quinta-feira, outubro 08, 2009

Ranking das Universidades

Foi hoje publicado o ranking mundial "Times Higher Education" das universidades. De registar a manutenção da situação de predominância das universidades Norte Americanas (26.5% das 200 melhores) mas também a consolidação e ascenção das Universidades Britânicas (14% das 200 melhores). No seu conjunto as universidades anglo-saxónicas incluem 52% das melhores universidades do mundo. De resto, o panorama Europeu é pobre reunindo a Europa Central e do Norte 23.5% das melhores universidades e cabendo à Europa do Sul um modesto 4.5% da excelência académica mundial. Portugal não figura no ranking das 200 universidades de topo sendo a Universidade de Barcelona (rank=171) a mais próxima a figurar na lista das melhores.

Que fazer para melhorar a qualidade do ensino em geral e das universidades em particular? Alguns pensam que a solução passa por abulir escalões profissionais no ensino secundário e de preferência qualquer avaliação de mérito dos docentes. A paixão pela avaliação dos docentes recorrendo a critérios objectivos de mérito e com consequências na consolidação profissional e progressão da carreira também não abunda nas nossas universidades. É pena pois estes são os caminhos que nos afastarão, inexoravelmente, da excelência académica.

14 comentários:

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
Tanto quanto sei, e o pouco que sei advém da leitura dos jornais e de ter tido duas filhas a fazer o 12º ano nos EUA, não existe, nem passa pela cabeça de ninguém que exista, um modelo centralizado de avaliação de professores quer nas escolas secundárias, quer nas universidades americanas. E não existe uma carreira única com escalões. O que existe sim é uma ampla autonomia de cada escola na definição dos seus critérios de recrutamento e remuneração dos professores. E um forte esscrutínio público sobre a qualidade das escolas.
Por isso o teu segundo parágrafo parece-me ter pouca relação com o primeiro.
Percebo o que queres dizer, e estou de acordo contigo, mas o caminho duvido que seja o que dizes.
Para além disso, tanto quanto me foi dado perceber pelas experiências das minhas filhas, o ensino secundário público em Portugal é bastante mais exigente que o dos EUA.
Para além do facto de provavelmente ires encontrar muitas universidades americanas no down 100 das Universidades do mundo, não só porque há muitas universidades nos EUA, mas porque, ao lado das melhores do mundo, há algumas francamente más.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Henrique,

1. A questão de fundo é a existência de avaliação dos docentes, ou não. A existência de categorias profissionais entre docentes, baseadas em critérios de mérito em vez de antiguidade, ou não. Sobre estas questões de fundo existe uma tendência clara para manutenção do "status quo" e ainda não ouvi nenhum argumento que sustente esta posição.

2. O modelo centralizado deriva das contingências Portuguesas. O modelo descentralizado funciona quando uma de duas (ou as duas) condições existem: 1) existe uma cultura de meritocracia e responsabilidade cívica; 2) os docentes não são funcionários públicos, logo podem ser despedidos se não cumprirem com objectivos mínimos definidos pelos órgãos não colegiais, logo independentes, das escolas. Em Portugal o critério 1 é, como concordarás, fraco e o segundo não se aplica pois todo este debate centra-se numa escola pública onde os docentes são funcionários públicos logo praticamente intocáveis e onde os órgãos são de tipo colegial (logo os professores tendem a definir objectivos e regras que os favorecem). Se queremos um modelos descentralizado, que funcione, o nível de reformas a fazer seria muito mais drástico do que aquele que é proposto pelo governo.

3. Quer isto dizer que acredito no modelo actual? Não. Na realidade nem o li com atenção. Mas estou convencido que é melhor começar com um modelo, mesmo que imperfeito, que manter o "status quo". Aliás, parto do principio que qualquer modelos de avaliação é imperfeito e gerador de injustiças. A questão é se preferimos as injustiças de uma avaliação imperfeita (que tende a criar injustiças nas áreas de fronteira entre graus de excelência) ou as injustiças criadas pela ausência de avaliaçao (que premeia a mediocridade e desfavorece o mérito).

