Via O Insurgente, no qual estou proibido de fazer comentários, cheguei ao A Artede da Fuga, onde fiz alguns comentários.
Escolhi uma das mil possibilidades de análise de um link que Range o Dente, pavlovianamente, também já colocou nos comentários da Ambio.
O link em análise é este.
Deliberadamente a minha escolha é sobre uma questão lateral.
Mas para quem quiser olhar para uma questão de fundo (a questão das reconstruções climáticas a partir dos anéis de crescimento das árvores a que está associada a famosa frase "hide the decline"), pode comparar a argumentação pueril de John Costella para invalidar o uso dos anéis de crescimento no link em causa, quando comenta um email de 22 de Setembro de 1999 (estão por ordem cronológica), com o que é dito neste link (incluindo os comentários dos leitores e discussão subsequente).
Escolhi para demonstrar a forma como é feita esta análise os comentários a um mail de 22 de Novembro de 1996.
John Costella diz "Again, selling the public message—before the actual end of the calendar year—is of primary importance for these senior scientists. Jenkins goes on to explain how this “invented” data should be leaked". Para o demonstrar, cita: "We feed this selectively to Nick Nuttall (of the United Nations Environment Program) (who has had this in the past and seems now to expect special treatment) so that he can write an article for the silly season. We could also give this to Neville Nicholls (climate scientist at the Bureau of Meteorology Research Centre in Melbourne, Australia)?". Salto algumas coisas para citar a parte final da análise feita por John Costella: "In other words, Jenkins was more interested in getting “headline” numbers out to the general public, than in ensuring an impartial release of information to all members of the press at the same time.
If repeated in 2009, Jenkins’ actions could have rendered him liable to criminal prosecution for insider trading. However, given that we are here talking about 1996—before so many billions of dollars of decisions and market movements watched the unfolding climate change debate—we can put his actions down to mere expedience and naivete."
If repeated in 2009, Jenkins’ actions could have rendered him liable to criminal prosecution for insider trading. However, given that we are here talking about 1996—before so many billions of dollars of decisions and market movements watched the unfolding climate change debate—we can put his actions down to mere expedience and naivete."
Penso que pouca gente fará o que eu fiz. Fui ler o mail original: http://assassinationscience.com/climategate/1/FOIA/mail/0848679780.txt
O que qualquer pessoa normal pode ler neste mail é a preocupação normal e legítima de Geoff Jenkins, head of climate change prediction at the Handley Centre for Climate Prediction and Research, part of the United Kingdom’s Meteorological Office (national weather service), no sentido de ter uma resposta à pressão dos média que, no fim do ano, querem ter balanços do ano anterior, mesmo que os dados ainda não estejam totalmente disponiveis (provavelmente ele chama a esse período de fim de ano, que acabámos de passar e no qual acabamos de ver todos os balanços na mesma altura, silly season).
E o que o mail faz é propor um método perfeitamente normal:
"1. By 20 Dec we will have land and sea data up to Nov 2. David (?) computes the December land anomaly based on 500hPa heights up to 20 Dec. 3. We assume that Dec SST anomaly is the same as Nov 4. We can therefore give a good estimate of 1996 global temps by 20 Dec 5. We feed this selectively to Nick Nuttall (who has had this in the past and seems now to expect special treatment) so that he can write an article for the silly season. We could also give this to Neville Nicholls?? 6. We explain that data is provisional and how the data has been created so early (ie the estimate for Dec) and also 7. We explain why the globe is 0.23k (or whatever the final figure is) cooler than 95 (NAO reversal, slight La Nina). Also that global annual avg is only accuirate to a few hundredths of a degree (we said this last year - can we be more exact, eg PS/MS 0.05K or is this to big??) 8. FROM NOW ON WE ANSWER NO MORE ENQUIRIES ABOUT 1996 GLOBAL TEMPS BUT EXPLAIN THAT IT WILL BE RELEASED IN JANUARY. 9. We relesae the final estimate on 20 Jan, with a joint UEA/MetO press release. It may not evoke any interest by then. 10. For questions after the release to Nuttall, (I late Dec, early Jan) we give the same answer as we gave him. Are you happy with this, or can you suggest something better (ie simpler)? I know it sound a bit cloak-and-dagger but its just meant to save time in the long run."
Pode questionar-se o tratamento dado a um jornalista (ou dois) em especial, pese embora a afirmação de que a qualquer outro pedido se enviará a mesma resposta que ao primeiro, mas de resto o procedimento para lidar com a pressão mediática é irreprensível: usar todos os dados possíveis de coligir em tempo útil, estimar o resultado para os poucos dias em que não será possível ter dados em tempo útil, vincar que se trata de uma estimativa explicando como foi obtida e remeter para os dados finais logo que possível.
