quarta-feira, julho 28, 2010

Catalunha proíbe touradas

A partir de Janeiro de 2012 deixarão de ver-se touradas na Catalunha. Continuarão a ver-se no sul de França, no resto de Espanha e em Portugal. Vitória para os animalistas? Sem dúvida que sim. Mas convém não esquecer que com esta decisão a Catalunha cria mais uma diferença com o resto de Espanha. É o acumular de diferenças (linguísticas e culturais) entre esta região e o resto do território Espanhol que constitui a verdadeira agenda política. O movimento animalista é o pretexto mas o motor da decisão é nacionalismo Catalão. Convém não esquecer isto para não perder a perspectiva e saber enquadrar o que se está a passar no extremo nordeste da Península Ibérica.

12 comentários:

Nuno disse...

Caro Miguel Araújo,

Não sei bem o que quer dizer animalista, procurei definições mas não encontrei nada por isso vou deduzir que quer dizer tudo aquilo que o interlocutor quiser. Isto supondo que não está a falar do "Animalismo", sátira ao estalinismo no Triunfo dos Porcos.

Não sei porque figura aqui a proibição da Catalunha por motivos políticos como uma acusação que retira legitimidade ao processo.

O protesto político dos Catalães emana de diferenças culturais óbvias e é perfeitamente legítimo que estas passem para o quotidiano político- a alternativa é um país que reprime culturas locais em nome de uma unidade política fabricada, algo dificilmente atribuível a uma democracia madura. Os Catalães não sentem nenhuma relação cultural com a tourada, logo não a querem. Não vejo a incongruência ou o motivo pelo qual se deveria insistir na permanência das touradas.

De resto pode haver protesto contra as touradas devido ao se considerar que tortura por entretenimento é degradante ou por se achar que não existe qualquer suporte ou interesse cultural por dito espectáculo. São ambas legítimas, embora não pareçam totalmente concordantes.

Guimarães proibiu as touradas este ano por razões culturais- a fraca ligação cultural da região e interesse em relação ao espectáculo não justificaria os gastos. Não poderemos concluir que Guimarães embarcou numa secessão política.

De qualquer forma agradeço o aviso em relação a esta boa notícia.

Nuno Oliveira

Miguel B. Araujo disse...

Caro Nuno,

Animalista é uma forma de designar as pessoas que aderem ao movimento de defesa dos direitos dos animais. Esta expressão é usada há mai de 10 anos na lista ambio e no blog mas também pelos próprios:

http://www.animalistas.org/

Portanto não vale a pena fazer do termo um caso. São muitos os animalistas que se chamam animalistas da mesma forma como os que defendem o ambiente se chamam ambientalistas.

Quanto ao seu terceiro parágrafo são opiniões, aliás pouco fundamentadas. Na Catalunha, assim como no sul de França, as touradas fazem parte da matriz cultural. Há quem goste e quem não goste e neste momento o parlamento da Catalunha votou maioritariamente pela abolição das mesmas. Mas isso não ilude o facto das touradas terem expressão cultural numa área que também inclui a Catalunha. Aliás, se assim não fosse, não teria havido 55 votos contra a abolição das touradas, contra os 68 votos a favor.

aeloy disse...

De facto na Catalunha, por questões políticas"nacionalistas" o culto dos toiros em Praça tem vindo a degradar-se e a economia foi incapaz de obstar a este levantamento proto-nacional, mas com a oposição de quase 50% do Parlamento, e com hipoteses de ser chumbado no Tribunal Constitucional.
Mas não foram proibidas, porque esses sim tem a ver com lógicas mais populares, as largadas de toiros e outros festejos que lhe estão ligados...
Nada disto tem que ver como é obvio com toiros... e as tradiçoes locais (por vezes mais "sangrentas") mantêem-se.
O que isto também quer dizer é que a sociedade catlã é cada mais mais urbanita e industrializada e a relação com o mundo rural e ruralidade nos centros urbanos (porque no restante território manteêm-se as largadas) vai desaparecendo.
O ambiente e os seus significantes ficam mais pobres.
António Eloy

Nuno disse...

Caro Miguel Araújo,

Agradeço a resposta. Não é certamente um "caso" o uso do termo animalista somente não sou membro da organização espanhola do link, não sou vegetariano e não defendo direitos iguais para homens e animais. Isto é só um esclarecimento.
E até a justificação da decisão , como aponta, dificilmente poderá ser "animalista" mas sim cultural e política.

Não sei porque será pouco fundamentada a diferença cultural dos catalães, ela existe e enriquece qualquer país, como as diferenças de bascos, galegos e castelhanos. Feliz é o país que consegue ter tanta diversidade, desde que exista respeito mútuo. Também em França existem divergências culturais em relação à tourada, com algumas regiões a terem espectáculos sem sangue exclusivos à course camarguaise e landaise. Isto é natural.

