Pinto de Sá tem um blog que tem sido muito citado a propósito da política energética, sobretudo no que diz respeito à contabilidade dessa política energética.
Eu fui durante algum tempo um frequentador desse blog, porque é um blog tecnicamente sólido numa matéria em que sou apenas um curioso.
Deixei de o frequentar por Pinto de Sá detestar o contraditório e considerar insultos coisas corriqueiras (muito menos graves do que diz dos outros), considerando inaceitáveis coisas como começar um comentário por “pelo contrário” para assinalar a discordância sobre o post. Para além de pura e simplesmente não publicar coisas razoáveis e educadas apenas porque o contrariam.
Mas o retorno da discussão do nuclear via manifesto “Por uma nova Política energética”, que põe a tónica no custo da energia (esquecendo todos os outros aspectos da política energética), aplanando caminho para a argumentação “o nuclear é barato” leva-me a chamar a atenção para alguns aspectos que a mim, ignorante e não técnico do assunto, me causam perplexidade nas contas de Pinto de Sá que, mercê da agressividade da sua argumentação aliada a uma férrea eliminação do contraditório no seu blog, passam como contas certas e indiscutiveis.
Corro pois o risco de dizer muitas asneiras, mas é o risco de participação cívica de quem recusa a tecnocracia de que o blog “a ciência não é neutra” faz permanentemente a apologia.
Comecemos pelo post onde Pinto de Sá faz uma revisão da matéria dada. Nos comentários, que Pinto de Sá procura imediatamente condicionar dizendo que não devia publicar mas publica para poder dar mais umas lições, é evidente um dos problemas de Pinto de Sá: a escolha criteriosa de informação orientada pelas conclusões a que se pretende chegar.
Por exemplo, Pinto de Sá diz no post que o reforço de potência não produz mais energia e explica tecnicamente porquê. Está tudo certo, excepto que a explicação técnica só é válida para situações em que a potência instalada já não deixa água por turbinar (nos comentários Pinto de Sá reconhece esta limitação de raciocínio, mas o relevante é notar como sabendo isso de princípio, Pinto de Sá tentou passar a ideia de que o reforço de potência não permite aumento de produção. Já em posts anteriores havia comentários chamando a atenção de Pinto de Sá sobre este aspecto mas isso não o impede de truncar informação para melhor convencer os incautos).
Uma segunda limitação deste raciocínio é o de que produzir em horas de cheio não é o mesmo que produzir em horas de vazio e, consequentemente, se o reforço de potência (mesmo nas situações em que a potência instalada anteriormente não deixava água por turbinar) permitir turbinar água mais rapidamente (produzindo mais energia em menos tempo), isso significa que permite aumentar a água usada para produzir energia em horas de cheio e, consequentemente, aumentar a variação de volume das albufeiras o que implica, aumentar a capacidade de encaixe no vazio (na cascata do Douro são apenas algumas horas, mas essas horas podem ser o necessário para adequar melhor a produção ao consumo).
No caso das barragens com capacidade de armazenamento, isso permite de facto produzir mais em alturas de abundância de água, e permite uma melhor gestão de reservas.
A que preço?, é a pergunta certa de Pinto de Sá. É uma pergunta a que convém dar resposta, sem dúvida, mas não vale a pena dá-la de forma a esconder parte da informação.
Outro aspecto constantemente esquecido nas contas de Pinto de Sá é a variabilidade interanual dos nossos recursos hídricos. Parte do armazenamento feito em barragens justifica-se com a necessidade de dar resposta a anos de baixa pluviosidade, matéria de que Pinto de Sá foge como o diabo da cruz (pelo menos que eu tenha visto).
Grande parte dos raciocínios que vi são desenvolvidos com base neste ano hidrológico, claramente fora do padrão.
Eu fui durante algum tempo um frequentador desse blog, porque é um blog tecnicamente sólido numa matéria em que sou apenas um curioso.
Deixei de o frequentar por Pinto de Sá detestar o contraditório e considerar insultos coisas corriqueiras (muito menos graves do que diz dos outros), considerando inaceitáveis coisas como começar um comentário por “pelo contrário” para assinalar a discordância sobre o post. Para além de pura e simplesmente não publicar coisas razoáveis e educadas apenas porque o contrariam.
Mas o retorno da discussão do nuclear via manifesto “Por uma nova Política energética”, que põe a tónica no custo da energia (esquecendo todos os outros aspectos da política energética), aplanando caminho para a argumentação “o nuclear é barato” leva-me a chamar a atenção para alguns aspectos que a mim, ignorante e não técnico do assunto, me causam perplexidade nas contas de Pinto de Sá que, mercê da agressividade da sua argumentação aliada a uma férrea eliminação do contraditório no seu blog, passam como contas certas e indiscutiveis.
Corro pois o risco de dizer muitas asneiras, mas é o risco de participação cívica de quem recusa a tecnocracia de que o blog “a ciência não é neutra” faz permanentemente a apologia.
Comecemos pelo post onde Pinto de Sá faz uma revisão da matéria dada. Nos comentários, que Pinto de Sá procura imediatamente condicionar dizendo que não devia publicar mas publica para poder dar mais umas lições, é evidente um dos problemas de Pinto de Sá: a escolha criteriosa de informação orientada pelas conclusões a que se pretende chegar.
Por exemplo, Pinto de Sá diz no post que o reforço de potência não produz mais energia e explica tecnicamente porquê. Está tudo certo, excepto que a explicação técnica só é válida para situações em que a potência instalada já não deixa água por turbinar (nos comentários Pinto de Sá reconhece esta limitação de raciocínio, mas o relevante é notar como sabendo isso de princípio, Pinto de Sá tentou passar a ideia de que o reforço de potência não permite aumento de produção. Já em posts anteriores havia comentários chamando a atenção de Pinto de Sá sobre este aspecto mas isso não o impede de truncar informação para melhor convencer os incautos).
Uma segunda limitação deste raciocínio é o de que produzir em horas de cheio não é o mesmo que produzir em horas de vazio e, consequentemente, se o reforço de potência (mesmo nas situações em que a potência instalada anteriormente não deixava água por turbinar) permitir turbinar água mais rapidamente (produzindo mais energia em menos tempo), isso significa que permite aumentar a água usada para produzir energia em horas de cheio e, consequentemente, aumentar a variação de volume das albufeiras o que implica, aumentar a capacidade de encaixe no vazio (na cascata do Douro são apenas algumas horas, mas essas horas podem ser o necessário para adequar melhor a produção ao consumo).
No caso das barragens com capacidade de armazenamento, isso permite de facto produzir mais em alturas de abundância de água, e permite uma melhor gestão de reservas.
A que preço?, é a pergunta certa de Pinto de Sá. É uma pergunta a que convém dar resposta, sem dúvida, mas não vale a pena dá-la de forma a esconder parte da informação.
Outro aspecto constantemente esquecido nas contas de Pinto de Sá é a variabilidade interanual dos nossos recursos hídricos. Parte do armazenamento feito em barragens justifica-se com a necessidade de dar resposta a anos de baixa pluviosidade, matéria de que Pinto de Sá foge como o diabo da cruz (pelo menos que eu tenha visto).
