Vencedores:
Obama - chegou, falou e saiu de cena com o que queria (e com o que podia);
China - Mostrou ser impossível qualquer acordo sem ela;
Brasil (Lula) - Tornou-se uma potência mundial e o interlocutor privilegiado dos US para os países do Sul (em particular na América Latina) - parece que por cá, ainda há poucos anos, havia a intenção de sermos aqueles que iriamos abrir as portas da geopolítica ao nosso "irmão"...
Perdedores:
Europa - mostrou a sua crescente irrelevância a nível mundial. Gordon Brown será o que mais perdeu (jogava aqui um dos trunfos para tentar manter o poder em Julho. Cameron não se esquecerá de referir que é o mais verde quando a altura chegar);
ONU - mostrou que não é esta a forma de se fazer política internacional neste século;
Dinamarca - o desastre.
Os restantes: fizeram número e tirando aqueles que esperavam um totoloto (e que não sabiam que não há almoços grátis) talvez tenham conseguido no futuro um cheque mais gordo (em particular a África).
Quanto ao tema, parece que se descutiam as Alterações Climáticas, ficou tudo como é normal nestas questões da Nações Unidas, ou seja, "business as usual". Contudo, e como já aqui referi não há outro caminho que não seja alterar o nossa paradigma energético, só que ainda não é o tempo para muitos dos actores que estiveram na COP15.
João Menezes
19 comentários:
Pode ser que esta não seja a forma de fazer política no século XXI mas qual é a fórmula então? Meia dúzia de Países reúnem e decidem e os outros acatam? Pode ser pragmático mas funcionará a longo prazo?
o politburo das catástrofes climáticas provocadas pelo homem sofreu um revés?
há quem diga que sim .. eu acho que não .. foi só o treino para uma adiada e decisiva luta de galos que se avizinha.
Caro anónimo, limitei-me a constatar um facto. Reuniões com milhares de pessoas e onde mudar uma virgula demora dias (e sei do que falo, porque já se passou comigo) numa era onde temos tecnologia que permite interagir em tempo real são uma absurdo. Soluções, se olharmos para as sugestões dadas nos últimos anos escrevíamos um livro, mas que tal começar por descentralizar as decisões por regiões (das UNs) e envolver os cidadãos antes de querer tomar decisões globais e fazer grandes show offs.
"Reuniões com milhares de pessoas e onde mudar uma virgula demora dias"
De facto, a única coisa que havia a fazer em Copenhaga era mandar toda a gente para casa.
O que não está avariado não deve ser reparado.
Copenhaga foi uma parada de neo-marxistas.
.
Já agora, "...Meia dúzia de Países reúnem e decidem e os outros acatam..." foi exactamente o que aconteceu. O Sr. Obama ao ver que o "moribundo" não aguentava, mandou a Srª Clinton dar uma injecção de $100Bn para que a situação aguentasse até à sua chegada e vendo que a morte era certa negociou a cinco o que pretendia (seguindo aquilo que era a sua agenda previamente definida) e saiu rapidamente de cena.
Caro range-o-dente, sou muito crítico deste tipo de reuniões, mas esta sua simplificação, para além de não ser verdadeira, despreza o esforço de muitos que sinceramente acreditaram que o seu contributo era necessário.
Com a devida vénia ao Eng Rui Moura, coloco aqui a sua opinião com a qual partilho inteiramente.
Copenhaga, mon amour
O que se concluiu na Cimeira de Copenhaga? Apenas palavras sem sentido redigidas em duas páginas e meia. Resta uma leve esperança de que o alarmismo climático esteja perto do fim. A partir de agora poderia começar uma fase de debate sério a bem da climatologia e do Homem.
Para os leitores interessados, MC disponibiliza o texto assinado pelos poderosos do planeta: Copenhagen Accord. Logo no primeiro parágrafo do Acordo de Copenhaga, os poderosos manifestam-se presunçosos e arrogantes.
Pensam que alteraram o clima a nível global. E são ainda mais presunçosos e arrogantes ao julgar que podem alterar o clima no futuro, limitando a subida da temperatura média global a 2 ºC [Em relação a que data? O Acordo não diz!].
Nesse mesmo parágrafo os poderosos concordam que com esse valor se estabilizaria a concentração de dióxido de carbono a um nível que poderia prevenir uma “interferência antropogénica perigosa”.
Este conceito vago de “interferência antropogénica perigosa” vem já desde a Cimeira do Rio [de Janeiro]. Nunca foi definido com precisão o que é a “interferência antropogénica perigosa”.
