sexta-feira, outubro 09, 2009

Ano após ano


A notícia do Público de que transcrevo este excerto é uma entre muitas semelhantes que caracterizam os incendiários em Portugal.
Mas no meio dos episódios de grandes fogos toda a gente prece esquecer a realidade e ouvem-se as caracterizações mais absurdas acerca da sofisticação da máfia dos incêndios.
Da próxima vez que isso acontecer venham aqui reler isto para relembrar que o problema dos incêndios tem muito pouco que ver com o problema dos incendiários.
"Este ano, à semelhança do que acontece quase sempre, os detidos por incêndios florestais são, novamente, pessoas de fracos recursos financeiros e pouca escolaridade. Com idades compreendidas entre os 17 e os 80 anos, os suspeitos possuem ocupações tão diversas como pastores (seis pessoas), serventes (quatro), cozinheiro ou ajudante de cozinha (três), um bombeiro e um ex-vigilante florestal. Também se contabilizaram três reformados e, pelo menos, mais cinco indivíduos sem profissão.
As motivações para a prática destes crimes são, mais uma vez, as mesmas que têm vindo a ser apuradas ao longo dos anos anteriores e cuja análise tem vindo a contribuir para a elaboração, por parte de peritos policiais, de perfis dos incendiários. A vingança, muitas vezes associada a causas fúteis, quase mesquinhas, lidera as motivações de quem lança fogo às matas.Os bêbados e os simples
O incendiário tipo "simples ou parvinho da aldeia", como diz a polícia, é uma figura que ainda perdura. Pessoas com menores graus de instrução, por vezes marginalizadas nas zonas (quase sempre rurais) onde vivem, e com evidentes sinais de pobreza, desempregados ou com empregos precários, e alguma solidão são, de acordo com os investigadores, aquelas que mais contribuem para os perfis que têm vindo a ser traçados.
Mais do que os "simples", deparam-se aos inspectores da PJ os suspeitos que ateiam fogos sob o efeito do álcool. Na zona de Leiria, um dos homens ali detidos recentemente confessou ser responsável, no ano passado e neste, pela eclosão de mais de duas dezenas de incêndios. Este indivíduo, que vive sozinho e que até já cumpriu pena por este tipo de crime, chegou ao ponto de lançar fogo à floresta no intervalo das suas refeições e depois de ter ficado alcoolizado.
Em 2005, na zona da Marinha Grande, houve um homem que foi detido quando contemplava um pequeno incêndio. Confessou que ateara as chamas porque o lar onde se encontrava internado ia fechar (no período de férias, a maior parte das pessoas ali internadas voltavam a casa de familiares) e não tinha onde ficar. Lançar fogo e esperar que o prendessem foi a solução encontrada para continuar a ter onde comer e dormir.
Depois, há ainda uma quantidade significativa de sinistros que são ateados por pessoas que sentem uma grande atracção pela chamas, seja porque querem apenas contemplá-las ou porque as pretendem combater. No ano passado, em Minde, havia um bombeiro que era sempre o primeiro a chegar ao quartel quando era dado o alarme de fogo. Os incêndios eram por si ateados durante a noite. Justificou os crimes com a imensa vontade de combater as chamas.
Também há os que lançam fogos porque gostam de ver o aparato dos carros e dos helicópteros
O terceiro motivo que leva aos incêndios florestais prende-se com as tarefas agrícolas, nomeadamente a limpeza de terrenos através de queimadas que ficam fora de controlo."
henrique pereira dos santos

2 comentários:

Henk Feith disse...

Caro Henrique,

Devo confessar que não entendi o sentido do teu post. Não percebi se partilhas a visão transmitida no artigo do Público sobre os incendiários ou não.

Penso que aquela caracterização dos incendiários seja bastante próxima da realidade. Para quem vive os incêndios por dentro da sua casa, sabe que o número de fogos postos é elevado, mas são caracterizados por um baixo nível de sofisticação. Não acredito em nenhuma atividade organizada (máfia) por detrás de incêndios. Se ela de facto existisse, o País assistiria a fogos de outro carácter e muito mais devastador. Não seria nada difícil devastar o País através das chamas para uma organização profissional e bem preparada. Felizmente, não se verifica.

Henk

Henrique Pereira dos Santos disse...

Henk,
Sim, partilho da visão do artigo e da que está no teu comentário.
Mas nas alturas em que o país arde a sério, verás como esta visão é completamente ausente do espaço público, substituída pela ideia peregrina de que o país arde por causa dos interesses que pagam aos incendiários.
O que é mais uma forma de não discutir o essencial do problema: por que razão, em algumas circunstâncias, não se conseguem parar os fogos e eles passam a ser um problema social e económico relevante?
henrique pereira dos santos