Grande parte dos raciocínios que vi são desenvolvidos com base neste ano hidrológico, claramente fora do padrão.
A correlação estatística entre vento e precipitação de que Pinto de Sá fala (note-se que os comentários de Pinto de Sá neste post são incompreensíveis para quem não saiba que as minhas objecções da altura, depois de publicadas em tempo, foram apagadas, como Estaline apagou Trotsky na célebre fotografia), e da qual saberá tanto como eu porque não é climatologista e usa dados do Norte da Europa para a fundamentar (um erro primário que ninguém faz a não ser por ignorância ou má-fé), é um exemplo de argumento “vale tudo” usado por Pinto de Sá para defender a sua dama. A fundamentação para a afirmação é quase nenhuma, mas mesmo que exista a tal correlação ela só tem efeitos em anos (e provavelmente dias) excepcionais, como este ano hidrológico, em que as albufeiras têm estado 20 a 30 pontos percentuais de armazenamento acima da média. O que Pinto de Sá sabe perfeitamente (até por estar dito nos comentários convenientemente apagados) mas não quer que os seus leitores saibam.
E por fim, mesmo que as contas sobre o impacto nulo da produção de electricidade estejam certas, por razões que desconheço Pinto de Sá abstem-se de fazer as contas ao impacto de ter disponibilidade em horas de cheio, aproveitando horas de vazio.
Mas o mais interessante da forma como são feitas as contas por Pinto de Sá é a longa citação que vou fazer de um dos seus posts, onde fica bem claro que o conceito de energia nuclear barata é um conceito que se baseia no velho princípio capitalista de privatizar os lucros e socializar os prejuízos (neste caso, os imensos custos aqui imputados ao Estado e, consequentemente, retirados das contas do preço da energia nuclear).
E tudo assente num hipotético renascimento nuclear, cujos sinais tardam em aparecer, infelizmente (e digo infelizmente porque seria bom para todos que o nuclear tivesse conseguido resolver os problemas de base de que padece desde que apareceu a prometer amanhãs que cantam, sem nunca os conseguir concretizar):
“15. Portugal precisa de energia eléctrica barata de fontes controláveis, sem aumento de emissões de CO2, sem políticas perigosas para as liberdades cívicas e com a máxima criação de riqueza nacional sustentável. Em particular, a opção nuclear tem de ser cuidadosa e antecipadamente preparada.De tudo o que foi analisado nos pontos anteriores, resulta evidente a necessidade de Portugal considerar seriamente a opção nuclear como estratégia energética e económica, dada a sua controlabilidade, não emissão de CO2 e baixo custo da energia gerada.Não se trata, porém e no imediato, de considerar a compra de uma central nuclear, com a mesma irresponsabilidade e ausência de planeamento com que foi feita a importação de equipamentos de energias renováveis, mas sim e apenas de iniciar a preparação de uma possível futura opção nesse sentido.Dado o conjunto de aspectos a considerar, é necessária uma estrutura organizativa que coordene esses aspectos. E, dados os longos tempos a envolver nas acções e eventuais investimentos associadas, a actividade dessa estrutura não deverá obedecer aos horizontes temporais de calendários eleitorais. Por esta razão, é necessário que a sua criação resulte de um pacto de regime que garanta uma maioria de apoio parlamentar permanente, e é também imperioso que a sua chefia tenha uma independência imaculada de outros interesses que não os nacionais, sendo por isso recomendável que a sua nomeação requeira a anuência da Presidência da República, podendo a atribuição de funções militares de prevenção e segurança facilitar essa tutela Presidencial. Vale a pena recordar, aliás, que a Junta de Energia Nuclear criada há mais de 50 anos dependia directamente de Salazar, e não do Governo de ocasião. Aliás, o aqui proposto é a refundação de uma Junta como essa, para iniciar a preparação de uma possível opção nuclear!Esta Nova Junta da Energia Nuclear deverá dispor de uma Comissão Executiva com pelo menos 3 membros, e constituir um Conselho Consultivo onde estejam representados reconhecidos peritos das áreas relevantes e com um leque de sensibilidades ideológicas diversificado, que garanta o escrutínio e a transparência de todas as actividades desenvolvidas. As actividades prioritárias da Comissão Executiva, a terminar no prazo de um ano, deverão incluir:a) A recolha e análise de todos os estudos parcelares realizados no passado sobre a opção nuclear para Portugal;b) A constituição de uma equipa interdisciplinar de técnicos de primeira qualidade, cobrindo nomeadamente os aspectos das engenharias civil, mecânica, de controlo e automação, a Física nuclear tecnológica, a Geologia, as Finanças e as Seguranças civil e militar;c) A identificação das normas internacionais, das necessidades de recursos técnicos especializados futuros e dos projectos em curso ou lançamento noutros países.Numa segunda etapa, esta Nova Junta deverá preparar, num prazo adicional de 4 a 5 anos, já com a equipa técnica de alta qualidade criada na 1ª etapa e uma definição de objectivos mais precisa:1) O estudo das opções tecnológicas e comerciais disponíveis internacionalmente;2) O estudos dos possíveis modelos de financiamento;3) As normas técnicas nacionais, em harmonia com as internacionais existentes e em particular as europeias, detalhadas e precisas, a aplicar nos projectos de centrais;4) A formação dos recursos humanos necessários ao acompanhamento e fiscalização de obras;5) A pré-selecção de locais apropriados;6) A definição das actividades económicas sustentáveis para as quais se possa associar a máxima incorporação nacional, da preparação do combustível ao tratamento de resíduos, passando pelo aproveitamento dos jazigos nacionais de Urânio;7) As colaborações internacionais desejáveis, técnicas, económicas e de segurança;8) A preparação de um Caderno de Encargos rigoroso para uma Central Nuclear.9) O debate público aberto e esclarecedor das opções em apreço.Finda esta preparação, que se iniciada já poderia estar concluída em 2015 ou 2016, o país estaria em condições de decidir se avançaria ou não para a construção de uma Central nuclear. Até lá muita coisa evoluirá no domínio das opções internacionais de energia nuclear, dando tempo a que se venha a aproveitar a experiência alheia. Se por volta de 2015 ou 2016 se tiver efectivamente verificado o renascimento do Nuclear, Portugal estará em condições de fazer a opção correspondente, podendo vir a ter a sua primeira central a tempo de substituir a de carvão em Sines, dentro de uma década. Se não for essa a evolução que ocorrer, também não terá sido grande a perda incorrida nesta preparação - afinal o país custeou por mais de 50 anos uma Junta de Energia Nuclear de que não retirou qualquer préstimo!A ausência da preparação desta opção é que poderá ser trágica!”
E por fim, mesmo que as contas sobre o impacto nulo da produção de electricidade estejam certas, por razões que desconheço Pinto de Sá abstem-se de fazer as contas ao impacto de ter disponibilidade em horas de cheio, aproveitando horas de vazio.