O guru, hoje transformado em evangelista do clima, James Earl Hansen disse mais tarde que a “interferência antropogénica perigosa” estava limitada aos tais 2 ºC. Porquê, ele nunca explicou. É apenas um palpite.
Não está provado que as emissões de CO2 tenham efeito significativo no aumento da temperatura a nível global. Muito menos do CO2 causado pela actividade económica do Homem, que é ínfima.
É importante notar que o CO2 é cerca de 0,03% da constituição do ar atmosférico e que a Natureza emite 200 mil milhões de toneladas de CO2 por ano (através da libertação do CO2 dos oceanos, da vegetação, etc.).
As actividades económicas do Homem são responsáveis por apenas 6 mil milhões. Isto é estamos a falar de 3% de 0,03%. Ou seja 0,0009 % do ar atmosférico. Uma relação equivalente a 1 euro em 100 mil euros.
Os milhões gastos nesta loucura de tentar alterar o clima poderiam ser mais bem empregues na resolução de problemas reais: poluição, disponibilidade de água potável, fome, iliteracia, doenças (malária, SIDA, cancro), desemprego, pico do petróleo, etc., etc.
O nosso entendimento sobre o clima é reduzido. Ainda em 1975, as revistas Time e Newsweek (28 de Abril), anunciavam a entrada numa era glacial. E propunham como uma solução derreter as calotes polares.
Na realidade, podemos estar a observar as premissas da primeira fase da entrada na próxima glaciação. E que medidas os poderosos pensem tomar para a adaptação a uma tal situação? Nem eles fazem a mínima ideia!
Caro João, Eu sei que foi isso que fez o Obama e que dadas as circunstâncias foi provavelmente a única forma de sair do impasse. Mas a minha pergunta ia um pouco mais além da simples constatação do facto. Sendo que estas reuniões são difíceis e produzem resultados escassos a tentação de fazer um "by pass" aos restantes países "irrelevantes" é grande, como alías deja antever o seu comentário sobre formas de fazer política no século XXI. A pergunta que faço (e é uma pergunta para a qual não tenho resposta) é se no longo prazo esta estratégia dará resultado ou se como consequência da marginalização destes Países está-se a reduzir a capacidade dos grandes Países de influenciar os pequenos. E que consequências teria isso para a nova ordem internacional?
Caro Anónimo, as COPs saídas da Cimeira do Rio tinham um pressuposto, as nações conseguiam entender-se para o bem comum e o bem comum passava pelo Desenvolvimento Sustentável. Logo, não só era possível como desejável que as decisões fossem tomadas por unanimidade e que o trabalho que as partes (países da UN) teriam de fazer nos dois anos que medeia cada COP era apenas o de ajustar princípios jurídicos e alguns conflitos menores para que os líderes mundiais pudessem nas reuniões magnas mostrar que o planeta caminhava para um futuro brilhante.
Só que hoje o poder está mais fraccionado, os interesses nacionais são incompatíveis (particularmente entre o Ocidente e os outros) e a sociedade tem vindo a tomar consciência que uma mudança de paradigma económico não vai ser fácil, vai ter custos enormes e que até se traduzir em vantagens competitivas para aqueles que mais ousarem muito tempo passará.
Neste contexto, as UN em vez de darem um passo atrás e enveredarem pela via da criação de um total esclarecimento e criação de apoio na base, ou seja, nos cidadão que somos todos nós, enveredaram (ou apoiaram) por um clima catastrofista e pretendendo com uma grande encenação eliminar a diferença de interesses evidente. Copenhaga não falhou ontem, já tinha falhado muito tempo antes.
O que está em causa é a essência de como é arquitectada a política internacional e não apenas se se deve negociar com poucos, muitos ou todos. Enquanto uma parte significativa dos cidadão do planeta não tiver consciência de que é necessário alterar a sua forma de estar na Terra, poucos resultados se conseguirão.
Mas se o resultado desta COP marcará ou não o fim da ideia de uma governação global negociada (em temas ambientais e outros) é a chamada “one million dollar question”.
Caro Anónimo, as COPs saídas da Cimeira do Rio tinham um pressuposto, as nações conseguiam entender-se para o bem comum e o bem comum passava pelo Desenvolvimento Sustentável. Logo, não só era possível como desejável que as decisões fossem tomadas por unanimidade e que o trabalho que as partes (países da UN) teriam de fazer nos dois anos que medeia cada COP era apenas o de ajustar princípios jurídicos e alguns conflitos menores para que os líderes mundiais pudessem nas reuniões magnas mostrar que o planeta caminhava para um futuro brilhante.