Não percebo porquê questionar uma decisão democrática, mesmo que (naturalmente) não consensual. Poderá ser que um dia a Catalunha renuncie à sua especificidade cultural e democraticamente re-instaure as touradas...

Cumprimentos

Nuno Oliveira

Miguel B. Araujo disse...

Caro Nuno,

Para que não fiquem equívocos: o termo animalista existe e não se resume a uma associação Espanhola. É um termo genérico e naturalmente, no post, eu não estava a falar de si, que não o conheço mas de um movimento associativo. Ver por exemplo (há muitos mais) da Rede Portuguesa de Difusão Animal:

http://animalista.no.sapo.pt/

A sua posição é pouco fundamentada porque se praticam touradas na Catalunha há vários séculos e ainda hoje existem muitos "aficionados" Catalães dos touros. Portanto, dizer que não faz parte da matriz cultural da Catalunha não faz qualquer sentido. Pode dizer-se, como diz o António, que as comunidades urbanas tendem a não apreciar touros e que isso explica a crescente tendência para oposição a esta prática cultural. Mas isso é verdade na Catalunha e noutros locais, nomeadamente em Madrid.

Acontece que a classe política de Madrid não se esforça por se distinguir do resto de Espanha, antes pelo contrário, pretende sintetizar e incluir na sua matriz cultural as diferentes Espanhas que lá existem.

Nuno disse...

Caro aeloy,

Estou totalmente de acordo, por bem-intencionadas que sejam é de movimentos quase exclusivamente urbanos que vêem posturas como o vegetarianismo extremo, a ideia da paisagem natural como algo sem influência humana, a visão do mundo rural como um "velhinho doente" que precisa de apoio e não uma fonte de riqueza e prosperidade, etc.

Dito isto não vejo como é que está implícito que para isso tenhamos que usar o gado como almofada de alfinetes ao som do realejo em troca de bilhetes. Procurando ser defensor da dignidade rural parece-me no mínimo pouco criativo e no máximo degradante que se oriente a criação de gado para estes fins com o pretexto de desenvolvimento.

De certeza que existem imensas soluções alternativas para rentabilização de actividades de criação de gado, porquê prendermo-nos a aquelas que são mais ineficientes (subsídios aos campos de corridas) no apoio ao mundo rural e também mais polémicas?

Senão estamos qualquer dia como aquele criador de gado do Vietname que vende o tiro de rocket á vaca aos turistas por 200$ porque lhe rende bastante...

Cumprimentos

Nuno Oliveira

kurika disse...

Os Catalães não são menos distintos dos Castelhanos que os Portugueses e certamente não terão menos direito ao Nacionalismo.
Felizmente não parecem querer substituir a tourada Espanhola - brutal, mas honesta - pela hipócrita, humilhante e infinitamente mais cruel tourada Portuguesa. Fala um Nacionalista e Animalista.

kurika disse...

Os Catalães não são menos distintos dos Castelhanos que os Portugueses e certamente não terão menos direito ao Nacionalismo.
Felizmente não parecem querer substituir a tourada Espanhola - brutal, mas honesta - pela hipócrita, humilhante e infinitamente mais cruel tourada Portuguesa. Fala um Nacionalista e Animalista.

aeloy disse...

Pois mas a lei mantem as largadas, onde além de feridos humanos muitos toiros morrem de formas "primitivas" e os toiros de fogo, que para quem não sabe são toiros em praças fechadas com tições de fogo na cornamenta, porque isso é tradição na Catalunha....
Mas força que todos somos a favor.
António Eloy

Nuno disse...

A proibição só veio colmatar a lei local contra a crueldade animal que tinha no gado bovino a excepção incompreensível.

Se ainda existem toiros de fogo (?), então os catalães são completamente incoerentes, concordo.

Se existirem largadas, que dependam da entrada voluntária de pessoas desarmadas, tanto me faz.

Também não me faz impressão a landaise ou a pega de forcado e a primeira é realizada em exclusivo, em espectáculos sem sangue e aí sim comprovativos da coragem do homem, que é voluntário. Uma vez que vem de tradições minóicas é provavelmente a forma mais "primitiva" de tourada e não vejo problemas com ela.

Cumprimentos

aeloy disse...

Pois o problema é todo uma manifestação de nacionalismo. As corridas populares, os toiros de fogo, e outras diabruras, além da proibição ser só a partir de 2012, depois de novas eleições e de decisão do Tribunal Constitucional, além de outras acções anti-nacionalistas, e de sabidos os custos já haver menos certezas...
Nada disto teve a ver com "altruísmo" animalista, mas políticas.
Mas cada um informa-se a gosto.
António Eloy

Nuno disse...

Caro aeloy,

Sem dúvida que foi uma decisão com forte carga política e cultural, mas também coerente, do ponto de vista legislativo e democrático.

É que ou ilegalizam todas as formas de tortura animal ou permitem todas, desde corridas de toiros a corridas hamsters.