Mas o mais interessante da forma como são feitas as contas por Pinto de Sá é a longa citação que vou fazer de um dos seus posts, onde fica bem claro que o conceito de energia nuclear barata é um conceito que se baseia no velho princípio capitalista de privatizar os lucros e socializar os prejuízos (neste caso, os imensos custos aqui imputados ao Estado e, consequentemente, retirados das contas do preço da energia nuclear).
E tudo assente num hipotético renascimento nuclear, cujos sinais tardam em aparecer, infelizmente (e digo infelizmente porque seria bom para todos que o nuclear tivesse conseguido resolver os problemas de base de que padece desde que apareceu a prometer amanhãs que cantam, sem nunca os conseguir concretizar):
“15. Portugal precisa de energia eléctrica barata de fontes controláveis, sem aumento de emissões de CO2, sem políticas perigosas para as liberdades cívicas e com a máxima criação de riqueza nacional sustentável. Em particular, a opção nuclear tem de ser cuidadosa e antecipadamente preparada.De tudo o que foi analisado nos pontos anteriores, resulta evidente a necessidade de Portugal considerar seriamente a opção nuclear como estratégia energética e económica, dada a sua controlabilidade, não emissão de CO2 e baixo custo da energia gerada.Não se trata, porém e no imediato, de considerar a compra de uma central nuclear, com a mesma irresponsabilidade e ausência de planeamento com que foi feita a importação de equipamentos de energias renováveis, mas sim e apenas de iniciar a preparação de uma possível futura opção nesse sentido.Dado o conjunto de aspectos a considerar, é necessária uma estrutura organizativa que coordene esses aspectos. E, dados os longos tempos a envolver nas acções e eventuais investimentos associadas, a actividade dessa estrutura não deverá obedecer aos horizontes temporais de calendários eleitorais. Por esta razão, é necessário que a sua criação resulte de um pacto de regime que garanta uma maioria de apoio parlamentar permanente, e é também imperioso que a sua chefia tenha uma independência imaculada de outros interesses que não os nacionais, sendo por isso recomendável que a sua nomeação requeira a anuência da Presidência da República, podendo a atribuição de funções militares de prevenção e segurança facilitar essa tutela Presidencial. Vale a pena recordar, aliás, que a Junta de Energia Nuclear criada há mais de 50 anos dependia directamente de Salazar, e não do Governo de ocasião. Aliás, o aqui proposto é a refundação de uma Junta como essa, para iniciar a preparação de uma possível opção nuclear!Esta Nova Junta da Energia Nuclear deverá dispor de uma Comissão Executiva com pelo menos 3 membros, e constituir um Conselho Consultivo onde estejam representados reconhecidos peritos das áreas relevantes e com um leque de sensibilidades ideológicas diversificado, que garanta o escrutínio e a transparência de todas as actividades desenvolvidas. As actividades prioritárias da Comissão Executiva, a terminar no prazo de um ano, deverão incluir:a) A recolha e análise de todos os estudos parcelares realizados no passado sobre a opção nuclear para Portugal;b) A constituição de uma equipa interdisciplinar de técnicos de primeira qualidade, cobrindo nomeadamente os aspectos das engenharias civil, mecânica, de controlo e automação, a Física nuclear tecnológica, a Geologia, as Finanças e as Seguranças civil e militar;c) A identificação das normas internacionais, das necessidades de recursos técnicos especializados futuros e dos projectos em curso ou lançamento noutros países.Numa segunda etapa, esta Nova Junta deverá preparar, num prazo adicional de 4 a 5 anos, já com a equipa técnica de alta qualidade criada na 1ª etapa e uma definição de objectivos mais precisa:1) O estudo das opções tecnológicas e comerciais disponíveis internacionalmente;2) O estudos dos possíveis modelos de financiamento;3) As normas técnicas nacionais, em harmonia com as internacionais existentes e em particular as europeias, detalhadas e precisas, a aplicar nos projectos de centrais;4) A formação dos recursos humanos necessários ao acompanhamento e fiscalização de obras;5) A pré-selecção de locais apropriados;6) A definição das actividades económicas sustentáveis para as quais se possa associar a máxima incorporação nacional, da preparação do combustível ao tratamento de resíduos, passando pelo aproveitamento dos jazigos nacionais de Urânio;7) As colaborações internacionais desejáveis, técnicas, económicas e de segurança;8) A preparação de um Caderno de Encargos rigoroso para uma Central Nuclear.9) O debate público aberto e esclarecedor das opções em apreço.Finda esta preparação, que se iniciada já poderia estar concluída em 2015 ou 2016, o país estaria em condições de decidir se avançaria ou não para a construção de uma Central nuclear. Até lá muita coisa evoluirá no domínio das opções internacionais de energia nuclear, dando tempo a que se venha a aproveitar a experiência alheia. Se por volta de 2015 ou 2016 se tiver efectivamente verificado o renascimento do Nuclear, Portugal estará em condições de fazer a opção correspondente, podendo vir a ter a sua primeira central a tempo de substituir a de carvão em Sines, dentro de uma década. Se não for essa a evolução que ocorrer, também não terá sido grande a perda incorrida nesta preparação - afinal o país custeou por mais de 50 anos uma Junta de Energia Nuclear de que não retirou qualquer préstimo!A ausência da preparação desta opção é que poderá ser trágica!”
Extraordinário. Realmente, como defende o manifesto, o melhor é alguém independente fazer o estudo técnico-económico das opções energéticas, porque se as contas forem deixadas ao pessoal do nuclear o resultado está definido à partida.
henrique pereira dos santos
32 comentários:
como o título do blogue indica a ciência não é neutra. ou seja, não é ciência é política travestida de ciência. há muito que deixei de frequentar o blogue desse estalinista reconvertido a neo-conservador. as ideias mudaram mas os tiques censórios mantiveram-se. se fosse a si faria o mesmo.
HT
Como disse, deixei de ir a esse blog com regularidade dada a gestão que é feita do contraditório. Esse gestão é legítima, o blog é do seu dono, eu é que não dou para esse peditório. Mas o que acontece é que as contas de Pinto de Sá têm vindo a ser usadas com frequência como se de verdadeiras contas objectivas se tratassem.
E por isso achei por bem fazer este post porque acho que na discussão do nuclear não vale a pena falar em chernobyl, vale a pena sim pedir contas sérias.
Doutra forma acabaremos como Alqueva, que depois de feito é que se descobriu que era muito dinheiro para tão pouco rendimento.
Cada vez estou mais convencido que fazer contas é a melhor opção ambiental.
henrique pereira dos santos
HPS,
Embora considere que Pinto de Sá expõe algumas ideias correctamente, não estou também de acordo com uma visão do actual nuclear para Portugal.
Estarei também na linha da frente no desmascarar desta alternativa para Portugal! Tem todos os defeitos e mais algum, para um pequeno país como o nosso!