Finalmente, a relação entre isto e as universidades é óbvia. A cultura do mérito cultiva-se desde pequeno e se os docentes, que são profissionais da avaliação, se recusam, por sistema, a aceitar um sistema que os avalie, estão a dar cobertura a um sistema que protege a mediocridade e relativiza o mérito. E quanto aos graus de exigência em PT e EUA. Há que entender que o modelo anglo-saxónico valoriza a formação de atitudes enquanto o modelo latino valoriza a aquisição de conhecimentos. O primeiro, quando funciona, cria pessoas curiosas e dinâmicas. O segundo, quando funciona, cria intelectuais.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
1) Não percebo a tua dicotomia entre pessoas curiosas e dinàmicas e intelectuais mas passo à frente porque não é a questão essencial.
2) Ao contrário do que dizes há por esse mundo fora excelentes sistemas de educação sem avaliação formal de professores (não sei sequer nos EUA isso existe), portanto essa não é uma uqestão sine qua non. Dito isto, devo dizer que concordo com o princípio da avaliação mas não acredito em avaliações feitas com modelos iguais para mais de 100 000 pessoas (como será o caso dos professores) ou para mais de 300 000 (como será o caso dos funcionários públicos). A avaliação depende essencialmente da relação entre o avaliador e os avaliados. E o que se passa em Portugal é que os avaliadores não são responsabilizados pelas avaliações que fazem. Assim sendo, qualquer modelo de avaliação está condenado ao fracasso (como está evidentemente a acontecer com os modelos para os professores e para os funcionários públicos) que se estão a tornar em meras burocracias absurdas, sem qualquer mais valia para a gestão das organizações.
3) É fácil perceber que nunca olhaste para estes sistemas de avaliação. Se olhasses ias rapidamente perceber a razão pela qual as reacções tomaram a dimensão que tomaram.
4) Já agora, num sistema anglo-saxónico qualquer governante que tivesse tomado metade das decisões ilegais que foram tomadas nesta matéria estaria demitido em menos de um fósforo.
5) No que estamos de acordo é que a cultura do mérito se cultiva desde pequenino, como aliás a da autonomia.
6) Mas para isso a questão de fundo não é a avaliação dos docentes ou não mas sim a avaliação das organizações, neste caso das escolas (o que pode conduzir à avaliação das pessoas envolvidas nas organizações). E isso não é feito na administração pública em Portugal de forma séria (não só no ensino, no resto também).
É uma discussão interessante mas um pouco off topic na AMBIO.
henrique pereira dos santos

Henk Feith disse...

Rankings há muitos e não sei distinguir os bons dos maus. Ainda esta semana o mestrado de gestão da Nova foi distinguida como o melhor do mundo pelo Financial Times (vide: http://www.fe.unl.pt/index.php?page=529&view=news:View&id=127&lang=en&lang=pt)

Não compreendo como é que uma instituição pode ser o melhor do mundo num mestrado e nem sequer constar no top 200 de um outro ranking.

Henk

Miguel B. Araujo disse...

Henrique,

"1) Não percebo a tua dicotomia entre pessoas curiosas e dinàmicas e intelectuais mas passo à frente porque não é a questão essencial."

A dicotomia é entre pessoas que sabem muito independentemente da utilidade do seu saber (motivados por mera curiosidade intelectual) e pessoas que aprendem pensar de modo a resolver problemas concretos. É a dicotomia entre transmitir conhecimentos e gerar atitudes que promovam a procura desses mesmos conhecimentos por parte dos alunos. Esta é a dicotomia entre o ensino de base anglo-saxónica (que está na base da reforma de Bolonha mas que tem sido desvirtuado quando aplicado nas nossas universidades) e o ensino do mundo latino (ou talvez de um certo conceito de Europa continental).

"2) Ao contrário do que dizes há por esse mundo fora excelentes sistemas de educação sem avaliação formal de professores"

Podes dizer onde disse eu que isso não fora possível?

"portanto essa não é uma uqestão sine qua non."

