quinta-feira, abril 08, 2010

O manifesto

O manifesto que comentei aqui foi ontem apresentado em conferência de imprensa.
Como num comentário ao post se falava nas quatro horas da tarde, acabei por perder a dita apresentação, que foi perto do meio dia.
Publico agora um resumo do que se passou, feito por quem tem obrigação profissional de relatar objectivamente o evento. Pese embora essa obrigação, não deixa de ser um relato informal que pode ter erros ou omissões.
Farei de seguida um segundo post com a crítica da APREN.
Quando tiver tempo farei a minha leitura destes dois posts.
O manifesto pode ser lido no site indicado no texto sobre a conferência de imprensa.
Esperamos com isto contribuir para um debate sobre política energética, numa perspectiva ambiental.
Mas reconheça-se desde já que discutir política energética, sobretudo do ponto de vista ambiental, não é apenas discutir formas de produção, posição em que se situam quer os promotores do manifesto, quer a APREN, afunilando um debate que eu gostaria de ver mais aberto.
"Resumo conferência de imprensa apresentação do
“Manifesto por uma nova política energética em Portugal”
Data: 7 de Abril de 2010
Local: Associação Comercial de Lisboa
Duração: das 12h15 às 14h00
Presentes: aproximadamente 30 pessoas; cerca de 10 jornalistas e a restante assistência era praticamente constituída por signatários do estudo. Na mesa estava o Eng. Mira Amaral, Prof. Pinto de Sá, Prof. Clemente Pedro Nunes e Dr. João Duque
Ordem de Trabalhos: Inicialmente o Eng. Mira Amaral leu o manifesto, acrescentando alguns esclarecimentos sobre algumas questões. Depois o Eng. Mira Amaral leu também o resumo dos 3 estudos de referência. De seguida os restantes três elementos da mesa deram a sua opinião e por fim foram respondidas perguntas dos jornalistas
Endereço do site do Manifesto: http://energiaparaportugal.com/
Resumo:
Introdução
Mira Amaral (MA) referiu que quando chegou ao Governo já tinha conhecimento nas matérias de energia ao contrário de outros
Foram recebidos esta manhã pelo Secretário de Estado da Energia (o Ministro da Economia não pode estar presente como previsto)
O Manifesto foi entregue ao chefe da casa civil e foi pedida uma audiência ao Presidente da República
Vai também ser solicitada uma audiência aos partidos políticos
O Manifesto foi lido na íntegra. Os pontos mais desenvolvidos foram;
É pago um preço fixo á electricidade renovável quer se precise dela ou não o que não faz sentido numa economia de mercado
As eólicas precisam sempre de equipamento suplementar. Quando estão a produzir à noite necessitam da bombagem hidroeléctrica. De dia necessitam das centrais térmicas em stand by para compensar a intermitência da produção
Quando o regulador quis aumentar o preço da electricidade o Governo desautorizou-o e “escondeu-se” atrás do défice tarifário
O estudo do BPI sobre as finanças públicas portuguesas não contabiliza a dívida pública do défice tarifário
O défice tarifário foi de 2.000 milhões de euros e o PIB português é de cerca de 160.000 milhões de euros
A perda de rendimento da bombagem hidroeléctrica é cerca de 25%
Potência instalada é diferente de energia produzida (depende da disponibilidade) mas o que passa nos jornais é só a potência
As novas barragens não vão reduzir as importações de petróleo
Questiona os comentários do artigo do Eng. Jorge Vasconcelos porque é necessário passar de valores de energia para valores económicos - €
Há um excesso de entusiasmo nos 43% de electricidade renovável. Segundo os dados da DGEG a incorporação de energias renováveis na energia primária é de apenas 2,11%. Este é um valor importantíssimo que deveria sair nos jornais
Foram apresentados os três estudos internacionais e analisado o resumo executivo de cada um deles.
O Dr. Mira Amaral afirmou estar surpreendido com os resultados dos países mais avançados que estão patentes nesses mesmos estudos.
Sobre o estudo Alemão acrescentou que é de espantar que o contributo da electricidade de origem fotovoltaica seja tão insignificante sendo esta a mais subsidiada e sendo a Alemanha um país que produz painéis solares PV. Acrescenta que o esquema alemão não dá nenhum incentivo para inovação e desenvolvimento tecnológico
Sobre o estudo espanhol MA citou o Dr. Inacio de Galan, presidente da Iberdrola que disse que a tecnologia solar é um produto financeiro e não uma solução tecnológica. O estudo também refere que o Ministro da Economia (se não me engano não me lembro qual o ministério) vai reduzir os prémios às energias renováveis para aumentar a competitividade da economia espanhola
Intervenção de Clemente Pedro Nunes:
Fez uma retrospectiva das políticas energéticas referindo que o último plano estratégico de Porugal foi em 83/84 quando se decidiu que a diversificação do petróleo seria recorrendo a carvão e Gás Natural. Apenas a assinatura do Protocolo de Quioto em 2001 impediu a construção de mais centrais a carvão e passámos a ddefender as energias renováveis com consequências gravíssimas para a competitividade com países como China e Índia sem restrições climáticas
Ultrapassar as limitações tecnológicas injectando dinheiros públicos é um erro grave. Seseguir as modas (alusão às energias renováveis) põe em causa a competitividade económica e pode colocar em causa as exportações portuguesas.
Referência ao facto de serem os consumidores a pagarem a diferença de preço / custo, dando como exemplo a diferença de preço da micro geração solar.
Questiona o porquê de certas tecnologias serem privilegiadas.
A biomassa devia ser mais apoiada, pois é produto nacional e produz quando necessário, daí não se perceber a razão de ser o plano mais atrasado.
