As petições valem o que valem, mas deixo aqui uma proposta.
Ao contrário do que fiz com outras petições não avancei ainda com esta e com a recolha de assinaturas para permitir que seja comentada e melhorada e depois decidirei se se avança ou se se abandona.
"Petição por uma verdadeira definição de critérios para a reorganização da rede escolar
Ao Sr. Presidente da Assembleia da República e todos os grupos parlamentares
A resolução de Conselho de Ministros de 1 de Junho que define os critérios para a reorganização da rede escolar na verdade estabelece apenas um critério de reorganização da rede escolar: o fecho das escolas com menos de 20 alunos.
Não contestanto este critério, os signatários entendem que falta a esta resolução a adequada ponderação sobre como orientar criação da nova rede escolar em função dos interesses dos cidadãos e da necessidade de assegurar condições mínimas de integração das pequens comunidades rurais.
A rede escolar não é apenas um problema educativo, é também uma questão central da gestão do território e de coesão nacional, não sendo admissível que às pequenas comunidades rurais seja negado o direito a educar os seus filhos sem ser aceitando uma das duas alternativas disponiveis; 1) o internamento compulsivo semanal em residências escolares a partir dos seis anos de idade; 2) transportes diários de várias horas, a que acrescem tempos mortos longe de casa para adaptação aos horários do transporte escolar, que se traduzem muitas vezes em mais de dez horas diárias fora de casa e do contacto com as suas famílias.
Acresce que a rede escolar de proximidade em idades menores, mais ainda que a rede de saúde, é uma condição básica de fixação de novas famílias em idade fértil que procuram ocupações profissionais relacionadas com a produção agrícola, pecuária e florestal ou com serviços associados à biodiversidade e conservação da natureza.
A ausência de escolas num raio temporal razoável inviabiliza a renovação do mundo rural, reforçando os factores que hoje contribuem para o abandono de grande parte do país, com consequências sociais negativas, como a severidade dos fogos de Verão e o problema endémico dos roubos de gado, cobre, equipamentos que hoje se verifica no mundo rural.
É certo que o problema do emprego e da competitividade das unidades de produção é o primeiro factor condicionador deste abandono, mas a retracção do Estado e a falta de respeito demonstrada pela ausência de qualquer ponderação de alternativas para a organização da rede escolar, mesmo mantendo o princípio do encerramento de escolas com menos de 20 alunos, potenciam enormemente o abandono rural.
Por estas razões os signatários solicitam à Assembleia da República que cumpra as suas obrigações de fiscalização da actividade dos Governos, promovendo uma discussão alargada de critérios de reorganização escolar, incluindo no processo não apenas os interessados nas questões de educação, mas também os interessados na viabilidade do mundo rural.
Solicitam ainda que legalmente sejam definidos critérios base que defendam as frágeis comunidades rurais da prepotência centralista, entrando em linha de conta com os efeitos desta reorganização nessas comunidades, adoptando-se nos critérios para a execução da reorganização da rede escolar máximos temporais de distância dos aglomerados rurais às escolas mais próximas, tempos máximos diários de separação forçada entre a família e os alunos e maior autonomia às comunidades para definir o seu próprio modelo de organização escolar."
Ao Sr. Presidente da Assembleia da República e todos os grupos parlamentares
A resolução de Conselho de Ministros de 1 de Junho que define os critérios para a reorganização da rede escolar na verdade estabelece apenas um critério de reorganização da rede escolar: o fecho das escolas com menos de 20 alunos.
Não contestanto este critério, os signatários entendem que falta a esta resolução a adequada ponderação sobre como orientar criação da nova rede escolar em função dos interesses dos cidadãos e da necessidade de assegurar condições mínimas de integração das pequens comunidades rurais.
A rede escolar não é apenas um problema educativo, é também uma questão central da gestão do território e de coesão nacional, não sendo admissível que às pequenas comunidades rurais seja negado o direito a educar os seus filhos sem ser aceitando uma das duas alternativas disponiveis; 1) o internamento compulsivo semanal em residências escolares a partir dos seis anos de idade; 2) transportes diários de várias horas, a que acrescem tempos mortos longe de casa para adaptação aos horários do transporte escolar, que se traduzem muitas vezes em mais de dez horas diárias fora de casa e do contacto com as suas famílias.