Pois perante isto o Sr. John Costella consegue retirar três excertos do mail, embrulhá-los em interpretações completamente abusivas, e tirar conclusões de que os cientistas envolvidos "inventam" dados (com medo dos tribunais o Sr. John Costella tem o cuidado de pôr aspas nesta palavra crucial da sua análise)", e estão é preocupados em fazer cabeçalhos nas notícias, mesmo antes do fim do ano, o que evidentemente passou despercebido aos bloggers que o citam como fazendo uma excelente análise.
O que isto tem de miserável não é apanágio deste mail, fiz a experiência em vários outros e escolhi, deliberadamente, uma questão lateral para ilustrar a forma como o assunto tem vindo a ser tratado.
Que um físico teórico envolvido nas teorias da conspiração sobre o assassinato de Kenedy se entretenha a fazer isto, eu percebo, a fama é sempre boa para quem gosta do género.
Que pessoas inteligentes, de blogs supostamente racionalistas lhe façam vénias e classifiquem como excelente a sua análise do assunto é para mim um mistério.
henrique pereira dos santos
11 comentários:
Caro Henrique Pereira dos Santos
Exemplar é este blogue, que ajuda a informar e esclarecer seriamente sobre matérias ambientais, pelo que quero agradecer o trabalho que aqui tem sido feito.
No caso das alterações climáticas e do aquecimento global, admito que haja quem não partilhe da minha/vossa leitura dos acontecimentos e informações, mas estou farta de ser chamada "crente" e "religiosa", pelo que já nem publico comentários desta natureza no meu blogue. Por isso admiro a sua/vossa resistência/resiliência na discussão sobre esta matéria, sobretudo respondendo com argumentos lógicos e fundamentados em resposta a comentários que muitas vezes de lógica e fundamentação muito deixam a desejar.
Cumprimentos, parabéns, e um bom ano para o Ambio e seus autores.
Pavlovianamente? Não diga isso caro HPS. Então não transparecem as horas de estudo dedicadas ao tema?
Agora entram os peritos em teorias da conspiração. O "autor do MC" também foi desencantar um que entre outras coisas nega a existência da Al Qaeda e na passada, as alterações climáticas.
Que pessoas inteligentes, de blogs supostamente racionalistas lhe façam vénias e classifiquem como excelente a sua análise do assunto é para mim um mistério.
Não há mistério. Num comentário algures no Sargaçal já lhe tinha manifestado a certeza que quando o assunto é Natureza, essas tais pessoas passam da inteligência à indigência no mesmo parágrafo.
O que é de reparar é que exactamente os que colocam tudo em causa, das investigações ao carácter dos investigadores, são os que não têm a mínima reserva em linkar, recomendar e exaltar tudo o que é diletante do clima.
Fui ver o A Arte da Fuga e claro que foi logo qualificado não só como troll mas também como infantil. Podia ser crente e sei lá... Pol Pot. E claro que apareceu logo um inteligente a insultar o Papa o que passará a ser mais comum nestes blogues (surpresa, segue dois blogues um dos quais o inefável MC). Foi ver os outros textos sobre o assunto? Por falar em Pavlov... -- JRF
E quem é o cromo da foto?
John Castella, himself, tirado da sua página pessoal.
henrique pereira dos santos
Mann - o artista:
"The important thing is to deny that this has any intellectual credibility whatsoever and, if contacted by any media, to dismiss this for the stunt that it is."
http://climateaudit.org/2010/01/04/back-to-2003/
Parte I
Voltei aqui, porque considero este post do HPS como uma red herring, escolhido a dedo e colocado aqui como manobra de distorção, vulgo “white wash, do que é o ClimateGate,” que poderá levar quem leia a considerar que este exemplo é representativo do Climategate.
1. Começo por dizer o seguinte, faz algum tempo atrás ouvi um desses “irracionais” e dos mais detestados “negacionistas” (que aliás o termo per si equivale a uma ofensa directa, pessoal, á pessoa a quem é dirigido, tendo a mesma estrutura moral e equiparação a tratar por “assassinos de crianças” todos os ambientalistas. gostava de ver a reacção aqui se alguém o fizesse!) dizer a uma audiência larga de colegas… “tenham muito cuidado com o que dizem, com os exemplos que dão, com os argumentos que constroem, porque “if you damm yourselfs you’ve damm us all”. Pareceu-me algo muito sensato e este senhor Podesta que eu, que sou atento a estes fenómenos, nunca ouvi sequer falar, devia ter ouvido e seguido como conselho e quem coloca como referência do Climategate este senhor também devia ter mais cuidado! O email em questão nunca eu vi ser usado como representação ou “use case”, daí podendo-se inferir a importância do mesmo e porque foi usado aqui pelo HPS.
