sexta-feira, fevereiro 19, 2010

O gosto da biodiversidade (publicidade) II

Imagem roubada daqui

A Associação Transumância e Natureza (ATN) produz e comercializa azeite.
O seu principal objectivo é gerir o habitat de algumas das espécies mais importantes da Reserva da Faia Brava, mantendo um mosaico de diferentes culturas.
Para conservar as águias de bonneli ou as águias reais que existem nas suas propriedades é preciso garantir condições favoráveis para outras espécies que lhes servem de alimento, sobretudo o coelho.
Por outro lado as oliveiras, produzindo azeitonas no Inverno, dão alimento numa altura em que muitas plantas estão sem folha e sem fruto.
Essa é a razão principal para a ATN se interessar por esta produção, investindo nela e vendendo o azeite para pagar o trabalho de gestão do habitat e libertar um pequeno valor para comprar mais terrenos para a conservação.
A opção é sua:
usar manteiga resulta quase sempre em paisagens monótonas de produção intensiva de cereais, usados nas rações para alimentar gado que não sai dos seus estábulos, muitas vezes do outro lado do mundo;
usar azeite, sobretudo este azeite, é construir paisagens com muito mais que oliveiras, é criar espaços onde sabe que as águias podem viver sem risco de morrerem à fome.

Pão
Massa de azeite
Ingredientes:
500 gr de farinha
20 gr de sêmola grossa
15 gr de fermento fresco
10 gr de sal
50 gr de azeite Faia Brava
320 gr de água (320 ml, mas se pesar é mais fiável)
Pré-aqueça o forno a 250 C. Misture a farinha e a sêmola e esfregue-as com o fermento, com a ajuda dos dedos, como se estivesse preparando umas migas. Junte o sal, o azeite e a água, e continue a amassar e virando a massa inúmeras vezes para que incorpore o máximo de ar.

Focaccia com sal e alecrim
1 massa de azeite depois de repousar 1 hora
5 colheres de sopa de azeite
6 hastes de alecrim
Flor de sal
Preparação:
Estender a massa sobre uma placa de forno pincelada com azeite. Espalhe o restante azeite sobre a massa e com a ajuda dos dedos estique a massa do centro para as extremidades da placa, sem a levantar ou retirar, cubra com um pano e deixe repousar num lugar ameno, ao abrigo de correntes de ar, durante 45 minutos. Volte a pressionar a massa com as pontas dos dedos e deixe repousar mais 30 minutos. Retires as folhas de alecrim das hastes e espalhe homogeneamente sobre a massa, salpique também com a flor de sal e em seguida leve ao forno previamente aquecido. Abaixe a temperatura para os 220C e deixe cozer por 25 a 30 minutos, até atingir uma cor castanha/dourada. Retire do forno e transfira para uma superfície neutra para arrefecer pincelando com um pouco mais de azeite enquanto está quente.
henrique pereira dos santos, com receitas de António Alexandre

7 comentários:

Carlos Aguiar disse...

A foto tem imensa graça pela antítese. Mostras uma tentativa de regulação das profissões rurais por parte do Estado Novo, nos tempos em que podar uma oliveira era um trabalho meticuloso de selecção dos ramos pendentes que produzem fruto, e de manutenção do equilíbrio fisiológico da árvore. Hoje poda-se a despachar com motosserra ou com máquinas de discos acopladas ao tractor, e as árvores duram muito menos anos. Na cozinha aconteceu o inverso, sofisticou-se. O caldo que borbulhava durante horas no pote junto à lareira foi substituído por uma Nouvelle Cuisine de sabores refinados, que nos deixa cheios de fome. Existe uma relação causal entre a oliveira e a culinária :)

Anónimo disse...

Consumo manteiga dos Açores. Acaso esse local fica no outro lado do mundo? E os bichos ficam em que estábulos? Do que eu vi andam em liberdade pelos terrenos dos proprietários. E acaso a paisagem dos Açores é monótona?

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro anónimo,
O projecto tem como objectivo pôr as pessoas a olhar para o seu prato e a fazer perguntas dessas.
Não sei se não existem vacas no açores estabuladas e não sei se nenhumas delas comem rações (nem mesmo como complemento), tal como sei que existem azeites produzidos de forma totalmente insustentável.
Mas o texto tinha como objectivo não ultrapassar mil caracteres (e mesmo assim não cumpri o objectivo), sendo a sustentabilidade na alimentação uma matéria especialmente difícil exactamente porque a forma de produção é muitas vezes mais importante para definir o grau de sustentabilidade que o produto em si.
É pois inevitável que existam zonas de discussão sobre a precisão de alguma informação.
Bem vindo à discussão e se tiver ideias de como pôr as pessoas a olhar para o seu prato com os olhos da sustentabilidade é sempre bem vindo.
henrique pereira dos santos

Henk Feith disse...

Caro Henrique,

Podes explicar um pouco melhor a relação entre o olival tradicional por um lado e o coelho e as águias por outro? Não tenho o olival como um habitat típico para coelhos nem para as águias referidas.

Henk

Henrique Pereira dos Santos disse...

Henk,
A questão central prende-se com a manutenção do mosaico, com áreas mais abertas, e mais fechadas.
O Olival funciona como um financiador de clareiras, dentro deste sistema em mosaico.
henrique pereira dos santos

Paulo Barros disse...

A propósito do mosaico e de zonas abertas para a alimentação de águias, um destes dias assistia a uma apresentação sobre melhoramento de habitat para espécies presas (em especial para coelho) de águias. Depois da apresentação dos resultados chegou-se á conclusão que a densidade de coelhos em alguns casos tinha sofrido um acréscimo. Isto pode levar a uma conclusão implícita de que se a densidade de coelho aumentou, as águias beneficiaram. Mas isto pode não ser verdade, visto que para as águias beneficiarem do aumento de densidade de coelhos, estes têm que estar disponíveis a serem caçados.
A abertura de clareiras e a implementação de sementeiras em zonas de matos ou outro tipo de habitat (continuo), pode até aumentar a densidade de coelhos, contudo, as águias podem não tirar proveito disso, já que são incapazes de caçarem dentro dos limites da parcela (abertura de clareira ou sementeira) que normalmente são de pequena dimensão.
Visto que o uso do solo foi alterado (em especial a sementeira de cereal nas serras e o corte de matos para a cama do gado), neste momento o fogo e a pastorícia (com ferramenta de criar áreas abertas ou de controlo de altura de vegetação) desempenham um papel fundamental para a conservação de muitas espécies.

Paulo Barros disse...

A técnica de arrolar as oliveiras, ten-se vindo a perder no tempo, hoje em dia os novos arroladores tentam copiar a técnica, mas a única coisa que fazem é rebaixar a árvore.
Conhecimentos adquiridos ao longo de gerações vão-se perder em uma ou duas gerações, coisa simples como “abrir” ou “arejar” o interior da copa das oliveiras de modo a facilitar a polinização é um exemplo na arte de arrolar oliveiras que se vai ou já se perdeu.