Acresce que a rede escolar de proximidade em idades menores, mais ainda que a rede de saúde, é uma condição básica de fixação de novas famílias em idade fértil que procuram ocupações profissionais relacionadas com a produção agrícola, pecuária e florestal ou com serviços associados à biodiversidade e conservação da natureza.
A ausência de escolas num raio temporal razoável inviabiliza a renovação do mundo rural, reforçando os factores que hoje contribuem para o abandono de grande parte do país, com consequências sociais negativas, como a severidade dos fogos de Verão e o problema endémico dos roubos de gado, cobre, equipamentos que hoje se verifica no mundo rural.
É certo que o problema do emprego e da competitividade das unidades de produção é o primeiro factor condicionador deste abandono, mas a retracção do Estado e a falta de respeito demonstrada pela ausência de qualquer ponderação de alternativas para a organização da rede escolar, mesmo mantendo o princípio do encerramento de escolas com menos de 20 alunos, potenciam enormemente o abandono rural.
Por estas razões os signatários solicitam à Assembleia da República que cumpra as suas obrigações de fiscalização da actividade dos Governos, promovendo uma discussão alargada de critérios de reorganização escolar, incluindo no processo não apenas os interessados nas questões de educação, mas também os interessados na viabilidade do mundo rural.
Solicitam ainda que legalmente sejam definidos critérios base que defendam as frágeis comunidades rurais da prepotência centralista, entrando em linha de conta com os efeitos desta reorganização nessas comunidades, adoptando-se nos critérios para a execução da reorganização da rede escolar máximos temporais de distância dos aglomerados rurais às escolas mais próximas, tempos máximos diários de separação forçada entre a família e os alunos e maior autonomia às comunidades para definir o seu próprio modelo de organização escolar."
henrique pereira dos santos
19 comentários:
O meu comentário é simples, não assino.
O interesse da população está em que o Estado invista prioritariamente em escolas, sobretudo em infantários, em Lisboa e no Porto, e não que delapide dinheiro a procurar à viva força manter escolas em zonas despovoadas, muitas das quais, de facto, por força dos seus maus solos não vale a pena tentar repovoar.
Luís Lavoura
Luís,
E tens essa opinião porque fizeste contas ou porque achas que é irrelevante o custo do despovoamento e a indução económica feita pelo Estado em Lisboa e Porto, nomeadamente pela criação artificial de emprego socialmente inútil? Ou ainda porque achas que o Estado deve resolver os problemas de sobrepovoamento de Lisboa e Porto sem que isso tenha nada de relação com a ocupação equilibrada do território? Ou ainda porque achas que uma política agrícola centrada na procura de manutenção de preços baixos da alimentação no consumidor urbano não tem nehuma relação quer com a pobreza do terceiro mundo, quer com a fragilidade das economias centradas no gado miúdo?
Ou sequer porque fizeste contas entre a alternativa do governo (concentrações em grandes centros escolares com investimento em transportes e condições de acolhimento dos alunos) e as alternativas possiveis (por exemplo, agrupamento de proximidade de escolas até atingir os 21 alunos, centrado em ensino relativamente transumante ou com apoio de ensino à distância e períodos de socializalição, incluindo algum ensino em casa, por exemplo?). Ou mesmo um cehque ensino às comunidades com o dinheiro que o Estado gastaria com os 21 alunos para a comunidade se organizar como entender?
Sempre estranhei posições liberais que se traduzem na defesa dos Estado contra as pessoas. É que não vejo por que razão haverá o Estado de investir em creches e infantários em comunidades suficientemente ricas para os pagar.
henrique pereira dos santos
Esse Sr. Luís Lavoura não merece sequer resposta, entenderá por certo que o meio rural se garante por si só, sem gente, sem iniciativa, enfim, mesmo sem paisagem. Veja-me por favor a carta de solos antes de emitir opiniões irreflectidas.
