segunda-feira, setembro 20, 2010

Fogos e áreas protegidas II

Aqui há dias dei com um artigo de opinião da Sr.ª Deputada Rita Calvário sobre os fogos nas áreas protegidas e fiz um post sobre isso. A mesma posição da Sr.ª Deputada é aliás hoje usada por Mariana Oliveira no Público.
Mas o que verdadeiramente gostei na notícia foi disto (evidentemente esquecendo o lapso da troca de protegidas por ardidas):
"Para Joaquim Sande Silva, da Liga para a Protecção da Natureza, os fogos nas área ardidas "são o resultado de um divórcio entre o ICNB e a população que reside nessas zonas"."
O realce é meu, a notícia é de Mariana Oliveira e portanto há sempre a hipótese do Joaquim Sande Silva não ter dito exactamente isto.
Mas eu, mesmo sem ver nenhuma fundamentação na notícia, estou completamente rendido à ideia.
Agora vou dedicar-me finalmente a uma linha de investigação que penso que se revelará muito profícua:
"de quem se terão divorciado as populações no resto do território para arder da forma como arde?".
Joaquim, podes dar aqui uma ajuda?
É que se poupava muito dinheiro de nós todos contratando uma alcoviteira para resolver o assunto dos divórcios e acabar com esta cisma dos fogos.
Adenda: corrigido o erro ortográfico que felizmente o Luis Lavoura apontou
henrique pereira dos santos

3 comentários:

Joaquim Sande Silva disse...

Caro Henrique
Posso dar concerteza uma ajuda. Não vale a pena glosar o termo "Divórcio" já que se trata obviamente de uma figura de estilo, tal como qualquer pessoa minimamente inteligente e com uma formação média poderá perceber.
A frase talvez esteja demasiado determinista (não me lembro se foi exactamente isso que disse) já os fogos não são apenas o resultado dessa má relação do ICNB com as populações das áreas protegidas, mas não tenho grandes dúvidas que uma boa relação ajudaria sem dúvida a diminuir a área queimada. Talvez se o ICNB em vez de ter o dobro de técnicos superiores relativamente ao de vigilantes da natureza no seu quadro de pessoal, tivesse o contrário, as coisas se passassem de forma diferente...
Seja como for caro Henrique é uma vergonha chegarmos ao final da primeira década do século XXI e ver arder matas que duraram séculos como a do Cabril. Em Espanha existem programas de queimas controladas em cooperação com os pastores (ver a recente publicação do Fire Paradox em http://www.efi.int/files/attachments/publications/efi_rr24.pdf) ao passo que em Portugal o ICNB nem dinheiro tem para combustível.
Arde com certeza no resto do País, mas numa área protegida deveria arder muitissimo menos, por isso mesmo é que se chama "Protegida"!
Enquanto durar o divórcio de que falei, o ICNB não irá proteger coisa nenhuma, nem mesmo as relíquias da vegetação nativa que tinham conseguido resistir até aos dias de hoje. Simplesmente lamentável.

Luís Lavoura disse...

"cisma" com c.

Luís Lavoura disse...

"ver arder matas que duraram séculos como a do Cabril"

O facto de terem durado séculos não implica que não estejam, um dia, destinadas a arder. O fogo é parte da dinâmica natural da natureza.

"numa área protegida deveria arder muitissimo menos"

De forma nenhuma. A maior parte da área das nossas áreas protegidas é ocupada por terrenos vulgares, que podem e devem arder tão bem como os terrenos que ficam fora das APs. O Gerês ou a serra da Estrela são em larga medida ocupados por pinheirais de pinheiro bravo que não têm qualquer interesse conservacionista e que, naturalmente, ardem tão bem como os pinheirais que ficam fora dessas zonas. Ainda este ano vimos na televisão filmes dos incêndios no Gerês, e o que se via eram extensas encostas cobertas por densos pinheirais, os quais evidentemente ardiam como tochas, e eu pergunto, qual é o mal disso em termos de conservação? Nenhum mal. Também já estive uma vez no Parque Natural da Serra da Estrela, perto de Vide, e vi a mesma coisa, encostas abruptas todas cobertas de pinheiros bravos, e um homem de lá a dizer-me, "isto a qualquer momento arde tudo", pois claro que arde.

E, de qualquer forma digo eu, se não ardesse acabaria por ser tudo estragado pelo nemátodo do pinheiro. As florestas de pinheiro bravo têm (felizmente) os dias contados em Portugal.