Joaquim Sande Silva responde ao meu último post na caixa de comentários respectiva.
E acho que levanta algumas questões mais que suficientes para que eu tenha optado por um novo post, mais extenso, em vez de também responder num comentário mais ou menos curto.
Primeiro Joaquim Sande Silva assume uma convicção nunca demonstrada: a "má relação do ICNB com as populações das áreas protegidas".
Esta ideia não só nunca foi demonstrada (existe, que eu saiba, um doutoramento em alemão sobre as populações do Sudoeste Alentejano que tem o título "Enforquem os verdes". Nunca a li (não sei alemão) mas conversei com o autor no fim do ano passado e, tanto quanto percebi, área protegida, verdes, ONGs etc., é uma amálgama contra a qual existe um sentimento de oposição).
Nunca ouvi falar de questões de maior entre as áreas protegidas e as populações em muitas áres protegidas. Ouvi muitas vezes umas pessoas que dizem representar as populações defender interesses específicos de forma muito audível (as pedreiras no PNSAC, o turismo de massas no Gerês, os proprietários de barcos na Arrábida, os pescadores não profissionais no sudoeste, coisas deste tipo) mas alguma demonstração de divórcio, oposição e etc., desconheço.
Insisto, nunca vi ninguém propôr a desclassificação de uma área protegida, com excepção da mais que justa pretensão do dono do açude da Agolada (até o centro histórico de Coruche, área protegida nos termos da legislação que criou parques e reservas, só o deixou de ser agora, com o novo regime jurídico, por ter passado o prazo para a reclassificação sem que tal tenha acontecido, aliás como uma série de outros sítios classificados que ninguém parece saber que deixaram de o ser).
Ainda assim, assume-se esta ideia como um facto.
Depois Joaquim Sande Silva assume que melhorar essa relação diminui a área ardida. Por que razão assume esta posição é para mim um mistério já que quer nas áreas com vozes que gritam muito para espalhar esta ideia de mau tratamento das populações locais, quer nas áreas protegidas onde há consensualmente relações cordiais mais ou menos com toda a gente, arde nas mesmas circunstâncias.
Depois Joaquim Sande Silva repisa um argumento que já tinha usado na notícia de Mariana Oliveira sobre o fogo em áreas protegidas: "Talvez se o ICNB em vez de ter o dobro de técnicos superiores relativamente ao de vigilantes da natureza no seu quadro de pessoal, tivesse o contrário, as coisas se passassem de forma diferente...". Não vou descer ao nível deste tipo de argumentação perguntando quantos técnicos e quantos vigilantes tem a LPN para gerir os seus terrenos (ou a QUERCUS, que apesar de muito crítica sobre a gestão de áres protegidas durante anos prescindiu de gerir de facto as suas propriedades entregando-as à exploração de um sócio em condições que nunca percebi, e que ainda hoje está longe de ter criado uma área de getão exemplar, apesar das condições favoráveis como o controlo da propriedade e a disponibilidade de recursos da associação). O que faço notar é que sendo as fragilidades técnicas do ICNB mais que reconhecidas, Joaquim Sande Silva ache que o problema é a relação técnicos e vigilantes e não simplesmente a insuficiência de vigilantes, sendo muito claro na notícia de Mariana Oliveira, incluindo na ideia totalmente errada de que ser técnico é estar longe do terreno (eu já levantei mais autos que a grande maioria dos vigilantes de áreas protegidas, mesmo que há muitos anos não tenha funções semelhantes às que já tive): ""há muito gente para planear e estudar e pouca no terreno".". E sendo uma pessoa que acompanha de perto a gestão das áreas protegidas (ao ponto de não ter dúvidas que a área ardida é uma consequência da sua gestão, não se perturbando com as dinâmicas sociais e económicas que existem em todo o território nacional, nem com o facto de yellowstone ter ardido em 80% só num ano) esquece-se de explicar que o modelo de vigilância das áreas protegidas seguido em Portugal tem um importante pilar no SEPNA da GNR, pelo que a análise do problema apenas com base no número de vigilantes está evidentemente distorcida.