Aproveito mais esta oportunidade para reforçar porque não tenho comentários no meu blog. Para mim, os comentários ou não são censurados, como acontece aqui no ambio, ou então não precisamos deles para nossos acólitos: para isso arranjam-se mais editores, como é também o caso aqui do ambio.
Aproveito para anunciar aqui em primeira mão que decidi, em função dos posts dos últimos tempos, adicionar o Ambio à minha lista de "Blogs em Português com verdades ecológicas inconvenientes". Se se sentirem incomodados com tal presença, enviem-me pf um email )canto superior esq. do blog)
Ecotretas
Caro Tretas (gosto mesmo de o tratar assim, mas se se sentir ofendido eu mudo),
Não sei o que pensam os outros contribuidores do blog, mas por mim o que nos define é o que nós escrevemos e não o que os outros pensam de nós, portanto nunca me pareceria lógico recusar referências de terceiros.
Mas para além disso parece-me sempre salutar que se alargue o espaço de discussão entre pessoas que pensam de maneira diferente e por isso gosto de ver este blog citado e indicado noutros lados.
henrique pereira dos santos
Caro HPS
No que respeita ao feitio do Prof. Pinto de Sá eu penso que tem razão.
Eu próprio já lhe enviei um e-mail em que o aconselhei a moderar o seu proverbial mau-feitio para evitar o afastamento de pessoas que elogiam o trabalho que ele tem estado fazer no blog, mas que não apreciam as explosões de impaciência com os comentadores.
Dito isto, também penso que o caro HPS exagera. Não me parece que o Prof. Pinto de Sá esteja a fazer a promoção da energia nuclear de forma imprópria. Ele tem apresentado números mais do que suficientes acerca do nuclear e das outras fontes primárias de energia. Quem quiser pode verificar e contestar esses números. Para isso, é claro, há que saber um mínimo do assunto.
O que não se pode fazer é estar permanentemente a exigir números sobre o nuclear. O caro HPS não acredita que os estudos de viabilidade da opção nuclear estão feitos há mais do que tempo, para se saber se os custos incluem ou não o desmantelamento das instalações e outros aspectos eternamente revisitados ?
Para mim, nuclear sim, agradeço. Renováveis que enriquecem finórios à minha custa, isso é que não.
E note uma coisa curiosa : é muito mais fácil avaliar a opção nuclear do que a evolução do clima. No entanto, como sabe, os adeptos da teoria do aquecimento global estão perfeitamente confiantes nos estudos das sumidades do clima, mas regra geral repudiam os estudos dos especialistas do nuclear. E olhe que, se entre uns e outros pode haver aldrabões, nós até ficámos saber há muito pouco tempo quais são quais...
Em conclusão : cada um come do que gosta e normalmente não quer saber se lhe faz mal ao “castrol” ou à tensão. Isto sim, é que é a vida.
Caro Jorge Oliveira,
Eu não gostaria de fulanizar a discussão discutindo o feitio ou o carácter das pessoas.
A questão é mesmo a manipulação da informação (a vulgar tortura dos dados até que eles digam o que nós queremos).
O que faço neste post é exactamente contestar algumas das contas de Pinto de Sá. E recuso a ideia de que para discutir o assunto seja preciso ter um determinado nível académico: perceber que um reforço de potência só não produz mais quando toda o potencial é aproveitável pela potência instalada não precisa de grandes conhecimentos sobre o assunto.
Claro que é exigível que se façam as contas do nuclear da mesma forma que de todas as outras formas de produção (não de energia, mas de riqueza, porque posso produzir mais riqueza com menos energia em algumas circunstâncias).
E não vale a pena dizer que as contas estão feitas. Uso mais um exemplo de Pinto de Sá: quando alguém fala dos riscos do nuclear, Pinto de Sá fala nas novas centrais que terão os problemas anteriores resolvidos; quando alguém nota que não existem comercialmente as tais centrais com os problemas resolvidos e as tentativas para as instalar estão a dar problemas, Pinto de Sá argumenta com as centenas de centrais instaladas para garantir que existe experiência consolidada.
Portanto a minha primeira pergunta nas contas do nuclear é até muito simples: de que nuclear falamos? Do velho, cujo uso comercial é disutível com base em dados históricos, ou do que está para vir, que tem todos os problemas resolvidos mas tem o pequeno problema de não existir (comercialmente, entenda-se)?
henrique pereira dos santos
O Jorge Oliveira diz que "nuclear sim, agradeço", e eu gostaria de perguntar-lhe, então, por que motivos é que uma das múltiplas empresas de produção de eletricidade que opera em Portugal não propõe a construção em Portugal de uma central nuclear? Eu penso que nada impede o Jorge Oliveira de lhes (às empresas) fazer tal proposta, nem nada impede as empresas de ir em frente.
Quero eu dizer, o nuclear não deve, ou a meu ver não deveria, ser uma opção de Estados, e sim uma opção de empresas produtoras de energia.
Não faz aliás sentido falar de energia nuclear numa visão nacional, dado que as fronteiras energéticas estão cada vez mais abertas, Portugal importa eletricidade nuclear da Espanha, que também a importa da França, e a questão é saber, se Portugal também produzisse eletricidade nuclear, para onde seria ela exportada - nas horas de vazio?
Por isso eu acho que esta discussão não tem nada que ser feita, Portugal em matéria energética não existe, o que existe são empresas de eletricidade que operam (produzem e/ou vendem) em Portugal, e essas empresas é que têm que decidir se lhes interessa construir uma central nuclear em Portugal, ou não.
Peço ao Jorge Oliveira que dê o seu parecer sobre isto que eu disse.
Luís Lavoura
"Renováveis que enriquecem finórios à minha custa, isso é que não."
Mas o JO não se enxerga?
Independentemente do que os autores do AMBIO pensam, a opção chinesa e indiana (para não falar de suecos, americanos, italianos, franceses, coreanos, iranianos, etc) é clara: vão mesmo pela via da energia nuclear, e é importante num debate que seja esclarecedor, informar o grande público destes factos. Os técnicos indianos e chineses não são propriamente engenheiros formados ao fim-de-semana numa UNI, à qual acederam via curso das Novas Oportunidades. Há muito boa gente - a começar pelo Ocidente - que considera que a melhor universidade de engenharia actualmente até é indiana...
Por outro lado as contas que se têm feito, e divulgado, sobre o custo da produção de electricidade a partir de eólicas e solares vs outras fontes (carvão, nuclear), são normalmente pintadas de cor de rosa e azul celeste a favor das renováveis, com evidente prejuízo dos contribuintes que antes de mais são eleitores...
Quando se refere o lixo tóxico, é importante referir qual a quantidade de lixo, e perigosidade, que qualquer fonte de energia produz.
Relativamente às barragens convêm igualmente esclarecer quais os impactes ambientais que elas provocam, o que é que as gerações vindouras vão perder se avançarmos com esta solução, bem como que qualidade de água por lá vão ter - e aqui não tenho dúvida que o AMBIO pode desempenhar um papel muito importante neste esclarecimento.