Biocombustíveis também deviam ser mais apoiados, não há legislação clara para o futuro
A tarifa italiana de biomassa é superior à nossa da eólica para o preço do consumidor.
Intervenção de Pinto de Sá (demasiado técnica os jornalistas estavam claramente sem interesse):
Explicação da evolução tecnológica nos países que primeiro adoptaram as renováveis.
Países que compreenderam estar a subsidiar indústria chinesa e não nacional.
Portugal não tem muita experiência nestas tecnologias e já não vamos a tempo de criar mercado porque já está saturado.
Explicação sobre intermitência e falta de controlo da energia eólica e solar, exaltando a necessidade de backup e as desvantagens técnicas e económicas que daí advêm.
Excesso de produção dificulta a exportação, sendo que Espanha tem esse mesmo problema e daí o preço ser nulo.
Solução de combinação hídrica e eólica nunca foi testada, nem devidamente investigada, em particular quando existem a simultaneidade da produção eólica e albufeiras cheias.
Intervenção João Duque:
Foco no défice tarifário: não se deve subsidiar ineficiência em massa ainda por cima considerando o “imposto” das renováveis, correspondente à dívida do défice tarifário.
Analisou o recente relatório de contas da EDP e verificou que o défice tarifário foi considerado com um activo da EDP. Uma tranche de 1600 milhões de euros já foi titularizada – responsabilidade dos consumidores no pagamento desta dívida, se não formos nós são as gerações futuras
Única forma de reduzir o défice é aumentar o preço da electricidade ou diminuir os custos da sua produção. Dever-se-ia primar pela segunda opção mas receia que a actual política energética nacional não o esteja a fazer.
Perguntas dos jornalistas:
· Jornal de Negócios
o Esclarecer a diferença do valor dos 2,11% referidos no documento e os 43%
o Como correu audiência com Secretário de Estado
o Qual a solução/alternativa?
· Ana Suspiro, i
o Qual a % do défice tarifário atribuída às renováveis
o Qual a ligação com o PSD
· Lurdes Ferreira, Público
o Diz-se que a competitividade das empresas é afectada mas não são elas que pagam o sobrecusto
o Quais as metas do grupo em termos de preço e I&D
o Se a estratégia actual não resolve o problema da dependência energética qual a solução
o Porque é que o grupo não teve em consideração as respostas que rebatem os estudos apresentados
· Marina Conceição, Diário Económico
o Qual a opinião do grupo sobre a energia nuclear (pergunta final feita apenas depois de terem sido respondidas todas as outras)
Respostas a perguntas de jornalistas:
· [MA] Diferença entre os 43% e o 2,11% referido no Manifesto. Um é energia total primária outro é electricidade – referida a questão do ano hidráulico médio mal calculado.
· [MA] Resultado da audiência de hoje com o Carlos Zorrinho – Foi uma conversa cordial e ele prometeu ler os documentos. Subscritores do Manifesto já têm experiência no resultado dos Manifestos em Portugal, sendo que a primeira reacção normal é de ignorar mas depois como aconteceu em outros casos (Exemplo do Aeroporto na OTA) acabam por ganhar a razão.
· [MA]Reiteraram que o grupo não tem conotações políticas.
· [MA] Todas as alternativas devem ser consideradas, sem tabus não têm ainda uma resposta.
· [MA] A subsidiação cruzada para desviar os sobrecustos vai ser uma bola de neve, vai extravasar para os consumidores domésticos, para as empresas e depois para os contribuintes.
· [MA] Não há metas para R&D nem a definição de preços foi considerada devido à falta de tempo, duvidando que mesmo o Governo saiba responder a estas questões.
· [CPN] O gás utilizado para back up das renováveis também é pago.
· [CPN] Investimento na fotovoltaica é suicídio não há previsões de melhorias nos próximos 20 anos (creio que se referia a melhorias de eficiência)
· [CPN] O plano anterior do governo fazia referência ao carvão limpo. Entretanto foi substituído por capacidade adicional de renováveis ou que também é um erro
· [CPN] Os consumidores em BTN não são só os domésticos também as PMEs e por isso estas também pagam o sobrecusto
· [PS] Só conhece a crítica do estudo espanhol pelo NREL. Está bem feita e incide sobre aspectos metodológicos mas não invalida as conclusões
· [MA] É possível que a eólica atinja brevemente a grid parity e entre a mercado mas a fotovoltaica vai continuar a precisar de subsídios
· [MA] Em 2010 devido à descida dos preços do petróleo o preço da electricidade também podia ter diminuído o que não aconteceu porque foi pago parte do défice tarifário. No fundo as térmicas contribuíram para poupanças que não puderam ser internalizadas
· [CPN] Segundo dados da ERSE o sobrecusto das renováveis em 2009 foi de 900 milhões de euros, 80% do qual referente às renováveis priveligiadas. Biomassa e biocombustíveis não são devidamente apoiadas
· [MA] sobre a pergunta do nuclear – Não houve capacidade de analisar tudo. O problema analisado foi só eólicas e fotovoltaicas que é grave enquanto não entrarem com o preço da rede. O que não aceitam é condicionamento de qualquer opinião. Não têm um gabinete de estudos e portanto não se podem substituir à obrigação dos partidos e pagar estudos dos próprios bolsos"
henrique pereira dos santos

2 comentários:

Victor Alves disse...

O défice tarifário é de 2000 milhões de euros. Uma vez que os lucros da EDP excederam os 1024 milhões de euros em 2009 e os da REN 134 milhões de euros, acho que estas empresas que dominam o sector energético devem também contribuir para a solução do problema do défice tarifário ao diminuirem a sua margem de lucro, já que a conversão para um sistema energético dominado pelas fontes renováveis é necessário.

EcoTretas disse...

Victor,
Não se esqueça que o Mexia tinha que justificar o seu prémio!
Ecotretas