Também curiosamente fala dos programas de queima com pastores em Espanha, ignorando que em Portugal também existem programas desses (talvez menos extensos, talvez menos estruturados, sim, com certeza, mas não vale a pena é usar a ignorância sobre o que se passa como argumento).
Que a gestão das áreas protegidas é má, não tenho a menor dúvida.
Mas também não tenho a menor dúvida de que este discurso irrealista e sem relação nenhuma com o que se passa no terreno, feito por gente nunca geriu nem avaliou seriamente a gestão de nenhuma área protegida com base em dados objectivos, mas com imenso crédito em alguns jornalistas, é um dos factores que contribuem para a má gestão das áreas protegidas.
Toda esta discussão e a peça jornalística que lhe está associada são um exemplo perfeito.
Do que se passou este ano, há uma situação preocupante: arder parte da mata do Cabril.
Não será tão preocupante como dizem, não será tão pouco preocupante como eu acho, mas a verdade é que situações como as da mata do Cabril são situações onde deveria haver um esforço sério de supressão do fogo.
Pois bem, uma das principais razões pelas quais isso não é feito é porque existe uma forte pressão pública que decorre de ideias feitas (e profundamente erradas) com as que Joaquim Sande Silva aqui expressa: "Arde com certeza no resto do País, mas numa área protegida deveria arder muitissimo menos, por isso mesmo é que se chama "Protegida"!".
Ora esta ideia, tratando toda a área protegida por igual e assumindo que o fogo é sempre mau, é uma ideia que impede o verdadeiro zonamento das áreas protegidas em função de objectivos de conservação e gestão do fogo.
Que toda a encosta de Vilarinho arda e mais um bom pedaço da serra Amarela no Parque Nacional não tem importância nenhuma (ou quase nenhuma, para ser mais exacto), pelo que quer os recursos de prevenção, quer os do combate deveriam ter desde o primeiro momento como objectivo principal evitar que a mata do Cabril (ou a de Albergaria e se quiserem mais dois ou três bocados de carvalhais mais evoluídos que vai havendo) ardessem, concentrando-se nesse objectivo.
Mas com ideias erradas sobre o papel do fogo na gestão de áreas com interesse para a conservação, o que faz Joaquim Sande Silva e muitos outros é contribuir, com um discurso pelo qual nunca são responsabilizados, para a errada afectação dos meios existentes.
Que os meios deveriam ser outros, estou de acordo. Mas que este discurso contribui para a errada afectação dos meios que existem é para mim inquestionável.
Lamentável não é que arda parte da mata do Cabril (que recuperará, de qualquer maneira, embora fosse melhor ter evitado que ardesse), lamentável é que se continue com a conversa, sem qualquer base científica, de que os fogos são um grande problema de gestão das áreas protegidas, canalizando para esse não problema cada vez mais recursos retirados da gestão de verdadeiros problemas de conservação.
henrique pereira dos santos
24 comentários:
Hoje estou receptivo ao temo do fogo em áreas protegidas, já que assisti a uma apresentação bastante esclarecedora sobre os fogos de Yellowstone e o seu extremamente positivo impacto na biodiversidade e produtividade daquele ecossistema.
A percepção sobre a gravidade do fogo nos ecossistemas "naturais" do Mediterrâneo está bastante distorcida (ver http://www.publish.csiro.au/paper/WF07151.htm). Na verdade o fogo constitui uma ameaça apenas para aqueles que estão a enfrentar mudanças no regime de fogo relacionadas com a alteração climática, como as coníferas de montanha. É o caso do Pinus sylvestris do Gerez, uma relíquia que terá sofrido com os fogos deste ano. Mas não é certamente o caso dos carvalhais do Geres, que a seu tempo se recomporão, provavelmente bastante rapidamente. Dito isto é lamentável que os poucos esforços de gestão de combustíveis que se fazem não se concentrem na protecção de relíquias como o Cabril e de outras áreas importantes onde o carvalhal caminhe para a maturidade.