Só que hoje o poder está mais fraccionado, os interesses nacionais são incompatíveis (particularmente entre o Ocidente e os outros) e a sociedade tem vindo a tomar consciência que uma mudança de paradigma económico não vai ser fácil, vai ter custos enormes e que até se traduzir em vantagens competitivas para aqueles que mais ousarem muito tempo passará.
Neste contexto, as UN em vez de darem um passo atrás e enveredarem pela via da criação de um total esclarecimento e criação de apoio na base, ou seja, nos cidadão que somos todos nós, enveredaram (ou apoiaram) por um clima catastrofista e pretendendo com uma grande encenação eliminar a diferença de interesses evidente. Copenhaga não falhou ontem, já tinha falhado muito tempo antes.
O que está em causa é a essência de como é arquitectada a política internacional e não apenas se se deve negociar com poucos, muitos ou todos. Enquanto uma parte significativa dos cidadão do planeta não tiver consciência de que é necessário alterar a sua forma de estar na Terra, poucos resultados se conseguirão.
Mas se o resultado desta COP marcará ou não o fim da ideia de uma governação global negociada (em temas ambientais e outros) é a chamada “one million dollar question”.
João Menezes,
"Caro range-o-dente, sou muito crítico deste tipo de reuniões, mas esta sua simplificação, para além de não ser verdadeira, despreza o esforço de muitos que sinceramente acreditaram que o seu contributo era necessário."
Não desprezo as pessoas mas desprezo o esforço. Digamos, o que defendem naquele contexto.
O contexto é de veneno e essas pessoas não tiveram ou o escrúpulo em aproveitarem a dinâmica ou a clarividência em detectar o veneno. De uma forma ou outra, não se saem bem na foto.
O esforço que cada um faz só é meritório quando não atacar directamente as pessoas. Neste caso punha em causa o bem estar de muitos e as próprias hipóteses de sobrevivência de centenas de milhões.
Parece-me hoje inequívoco que se tratava de abater a sociedade capitalista (burquesa, pátáti-pátátá) para criar uma nona versão do amanhã que canta, verde, radioso.
Mais cretina que a luta em causa vejo apenas a luta contra as alterações climáticas referentes à sucessão dos dias e das noites.
Sei de há muito que quem pesquisa o crescimento das cebolas em função do que quer que seja mas "enquadrando" a pesquisa na presunção da existência de consequências nefastas ao crescimento das ditas se arrisca a ver as cebolas, a pesquisa e a sua carreira chamuscadas quando o logro do aquecimento global se tornar patente. O caso, inequivocamente.
Como diz o povo, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Diz ainda, diz-me com quem andas dir-te-ei quem és.
"Parece-me hoje inequívoco que se tratava de abater a sociedade capitalista (burquesa, pátáti-pátátá) para criar uma nona versão do amanhã que canta, verde, radioso"
Pasmo com tanta clarividência. Ficámos a saber que Merkel, Sarkozi, Barroso, etc, querem acabar com a sociedade capitalismo. Ele há cada fantasista por esta blogosfera.
... enganei-me, apaguei a janela errada ...
... dizia eu que as vedetas da politicamente correcta Europa estiveram na jogada porque era necessário que alguém ocupasse o terreno. O anónimo esperava que o poder caísse à rua?
Merkel já tinha cantado o refrão (2007):
http://range-o-dente.blogspot.com/2007/06/vitria-dos-pacvios.html
A manobra ruiu, o 2º muro de Belim caiu.
Consegui repescar o inicial:
"Ficámos a saber que Merkel, Sarkozi, Barroso, etc, querem acabar com a sociedade capitalismo."
E acha que foram, de facto, motores da coisa, ou terão estado 'pela causa' para garantirem estar na montanha que pariu um rato?
Merkel já tinha dado sinais há muito. Só não viu quem não quis ver.
http://range-o-dente.blogspot.com/2007/06/vitria-dos-pacvios.html
Caro João,
Estou de acordo que o funcionamento da ONU sobre esta matéria se revela ineficaz. Creio que sobre isto todo estarão de acordo. A minha dúvida é qual a via a seguir mas entendo que o João não tenha resposta para esta pergunta. Em Copenhaga o Obama fez o que o Bush já tinha tentado fazer que era obter acordos entre meia duzia de estados poluidores mas a diferença é que o Obama o conseguiu faze-lo no quadro de uma cimeira da ONU e o Bush queria fazê-lo fora da ONU, esvaziando esta instituição de conteúdo. E é este o meu problema. Encontrar alternativas que funcionem com menos Estados é fácil mas qual o custo do esvaziamento da ONU não existindo nenhuma estrutura alternativa que a substitua? Aqui é que "torce a porca o rabo"...
