Babuíno, PN Kruger, África do Sul
(Maio de 2010)
(Maio de 2010)
Esta fêmea de babuíno que acompanhei ao longo de algumas manhãs, segurava o corpo do seu filhote, nado-morto ou com muito pouco tempo de vida. Enquanto o resto do grupo passava o tempo em brincadeiras e busca de comida, esta fêmea, com ar triste ou mesmo deprimido, isolava-se, não participando nas actividades com os seus companheiros. Não parecia gostar que outros macacos se aproximassem. Deixava-os observar, cheirar o corpo da sua cria, reagia agressivamente à tentativa curiosa, dos mais jovens, de tocarem no corpo.
E trouxe-me à memória um poema de Amalia Bautista…
E ali ficou dias, talvez semanas, como me referiram alguns guias do parque, no seu difícil luto. Porque o tempo, para estes seres, não urge como para nós humanos.
Gonçalo Rosa
E trouxe-me à memória um poema de Amalia Bautista…
Ao Fim
Ao fim são muito poucas as palavras
que nos doem a sério e muito poucas
as que conseguem alegrar a alma.
São também muito poucas as pessoas
que tocam o coração e menos
ainda as que o tocam muito tempo.
E ao fim são pouquíssimas as coisas
que em nossa vida a sério nos importam:
poder amar alguém, sermos amados
e não morrer depois dos nossos filhos.
E ali ficou dias, talvez semanas, como me referiram alguns guias do parque, no seu difícil luto. Porque o tempo, para estes seres, não urge como para nós humanos.
Gonçalo Rosa
2 comentários:
que bonito o seu post
Portanto, o amor-de-mãe e o luto são muito provavelmente comportamentos inatos adquiridos por um ancestral comum ao Homem e ao babuíno. A capacidade de construir máquinas fotográficas e de fazer poesia são aquisições evolutivas bem mais recentes, só nossas. A babuína sofre a dor de mãe-babuína (o pai-babuíno tresanda a testosterona e está livre destes sentimentos), sem se interrogar o porquê. Sofre porque sim. Sorte, a dela? Talvez ...
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