... não são é os mesmos queijos.
Vem isto a propósito de um artigo do Expresso desta semana, em que aparecem preocupações várias sobre o queijo da serra, entre elas a de que há cada vez menos pastores (mas cada vez mais leite e mais queijo produzido).
Confesso que procurei com algum afinco a norma de produção do queijo da serra mas não consegui encontrá-la (NP-1922 (1984)) mas em todas as aproximações que fui lendo não vi nenhuma que indicasse que o leite deveria ser produzido por rebanhos geridos em modo extensivo.
A verificar-se esta omissão na norma (como digo, não consegui confirmar), de facto não são necessários pastores para ter queijos, porque os rebanhos podem estar estabulados.
Claro que ao identificar as características do leite, indirectamente está a apontar-se para alguma extensividade da produção, mas é uma indicação indirecta e não vinculativa.
A mim parecer-me-ia que deveria ser obrigatória a criação entensiva dos rebanhos e a proibição (ou pelo menos a indicação) da existência de suplementos alimentares que não provenham directamente da exploração.
É que se é a genuidade do queijo que se pretende defender este aspecto parece-me fundamental.
Como digo de início, pode ter-se queijo sem pastores e pastagens, mas não é o mesmo queijo, mesmo que o leite venha da zona, tenha os intervalos de gordura e outras coisas definidas e os rebanhos estejam na zona.
henrique pereira dos santos
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Pois lá poder pode-se... mas...
os nossos queijos não vão por bom caminho, seja porque as regras da sua produção são desrespeitadas(fazerem rabaçal com leite de vaca, por exemplo) seja porque os queijos tradicionais (como o Nisa) são impedidos de continuidade por lógicas absurdas de higienismo fundamentalista seja porque saberes tradicionais vão-se perdendo ou sendo forçados a "desistirem".
As rouparias vão fechando, as produções artesanais vão sendo preteridas por outras industriais, e hoje também já não se faz queijo na casa da minha família...
Vamos todos perdendo...a memória e os sabores, mas também o território que se vai uniformizando e as artes que se vão perdendo,,,e com elas os gostos...
António Eloy
No meu blog www.signos.blogspot.com coloquei um documento sobre o recente e sucedido Festival do Chícharo
Seria precipitado temer o fim do queijo da Serra(ou qualquer outro) por insuficiência de matéria-prima; Conheço um "pastor" na zona de Coimbra (Baixo Mondego) que fornece imenso leite para o "dito". Certamente um entre muitos...
Existirá ofício cujos executantes estejam mais desorganizados "sindicalmente"? Apesar do trabalho utilíssimo, entre os quais a mitigação de matos e a qualidade dos produtos derivados do pastoreio (carne, leite, queijos), ninguém (governo, media, pessoas) se lembrará dos pastores enquanto professores, pilotos da TAP e outras classes profissionais açambarcarem com o seu poder corporativo as atenções e o dinheiro dos contribuintes.
Jaime Pinto
Enviar um comentário