Meu caro a avaliação é criada para criar estímulos positivos. A maior parte das escolas secundárias de excelência deste mundo são privadas e se são excelentes, entre outros factores, é porque escolhem os professores a dedo e os despedem se estes não cumprem os objectivos de forma satisfatória. Quando se tem esta flexibilidade de gestão não é preciso criar mecanismos de avaliação interna. A direcção da escola (privada) decide como achar mais conveniente e o seu barómetro de avaliação é o mercado, ou seja, a satisfação dos pais e o quanto estão dispostos a pagar para lá ter os filhos. O debate que estamos a ter tem como pano de fundo uma realidade diferente. Uma realidade onde a política do "cacete" (i.e., o despedimento) não funciona e onde a política de "cenoura" se pretende implementar contra ventos e marés. Portanto a pergunta que te faço é: como pode assegurar um Estado a excelência da sua rede de escolas se não tem mecanismos para penalizar os medíocres nem premiar os excelentes? Esta é a questão de fundo, o resto são detalhes que poderão ser importantes mas que não se podem sobrepor à questão de base que é filosófica. Ora o debate na rua centra-se, não nos detalhes, mas nesta questão de fundo (os professores não querem ser avaliados nem querem que esta avaliação se traduza em escalões profissionais).

"Dito isto, devo dizer que concordo com o princípio da avaliação mas não acredito em avaliações feitas com modelos iguais para mais de 100 000 pessoas (como será o caso dos professores) ou para mais de 300 000 (como será o caso dos funcionários públicos)."

Não tenho certezas a este respeito. Da mesma forma como poderíamos enunciar problemas com o sistema de avaliação centralizado poderíamos enunciar problemas com um sistema de avaliação atomizado. Mas qualquer que seja a discussão em torno deste tema não podemos perder de vista que estamos a falar do sistema de ensino público, que os docentes são funcionários públicos e que os órgãos de gestão da escola são colegiais. Estes três factores condicionam o modelo de avaliação e a estes temos de acrescentar que partimos de uma base sociológica avessa à auto-responsabilização e à meritocracia (a nossa cultura favorece a antiguidade e os direitos adquiridos em detrimento do mérito).

Miguel B. Araujo disse...

Continuação (...)

"A avaliação depende essencialmente da relação entre o avaliador e os avaliados. E o que se passa em Portugal é que os avaliadores não são responsabilizados pelas avaliações que fazem."

De acordo (sobre o principio geral) mas esta é outra questão e nada garante que a avaliação atomizada não gere problemas desta natureza.

"Assim sendo, qualquer modelo de avaliação está condenado ao fracasso (como está evidentemente a acontecer com os modelos para os professores e para os funcionários públicos) que se estão a tornar em meras burocracias absurdas, sem qualquer mais valia para a gestão das organizações."

Isto é obviamente um "overstatement" e como tal não pode ser levado muito a sério.

"Mas para isso a questão de fundo não é a avaliação dos docentes ou não mas sim a avaliação das organizações, neste caso das escolas (o que pode conduzir à avaliação das pessoas envolvidas nas organizações). E isso não é feito na administração pública em Portugal de forma séria (não só no ensino, no resto também)."

Sim, seria muito importante mas no dia em que um governo avançar com esta medida cairá o Carmo e a Trindade. Em todo o caso a avaliação deve ser a todos os níveis para funcionar bem: a nível dos alunos, dos docentes e do colectivo que é a instituição. É assim que se passa nas universidade (onde os escalões de mérito existem desde sempre e com critérios que são, como qualquer critério de avaliação, discutível) e pasmo que isso gere celeuma nas estruturas de ensino não universitárias

"É uma discussão interessante mas um pouco off topic na AMBIO."

Nem tanto. O ambio tem tradição de discussão de temas associados ao ensino e em todo o caso este é um espaço de reflexão sobre "ambiente e sociedade"

Miguel B. Araujo disse...

Henk,

"Não compreendo como é que uma instituição pode ser o melhor do mundo num mestrado e nem sequer constar no top 200 de um outro ranking."

É fácil. Porque não se pode confundir a árvore com a floresta.

Miguel B. Araujo disse...

Caro Henk,

Além do facto de não se poder comparar a qualidade de um curso de uma determinada área com a qualidade do colectivo da instituição académica (onde se dá um peso importante à produção científica e visibilidade da mesma) o caso que refere (fui ver o site que indicou) é um exemplo de publicidade enganosa. De facto a Universidade Nova de Lisboa diz: "O Mestrado em Gestão Internacional (CEMS Masters in International Management – MIM) oferecido pela NOVA está em 1º lugar no ranking do Financial Times."