A zonagem das áreas protegidas em relação ao fogo ("Fire management zones" nos EUA) já tem cerca de 40 anos na América do Norte e Austrália, reconhecendo diferentes requisitos de protecção e/ou de necessidade de uso do fogo dentro de uma área protegida. Ainda vamos a tempo de adoptar esta novidade.
Paulo Fernandes
"os carvalhais do Geres, que a seu tempo se recomporão, provavelmente bastante rapidamente"
Foi salvo erro em 2005 que houve um enorme incêndio que queimou maciçamente sobreiros na serra algarvia. Gostava de saber como estão esses sobreiros agora. Segundo já li algures, voltaram a rebentar e estão em franca recuperação.
"A zonagem das áreas protegidas em relação ao fogo"
Em relação ao fogo, e não só. Como escrevi num comentário ao post anterior, a questão é que grande parte da área das nossas Áreas Protegidas não tem, de facto, nada a proteger em termos de valores florísticos. Grande parte das serras da Estrela ou do Gerês estão cobertos de pinheirais que não têm qualquer valor conservacionista (têm quando muito valor paisagístico, para urbanitas que se ofuscam com qualquer coisa que seja verde, que não é o meu caso). Se esses pinheirais arderem nenhum mal daí advem à conservação da natureza.
Sim, mas nem só de flora se compoe o valor da Mata de Cabril, apesar das recuperações mencionadas a nivel da flora, os ultimos relatos de quem foi recentemente ao vale do Ramiscal apontam para uma efectiva recuperação floristica mas um deserto em termos de fauna... o rio aparenta estar "morto".
Luis Lavoura,
Sobre os sobreiros das serras algarvias afectados pelos fogos de 2003 e 2005, a situação é muito diversa.
A reacção do sobreiro ao fogo é muito condicionada pelo estado da cortiça e pela quantidade de combustivel no sob coberto. Arvores com a cortiça recem tirada e mato aos molhos na camada arbustiva raramente têm hipotese.Sobreiros em montados limpos reagem bem a um fogo de copas, mesmo os decortiçados na campanha.
Por estas razões encontra de tudo um pouco mo terreno: desde mortalidades proximas dos 100% até recuperações quase integrais.
O fogo é um inimigo anónimo diabolizado, que provoca emoções muito fortes e caracterizadas por elevados níveis de irracionalidade, tanto de quem combate, de quem é atingido, mas sobretudo de quem assiste a distância, através da comunicação social.
Essa comunicação social, sempre sedente de assuntos que provocam emoções fortes, desde criancinhas raptadas, violadores suburbanos, treinadores de futebol etc., vê nos fogos mais um tópico para captar grandes audiências e não poupa nos esforços de reforçar essa diabolização do fogo.
Estando criado esse ambiente, importa encontrar alguém culpado. E aí cada um puxa a brasa à sua sardinha. Desde os incendiários profissionais a soldo dos madeireiros, os especuladores imobiliários, as empresas de celulose, as representantes da indústria de combate a incêndios, todos servem de culpados para o flagelo dos incêndios. E claro, quando toca a arder nas áreas protegidas (curiosamente, as áreas classificadas mas não protegidas raramente entram nessa discussão), aponta-se alegremente o dedo ao ICNB.
Nos tempos medievais a solução era mais simples: havia judeus e bruxas e a coisa era resolvida na fogeira. Tendo a sociedade evoluído, é preciso ter um pouco mais de sofisticação. Mas não passa de uma caça às bruxas.
Henk Feith
Duk,
O que é um rio aparentemente morto? E como era o rio antes do fogo? É que os rios de montanha de maneira geral são biologicamente pouco produtivos, com excepção daqueles em que por qualquer razão existe um forte input de matéria orgânica.