Posto isto, o blog do PS merece a pena ser lido porque todas as contas, e todas as fontes dos números nelas empregues, estão lá indicados, e como tal podem ser escrutinados e criticados. Curiosamente é isto mesmo que o CIMATE AUDIT anda a pedir à muitos anos e não obtem...
Já agora quando se fala de peer review (princípio com o qual não concordo por me fazer lembrar a expressão magister dixit) o PS até é peer na matéria sobre a qual fala.
Para registo: o PS já me censurou, e o AMBIO nunca o fez.
Cordialmente,
CTA
Caro CTA,
Está mesmo convencido de que esta é uma discussão de engenharia?
E está enganado em relação às contas: não há nuclear em nenhum país sem forte intervenção (e assunção de riscos e custos) do Estado. Não admira por isso que a China e a India façam essa opção. Já outros têm moratórias, como os suecos que cita, por exemplo.
Volto a dizer, eu só quero as contas todas, não quero contas à moda de Pinto de Sá, que é esta que mostro no post.
E já agora, não percebi bem o que disse sobre resíduos: o problema está resolvido ou não?
henrique pereira dos santos
Caro Luis Lavoura
Embora eu não tenha condições para propor a empresa nenhuma que construa uma central nuclear em Portugal, a questão que coloca é pertinente.
Também concordo que não seja o Estado a construir a central nuclear. Nem nenhuma outra central. Penso, aliás, que todas as centrais eléctricas deveriam ser privadas, com excepção das hidroeléctricas, sobretudo as de albufeira, pelo impacte territorial que representam e pelas implicações na gestão dos cursos de água, um aspecto que pode ser mais importante do que a quantidade de energia eléctrica produzida.
Mas também é aceitável uma solução em que as hidroeléctricas sejam concessionadas à empresa que as constrói, como está a acontecer com os 8 novos empreendimentos que foram recentemente concessionados à EDP (três), à Endesa (uma) e à Iberdrola (quatro). Isso não me parece mal.
Mas uma nuclear não tem nada que ser concessionada. Apenas autorizada, como qualquer outra central. Acontece que ainda há poucos anos apareceu um empresário, por sinal português, embora radicado nos EUA, Patrick Monteiro de Barros, que se propôs construir uma central nuclear em Portugal, com o dinheiro dele e dos bancos que se propunham financiá-lo.
O Governo não lhe deu qualquer hipótese, dizendo o Primeiro Ministro que “o nuclear não está de (sic) cima da mesa”. E pronto, enquanto tivermos este Primeiro Ministro e a sua deplorável (no meu entender) política energética, não haverá centrais nucleares em Portugal. Quem estiver satisfeito com isso, que vote nele.
Faz-me uma pergunta : “se Portugal também produzisse electricidade nuclear, para onde seria ela exportada nas horas de vazio?”
A resposta é simples : para o mesmo sítio para onde é exportada a energia eólica em excesso produzida nas horas de vazio, ou seja, Espanha.
Com uma diferença : se tivéssemos uma central nuclear, isso seria sinal de uma grande mudança de política energética em Portugal e no novo modelo as eólicas certamente deixariam de injectar energia na rede a seu critério (um dos motivos por que os “finórios” se exprimem tão violentamente contra as nucleares).
E deixaríamos de ser confrontados com produção excedentária indesejada, pois as centrais nucleares modernas permitem uma mais fácil regulação da carga e podem ser “despachadas” com relativa facilidade. A haver exportação, seria apenas por solicitação dos vizinhos espanhóis.
De facto, existe um organismo chamado Despacho, hoje integrado na REN, que antigamente tinha a nobre função de promover e vigiar o equilíbrio permanente entre produção e consumo numa perspectiva de interesse público, fazendo aquilo que se designava por despacho económico, isto é, entravam primeiro as centrais cujos custos de produção eram menores, tendo também em atenção a localização das centrais e dos consumos para menorizar as perdas na rede.
Depois da aberração de um mercado eléctrico centralizado em Madrid, criou-se uma espécie de casino em que algumas empresas oferecem preços fantasiosos apenas para entrarem na rede, (por exemplo, as nucleares oferecem invariavelmente a preço zero) porque sabem que mesmo que estejam dispostas a vender por um preço baixo acabam sempre por vender ao preço de “fecho” do mercado, normalmente bem mais elevado, o chamado preço marginal, isto é, o preço da última central a ser aceite, logo aquela que tem o preço mais alto.
Esta é uma das irracionalidades que tornam os preços da electricidade tão elevados para os consumidores, mas que permitem os lucros astronómicos das empresas e as remunerações obscenas dos administradores, mais os prémios de “gestão”. Qual gestão? Com condições destas qualquer agente de marketing é capaz de gerir uma empresa de electricidade e obter lucros substanciais.
Em suma, o nosso Despacho perdeu o seu estatuto e ficou submetido aos interesses do sacrossanto mercado, ao mesmo tempo que a libertinagem das eólicas, que entram na rede sempre que querem, passou a constituir uma dor de cabeça para os operadores do Despacho.
O assunto é vasto e fico por aqui.
Caro Jorge Oliveira,
Fico-lhe imensamente grato por este seu comentário que explicita uma das características do nuclear: a sua difícil convivência com o mercado e a decisão descentralizada.
A mim isso não me incomoda especialmente porque embora eu seja claramente liberal, admito que o mercado da energia não é um mercado perfeito e precisa da intervenção do Estado (por mim mais reguladora que interveniente, mas enfim). Mas como sempre achei espantosa a defesa do nuclear por parte dos liberais mais radicais (exactamente porque o nuclear só é viável enquanto intervenção política do Estado na economia) é sempre bom ver esse ponto clarificado pelos seus defensores.
Suspeito que a maioria dos economistas liberais que defendem o nuclear com base no baixo custo energético (o que está or demonstrar) nunca pararam para pensar um bocadinho neste aspecto que exprime tão claramente no seu comentário.
henrique pereira dos santos
Caro HPS
Julgo que interpretou mal o que eu escrevi.
O nuclear não tem nenhuma dificuldade em conviver com o mercado. A prova é que, onde há mercado, está sempre a vender no mercado. Por razões compreensíveis : o produto é bom e barato! O preço da energia de origem nuclear se não é o mais baixo de todos é o segundo mais baixo, perdendo apenas para as centrais a carvão.
E o facto de um produtor nuclear oferecer numa bolsa a preço zero não tem nada de estranho.
Já alguma vez jogou na Bolsa de Valores? Quando um investidor/jogador quer vender as suas acções pela certa, e quando tem informações (ou um palpite) que lhe permitem acreditar que o preço de fecho lhe será favorável, o que faz é oferecer “ao melhor”. Vende de certeza, porque as ofertas ao melhor entram na base e tem uma elevada probabilidade de vender a um preço mais alto do que aquele pelo qual estava disposto a vender.
No mercado ibérico de electricidade, que é uma Bolsa, acontece o mesmo. Quase todos oferecem a preços relativamente mais baixos do que aquele que acreditam que será o preço de fecho.