O que a Nova não diz é que o Mestrado não é oferecido pela Nova mas sim por um consórcio internacional que inclui algumas das 20 melhores escolas de gestão da Europa incluindo a "London School of Economics and Political Science", "HEC Paris" (que coordena a rede), etc. Portanto, sem tirar mérito à contribuição da Nova para a qualidade do referido mestrado, o que este "rank" revela é que compensa trabalhar em rede. Mas em caso algum pode servir para fazer as ilações que fez no seu comentário.

Para mais informação sobre o referido mestrado ver: http://www.cems.org/general/index.php

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
"Portanto a pergunta que te faço é: como pode assegurar um Estado a excelência da sua rede de escolas se não tem mecanismos para penalizar os medíocres nem premiar os excelentes?"
Esta é a falácia que tem vindo a ser usada pelo Governo para evitar discutir seriamente o assunto.
Volto a insistir, o problema central não está na avaliação dos professores mas na avaliação das organizações.
Há em Portugal boas e más escolas (quer públicas, quer privadas). Há duas questões de fundo anteriores à da avaliação dos professores: os "clientes" das escolas não podem optar pela escola que entendem; as escolas não têm autonomia suficiente nas suas decisões.
Ora o Governo não tocou nestas duas questões (ou melhor, na segunda até tocou mas sempre no sentido errado, isto é, impondo mais centralização).
Dir-me-ás que caia o Carmo e a Trindade com uma reforma orientada para resolver estas duas questões.
Sim, é verdade, mas suponho que é para isso que servem os Governos (e não para fingir que reformam pondo toda a sociedade contra grupos que são caracterizados como privilegiados).
É claro que é difícil discutir quando te recusas a olhar para a realidade: não conheces o sistema de avaliação, não fazes ideia dos critérios que foram usados para criar os escalões de professores (que não têm rigorosamente nada que ver com o mérito) e afastas a discussão sobre a aplicação concreta dos modelos de avaliação dizendo que a minha opinião sobre o assunto, assente no facto de ter aplicado o sistema e o ter visto aplicado à minha volta, é apenas um overstatement. Assim é difícil introduzir racionalidade na discussão porque não saímos da falácia inicial que enunciaste acima.
"Em todo o caso a avaliação deve ser a todos os níveis para funcionar bem: a nível dos alunos, dos docentes e do colectivo que é a instituição."
Pois, mas quanto às escolas o Governo recusa-se a fazer avaliações sérias para não estigmatizar (na realidade não precisa de fazer uma avaliação muito aprofundada se fizer duas coisas: der liberdade de escolha na escola e fazer provas nacionais para todos os alunos ao longo dos anos). E quanto aos alunos o Governo optou por diminuir os exames (e nalguns casos diminuir escandalosamente a sua dificuldade) e todos os mecanismos de avaliação de forma a diminuir o insucesso escolar. E fazendo isto a montante e a juzante, armou-se em campeão da avaliação no escalão intermédio, com um sistema absolutamente kafkiano (garanto-te Miguel, tu não tens ideia do que é o sistema de avaliação escolhido).
Mas mais que tudo as árvores conhecem-se pelos frutos: a quantidade de bons professores que abandonaram o ensino é aterradora.
É o que dá ter políticas baseadas em ideias simples que dispensam a realidade.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Caro Henrique,

Confesso que não é fácil discutir contigo quando pões na minha boca afirmações que não fiz e quando usas as minhas palavras para desqualificar as minhas opiniões e categorizá-las de fora da realidade. Acontece que por muito que leia as tuas palavras não consigo vislumbrar sinal de que conheças o tema com detalhe, nem dás mostra de ter uma visão equilibrada da realidade que implicitamente assumes representar. Por exemplo, habilmente evitas o reconhecimento de que a agenda política dos professores não é alterar um método concreto de avaliação mas sim rejeitar qualquer avaliação com consequências na progressão da carreira (http://www.fenprof.pt/). Ora ignorando esta componente (fundamental) de realidade, não lhe estás a fazer a justiça.

