do Climategate.

Com defensores assim, a teoria do global warming não precisa de “cépticos”. Aliás, para dizer a verdade, a partir do Climategate, os cépticos já pouco têm com que se preocupar. A teoria está morta e apenas aqueles que continuam com ela ao colo é que ainda não deram por isso.

Mas certamente darão por isso quando os financiadores governamentais e institucionais começarem a fechar as torneiras e a recomendar aos beneficiários que se dediquem a outras causas. Felizmente para eles, imaginação para inventar causas é coisa que não lhes falta.

RioDoiro disse...

JO:

"A teoria está morta e apenas aqueles que continuam com ela ao colo é que ainda não deram por isso. "

Mas a malta não pode desesperar. Pode pegar os mesmíssimos "dados" ...

(por exemplo)

http://wattsupwiththat.com/2009/12/11/would-you-like-your-temperature-data-homogenized-or-pasteurized/

e começar a gritar que vem aí um arrefecimento global.

Caso haja desentendimentos, pode ainda chegar-se a um "consenso". Gritar que a nefasta influência do homem está a provocar a 'estagnação' do clima.

O limite é o céu,

José M. Sousa disse...

Esta carta da Royal Society (alojada no site do "Guardian"), enviada à ExxonMobil, revela bem quem é que anda a estimular a propaganda.
Mais sobre o mesmo na própria página da Royal Society.