segunda-feira, abril 26, 2010

Paraíso


O jardim é uma representação do paraíso, um esforço de ordem e equilíbrio resgatado ao caos da mata, do desconhecido e do não humano, mantido pelo esforço constante de domesticação dos elementos naturais que demonstram o triunfo da razão do homem sobre a irracionalidade aparente da natureza.
Por isso é tão difícil conciliar biodiversidade e jardins.
Mas ainda assim tenho dúvidas de que as árvores do paraíso se pareçam com o que aqui se vê.
henrique pereira dos santos

5 comentários:

Zé Bonito disse...

Isso é uma velha polémica com os responsáveis camarários... Já houve alturas em que pensámos estar a vencer o combate. Depois... Não sei se é por mudanças na equipa de jardineiros, ou pela formação que recebem (?). Mas calculo que no Paraíso não haja autarcas. O jardim da imagem é em Vouzela onde a Natureza, por si só, ainda dá as melhores acções de formação e disponibilia vários cenários que permitem antecipar os jardins do paraíso.

Henk Feith disse...

"O" paraiso nao existe, mas sim tantos paraisos como ha pessoas. Se calhar, quem podou estas arvores imagina um paraiso assim. Mas algo me diz que o post do HPS visa para alem da mera questao das podas de arvores.

Tambem pode ser que jardins assim sejam uma vinganca pela expulsao do Homem do Jardim de Eden, o paraiso original, manipulando a criacao divina em tom de desafio ao Criador.

Mas para mim, ateu de formacao crista rigorosa, jardins assim nao me chocam esteticamente nem me inspiram sentimentos misticos. As arvores podadas sao esculturas dinamicas que tem tanta relacao com a sua origem natural como a pedra utilizada em estatuas. No entanto, ja vi muita "natureza" oportunista nestas arvores, desde passaros, insetos, plantas etc. Com e sem podas...

Henk Feith
(PS, o computador holandes onde escrevo nao me permite utilizar acentuacao; peco desculpas pelas palavras um pouco "podadas")

Nuno disse...

É desolador ver isto de norte a sul, como atesta esta série de reportagens da Árvores de Portugal:

http://www.arvoresdeportugal.net/2010/04/podas-e-rolagens-como-torturar-e-deformar-uma-arvore-cerveira/

Cumps

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Quero acreditar, apesar dos meus discursos contra os dendroclastas deste país, que estes são uma minoria dos meus compatriotas. Ou seja, que a maioria dos portugueses, apesar de tudo, não abomina as árvores e se enquadra nessa categoria sinistra de "inimigos dos arvoredos".
Podia facilmente enumerar, sem grande esforço, uma dezena de motivos que “justificam” a embirração dessa minoria (quero mesmo acreditar que seja uma minoria) contra as árvores. No entanto, pessoas que embirram com as árvores, por tudo e por nada, existem em todo o lado, mesmo em países onde as árvores merecem mais respeito e não sofrem estes tratamentos.
Então, assim sendo, se há gente que despreza as árvores em todo o lado, de onde vem a diferença que justifica estes actos na generalidade das cidades portuguesas?! No meu entendimento, no nosso país, existe uma maioria de pessoas que gosta de árvores nas cidades, mas que gosta delas assim, ou seja, "domesticadas" à vontade humana. Como o próprio Henrique escreveu: "O jardim é uma representação (...)mantid(a) pelo esforço constante de domesticação dos elementos naturais que demonstram o triunfo da razão do homem sobre a irracionalidade aparente da natureza".
Muitas das pessoas que reclamam das autarquias a rolagem periódica das árvores na via pública e jardins das suas terras, seriam as primeiras a opor-se se as quisessem cortar.
A maioria das pessoas não odeia as árvores, não gosta é de ver as árvores com a sua forma natural. Por outro lado, gostam, ou toleram (num visão mais pessimista) as árvores podadas. Algumas de entre estas, a maioria porventura, até julga que estas práticas beneficiam e são imprescindíveis às árvores.
Os portugueses transplantaram para as cidades as mesmas práticas que sempre aplicaram às árvores de produção, sejam as árvores ditas de fruto ou as árvores usadas para produzir varas, por exemplo. As próprias árvores dos montados, sistemas que ocupam parte substancial das nossas paisagens, são regularmente podadas.
À falta de verdadeiras florestas que pudessem marcar a nossa visão do que é uma árvore, a imagem que associamos a esta é a que vemos nos campos e nos montados. Árvores “domesticadas” e “moldadas” à nossa vontade. É isso que, ainda que inconscientemente, assumimos como normal e como necessário a uma árvore.
O nosso erro é aplicar estas ideias, nas cidades, às árvores ornamentais. Termino, citando o eng.º António Fabião: “As razões para se podar uma árvore podem ser variadas, mas estão todas mais relacionadas com a necessidade que temos de condicionar o desenvolvimento destas plantas, por motivos nossos, do que com necessidades da árvore, que pode perfeitamente sobreviver, crescer e reproduzir-se sem intervenção humana.”

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Duas notas adicionais:

a) As árvores de produção, como as árvores de fruto, necessitam de podas regulares mas, isso não implica, que essas podas possam ser feitas de qualquer maneira, sem obedecer a determinados critérios técnicos. Uma poda mal executada ou a rolagem, pura e simples, com a supressão de parte significativa ou da totalidade da copa, pode causar tantos danos numa árvore de produção, como numa árvore ornamental.
b) Parte importante do problema, voltando à manutenção de árvores ornamentais, é que se trata de um sector não regulamentado, ou seja, qualquer empresa que disponha de mão-de-obra que saiba ligar uma motosserra pode concorrer, e ganhar, um concurso público, aberto por uma autarquia, para este efeito. Na minha cidade, por exemplo, há uns anos, esse concurso foi ganho por uma empresa do sector da construção civil, apenas porque apresentou o preço mais baixo (e não, não teve que fazer prova que dispunha de pessoas que sabiam fazer a manutenção de árvores). Resultado prático? Centenas de árvores destruídas por pessoas que nem ramos sabiam cortar!