Mas note que pode acontecer que todos os produtores ofereçam a preço zero. E acontece mais vezes do que possa pensar. Nessas circunstâncias, durante o período de incidência das ofertas, todos eles ficam a injectar energia na rede a preço zero.
Se durante um período de preço zero houver produção eólica nacional em excesso, adivinhe lá a que preço compram os espanhóis. Exactamente : zero.
Mas em Portugal não temos essa sorte com os produtores eólicos nacionais. Eles vendem à nossa rede sempre a um preço gostosamente subsidiado, por volta de 90 Euros/MWh. Então quem paga a diferença ? Você, caro HPS. Você e todos os consumidores domésticos nacionais. Se não paga já, fica a dever.
E a dívida vai para o famoso défice terifário, que anda a ser pago em prestações ao longo de vários anos. Por enquanto, o que existe vai ser pago até ao ano 2027. Nessa altura os consumidores portugueses terão desembolsado a linda soma de quase 4000 milhões de euros, pois a dívida vence juros. Isto, se não vierem por aí mais uns anos de défice a juntar ao existente.
Eu acho este esquema de privilégio das renováveis uma verdadeira e insuportável aldrabice. E estou bem acompanhado. Ainda ontem acabei de traduzir os sumários executivos de três estudos: um da Alemanha, outro da Dinamarca e outro da Espanha. Todos os estudos arrasam os esquemas de privilégio de que vivem as renováveis, sobretudo a eólica, e denunciam os prejuízos que estes esquemas estão a causar nos seus países, até mesmo no sector do emprego.
Acredito que os pimentinhas das eólicas já conhecem estes estudos e devem estar com as orelhas a arder, a ver se passam despercebidos. Mas eles que não tenham ilusões. Alguém vai fazer chegar tudo isto à comunicação social.
Adivinho que o pseudo engenheiro vai ter muita dificuldade em convencer os portugueses de que estes estudos têm origem numa associação criminosa de alemães, dinamarqueses e espanhóis apostados em mais uma cabala, um ataque infame, etc, etc, à sua radiosa pessoa. O homem está convencido de que colocou Portugal na “linha da frente” das energias renováveis. Pois é. Azar o dele. Ou antes, azar o nosso.
Caro Jorge Oliveira,
É fácil ter preços baixos quando não se tem de pagar algumas despesas: a investigação, o desmantelamento das centrais, a segurança, a responsabilidade civil, o tratamento de resíduos e outras coisas mais.
Diga-me porque com certeza foi analisar: tirando os tais dias especiais no fim do ano passado princípio deste ano, quantas horas se vendeu energia eólica a preço zero para Espanha? Qual é a percentagem em relação ao produzido? O que representa isso no custo final do consumidor?
Como sabe o défice tarifário não tem nada com as tarifas, mas sim com a opção política, completamente errada, de não reflectir no preço ao consumidor os preços reais. Parte desses preços incluem, por exemplo, os investimentos ambientais de algumas centrais tradicionais, como sabe muito bem, mas incluem muitos outros custos gerais que nada têm com as renováveis.
Portanto, insuportável aldrabice é querer imputar às renováveis o défice tarifário.
Os três estudo de que fala estão todos disponiveis na net, foram amplamente difundidos pelos sítios do costume e são iguaizinhos aos estudos dos milhares de postos de trabalho do Governo, só que de sentido inverso.
Ora eu não opto por aceitar ou não os estudos por dizerem o que eu quero ouvir, mas sim pela sua credibilidade. E esses estudos não merecem a menor credibilidade (se traduziu os seus sumários executivos sabe isso muito bem).
Parecem as contas de Sócrates em sentido inverso (ou estas de que falo no post).
Já agora, não acha estranha a coincidência desses estudos, todos mais ou menos iguais, aparecerem ao mesmo tempo em vários países?
henrique pereira dos santos
o problemático renascimento nuclear da Finlândia
Sobre os custos das centrais nucleares mais aqui
Caro HPS,
Ao correr da «pena» sobre a sua amável resposta, porque não sou profissional de comunicação:
A – Sobre a Suécia, definitivamente, não andamos a informar-nos pelas mesmas fontes. Eu usei (por exemplo):
http://www.world-nuclear.org/info/inf42.html
B – Sobre os restantes aspectos (na Europa):
1. Sabe de onde importa a Dinamarca a electricidade que lhe faz falta?
2. Sabe como é que essa electricidade é produzida?
3. A hipocrisia dinamarquesa suscita-lhe algum comentário?
4. Sabe qual é o maior importador mundial de electricidade, de onde ela vem e como é produzida?
5. Conhece o programa nuclear da Finlândia?
6. O que é que sugere que a França faça para abandonar a energia nuclear?
C – ou mais genericamente:
7. Sabe que tipo de divisão se faz entre os resíduos de uma central nuclear?
8. Sabe que tratamento e destino se dão a cada um dos diferentes tipos referidos em 7?
9. Sabe qual é o volume e a massa de resíduos que um reactor de 100 MW produz por ano?
10. Sabe quantas gerações de reactores nucleares existem e o que se pretende fazer com a próxima (da qual já existem instalações piloto)?
11. Relativamente a Portugal pode partilhar informação sobre o tipo de lixos produzidos anualmente, respectiva quantidade, e tratamento dispensado?
12. Se o HPS pertencesse à casta dos intocáveis na Índia era contra a energia nuclear?
13. É a favor do controlo de natalidade em vigor na China?
14. qual é o conceito de poluente que adopta? Só para saber que poluentes considera toleráveis e os que considera não toleráveis...
15. considera razoável que se faça investigação científica sobre energia nuclear?
16. quais os impactes ambientais que considera aceitáveis e os que não são?
17. para um ser humano ter dignidade de vida qual é o bem-estar que moralmente lhe pode ser devido? Em comida, roupa, abrigo, (depois convertemos em KWh...)
Ao colocar estas perguntas no seu blog não me move a descortesia de o julgar (o que também seria perfeitamente idiota porque nem sei a sua profissão)! Julgo é que dada a importância do tema, é fundamental existir uma linguagem e um conjunto de conhecimentos comuns, para que só posteriormente se possam trocar argumentos. Ou se preferir por outras palavras: em Ciência um problema bem formulado é uma excelente forma de começar a procurar a sua solução.
Grato pela sua atenção, cordialmente,
CTA
Ah! não fez nenhum comentário sobre a qualidade da água armazenada nas barragens?
Esqueci-me de mais um ponto: num planeta a braços com uma explosão demográfica, como é que propõe que se obtenha água potável para consumo humano directo e para a agricultura?
CTA
Caro CTA,
A sua fonte também diz que há uma moratória na Suécia, portanto as suas fontes confirmam as minhas.