2. Concordo que, por exemplo num tribunal, não se encontrará provas no climategate capazes de condenar qualquer um deles. E a insistência de alguns em tentar tirar de contexto e caricaturar o que eles dizem só distorce completamente a importância do Climategate. Realmente não está lá prova ou indícios de crime nenhum! Contudo o climategate são meramente emails e ficheiros, ainda por cima após haver um email do próprio (Phil Jones) em que ele refere que alguns meses antes tinha apagado “carradas” de emails (relativamente ao AR4) tanto que acreditava já não ter nada e em que aconselhava os outros a fazer o mesmo. Só posso imaginar o que se descobriria se ele não tivesse apagado as tais “carradas”.
3. O que é o Climategate. O climategate é a descoberta da proximidade de relacionamentos entre o grupo de cientistas mais proeminente, mais citado e usado como referencia, na climatologia, cujo trabalho era usado, mas mais importante - era combinado, para validar o trabalho prévio uns dos outros. O IPCC organizacionalmente sempre insistiu, e bem, em ter várias vertentes de análise sobre qualquer assunto como salvaguarda de alguma independência. O Climategate mostra um grau de proximidade entre eles (aquele grupo específico) que invalida esta premissa do IPCC. Já aqui dei como exemplo o modo como o trabalho de Keith Briffa era usado como prova independente da validação da investigação de Mann, para agora se descobrir que na verdade e em muitos aspectos Briffa até se comportava mais como um servo do Mann do que um cientista independente. Eu próprio durante anos, apesar dos argumentos que me eram dados sempre mantive essa reserva mental de que realmente Mann tinha sido validado pelo trabalho de Briffa, logo a conversa devia ser levada com uma “pontada de sal”. Ler o modo como combinaram a apresentação dos seus trabalhos, como combinaram retirar parte dos datasets de briffa e substituir pelos dados dos termómetros porque os mesmos dataset (briffa) mostrava que no presente o planeta estava a arrefecer e não a aquecer, o que levaria imediatamente á questão que se não corresponde á realidade observável hoje como pode ser usado para avaliar, como proxy, temperatura á mil anos? Resumindo este ponto, realmente o que fica do “climategate” é a falta de independência, até um comportamento de matilha e seita que existe entre aqueles que são, afinal, somente os mais profícuos e referenciados climatologistas á data.
Parte II
4. Este conceito de “circuling the wagons” não é aceitável no debate cientifico! Prova? Recentemente Richard Lindzen publicou (pré print) um trabalho cuja primeira crítica veio precisamente de um outro céptico (Dr., Roy Spencer) que imediatamente apontou falhas e discordâncias com a metodologia usada por lindzen, isto apesar de serem amigos e de estarem no mesmo “lado” do debate climático. Sabem o que isto é? Exemplo de como deve ser produzida ciência. Mas estes é que são os “negacionistas” irracionais e de suspeita elevação ética! Aliás isto leva-me ao ponto seguinte.
5. Outra questão importante do climategate é perceber até que ponto, no debate científico o comportamento destes “senhores do climategate” conseguiram fazer pender a balança para o lado que desejavam, através de conluio com editores de revistas de referência, pressionando editores com ameaças de boicote, etc. Já se sabe, precisamente através do climategate, do modo como foi feito a analise ao trabalho de Christy e Douglass no “International Journal of Climatology (IJC)” (que estupidamente Mann refere esta semana no Editorial do WSJ como exemplo de cientistas que não tem dificuldade em publicar… o estado de ilusão a que isto chegou!), que foi travado durante um ano para que Ben Santer (um dos da “TEAM”) conseguisse produzir um “rebuttal” ainda por cima sob a condição de após este rebuttal não ser permitido aos autores contra-responder (como isto é possível!?). Isto não vos parece a todos um escândalo? Depois outro exemplo será o trabalho (critica a Mann et all) de McIntyre e McKitrick para ser publicado na Nature passou pela arbitragem por parte dos especialistas a quem a Nature pediu análise ( Jolliffe e Zorita) que deram parecer muito favorável ao trabalho e mesmo assim a Nature decidiu não publicar logo e adicionar um terceiro arbitro (?) que fez criticas desfavoráveis… McIntyre acredita e quem for ler a análise dele no CA fica com pouca dúvidas, mas ok isso já depende de cada um, que o terceiro arbitro era o …. Phil Jones. Que a ser verdade que foi ele, ou a ser alguém da “equipa”, fica provado que o processo de peer review foi corrompido (como alías afirmou Phil Jones que “nem que o tivesse que mudar o conceito de peer review fazer!”) porque era só o que faltava alguém ser árbitro de uma crítica ao seu próprio trabalho. Independentemente de ser ele ou não, o mínimo que pode acontecer é a revista Nature que é parte envolvida no caso, revelar quem era esse terceiro arbitro e não fazer o editorial de “move along, nothing to see” vergonhoso que fez. Isto, estes fenómenos de clarificação do “modus operandi” da climatologia é que é o climategate.