Quanto ao que interessa, a petição assino-a por baixo, podendo e devendo ser melhorada/acrescentada em alguns aspectos, como o reforço da coerência territorial portuguesa, a necessidade de manter um tecido produtivo associado à actividade primária (essencial para previsão de riscos), a necessidade de garantir uma boa gestão florestal, etc. O roubo de cobre parece-me apenas um exemplo pontual com discutível associação ao fecho de escolas.
Henrique, Não creio que seja necessário fazer contas. Primeiro porque há contas que não se conseguem fazer. E segundo porque se tratam de opções estratégicas.
No caso do governo possivelmente a única opção estratégica é poupar dinheiro mas assinar uma petição como a que propões implica mais do que oferecer uma oportunidade para criticar o governo (uma actividade que está na moda). Implica oferecer uma visão alternativa sobre a ocupação do uso do solo.
Ora eu estou convencido que a ocupação que herdámos dos séculos passados e cuja "desertificação" queres agora inverter é insustentável nos dias de hoje.
Os tempos mudaram e muitas aldeias desaparecerão do mapa (algumas já desapareceram). Não vale a pena gastar recursos a tentar inverter o que não se pode inverter. O que se pode fazer, sim, é descobrir quais os pólos urbanos que vale a pena salvar e quais as que mais vale deixar cair (suavemente pois ainda la vivem pessoas). Noutros casos podem salvar-se as aldeias mas com usos diferentes daqueles que lhes foram dados actualmente (p.e., turismo) mas isso implica que existam agentes privados interessados em investir na requalificação destes núcleos urbanos.
Mais útil do que gastar energias (e dinheiro) a tentar salvar modelos de ocupação do solo que herdámos do passado, vale a pena pensar qual o modelo que é sustentável no mundo de hoje e gastar as energias (e dinheiro) a tentar beneficiá-lo.
Miguel,
Não me revejo nem na visão centralista e dirigista do território que eu li no teu comentário, nem na tua interpretação de que há no que escrevi um grama de defesa de um qualquer modelo de uso do território.
Nem vejo na opção do Governo nada que tenha que ver com a tua crítica ao que escrevi (nem com a do Luís Lavoura).
Tenho sobre isto uma visão claramente liberal: os agentes económicos que façam mais ou menos o que quiserem do uso do território, que produzam o que quiserem e que vivam de acordo com as opções que entenderem.
E há agentes económicos que, apesar da tua opinião, da do Luís Lavoura e das outras elites nacionais, conseguem ter unidades produtivas viáveis economicamente e sustentáveis.
A questão de fundo é se faz sentido o Estado decidir por essas pessoas que não há futuro no que fazem e portanto, em antecipação, concentrar toda a sua despesa (e falo em despesa porque não é necessariamente investimento) em sedes de concelho (e algumas aldeias maiores) que de acordo com a vossa lógica são também inviáveis a prazo sem o uso do seu hinterland.
Qual é o contributo de Góis para o país e a sociedade para além de prestar serviços de proximidade aos agentes económicos que existem no seu termo? Nenhum. Se fechassem dos concelhos, como na Grécia, sobraria muito mais dinheiro que com esta reorganização escolar.
O que está em discussão não é investir ou não investir nestas comunidades, o que está em discussão é investir desta maneira ou de outra.
Se quiseres levar a tua lógica até ao fim, não tenho nada a comentar, limito-me a discordar mas faz sentido: abandona-se mais de 50% do território, concentra-se as pessoas em centros urbanos escolhidos (pelo Estado central, suponho) e espera-se que essa suposta eficiência não resulte mal (apesar dos antecedentes de uma boa parte do século XIX, quando a manifesta incapacidade do Estado entregou grande parte do país aos bandos de salteadores).
Simplesmente não é nada disso que está em causa na decisão do Governo.
O que está em causa é um modelo escolar que pressupõe que os miúdos existem mas é normal que estejam a semana toda fora de casa a partir dos seis anos de idade ou que saiam de casa mais de doze horas diárias para um ambiente que lhes será sempre hostil.