1) sim
2) sim
3) desconheço qualquer hipocrisia dinamarquesa
4) Não
5) Mais ou menos
6) Não tenho sugestões a fazer sobre a política energética francesa
7) Não
8) Não
9) Não
10) Mais ou menos
11) Não
12) Não percebo a pergunta
13) Não
14) Não percebo para que serve a pergunta
15) Sim
16) Pergunta absurda
17) A dignidade da vida não se mede em Kw
Por mim só gostaria que respondesse a três perguntas: o problema dos resíduos nucleares está resolvido? A que preço? Quem paga?
henrique pereira dos santos
Caro Henrique Pereira dos Santos
Acredita mesmo que o preço da energia eléctrica vendida pelas centrais nucleares não incorpora os custos que enunciou ? Se acredita, não sou eu que vou convencê-lo do contrário. Tem toda a internet à disposição. Veja e acredite naquilo que quiser.
Não sei exactamente durante quantas horas se vendeu energia eólica a preço zero para Espanha, mas isso é pouco relevante. Isto porque, durante a noite, quando as eólicas habitualmente produzem em excesso relativamente ao consumo, o preço de mercado se não for zero é pouco mais.
E se houver exportação nesse período é o preço de mercado aquele que os espanhóis pagam pela energia que passa a fronteira. Eles não pagam às nossas eólicas. Quem paga às nossas eólicas é a EDP. E não paga ao preço de mercado, mas sim ao preço subsidiado de cerca de 90 Euros/MWh. E como a EDP, mais tarde, imputa ao “sistema” a diferença entre aquilo que pagou às eólicas e o preço de mercado, em última instância são os consumidores que vão pagar o sobrecusto das eólicas.
Não sei como hei-de explicar-lhe isto melhor. Mas o problema é sério. É verdade que o défice tarifário não se deve apenas ao sobrecusto das eólicas, mas o peso desta parcela é muito significativo. E se os sobrecustos fossem reflectidos de imediato nas tarifas, pode ter a certeza de que haveria o risco de um levantamento popular.
O Governo sabia disso perfeitamente e foi por essa razão que inventou o défice tarifário, à imagem do que havia sido feito em Espanha, de forma a diferir os pagamentos, divididos em suaves prestações mensais a perder de vista, até ao ano em que os meus netos vão começar a dar-me bisnetos.
Quanto aos três estudos que referi, surpreende-me a sua reacção. Num comentário anterior declarou-se “claramente liberal”. Pois as entidades que realizaram esses estudos, pelo menos na Dinamarca e Alemanha, são claramente liberais, independentes, defensoras do mercado e da livre iniciativa, atentas às intromissões governamentais que distorcem o mercado e prejudicam a competitividade das empresas.
Dizer que estes estudos não merecem a menor credibilidade parece-me excessivo e uma autêntica declaração de fé. Não posso dizer-lhe mais nada. Até porque a tradução dos sumários executivos me deixou perfeitamente convencido acerca da seriedade dos três estudos. Mas, enfim, admito que possa não ter a sua sagacidade.
Quanto à simultaneidade dos estudos : o de Espanha é de Março de 2009 ; o da Dinamarca é de Setembro de 2009 ; o da Alemanha é de Outubro de 2009. Consegue ver nisto uma conspiração? Quando os assuntos começam a ficar maduros, há diversos trabalhos a sair quase ao mesmo tempo. Não significa que se trate de uma conspiração. E, já agora, com que intuito? Vender nucleares? Como os terríveis conspiradores do Manifesto? Não exageremos...
Caro Jorge Oliveira,
Acredito. A investigação tem sido praticamente assegurada pelo Estado (e é investigação bastante cara); o desmantelamento das primeiras centrais não foi contabilizado e tem sido um dos principais problemas financeiros das centrais; os sistemas de segurança que o Estado tem de montar (incluindo comissões e mais comissões e etc.) são despesa do Estado; a responsabilidade civil tem sido muito mitigada pelo facto de não haver seguradoras que segurem muitos riscos das centrais; e dos resíduos penso que nem vale a pena falar: os seu armazenamento tem os custos que tem, suportados quer pelas centrais quer pelos governos, mas sobretudo não têm destino.
Quanto aos estudos, não me espanta que caracterize assim os institutos que lhes dão origem (e eu a pensar que resutlavam de estudos académicos independentes, afinal são de institutos com agendas políticas...) há quem caracterize assim o insurgente, por exemplo, e eu não me confundo com o insurgente (por exemplo, não censuro comentários e aceito o contraditório, e não passo a vida a fazer links para coisas sem qualquer credibilidade, como fazem eles com as alterações climáticas) apesar dos dois nos dizermos liberais.
Só ainda não percebi uma coisa: se a energia nuclear é tão evidentemente necessária ao desenvolvimento, por que razão os países mais nuclearizados não coincidem com os mais desenvolvidos (e ricos)?
E porque razão muitos países pararam os seus programas nucleares (e alguns até fizeram marcha-atrás) e continuam tão desenvolvidos?
henrique pereira dos santos
Caro HPS
Discordo profundamente destas suas opiniões e da forma como as apresenta. Já tinha chegado a essa conclusão a propósito do global warming.
Por isso, encerro aqui a minha participação neste debate. Sou engenheiro, não sou missionário e não insisto com ninguém para além de limites razoáveis.
É caso para dizer: de engenheiro e missionário todos temos um pouco. HT
Como é que certas pessoas são convidadas a escrever em jornais de grande circulação sobre política energética quando dizem o que dizem sobre alterações climáticas, como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra; no caso, ainda pior, como se uma pura e simplesmente não existisse?! É um mistério!
Isto de pedir aos outros os sacrifícios que nós não fazemos é porreiro! Como eu tenho um emprego do outro lado da rua, e a escola para os miúdos ao lado da casa, é claro que os outros têm de andar de transportes públicos! O facto de eu ganhar 8.000 €/mês como professor universitário, dar aulas 8 h/semana, morar numa casa de 6 assoalhadas, e ir de férias para onde me apetece, ou para a casa dos papás ou dos sogros, são tudo detalhes de somenos importância… Até me sobra tempo para educar os filhos, e montar um blog para fazer de opinion maker! O facto do salário mínimo nacional ser 475€ (tinha a noção da ordem de grandeza?), as casas dos portugueses serem pardieiros, eles não terem assistência médica – como eu tenho (esqueci-me de dizer que a minha mão e o meu irmão são médicos) – a taxa de desemprego deles ser superior a 15% (que eu não dou abébias aos números da treta deste governo), o custo da água, do gás e da electricidade ser o que é, são tudo detalhes que não valem nada, porque não me afectam, como não me afecta o facto dos portugueses que não vivem como eu vivo serem 9.000.000.... O que é que isso me interessa quando a minha mulher está a trabalhar no Ministério, não sei o que ela lá faz, nem me consta que lá tenham feito alguma vez alguma coisa, mas é técnica superior e anda sempre feliz da vida e ainda ganha 5.000 €/mês com direito a carro e motorista…
O HPS desça à terra!!!... Em vez de perder tantas horas no blog vá fazer serviço de voluntariado – por exemplo – na paróquia aí do sítio. Vá lá ver quantas pessoas dependem do que der para ter uma refeição por dia, do cobertor que lhes oferecer para terem uma casa… acha que estas pessoas têm computadores?!?
