quarta-feira, junho 23, 2010

Derrames de petróleo e recuperação de sistemas

Cerca de 21 anos depois do desastre do Exxon Valdez, o balanço feito (obrigado José M. Sousa pelo link, que é um dos que eu tinha indicado como úteis para a discussão dos efeitos dos derrames de petróleo) é o seguinte:
Recovering: Recovering resources are demonstrating substantive progress toward recovery objectives, but are still adversely affected by residual impacts of the spill or are currently being exposed to lingering oil. The amount of progress and time needed to attain full recovery varies depending on the species.
Barrow's Goldeneyes
Black Oystercatchers
Clams
Designated Wilderness Areas
Harlequin Ducks
Intertidal Communities
Killer Whales
Mussels
Sea Otters
Sediments
Not Recovering: Resources that are Not Recovering continue to show little or no clear improvement from injuries stemming from the oil spill. Recovery objectives have not been met.
Pacific Herring
Pigeon Guillemots
Human Services: Human services that rely on natural resources were also injured by the oil spill and can thus be placed in one of the above categories. Because the recovery status of injured services is inextricably linked to the state of the resource on which it depends, full recovery of the spill area cannot occur until both resources and services are restored.
Commercial Fishing
Passive Use
Recreation and Tourism
Subsistence
Very Likely Recovered: While there has been limited scientific research on the recovery status of these resources in recent years, prior studies suggest that there had been substantial progress toward recovery in the decade following the spill. In addition so much time has passed since any indications of some spill injury, including exposure to oil, it is unlikely that there are any residual effects of the spill.
Cutthroat Trout
Rockfish
Subtidal Communities
Recovered: Recovery objectives have been met, and the current condition of the resource is not related to residual effects of the oil spill.
Archaeological Resources
Bald Eagles
Common Loons
Common Murres
Cormorants
Dolly Varden
Harbor Seals
Pink Salmon
River Otters
Sockeye Salmon
Recovery Unknown: For resources in the unknown category, data on life history or the extent of injury from the spill is limited. Moreover, given the length of time since the spill, it is unclear if new or further research will provide information that will help in comprehensively assessing the original injury or determining the residual effects of the spill such that a better evaluation of recovery can occur.
Kittlitz's Murrelets
Marbled Murrelets

Discutir com este tipo de informação é muito diferente de discutir como se um derrame de petróleo fosse o fim do mundo.
É um desastre, em grande parte recuperável.
Comparar os efeitos de um derrame de larga escala ao fim de vinte anos com outras ameaças ambientais (por exemplo, os efeitos do desastre de Chernobyll) é um exercício muito útil.
Adoptar o princípio do poluidor pagador também é um princípio muito saudável.
Avaliar o que resulta da assumpção de riscos razoáveis ou o que resulta de negligência é muito conveniente.
Confundir as actividades legais de empresas que produzem serviços e bens que o mercado pede com actividades ilegítimas, imorais, criminosas e etc., é simplesmente confundir a nuvem com Juno.
henrique pereira dos santos

17 comentários:

Miguel B. Araujo disse...

Vale a pena ler o editorial da revista Nature sobre este tema:

http://links.ealert.nature.com/ctt?kn=103&m=35009653&r=MjA1NzU4NDk4OAS2&b=2&j=NzYzOTA3MzkS1&mt=1&rt=0

José M. Sousa disse...

Sobre a noção de que se pode atribuir um valor monetário a tudo, veja-se, "Priceless - On Knowing the Price of Everything and the Value of Nothing"

José M. Sousa disse...

Monbiot escreveu há dias um artigo interessante sobre a ideia de criar uma provisão para estes riscos.

The UN has hired the consultancy Trucost to estimate the costs dumped on the environment by the world’s 3000 biggest public companies. It doesn’t report until October, but earlier this year the Guardian published the interim results(7). Trucost had estimated the damage these companies inflicted on the environment in 2008 at $2.2 trillion, equivalent to one third of their profits for that year. This too is likely to be an underestimate, as the draft report did not try to value the long-term costs of any issue except climate change. Nor did it count the wider social costs of environmental change.

Anónimo disse...

Mas o que é que isto tem a ver com o Exxon Valdez??? Um derrame à superfície é completamente diferente de um derrame em profundidade!!! O tipo de emulsão é completamente diferente, e quanto mais fina for maior (como acontece no golfo do México) mais trabalho dá a limpar!!!!! Acresce que no caso presente ainda está para se perceber o alcance desta diferença…

É curioso referir Chernobyll. Para a indústria nuclear exige risco ZERO, e santuários para depositar os resíduos. Com a indústria petrolífera, ou melhor, com a BP em particular, há cá uma indulgência…

De uma consulta simples no GOOGLE, mas de forma a tornear o excelente exercício de branqueamento que a BP tem feito na net (e sem química e física à mistura) repare bem no que se escreve (fundamentadamente para quem conhece a indústria petrolífera e a evolução da sua gestão nos últimos 10 anos!) sobre a BP:

Like the attacks by Al Qaeda, the disaster in the Gulf was preceded by ample warnings – yet the administration had ignored them. Instead of cracking down on MMS, as he had vowed to do even before taking office, Obama left in place many of the top officials who oversaw the agency's culture of corruption. He permitted it to rubber-stamp dangerous drilling operations by BP – a firm with the worst safety record of any oil company – with virtually no environmental safeguards, using industry-friendly regulations drafted during the Bush years. He calibrated his response to the Gulf spill based on flawed and misleading estimates from BP – and then deployed his top aides to lowball the flow rate at a laughable 5,000 barrels a day, long after the best science made clear this catastrophe would eclipse the Exxon Valdez.

E quando se pensa que a coisa está preta, ainda vem pior:

Most troubling of all, the government has allowed BP to continue deep-sea production at its Atlantis rig – one of the world's largest oil platforms. Capable of drawing 200,000 barrels a day from the seafloor, Atlantis is located only 150 miles off the coast of Louisiana, in waters nearly 2,000 feet deeper than BP drilled at Deepwater Horizon. According to congressional documents, the platform lacks required engineering certification for as much as 90 percent of its subsea components – a flaw that internal BP documents reveal could lead to "catastrophic" errors. In a May 19th letter to Salazar, 26 congressmen called for the rig to be shut down immediately. "We are very concerned," they wrote, "that the tragedy at Deepwater Horizon could foreshadow an accident at BP Atlantis.

Lá (ao contrário de cá) a senhora à frente do MMS já teve de arrumar os tarecos e sair.

JM

Anónimo disse...

HPS,
Sobre os peixes e a cadeia alimentar. Os disparates inerentes à sua afirmação de resposta a um comentário que fiz são tantos, que só lhe faço uma pergunta: diga lá que crudes é que conhece que não têm metais? Mas você pensa que a traquitana colocada numa refinaria, para além de uma coluna de destilação atmosférica, só lá está para decorar o espaço? Assim a modos que por imperativo de um paisagista?
E quantas cadeiras de química e física existem num curso de paisagista?
:-))

Miguel B. Araujo disse...

Caro anónimo,

Tenha decência. Identificou disparates? Diga quais são, argumente, não se fique pelas insinuações e pelas perguntas de mestre escola.

Mesmo sob coberto do anonimato, há formas mais decentes de conversar.

Anónimo disse...

MBA,
Já percebi o seu ponto de vista. Ainda não sei é quais são os crudes que não têm metais...

Anónimo disse...

Ah! E estou a ser um bom cristão! Porque «acredito» que as aves e os peixes mortos não serão devorados pelos que ainda estiverem vivos...

;-)))

Anónimo disse...

Mas como prefere factos verifique lá que comem, e sempre comeram, mesmo os mortos:

http://www.enchantedlearning.com/subjects/dinosaurs/glossary/Labrea.shtml

http://wow.gm/america/north-america/united-states/california/los-angeles-/article/2007/7/20/when-asphalt-and-dinosaurs-roamed-the-earth

embora um dos links deixe a teoria abiótica da formação do petróleo de fora…

joserui disse...

Caro HPS, é o mesmo relatório que já tinha linkado no meu blogue. Uma espécie de resumo dos 20 anos de poluição:
The amount of Exxon Valdez oil remaining
substantially exceeds the sum total of all previous
oil pollution on beaches in Prince William Sound,
including oil spilled during the 1964 earthquake.
This Exxon Valdez oil is decreasing at a rate of
0-4% per year, with only a 5% chance that the rate
is as high as 4%. At this rate, the remaining oil will take decades and possibly centuries to disappear
entirely.

Contrariando o que diz há não sei quantos comentários.

For the transient AT1 population, there appears to be no hope for recovery. There has not been a successful recruitment to the pod since prior to the spill. This unique population will likely become extinct as the remaining members continue to age and die.
Para estas orcas de características genéticas únicas, não há recuperação. Ao contrário do que diz há não sei quantos comentários. Li no editorial indicado pelo MBA, que o preço de uma orca é $300.000 USD. Se pode parecer aceitável para um exemplar ou dois, neste caso é correcto? Não é. Uma tragédia destas não pode ser avaliada pelo "mercado". A única avaliação possível é a falência da empresa, penhora de bens e prisão para os seus responsáveis. É um crime que não prescreve.

Because complete recovery from the oil spill
may not occur for decades, and because healthy
habitats are essential to the permanent recovery
of the spill region, the Trustee Council has taken
steps to extend its efforts to protect key habitats. By
unanimous resolution in March 1999, the Council
set aside $25 million dollars to continue the habitat
protection program.