E o que eu gostaria era apenas de discutir se, mantendo o princípio de não haver escolas com menos de vinte alunos, não há outras soluções que sirvam melhor as pessoas que existem (e que vocês decidiram que além se ser pouco lógico existirem são um fardo inaceitável para todos nós que achamos imprescindível que o Estado garanta em Lisboa e Porto muitos outros bens muito menos básicos que a educação).
henrique pereira dos santos
Henrique,
Onde está o dirigismo centralista de questionar o principio de que o Estado deve subsidiar escolas em todo e qualquer povoado, independentemente da racionalidade de tal subsídio? Como diz o Henk: onde está o teu "cut-off"? Não gostas dos 20, aceitarias os 10, os 5? Com base em que critério?
Achas mal que os alunos estejam tantas horas fora de casa? Eu também. Mas qual a solução? O Estado enviar um professor em qualquer lugar onde exista pelo menos uma criança? E-learning? Se é verdade o que dizes e não questionas o facto de se fecharem escolas com menos de 20 alunos seria bom que apresentasses a alternativa pois caso contrário não se sabe muito bem o que o se está a discutir.
E quando dizes: "A questão de fundo é se faz sentido o Estado decidir por essas pessoas que não há futuro" estás a deturpar a realidade dos factos. O Estado não decide pelas pessoas se há futuro. O Estado actua perante factos criados pelos agentes económicos. Se não há pessoas e se fecham escolas não é porque o Estado os esteja a empurrar fora das aldeias. É porque as pessoas há muito que decidiram abandonar estes locais por motivos económicos ou sociais. A verdade é que muitas pessoas saem das aldeias simplesmente porque não lhes interessa viver num ambiente social pequeno. O fecho das escolas não ajuda a fixar populações (é verdade) mas o abandono rural é um fenómeno que se tem vindo a verificar pelo menos desde os anos 50 do século passado (o Carlos Aguiar poderá precisar pois sabe muito mais disso do que nós).
Dito isto, um último comentário de forma: seria bom não deturpar as palavras dos outros!!
"E há agentes económicos que, apesar da tua opinião, da do Luís Lavoura e das outras elites nacionais, conseguem ter unidades produtivas viáveis economicamente e sustentáveis."
Onde é que eu disse que não é possível (ou desejável) ter unidades produtivas sustentáveis em zonas desfavorecidas?
"e que vocês decidiram que além se ser pouco lógico existirem são um fardo inaceitável para todos nós que achamos imprescindível"
Isto é demagogia pura.
Miguel,
Não questionei a necessidade de reorganizar a rede escolar, nem o fecho de escolas, nem o número mínimo de vinte alunos, não percebo por isso a que título falas de "subsidiar escolas em todo e qualquer povoado".
O que questionei, isso sim, é que a única alternativa seja o fecho de qualquer escola com menos de vinte alunos e o encaminhamento de todos os alunos para centros escolares nas sedes de concelho (e algumas excepções).
O que questiono é o facto de com esta política não ser possível discutir a possibilidade de fazer um centro escolar com trinta alunos se houver três aldeias relativamente próximas com dez alunos cada.
Para abreviar: "O secretário de Estado da Educação explicou por outro lado que o Governo não pretende constituir "mega agrupamentos": "Não irão existir agrupamentos maiores dos que já existem", ou seja, "até três mil alunos"."
Compara com a Finlândia: "In 2004, more than one third of Finnish comprehensive schools had fewer than 50 pupils, just 4% of all schools had 500 or more pupils. Many primary schools therefore have become learning and caring communities rather than merely instructional institutions that prepare pupils for the next level of schooling."
Se quiseres saber como se discute o cut off (e nem percebi a que propósito perguntas isso porque puz o cut off exactamente no mesmo ponto do governo, o que discuti foi como se deve gerir a coisa) e se gere este problema global das escolas em espaços escassamente povoados, podes dar uma primeira olhada aqui e comparar com o que o nosso governo está a fazer:
http://www.scotland.gov.uk/Publications/2007/09/06091416/4
Se não consegues ler alternativas no que escrevi (culpa minha embora me pareça que estão lá apontadas) podes sempre ver muitas com estas referências.