O plano em que me coloco é assumidamente o da generalidade (que para o caso de não teres notado é diferente de irrealidade) pois é esse o plano em que o debate ao nível dos professores se encontra. Ou seja, os professores não querem ter escalões na sua profissão. Querem todos ter o mesmo estatuto ganhando em função da antiguidade ou acumulação de cursos extra-curriculares e títulos académicos. Era assim que funcionava e o colossal consenso que se gerou contra esta medida do governo não decorre do método A ou B, decorre do principio geral da avaliação com consequências. Isto é realidade, não é ficção e basta ver a posição dos sindicatos para perceber que o que está em jogo não é a dicotomia entre avaliação central ou local. Não há qualquer razão para que a classe docente do 1 ou 2 ciclo não seja enquadrado em escalões profissionais, como qualquer outra classe profissional, que existam quotas que limitem os números de profissionais em cada escalão (nem todos podem ser catedráticos ou generais), e que a progressão se faça recorrendo a um método de avaliação que pode e deve ser revisto com os anos mas que deve ser comparável entre escolas pois estamos a falar de avaliações com implicações salariais e o patrão não é a escola mas o ministério da educação. Portanto, avaliações atomizadas, como defendes, só seriam possíveis se 1) estas não tivessem consequências salariais; ou 2) o patrão não fosse o Estado central mas a escola (como é efectivamente o caso das escolas privadas). Como não estamos a falar da privatização do sistema de ensino, é óbvio que a proposta de atomizar a avaliação pretende esvaziá-la de conteúdo o que nos devolve à generalidade: devem ou não as avaliações - independentemente de como se façam - ter consequências na progressão das carreiras? No ensino superior é assim e eu gostava que me explicasses porque não deverá ser assim no secundário?

(continua)

Miguel B. Araujo disse...

(continuação)

Dizer, como tu dizes, que "qualquer modelo de avaliação está condenado ao fracasso" e que os processo centrais de avaliação se tornam "meras burocracias absurdas, sem qualquer mais valia para a gestão das organizações" é não só um "overstatement" como, delicadamente, referi. É também uma inutilidade pelo seu carácter absoluto ("qualquer modelo de avaliação...") e remete o processo à estaca zero, isto é, à situação anacrónica que existia e continua a existir e que faz, por exemplo, com que seja admissível professores de geografia do secundário não saberem a diferença entre um sistema cartesiano e geodésico de coordenadas (sim, um facto verificado num curso de formação de professores do secundário). Por outro lado, fico pasmado quando depois deixas antever que desejarias que os alunos fizessem "provas nacionais (...) ao longo dos anos". Ou seja provas centralizadas. E porque razão a avaliação centralizada para os professores é, conceptualmente, errada e a dos alunos não?

Também insistes que "o problema central não está na avaliação dos professores mas na avaliação das organizações". Não encontrarás mais ardoroso defensor da avaliação das instituições de ensino que eu ainda que seja por razões diferentes das tuas. Porém, não faz sentido avançar com esta medida, ao nível das instituições públicas de ensino, sem antes dotar o sistema de mecanismos de avaliação dos agentes que constituem a instituição. Era como se se tivesse avançado para o sistema de "rankings" de universidades (na realidade e PT não o temos e por isso nos socorremos dos internacionais) sem antes ter estruturado as carreiras e criado incentivos à excelência (por muito imperfeitos que sejam) no seio das instituições.

Quanto aos critérios de avaliação. Se os quiseres discutir vamos então a isso mas proponho que sejas a iluminar-nos sobre o tema e a propor as alternativas ao sistema actual pois, como referes, "recusas a olhar para a realidade: não conheces o sistema de avaliação, não fazes ideia dos critérios que foram usados para criar os escalões de professores". Apesar disto, dei-me ao trabalho de escrutinar a página da FENPROF em busca de alternativas ao sistema actual e zero. Apenas um afã demolidor de qualquer reforma no sistema. .

