sexta-feira, julho 16, 2010

Com a verdade me enganas tu


Prometi fazer um post sobre a forma como um discurso ambiental sem coisas erradas pode na verdade ser um discurso catastrofista, provavelmente distorcido.
Vinha isso a propósito do derrame da BP (parece que finalmente conseguiram estancar provisioriamente o derrame) e de um artigo no Scientific American que roubei daqui e pode ser lido aqui integralmente. Mas o Público veio em minha ajuda e lá fez também o seu artigo catastrofista.
Note-se que não estou a dizer que os artigos têm erros. O que estou a a dizer é que os artigos induzem os leitores a pensar erradamente.
Repare-se.
"More than 20 years after the Exxon Valdez foundered off the coast of Alaska, sea otters still dig up oil in their hunt for clams in Prince William Sound. Nearly 25 years after an oil storage tank ruptured near mangrove swamps and coral reefs of Bahia Las Minas in Panama, oil slicks still form in the water. And some 40 years after the fuel-oil barge Florida ran aground off Cape Cod, the muck beneath the marsh grasses makes the area smell like a gas station."
Assim começa o artigo que pretende demonstrar como um derrame é uma ameaça que persiste. E de facto durante anos permanecem vestígios de petróleo nos locais afectados. Até aqui nada de novo.
Depois vem explicado por que razão o petróleo é uma ameaça:
"The toxic compounds in oil vary, but the most worrisome are polycyclic aromatic hydrocarbons (PAHs), such as napthalenes, benzene, toluene and xylenes. All can sicken humans, animals and plants. “These hydrocarbons are particularly relevant if inhaled or ingested,” says environmental toxicologist Ronald J. Kendall of Texas Tech University. “In the bodies of organisms such as mammals or birds, these aromatic hydrocarbons can be transformed into even more toxic products, which can affect DNA.” The mutations that might result could lead to reduced fertility, cancer and other problems."
Nada de novo, é de facto por estas razões que o crude é uma ameaça.
A seguir uma informação relevante mas sobre a qual se passa como gato por brasas:
"Not all the PAHs become an environmental threat, though. Thanks to evaporation, oil that reaches the surface loses at least 20 to 40 percent of the original hydrocarbons. “Evaporation is good; it selectively removes a lot of compounds we’d rather not have in the water,” says marine chemist Christopher M. Reddy of the Woods Hole Oceanographic Institution. The oil also emulsifies, forming mousse—a frothy mix of hydrocarbons and water—or clumps into so-called tar balls."
Depois vem o truque habitual de falar da imensa riqueza e dos milhares de espécies que existem no golfo do México (a grande maioria em áreas não afectadas pelo derrame, aliás), falando-se do risco potencial (não do verificado até ao momento).
E por fim um parágrafo dúbio sobre o petróleo que é apanhado pelos sedimentos e continua a aparecer durante décadas.
O leitor pensa aterrorizado: os valores naturais estão feitos ao bife. Excepto se reparar que o artigo fala dos efeitos do crude tal como ele sai do poços e que os compostos perigosos desaparecem em muito pouco tempo (como de facto diz o artigo, mas não o relacionando com os efeitos de longo prazo) e portanto o crude que vai ficando durante décadas não tem o efeito descrito no parágrafo que fala dos compostos voláteis.
O artigo do Público tem mais ou menos a mesma lógica, falando por exemplo da importância natural de áreas da costa do Golfo que não foram afectadas (e é muito pouco provável que o sejam) pelo derrame (que só chegou a uma pequena parte da costa da Luisiana, sendo quase tudo o resto pontual ou negligenciável. Podem ver aqui os mapas. E já agora comparem com o mapa catastrofista treehugger com que ilustro o post.
Sempre que vos falarem de previsões do futuro o melhor mesmo é darem um salto a este blog que linko abaixo que é bom para dar perspectiva.
henrique pereira dos santos

2 comentários:

Anónimo disse...

Para ajudar ao seu optimismo, aqui vai um link para um artigo sobre as consequências da rotura de um oleoduto na Baía de Guanabara, dez anos depois.

Ah, mas é num blog da Al Jazira, deve ser tudo mentira...

http://blogs.aljazeera.net/americas/2010/07/07/effects-brazilian-oil-spill-10-years

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro anónimo,
Com certeza será tudo verdade, isto é, há mangais na Baía de Guanabara mortos.
Tudo o resto é uma coisa curiosa, porque há um reporter que é citada em centenas de blogs de repente, mas curiosamente é dificílimo encontrar informação que corrobore o que ele diz (ue há mangais mortos, sem dúvida, que isso se deva à prevalência dos efeitos de um derrame de petróleo é que é mais duvidoso).
Aconselho-o a dar um passeio por este site:
http://www.portalbaiadeguanabara.com.br/portal/default.asp
Aí, depois de conhecer melhor quer a Baía de Guanabra, quer a evolução histórica da sua envolvente, perceberá rapidamente que usar esta situação para fazer um paralelismo com o derrame da BP é pura e simplesmente ridículo, dadas as abissais diferenças de contexto geográfico (físico e humano) das duas situações.
Eu não sou optimista em relação aos derrames de petróleo, limito-me a verificar que apesar dos anúncios sistemáticos nesses sentido, o fim do mundo não foi ontem.
henrique pereira dos santos