E a única coisa que pedi foi que se discutissem soluções alternativas, que evidentemente há, ao contrário do que o Governo pretende fazer crer.
Mantendo o princípio de acabar com as escolas com menos de vinte alunos.
henrique pereira dos santos
Henrique,
Ficou mais claro. Mas onde lês no comunicado do governo (o qual fornecesses o link) que os alunos serão encaminhados para sede do concelho? Onde lês que não é possível alunos de aldeia A frequentarem aulas na escola de aldeia B se esta fôr mais próxima do que a sede do Concelho? O que eu leio é que apregoam a construção de novas escolas e dizem que estes alunos irão em muitos casos para lá. Pode ser que seja essa a intenção mas o que eu leio é propaganda sobre construção de novas escolas mais do que um esclarecimento sobre o método de alocação dos estudantes às escolas. Sobre isto o único que leio -- e é uma boa notícia -- é que o assunto será definido em articulação com as câmaras municipais "de modo a assegurar estabelecimentos escolares alternativos e as necessárias soluções em matéria de rede de transporte escolar". Ora isto é boa notícia pois quem paga a deslocação das crianças são as câmaras pelo que não creio que queiram fomentar deslocações de grande distância se puderem fazer o mesmo serviço com distâncias curtas. Em todo o caso, sendo decisões tomadas a nível local é mais fácil os cidadãos influenciarem as decisões.
De resto não percebo onde queres chegar com o exemplo da Finlândia. A Finlândia é um País rico com pouco mais de 5 milhões de habitantes, distribuído por uma superfície gigantesca, amplamente despovoada e onde uma povoação com 500 habitantes é considerada uma cidade. As comparações com a Escócia também não fazem muito sentido pois esta região, desfavorecida, tem sido favorecida com transferências significativas do Estado central. Transferências que serão, possivelmente, reduzidas com o novo Governo.
Se o "bottom line" desta discussão é que em Portugal se improvisa e que os governos não escapam à regra estou de acordo, mas eu não leio no comunicado do governo tudo o que tu lês.
Miguel,
O problema da escolarização dos territórios escassamente povoados é um problema global. E é evidentemente mais caro, em custos directos por aluno, ter as escolas dispersas que ter os alunos concentrados. O problema são os custos indirectos. Não sei se reparaste mas o link da Escócia não fala apenas (nem sobretudo) da Escócia, pelo contrário, é uma investigação de benchmarking para saber o que fazer na Escócia.
E a principal conclusão, em qualquer país e nos vários sistemas, é que a decisão de encerrar uma pequena escola deve ser tomada a partir do seu "caso pedagógico", uma a uma.
É verdade que nem no comunicado do Governo, nem nas declarações conexas, se fala de concentração em sedes de concelho, mas é o que tem vindo a ser feito (dá uma volta pelo país), até porque só houve dinheiro para fazer estes grandes centros escolares e não para melhorar escola aqui e escola ali para albergar os trinta ou quarenta alunos de meia dúzia de aldeias, com algumas excepções de aldeias maiores.
Ao contrário do que dizes as autarquias não se importam de ter quinze camionetas certificadas a despejar todas as aldeias de Gois na sede do Concelho (lê o post que fiz sobre isso, é um dos links do post anterior), mesmo que isso implique para alguns alunos mais de duas horas de viagens todos os dias (uma para um lado, outra para o outro).
A logística e o controlo é incomparavelmente mais simples que ter escolas espalhadas pelo concelho, a precisar de papel higiénico, de água, de luz, de arranjar os estores e etc..
E não é verdade que estas pequenas comunidades influenciem o que quer que seja do poder camarário: os votos estão na sede do concelho, onde todos os comerciantes batem palmas a esta política de trazer clientes para a sua porta.
O problema é o que isto significa para o país.
Que é muito mais que uma questão orçamental, embora também seja uma questão orçamental.
henrique pereira dos santos
Henrique
Só posso estar de acordo com o texto.