A tua mensagem contém vários temas que na essência se centram em críticas sobre vários aspectos da política do actual governo. Nota que o meu comentário não pretende defender o governo; apenas veicular uma opinião concreta sobre um tema concreto e isto é perfeitamente possível sem caucionar a totalidade das políticas governamentais.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
Confundir a agenda dos professores com a agenda da FENPROF parece-me um erro de análise.
Como deves calcular, em 130 000 professores haverá as agendas mais diversas, razão pela qual evito habilmente o reconhecimento da agenda dos professores.
Ignorar que conselhos directivos de escolas reconhecidamente boas, com direcções reconhecidamente boas e exigentes, como são as escolas Dona Maria, em Coimbra, que não conheço mas é conhecida por ser a escola pública com melhores resultados nos exames nacionais ou a rainha dona amélia, que conheço razoavelmente, não têm de maneira nenhuma a agenda da fenprof mas manifestam opiniões próximas do que te tenho dito, não me parece razoável.
Ignorar a quantidade de professores reconhecidamente bons e dedicados que, mesmo com penalizações na sua reforma, desistiram de ensinar face ao manicómio em que se tornaram as escolas, não me parece razoável.
Podes dizer que estás apenas a fazer afirmações gerais que não têm necessariamente ligação com a prática da política concreta que foi feita pelo Governo na educação, mas não percebo a utilidade de discutir afirmações gerais que conduziram a políticas concretas e recusar discutir os resultados dessas políticas concretas.
Também não percebi onde queres chegar com a tua alusão à minha contradição de defender que sistemas de avaliação centralizados não vão a lado nenhum e ao mesmo tempo defender provas nacionais para os alunos. Pensei que seria consensual a diferença entre avaliar conhecimentos (que é para o que servem as provas dos alunos) e avaliar desempenhos (que é para que servem os sistemas de avaliação de desempenho).
Também não percebo o sistemático paralelismo que fazes com o ensino superior, quando o ensino superior não tem qualquer sistema centralizado de progressão baseado em sistemas centralizados de avaliação de desempenho: existem sim prestações de provas concretas, perante júris concretos, de cada instituição (mesmo que com membros de outras instituições) a que podem aceder os candidatos de qualquer instituição. Exactamente o modelo que defendo quer para o ensino secundário, quer para a generalidade da administração pública: a progressão faz-se por concursos atomizados, abertos a quaisquer candidatos, com júris cujas regras de constituição obriguem a diminuir a endogamia.
By the way, não percebo por que razão dizes que não estamos a falar da privatização do ensino. Para mim é uma hipótese como outra qualquer e tenho simpatia (não concordância, porque não conheço o suficiente do assunto) pela ideia do cheque ensino.
E estou seguramente a falar de dar autonomia às escolas, incluindo na contratação de professores (ao contrário do que dizes existem milhares de professores contratados, sem vínculo, e haverá cada vez mais, pelo que o despedimento, ou se quiseres, a não renovação do contrato é um instrumento perfeitamente utilizável) o que provocaria o mesmo tipo de oposição radical dos sindicatos, e de muitos professores mas não de outros, mas parece-me a mim que levaria a resultados bem mais interessantes na promoção da excelência.
Vou fazer um post com umas histórias concretas de como funciona a nossa administração para teres uma ideia de como sem mexer de facto nos mecanismos de poder interno é mesmo difícil ter resultados.
Quando se perde uma guerra, a responsabilidade é dos generais, não é dos soldados. E nós temos não só maus generais, como, sobretudo, generais que não são responsabilizados pelo que fazem. E enquanto isso não mudar, bem podes fazer os modelos de avaliação dos soldados que quiseres que vamos continuar a perder as guerras.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Gostaria de não ter razão mas aqui esá a notícia de hoje a confirmar que o que os professores não querem é ser avaliados e que estas avaliações tenham consequências para a carreira:

http://www.publico.pt/Educação/fne-espera-fim-da-divisao-dos-professores-em-duas-categorias_1409017

Toda a discussão sobre detalhes do método de avaliação é acessória pois a agenda é não avaliação e isso merece muito pouco respeito.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
Continuas a achar que as posições dos sindicatos são as posições dos professores. É um direito que te assiste.
Dizes que a notícia confirma que os professores não querem ser avaliados. Eu leio: "A FNE espera também a abertura de um processo negocial com vista à determinação de um novo modelo de avaliação, "nem que seja transitório para 2009/2010, com vista a que durante o percurso deste ano se possa construir um modelo mais sustentado e duradouro que possa vigorar a partir de 2010 e que valorize aquilo que é o trabalho do professor", que seja "simplificado".
Quanto à anulação dos dois escalões, só quem nunca olhou para a forma como foi feita essa divisão (contando apenas os sete últimos anos, contando mais os cargos administrativos que o trabalho docente, etc.) é que pode discordar dessa proposta.
Resumindo, para centrar a questão no teu post, era tão bom que a questão da qualidade das nossas universidades dependesse sobretudo desta querela.
henrique pereira dos santos