Há uma frase sua que me confunde: "Neste contexto, as UN em vez de darem um passo atrás e enveredarem pela via da criação de um total esclarecimento e criação de apoio na base, ou seja, nos cidadão que somos todos nós, enveredaram (ou apoiaram) por um clima catastrofista e pretendendo com uma grande encenação eliminar a diferença de interesses evidente".
Acredita mesmo que a ONU tem como missão prestar esclarecimento "na base, ou seja, nos cidadãos que somos todos nós"? Não caberá esse papel de informação e educação aos Estados que o compõem?
Caro João,
Outra questão. No seu post diz que a Europa se tornou irrelevante. Não estará a exagerar? A própria existência desta cimeira e das anteriores se deve ao papel de liderança da Europa. Haverá várias interpretações sobre porquê que a Europa não foi convidada a estar na reunião dos Países que esboçaram o acordo final (muita tinta se escreverá sobre este assunto) mas uma interpretação óbvia é que a Europa não era um obstáculo a um acordo pelo que não era necessário estar representada. Ou seja, perdeu capacidade negocial, sim, por ter uma posição transparente e incondicional mas isto não é equivalente a ter perdido relevância. Bastaria que a Europa tivesse adoptado uma postura imadura e irresponsável, como os países bolivarianos, para que a sua relevância se fizesse notar. Constância, responsabilidade, transparência e incondicionalidade não torna uma entidade irrelevante. Torna-a pouco crítica na hora de tomar uma decisão pois assume-se que está lá e dará apoio ao que sair. É um pouco como o papel das mães na vida dos filhos. Elas são incondicionais e por isso são consideradas como adquiridas. Mas no dia em que faltam, nota-se a importância que tinham como suporte da estrutura emocional dos filhos.
Caro Anónimo, no essencial coloca duas questões:
“…Acredita mesmo que a ONU tem como missão prestar esclarecimento "na base, ou seja, nos cidadãos que somos todos nós"? Não caberá esse papel de informação e educação aos Estados que o compõem?...”
Existe hoje um debate, mais académico reconheço, sobre a necessidade dos estados explicarem se é e porque é necessário terem diplomacia e uma política externa. Considero que a sua questão se enquadra neste âmbito mais vasto. De facto, quantas pessoas em Portugal sabiam o que estava em causa em Copenhaga? (1%?? – talvez um centésimo disto…) E este é o grande problema de toda a arquitectura da política internacional, sem informação e transparência é impossível mobilizar e sem mobilizar não há participação (mesmo que delegada) e sem participação não existe democracia, logo prevalecem os interesses de apenas alguns que são os que têm interesses directos e não os das comunidades que se pretende representar.
Estou de acordo quando refere (mesmo perguntando) se esse esforço não compete aos Estados, só que se houvesse um interesse genuíno no esclarecimento, Estados e ONU, tinham-se juntado em campanhas que tornassem claro os objectivos e interesses que estariam em casa na COP15.
O envolvimento dos Estados no âmbito das Alterações Climáticas, hoje, só muito lateralmente se pode assumir como genuinamente ambiental. Os interesses de políticos que procuram protagonismo interno e externo e os novos negócios das empresas energéticos são só a ponta do icebergue. Se assim não fosse, o enfoque seria dado na eficiência energética, a ma nova organização das cidades e do trabalho e como tornar verdadeiramente baratas e acessíveis as tecnologias solares e eólicas em todo o mundo (a tecnologia existente é já hoje suficiente para disponibilizar equipamentos globalmente às famílias para que as reduções de CO2 fossem realmente significativas). Tornar baratas, inteligentes e eficientes estas tecnologias seria não só percebível por todos como mobilizaria as comunidades mundiais.
Só que o que esteve em causa não foi nada disto, mas sim como garantir posicionamentos num novo enquadramento económico mundial.
“…No seu post diz que a Europa se tornou irrelevante. Não estará a exagerar?...”
Precisamente porque o que esteve em causa foi um novo posicionamento global para conseguir vantagens competitivas num novo paradigma económico associado a uma revolução energética que a Europa necessita, mais urgentemente que qualquer outro bloco mundial, para travar o seu declínio económico, o falhanço (na melhor das hipóteses um atraso) fará adiar a começo da inversão deste seu declínio. Quem mais perdeu com o falhanço de Copenhaga, ao contrário do que se pretende referir, foi a Europa porque foi dos que mais investiu nesta conferência e a sua irrelevância crescente não vem apenas de não ter estado na assinatura do acordo dos cinco, mas sim de não ter tido a força (seja qual tenha sido as razões de tal) para garantir a continuidade em crescendo desta temática.
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