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Algo se passa na publicidade de atividades ambientalmente impactantes. Depois da campanha da EDP, que em primeiro lugar foi uma prova de força entre a empresa e o movimento ambientalista (ganho pela EDP, sem dúvida), vimos agora a Oliveira da Serra avançar com uma campanha, muito bem delineada no meu entender de consumidor (não sou especialista em publicidade), que assume a estratégia empresarial da marca de forma clara.
A marca afirma que quer plantar o maior olival do país, e passo a citar: "Todas elas (as quintas com olival - HF) fazem parte da nossa ambição em ter o maior olival do país e transformar Portugal num dos maiores produtores de azeite do mundo. Ou mesmo o maior. Porque não?". A mensagem é clara e ancorada em visões sobre o futuro desenvolvimento de Portugal: O nosso produto é bom e podemos fazer com que Portugal seja um grande produtor. O crescimento da capacidade de produção passa pela plantação de olival (super) intensivo. As fotografias utilizadas na campanha mostram de facto esse tipo de olival, mas numa perspetiva romântica, com neblina matinal qb e aparentemente uma paisagem bonita. Essa imagem romântica contrasta com a realidade da cultura intensiva a base de rega, fertilizantes e pesticidas, cujo impacte ambiental ainda está por apurar e para o qual o movimento ambientalista está a começar a alertar.
Quando pergunta diretamente ao consumidor: Porque não?, torna o cúmplice de um objetivo que une empresa, consumidor e (brilhante) o País e retira espaço de manobra à crítica ambiental (algo de semelhante se passou com a energia eólica cujo capital de simpatia se baseia na ideia de contribuir para um bom comum: energias renováveis).
No entanto, a questão é mais complexa na perspetiva do consumo. Portugal é deficitário em azeite: consome muito mais que produz. O consumo de azeite está a aumentar ao nível mundial e isto coloca questões de sustentabilidade da sua produção. Para satisfazer este aumento de consumo, muito promovido devido à excelente qualidade do azeite como alimento e seus benefícios em termos de saúde, a solução passa pelo aumento da produção, quer isto dizer pela expansão do olival (super-) intensivo. Os azeites "gourmet", tanto na moda e porta-estandarte do alimente dos elites, nunca poderão satisfazer esta procura e mesmo esses são produzidos à base de azeitonas de olivais intensivas.
Como sempre, o mais fácil é dizer: "olival superintensivo em Portugal nem pensar". Assim ficamos com a bonita, tradicional e pobre paisagem alentejana e importamos, de consciência tranquila, azeite proveniente de olivais superintensivos Espanhóis, Gregos, Chineses (não tardará) ou seja lá donde for.
Mais difícil é: assumir que queremos consumir azeite, de preferência Português, portanto vamos lá discutir os impactes ambientais da cultura intensiva e ver como se pode conciliar os objetivos de produção e de salvaguarda de valores como o solo, a água e a paisagem. Eis um desafio interessante para os próximos tempos.
Henk Feith
3 comentários:
Gostei muito de ler este post, não conhecia a campanha.
Sendo uma produção local um compromisso em relação ao modo de produção intensivo, que medidas mitigadoras, do ponto de vista da biodiversidade existirão para um olival do tipo intensivo?
Procurando um pouco sobre a cultura biológica do azeite encontro apenas referências á sua adaptabilidade ao clima e modestas exigências de rega. Este produtor refere que intercala as árvores com um pomar, para favorecer espécies animais:
http://apollooliveoil.com/organic.php
Quanto aos pesticidas fui consultar a minha cábula:
http://www.foodnews.org/walletguide.php
É de referir que o azeite não está nem sequer no top40, ou seja é das culturas menos intensivas em termos destes químicos.
Seria verosímil que ONGAs sugerissem a plantação intercalada com vegetação que favoreça a biodiversidade e aplicação de medidas de conservação de água mais exigentes?
Cumprimentos
Nuno Oliveira
Caro Nuno,
Não sou especialista em olivicultura (o post é escrito na perspectiva do consumidor, a sua relação com o produto e o produtor e a mensagem que recebe), mas estou em crer que não existe qualquer requisito legal que obriga os olivicultores de promover medidas ambientais de género que menciona. Isto não quer dizer que não podem ou devem fazê-lo, e parece-me um bom ponto de partida.
A campanha tem uma parte sobre Preservação de Natureza, mas é muito fraca, e limita-se a dizer que a rega é doseada com base em monitorização ambiental: "rigorosamente controlada por telemetria com o apoio de estações meteorológicas que avaliam as necessidades do solo". Daí a falar de Preservação de Natureza vai um passo enorme, como se o consumo de água fosse o único aspeto ambiental da cultura.
Henk
Compreendo, como habilmente expôs a campanha está bem colocada para se desviar de criticismos.
Então qualquer acção deveria recair precisamente sobre afirmações generalistas como a relativa á água e, fundamentalmente, dirigir á empresa promotora exactamente a questão que coloca no último parágrafo do seu post.
Para se proteger de uma acusação de greenwash a campanha tem que saber responder de forma clara e detalhada a estas questões que coloca e não ficaria mal ás ONGAs pedir esta informação de forma neutra antes de emitir qualquer juízo.
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