Portugal geograficamente é terrível, com pontos urbanizados dispersos. É possível libertar os alunos e pais (e os novos pais) deste enorme desastre. O e-learning ou outras formas de tele-educação e por que não educação feita pelos pais, com certificação passada pelos serviços centrais seriam uma forma obvia de contornar imensos tempos vazios e estupidificantes do vai-vem dessas crianças.
Se não têm Educação Física têm o espaço do lar e da aldeia.
As crianças precisam de espaço, muita brincadeira e jogos. Não joguemos as crianças em autocarros e em mega-albergues de anónimos.
Precisamos de educar Sujeitos e não massas.
Um abraço solidário
Não compreendo como se pode ignorar os direitos das pessoas que querem viver e trabalhar em pequenos meios rurais afastados dos grandes centros urbanos.
Pior, estranho que haja ambientalistas que se estejam nas tintas para com as pessoas que vivem no meio geográfico das suas preocupações. Será que o reconhecimento da sua incapacidade física e emocional de conseguirem alguma vez sobreviver com a probidade dos que tiram o sustento das terras pobres, os faz voltar as costas a quem os julgava aliados? "Eu não sou capaz, tu também não o podes ser".
É triste verificar esta falta de solidariedade.
Por este caminho em breve teremos a obrigatoriedade do internamento dos rurais das terras pobres nos guetos das grandes hurbes. Com o apoio de alguns ambientalistas de renome, pelo progresso, pela padronização.
Henrique:
Concordo com o texto e com o objectivo da petição, como encarregada de educação e como cidadã.
amanhã decido ir viver para o cu de judas. exijo que o Estado em nome da solidariedade instale um infantário para a minha pequena filha, uma escola para quando cresca e já agora um serviço clínico pois com o passar dos anos vamos precisando desses serviços. tudo em nome da solidariedade, claro.
Três notas sobre este importantíssimo problema:
Primeira: é uma falácia muito dispendiosa defender e praticar uma política de pulverização de equipamentos sociais de responsabilidade e custeamento por parte do estado central, no pressuposto que, assim, se consegue suster (ou inverter) o fenómeno da desertificação do interior.
Segunda: estas decisões - manter ou fechar equipamentos sociais - devem ser tomadas pelos municípios desde que a eles caiba, naturalmente, a gestão de recursos afectos às actividades a criar, desenvolver ou descontinuar adentro do "envelope" financeiro por eles gerido.
Terceira: em política, especialmente em momentos difíceis de espartilho financeiro, compensa falar verdade. Recuso engolir acefalamente o argumento de que «é um crime ter escolas abertas com menos de 20 anos». Onde estão os estudos que o comprovam? Não seria melhor dizer que a razão desta mexida é exclusivamente de carácter financeiro e que sendo dramática a situação das nossas finanças públicas, há que recorrer a todas as medidas possíveis de reduzir a despesa pública?
Caro anónimo,
Caso decidisse ir viver para uma qualquer aldeia serrana, perto da qual, ou na qual, houvesse uma escola primária com uma dúzia de crianças, pois é evidente que tinha toda a minha solidariedade caso o Estado decidisse encerrar essa escola e obrigasse os seus filhos a levantarem-se da cama às 5 e meia da manhã e apenas regressarem a casa às 8 da noite, para passarem a frequentar uma escola na sede do Concelho.
Mas o teor da sua mensagem leva-me a crer que você nunca seria capaz de viver numa aldeia no cu de Judas. Apenas pessoas com grande alma e muita coragem são capazes de trocar a cidade por uma aldeia na serra. Repare que não lhe estou a chamar-lhe cobarde, eu próprio duvido que o conseguisse fazer, apesar de estar habituado a passar temporadas num sítio desses.