Décadas. Onde está a Exxon? Entretida a ser a maior empresa do mundo e a lucrar 40.000 milhões por ano. Caducaram as suas responsabilidades? Não é a minha opinião.
Portanto é assim. Do mesmo relatório, eu sustento o que ando a dizer e o HPS, vê só o que quer e conclui que não foi o fim do Mundo e é em grande parte recuperável. Para aquelas orcas (e milhões de outros animais) foi o fim do Mundo. -- JRF

joserui disse...

Sobre a independência: Judge who ruled against offshore drilling moratorium invests in oil industry. Portanto, temos um cidadão que faz os seus investimentos (de pouca monta) livremente e depois é chamado a decidir assuntos que afectam os seus investimentos. E há toda a transparência, ou pelo menos, se foi ocultado soube-se.
É legítimo que as partes coloquem em causa a imparcialidade do juíz? -- JRF

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro JM,
Pelo que percebo não conseguiu encontrar nenhuma referência credível de persistência (significativa e a longa distância que justifique a sua afirmação que o derrame da plataforma vem inevitavelmente chegar a Portugal, nem que seja via peixes) de efeitos poluentes na cadeia alimentar em consequência de derrames. Tenho pena. Agradeço que tenha substituído esta referência por números de circo sobre o que eu estudei ou deixei de estudar para eu me entreter e fico sensibilizado com a sua preocupação em tentar compensar o que prometeu e não foi possível cumprir com bens que considera equivalentes. Fica-lhe bem esse respeito pela palavra dada, digno de um Egas Moniz.
Já agora, o paralelismo com o Exxon Valdez (e com os fogos de yelowstone e outras coisas que tal) é o da distância que vai dos prognósticos catastrofistas iniciais ao efeitos reais depois verificados. Tem toda a razão em dizer que é precisa muita cautela nos paralelismos dos efeitos, quanto mais não seja porque o exxon valdez foi no Alasca e este derrame é no golfo do México e está bem documentada a relação entre a maior rapidez de recuperação e o aumento de temperatura. Mas é só um exemplo, de facto há diferenças cujos efeitos desconheço (mas o JM vai-me explicar o que sabe sobre as diferenças entre derrames superficiais e derrames em profundidade).
henrique pereira dos santos

Henrique Pereira dos Santos disse...

José Rui,
Sim, o link era o mesmo do seu post, mas não comento o seu post para além da pequena nota que lá está porque é pelo menos a segunda vez que resolve insultar-me no seu blog a propósito de diferenças de opinião. E eu tenho mais que fazer que alimentar esse tipo de guerras. Limito-me a dizer o que penso sem lhe pedir autorização e a achar que lhe fica mal responder a diferenças de opinião com insultos pessoais. Mas insultar-me por pensar de maneira diferente da sua é um direito que lhe assiste e não o quero condicionar.
Quanto aos argumentos concretos, o link não demonstra o que diz o José Rui. O link diz que o petróleo persiste, não diz que os seus efeitos nos sistemas persistem. Repare que na mais que cautelosa formulação que é feita sobre a recuperação não consegue ler que os efeitos persistem de forma significativa.
Tem razão num ponto concreto: se uma população desaparece pelo impacto directo imediato, isso é um efeito permanente, eventualmente irreversível. Foi portanto imprecisa a minha afirmação sobre a persistência dos efeitos porque eu estava a pensar nos efeitos do crude directamente (por afectação física ou química) e não salvaguardei essa hipótese (que é rara mas pode acontecer).
henrique pereira dos santos

Henrique Pereira dos Santos disse...

Agora a questão de fundo que separa o nuclear deste tipo de desastres: a radioactividade persiste por muitos e bons anos, e os seus efeitos nos organismos vivos também. Um derrame de crude tem efeitos muito limitados no tempo. É por isso que a gestão de risco no nuclear, numa barragem ou numa plataforma petrolífera não pode ser o mesmo e os limiares do risco aceitável para o nuclear são, para mim, incomparavelmente mais baixos que o risco aceitável noutas actividades humanas.
henrique pereir dos santos

Anónimo disse...

Há que ver que o petróleo é biodegradável, ao contrário da radioatividade. A longo prazo, o petróleo derramado nos mares degrada-se. Ou seja, não é um mal irreparável, muito longe disso.

Luís Lavoura

José M. Sousa disse...

Um longo texto de "Edge" com algumas ideias que não são alheias ao debate que temos tido. A minha referência às empresas cotadas em bolsa tinha a ver sobretudo com isto:
«In the decades leading to this crisis, the shift in our economic thinking from the long-term view on Main Street to short-term speculation and gratification on Wall Street have not only brought us to the brink of economic collapse, but have also compromised a sufficient flow of capital to important long-term initiatives—economic sustainability, renewal of infrastructure, abatement of climate change, and development of alternative energy sources—all important to a vibrant and sustainable economy.

José M. Sousa disse...

Um pouco de humor "Assquest 2010"