Para terminar, podia naturalmente continuar horas com esta conversa, mas penso que no essencial já passei a mensagem que queria. ClimateGate não é uma situação anedótica como alguns querem fazer passar (alguns mesmo que se dizem “cépticos climáticos”) é sim um evento que veio abanar o status quo da climatologia e que irá, se não houver estes trabalhos de “white wash” a dar alguns frutos, não estando descartado (embora altamente improvável) mesmo o reforçar da posição das pessoas envolvidas. Por hora nota-se efeitos práticos, por exemplo que algumas vozes se têm erguido em defesa da transparência, mesmo alguns nomes mais atacados pela “ala céptica”, como Jim Hansen, estão a ter algum (pelo menos mais) respeito por parte de quem mais o atacava por se verificar que ele não faz parte do Climategate, no campo da Dendrocronologia aparecem novas vozes que tentam trazer alguma racionalidade a toda esta questão dos proxies e da Dendrocronologia mostrando como se deve realmente “ler” as árvores como proxy de temperatura, etc.
Fica por isso o apelo a que nem por um lado se agarre num email e se construa castelos no ar com cada palavra, nem pelo seu contrário se traga casos anedóticos e se diga que isso é o climategate!
Caro Olympus Mons,
Não vale a pena torcer o que é o post.
O post não é sobre o climategate e o que ele representa, mas sim sobre os blogs aparentemente sérios que se limitam a ampliar idiotices de idiotas sem fazer o mínimo trabalho de revisão crítica do que está escrito nos links que usam.
Para demonstrar isso escolhi um mail, o que o Olympus Mons aproveita para dizer que se trata de uma escolha que visa deturpar, a partir de uma caso isolado, o contexto da discussão.
Escolha o Olympus Mons um único texto que considere exemplar para a discussão, manda-me o link e eu faço a análise do texto e das fontes primárias a que conseguir aceder e depois discutimos.
henrique pereira dos santos
HPS,
ok, “fair enough”. Vou esperar a sua isenção e avaliação objectiva da realidade.
Pode começar por aqui:
A descrição dos eventos dos próprios Douglass e Christy está a aqui.
http://www.americanthinker.com/2009/12/a_climatology_conspiracy.html
os anexos com a sequencia de emails do climategate está aqui (VALE A PENA MESMO LER).
http://www.americanthinker.com/2009/12/climate_conspiracy_appendix_b.html
e já agora, antes de ler os links, até para referenciar o que deve ser a ética do peer review este texto é bastante útil….
The World Association of Medical Editors policy on
Conflict of Interest in Peer-Reviewed Medical Journals states:
Having a competing interest does not, in itself, imply wrongdoing. However, it constitutes a problem when competing interests could unduly influence (or be reasonably seen to do so) one’s responsibilities in the publication process. If COI is not managed effectively, it can cause authors, reviewers, and editors to make decisions that, consciously or unconsciously, tend to serve their competing interests at the expense of their responsibilities in the publication process, thereby distorting the scientific enterprise. This consequence of COI is especially dangerous when it is not immediately apparent to others. In addition, the appearance of COI, even where none actually exists, can also erode trust in a journal by damaging its reputation and credibility.
Personal relationships. Personal relationships with family, friends, enemies, competitors, or colleagues can pose COIs. For example, a reviewer may have difficulty providing an unbiased review of articles by investigators who have been working colleagues. Similarly, he or she may find it difficult to be unbiased when reviewing the work of competitors.
Quem é Douglass…
http://en.wikipedia.org/wiki/David_Douglass
O seu trabalho (s)
http://www.pas.rochester.edu/~douglass/recent-publications.html
Quem é John Christy…
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Christy
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