A diferença entre nós dois é que eu tento dar todo o meu apoio a essas pessoas, comprando-lhes os escassos bens que vão produzindo e evidenciando, sempre que posso, as mil e uma valências positivas para a sociedade e a natureza, nomeadamente dos serranos que possuem rebanhos de cabras. Em suma, admiro muito essas pessoas, sou amigo de algumas delas e para mim são autênticos heróis. Pelo contrário, em você nota-se um profundo desprezo por quem sobrevive com gado e hortas nas aldeias serranas. E muita, muita arrogância.
Jaime Pinto
@Eduardo F
1º
O uso do termo "desertificação", processo de degradação dos solos, quando se quer dizer "despovoamento" leva inconscientemente a olhar para o interior como um deserto e não uma área de enorme riqueza real e potencial, lar de algumas das maiores exportações nacionais, da agricultura e silvicultura, de fontes energéticas e de turismo, tudo enormes indústrias estratégicas nacionais. Não é um deserto, é onde está a riqueza mais estável do país e para manter isto é preciso gente.
A densidade é indiferente face ao valor gerado por habitante, por isso compensa investir em equipamentos dispersos, mesmo que não tenham as aparentemente eficientes densidades urbanas tão caras a tantos portugueses, ambientalistas ou não. Não tem que ser igual para ser eficiente na sua função, em nenhum país se pratica esta normalização furiosa e sem qualquer sentido. Noutro mundo era o habitante rural a perguntar porque que carga de água iria ele pagar as pontes, auto-estradas e TGV's para os "urbanos", quase limitados aos serviços de nível baixo (Portugal não é exactamente um Silicon Valley no tipo de serviços que desenvolve), irem passear.
2º
Concordo, mas como se vê, em muitos casos os municípios são precisamente os primeiros a atacar aquilo que menciona como passível de ser protegido, é ver a desafectação de solos agrícolas nos PDM's, por exemplo. Não podem existir controlos absolutos "top-down".
3º
"Onde estão os estudos que o comprovam?" Ora essa é uma excelente pergunta! Onde estão os tais estudos? É que até agora nem vê-los. Como tomar uma decisão informada? Como é que se vai contabilizar uma coisa como 6 famílias desistirem de viver em região X porque a escola fechou? Será que o Ministério da Educação vai às suas casas perguntar-lhes se vão sair e depois fala com o Ministério da Agricultura para saber quanto valem as explorações perdidas? Acha contabilizável a degradação da paisagem durante décadas de abandono ou a sua compra por grupos de outros países e/ou dedicados a práticas de escala industrial por ausência de pessoas? Como é que se sabe se na fúria de poupar não se vai na realidade perder dinheiro? Duvida que as famílias desistem se as crianças tiverem que ser transportadas 3 horas por dia? Acha que vão viver sem dar aos filhos instrução obrigatória?
Nuno Oliveira
Caro HPS,
Pelo que me dizem amigos professores, está a ser preparada uma petição a nível nacional que irá abordar também outras questões deste pacote de medidas. A questão do mínimo de alunos é uma das principais. Acha que seria mais útil uma abordagem isolada de cada questão, no sentido de não alienar aqueles que concordam com um aspecto e não outro?
Cumps
Nuno Oliveira
Nuno,
Obrigado pela informação. Porovavelmente é então inútil fazer esta petição e discussão vai ficar acantonada entre os interesses mal compreendidos do Estado central, os interesses mal avaliados dos pequenos interesses das sedes dos concelhos e os interesses corporativos dos professores.
Como de costume que se lixem os produtores de riqueza das zonas de povoamento esparso.
É provável que afinal a razão sempre esteja no da lado da ideia dominante de que aagricultura (entendida no seu significado mais lato que inclui o pastoreio e a produção florestal) não tenha mesmo futuro e quanto mais depressa se acabar com a produção de riqueza no mundo rural melhor, mais dinheiro fica para resolver os problemas dos suburbios das grandes cidades e para fazer túneis no marquês.
henrique pereira dos santos
Caro HPS,
Assim que conhecer o texto da tal petição coloco aqui, receio que venha acontecer o que mencionou e que se misturem questões acessórias ao que é fundamental.
Não acho que seja inútil discutir, nem que seja para tornar claro que existe quem se oponha à aparentemente inexorável sabotagem do mundo rural.
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