segunda-feira, janeiro 18, 2010

Até pode ser que seja verdade...


"Manter-nos vivos, modelar a paisagem, produzir mais, circular, tudo isso são actividades consumidoras de energia, quer no momento inicial em que abrimos uma clareira, uma estrada ou construímos mais uma casa, quer depois, para usar e manter em bom estado o que tende sempre para a ruína e o desaparecimento.
O que distingue a “mão invisível” que conduzia a intervenção tradicional no território da “mão invisível” que conduz a intervenção moderna é a imperfeição da integração do custo energético resultante da actual energia a pataco.
...
Pode parecer estranha a referência a energia a pataco num tempo em que se fala de energia cara, mas essa estranheza apenas resulta do que se usa como referência base. Os preços da energia actual, mesmo com as suas grandes oscilações, são ainda incomparavelmente mais baixos que no tempo em que 30 000 homens abriam em onze anos um canal de drenagem na Roma imperial."
henrique pereira dos santos

4 comentários:

Eduardo Freitas disse...

Pois, realmente, que chatice. E não há dúvida que o pão que a minha avó materna fazia, com o trigo que ela ajudava a semear, na terra previamente arada com a ajuda do macho em terra de sequeiro e que ela própria depois ceifava, pão cuja massa ela mesma amassava à luz da lamparina de azeite, no forno de lenha que ela própria apanhava, era incomparavelmente melhor que qualquer sucedâneo hoje existente.

Os seus netos adoravam o pão que fazia. Eu era um deles. Era, não haja dúvidas, um pão ambientalmente sustentável.

Tenho, naturalmente, uma nostalgia especial por aquele pão (e filhó, e folar!) - oh, como gostaria de comer um bocado agora mesmo! -, mas ainda bem que aos meus pais e à minha geração não coube sorte igual à da minha avó. Tudo farei para que o mesmo continue a acontecer aos meus filhos.

José M. Sousa disse...

O caro Eduardo F. não quer mesmo perceber. Não se trata de querer voltar aos tempos da sua avó, nem da minha. Mas, se continuarmos a desbaratar energia como fazemos actualmente, este provérbio saudita é bem capaz de se materializar:

"My father rode a camel. I drive a car. My son flies a jet-plane. His son will ride a camel.”
—Saudi saying

trepadeira disse...

Olá

Ao preço,barato,da energia acrescento outro factor,tornando-a insustentavelmente cara-todas as grandes obras,são feitas para benefício de muito poucos,e pagas com a miséria de muitos,quase todos.

mário martins

Eduardo Freitas disse...

Caro José M. Sousa,

Parafraseando alguém conhecido, podia responder-lhe que "há mais vida para além da energia". Não o farei porque a origem da paráfrase é lamentável e ajudou a que chegássemos à beira do abismo em que nos encontramos. E não é daqui a 20/30 ou 50 anos que estou a falar. É a 2010-2012 que me refiro.

A energia é "apenas" um recurso económico. Como tal deve ser gerido. Economicamente. Isto é: minimizando o custo dos inputs necessários à produção de um dado output que, deste modo, é o mais "barato" possível. Tal como as couves, o arroz ou o bacalhau e concordará comigo que nada há mais estratégico que a alimentação. E lá voltamos à minha avó...