Veja lá quantos seres humanos morrem por ano à fome na Terra sem terem tido possibilidade de escolher – como você tem…
De pois, antes de falar do papão Chernobyl, escreva qualquer coisa sobre o Mar Aral, e aproveite para comparar os mortos provocados por cada um desses desastres; e já agora o número de espécies que se extinguiram num e noutro caso…
Depois em ver de armar em Torquemada para dissertar sobre um portfolio de energia adequado para Portugal e para o mundo, seja equilibrado. Há pessoas que não estão para aturar os mamarrachos eólicos, centrais fotovoltaicas, e charcos de água putrefacta que você quer plantar indiscriminadamente pelo país fora… e que ainda por cima não servem para nada, só para enriquecer as empresas deste sistema mafioso que nos governa.
Já se apercebeu que é aquecido por uma central nuclear? E que o Universo está cheio delas?
Sugiro-lhe igualmente que antes de continuar a opinar sobre energia, veja lá a que consome e depois multiplique por 10.000.000… e não se esqueça que os milhões que vivem nos países entre Marrocos, a África do Sul e a Índia, China, Tailândia, do México à Argentina, etc, etc, etc, têm os mesmos direitos e aspirações consumistas que o HPS tem.
José Góis
Caro Jorge Oliveira,
Não percebi em que é o que o facto de ser engenheiro o impede de ter uma discussão política (sim, a política energética é uma questão política, não é uma questão de engenharia, embora a discussão política seja limitada pelas possibilidades técnicas, como pelas limitações económicas, como pelas aspirações imateriais das pessoas e etc.).
Só não percebo onde estão os meus erros, e para isso teria sido útil que os indicasse.
Naturalmente só está nas discussões quem quer.
henrique pereira dos santos
Senhor Jorge Góis,
O seu comentário é muito interessante.
Infelizmente falta-me tempo para lhe explicar o que faço, o que ganho, o que ganham os funcionários públicos (das duas uma, ou a sua mulher não é funcionária pública ou tem que fazer muita aldrabice para ganhar 5 000 euros com direito a carro e motorista), e outras coisas que tais.
Só não percebi onde é que leu que eu peço sacrifícios aos outros.
Se me explicar isso talvez possamos discutir alguma coisa.
Até lá posso apresentar-lhe vários projectos muito interessantes, a que dou apoio voluntário, onde poderia aplicar parte do seu (e da sua mulher) salário imoral para o ajudar a ficar de bem com a sua consciência.
A sim não lhe faz falta e a quem benenficia dos projectos garanto que faz toda a diferença.
henrique pereira dos santos
Jorge Oliveira,
obrigado por ter respondido ao meu comentário e por me ter trazido à memória essa antiga proposta de Patrick Monteiro de Barros (PMB) de construir uma central nuclear em Portugal.
Isso recorda-me que PMB também propôs (noutra ocasião) construir (mais) uma refinaria de petróleo em Sines e que depois retirou essa proposta, tendo-se vindo a saber que a proposta não era totalmente gratuita para o Estado português - isto é, PMB propunha construir a refinaria, se o Estado lhe fizesse alguns favores em troca. (Não me lembro exatamente de qual era a natureza desses favores.)
Não sei como foi a proposta de PMB em relação à central nuclear. Mas permito-me suspeitar que ela não seria inteiramente de borla para os contribuintes portugueses.
Em qualquer caso, concordo consigo em que o governo fez mal em recusar liminarmente a proposta.
Luís Lavoura
Em relação ao PMB e a refinaria, salvo erro, ele queria que o Estado pagasse pelas emissões acrescidas de CO2.
Caro HPS
Há alguma passagem dos meus comentários em que eu tenha dito que o facto de ser engenheiro me impedia de ter uma discussão política !!??
Valha-nos a Nossa Senhora da Paciência ! O caro HPS tem uma forma de argumentar que afasta qualquer pessoa de boa vontade. Passe bem e escreva o que lhe apetecer. Não voltarei aqui para ler os seus disparates.
Sim, há:
"Sou engenheiro, não sou missionário e não insisto com ninguém para além de limites razoáveis".
henrique pereira dos santos
HPS,
Os resíduos nucleares que uma central produz são de 3 tipos: muito radioactivos, pouco radioactivos, e intermédios.
Um LWR (Light Water Reactor) com uma capacidade de 1000 MWe produz aproximadamente 25 a 30 ton de resíduos (já vitrificados) por ano. Isto representa um volume de 3 metros cúbicos de lixo radioactivo. Agradeço que indique que outra forma de produzir esta quantidade colossal de energia, só produz este volume (ainda por cima concentrado) de lixo e impactes ambientais… Já agora: os reactores de quarta geração (há protótipos em teste actualmente) nem este problema terão.
Como também já existe experiência de fecho de centrais nucleares, sugiro-lhe uma pesquisa no Google sobre Maine Yankee.
Por fim: já reparou que sem fenómenos de alta energia para provocar mutações ainda éramos micróbios? Ou, mais filosoficamente, nem teríamos passado de química inorgânica a química orgânica…
Caro HPS,
Penso que é injusto ao me acusar de não aceitar o contraditório nos comentários ao meu blog. Claro que aceito, mas nos meus termos. E os termos são simples e creio que justos: que esse contraditório apresente argumentos e não se limite a tentar fazer do meu blog um prolongamento de blogs alheios. Além, claro, de que seria masoquista se publicasse meros insultos...
E evidentemente tenho sempre a última palavra, se achar que ela é precisa. São as regras do jogo dos blogs, iguais para mim e para toda a gente.
Quanto à substância das suas críticas, se me permite esta resposta cúrta: estão todas esclarecidas no que escrevo. Tem é de ler o realmente escrevo, e não truncar as leituras!
Por exemplo, e só quanto ao assunto dos "reforços de potência" e do acréscimo de energia que acarretariam, na sua opinião: talvez eu precise de explicar um b,a,ba que nem considerei necessário dizer, por óbvio: logo no projecto inicial de uma hidroeléctrica são feitas as contas à potência que ela deve ter para vir a aproveitar toda a energia fluvial que ocorrerá, considerando a variabilidade sazonal e anual! Não se fazem barragens para as quais sobre energia por aproveitar! Os engenheiros de barragens não são burros!
Há, no entanto, alguns casos em Portugal em que isso sucedeu: as primeiras, construídas há 50 anos, no Douro internacional - Picote e Bemposta. Nessas, de facto, verificou-se posteriormente que o projecto fora mal dimensionado e que havia ocasiões em que se tinha de abrir as comportas sem possibilidade de turbinar a água por falta de potência nessas turbinas. E aí sim, um "reforço de potência" dessas turbinas permite aproveitar a alguma energia que, de vez em quando, essas barragens tinham de desperdiçar...
Mas os números resultantes já estão contidos nos meus cálculos: 175 MW em média anual paa o conjunto de todos os empreendimentos hidroelécticos. Sem considerar o Picote e a Bemposta, seria substancialmente menos.
Ora se me tivesse questionado sobre isto nalgum comentário ao meu blog, tê-lo-ia esclarecido...
Cumprimentos!
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