Pelo que vejo o Público dedica espaço aos fogos rurais.
Pelo que vejo o pessoal da Protecçäo Civil continua com o discurso triunfante de que estamos a ter resultados muito bons porque somos muito bons.
Pelo que vejo o pessoal mais ligado à produçäo florestal continua o discurso cauteloso de que o material combustível acumulado é muito e tudo vai depender das condiçöes meteorológicas.
De novo só a explicitaçäo de um facto detectável facilmente por quem contacta com a protecçäo civil: os custos triplicaram em quatro anos, embora seja difícil perceber porquê (a justificaçäo dos meios aéreos até pode ser verdadeira, pelo menos em parte, mas näo deixa de ser irónica porque a decisäo de ter meios aéreos próprios tinha como objectivo diminuir os poderosos interesses dos alugadores que aviöes e helicópteros que distorciam o mercado e exploravam o Estado).
De velho, muito velho, continua a omissäo da responsabilidade da política agrícola na situaçäo, bem como a omissäo da responsabilidade de todos os intervenientes (Estado, celuloses, investigadores e outros produtores florestais) no bloqueio da discussäo séria e fundamentada sobre custos e benefícios do uso do pastoreio na gestäo de combustíveis.
Se houve margem para triplicar custos para financiar aviöes e helicópteros näo percebo por que razäo näo existiu margem para financiar a prestaçäo de serviços ambientais prestados pelo pastoreio.
Mas insisto e insisto nisto, porque este ano ou qualquer um dos seguintes sei muito bem que virá um ano de fogos terrível. É uma questäo de tempo face à evidente acumulaçäo de combustível.
Da última vez que isso aconteceu inventaram as ZIFs, os gabinetes técnicos florestais, as faixas de gestäo de combustível (näo se sabe onde e como), as centrais de biomassa, os aviöes e a preponderância absoluta da protecçäo civil neste assunto.
Espero que da próxima, mesmo que timidamente, alguém resolva usar a mais eficiente máquina de gestäo de combustível que temos.
Para já, como qualquer novo rico que gosta de mostrar o jacto privado e deixa a carrinha de carga em que realmente assenta a criaçäo da sua riqueza escondida na garagem, vamos mantendo nas traseiras a máquina eficiente só porque está velha e cheia das amolgadelas, enquanto discutimos aviöes e helicópteros.
Mas na próxima vez as soluçöes já näo podem ser outra vez as mesmas.E pode ser que alguém se lembre de perguntar se realmente näo será melhor começar a experimentar os cabras e umas ovelhas, fazer umas contas e decidir depois, em vez de partir do princípio que isso säo romantismos passados e moderno, moderno é ter aviöes, SIGs, detecçöes remotas, videos sobre banda larga e toda a parafrernália de coisas que se consideram hoje fundamentais para gerir o fogo.
Já agora, o pessoal antiquado e medieval dessa empresa caduca chamada Google decidiu usar rebanhos para gerir os mais de cem hectares dos espaços exteriores da sua sede. Dizem eles que uma empresa que olha para o futuro como a Google tem de perceber a sua responsabilidade para com a terra e a sociedade e diminuir a sua pegada de carbono, e pela avaliaçäo que fizeram substituir outros métodos de corte da vegetaçäo por gado miúdo era a mais eficiente maneira de obter o mesmo resultado com menor impacto ambiental.
Adenda: actualizaçäo sobre o uso de cabras pela Google. Pode ser que ao associar as cabras à Google eu consiga finalmente convencer alguém de que estou a falar do futuro, e näo do passado.
henrique pereira dos santos
3 comentários:
Apoiado!
Já agora deixo uns links adicionais sobre o assunto:
A notícia em causa do Jornal de Notícias:
"O caminho é ganhar dinheiro com a floresta"
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1605185
Uma das muitas empresas que surgiram nos EUA que fazem o serviço prestado á Google, sobretudo a empresas com preocupações ambientais:
"Alugue um Ruminante"
http://www.rentaruminant.com/
Uma iniciativa dos nossos vizinhos para usar gado PAGO para limpar bosques, neste caso burros:
"Burros limpiabosques"
http://www.lavanguardia.es/free/edicionimpresa/res/20100215/53892194050.html?urlback=http://www.lavanguardia.es/premium/edicionimpresa/20100215/53892194050.html
... e uma iniciativa semelhante com cabras como controlo de combustível na Catalunha, que faz passeios "Ser Pastor por um dia" como rendimento adicional (isto também existe em S.Pedro do Sul):
http://www.guardian.co.uk/world/2008/may/23/spain
Programa aqui:
http://www.pastoresx1dia.com/Procedimiento.htm
O único senão que vi foi algo mencionado como uma problema relativamente menor que era o facto das cabras serem selectivas e "atacarem" algumas espécies vegetais protegidas antes do restante mato. Mas com o fogo mais atacadas seriam...
Cumprimentos
Nuno Oliveira
Eu concordo com o Henrique, mas o problema é, para haver cabras tem que haver quem tome conta delas, porque se não são roubadas.
Nas minhas terras eu bem digo aos vizinhos que lhes ponham cabras, mas o facto é que tenho muitas dificuldades, porque não há quem tome conta das ditas. Na prática só tenho uma terra onde uns vizinhos que moram lá encostados põem uns três animais - quando estão em casa e olham por eles - mais outra terra onde as pessoas vão lá cortar erva para dar aos bichos.
Nas maiores propriedades que tenho sou obrigado a pôr tratores a cortar as silvas, porque ficam longe da povoação e ninguém vai lá pôr cabras (as quais comem perfeitamente silvas).
O problema, digo, é: (1) onde se vão arranjar pastores, se no nosso mundo rural já não se arranja ninguém para trabalhar, e (2) quem vai pagar aos pastores.
Luís Lavoura
o que fazer para combater e acabar a poluição existente provocado pelos efluentes mal tratados das ETARS de Olhão Poente e Faro nascente.
de referir que essas duas etar todos os anos são responsaveis pela morte de centenas de aves,que devia ser protegidasm ,mas que que morremtdos os anos nas lagoas envenenadas dessas etars?
Enviar um comentário