Não vejo como o fogo possa ter alterado a situação de maior produtividade para menor produtividade, visto que uma das suas consequências possíveis (e seria preciso verificar se aconteceu) é o aumento de entrada de matéria orgânica e de luz.
henrique pereira dos santos
Um rio aparentemente morto é um rio que antes do incêndio tinha uma quantidade consideravel de trutas por exemplo. Não as havendo, haverá concerteza uma quebra na cadeia alimentar. Não têm sido avistados, como eram antes do incêndio de 2006, lontras, aves de rapina, etc.
A nivel da flora, segundo o que sei, já não é perceptivel sequer que houve um incêndio exceptuando algumas rochas ainda chamuscadas.
Duk,
Lá estamos nós no discurso do diz que disse.
O retrato que faz não me parece consistente.
Não acredito que não haja trutas por causa de um fogo ocorrido há vários anos (teríamos de ver a melhor maneira de esclarecer a dúvida avaliando seriamente a questão, não chega a informação que é dada por pessoas que de maneira geral não são neutras na discussão e, sobretudo, desconhecem a armadilha da memória), não é crível que a lontra (que é um animal difícil de observar, mas que vai deixando excrementos aqui e ali) desapareça, e muito menos ainda é crível que deixem de se observar rapinas, porque estas são das principais beneficiárias dos fogos (que favorecem as espécies de clareira e melhoram as suas condições de caça). E menos ainda é crível que tendo o sistema recuperado, não recuperem as populações que dele dependem.
Repare que o que diz era o que as pessoas diziam sobre a vegetação até ser demonstrado de forma clara que não era verdade a afectação da mata nos termos descritos.
Ou seja, o que diz não parece muito consistente, mas sobretudo não revela uma avaliação minimamente rigorosa da situação.
Mas pode ter razão. Eu só gostava era de perceber a origem e natureza da informação que tem.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique, a informação efectivamente não é minha e como deve saber o acesso à Mata de Cabril é proibido. Mas há quem, essencialmente por gosto, lá vá regularmente, antes e depois do incêndio. O vale do Ramiscal é de dificil progressão e quem lá vai, fa-lo essencialmente para observação e não para "caminhar" o que propicia mais a observação da fauna de uma forma geral. O relato de no rio já não se avistar uma truta desde 2006, posso-lhe garantir que é fiavel. Agora se as rapinas beneficiam com o fogo e deveria, se calhar até, ser observadas mais facilmente não lhe sei explicar.
Caro HPS,
A questão e o exemplo do Ramiscal é pertinente. De facto, e tal como o Sr. Duk escreveu, também eu por muitas vezes ouvi referências ao facto de o rio ter perdido as trutas após o incêndio. Existe uma relação entre isso? A mim parece-me óbvio. Pede-me dados objectivos? Não os tenho! O que tenho são as observações das pessoas que visitavam o Ramiscal antes do incêndio e que continuam a visitar o Ramiscal após o incêndio.
A última vez que tive no Ramiscal não vi uma única truta, uma única rapina, uma única lontra... Posso ter tiso azar, é certo.
Nem tudo me parece evidente ou factual só porque existe um estudo sobre determinada questão. Por vezes as evidências são tão óbvias que só passam despercebidas a quem as quer deliberadamente ignorar. Um exemplo? Voltamos aos fogos no Gerês. Quem esteve presente na discussão da Proposta do Plano de Ordenamento do PNPG em Dezembro de 2009 nas Caldas do Gerês, teve a oportunidade de escutar a verdadeira «promessa» que lá foi feita durante e no final do encontro. Os fogos eram mais do que previsíveis com ou sem vagas de calor. Com ou sem ventos de Leste. Infelizmente não se preveniu e agora temos uma serra de negro que certamente se renovará, mas que dói ver assim.
Uma outra questão que se coloca é porque outras áreas protegidas no Norte e Centro do país não tiveram fogos tão intensos como os que foram registados no PNPG e no PNSE? Suponho que as condições meteorológicas seriam as mesmas, mas isso não aconteceu?
Para terminar uma questão que acho pertinente, mas deixa-me referir que a minha área de formação está nos antípodas destas questões. Vamos olhar para as áreas ardidas no PNPG. Não deixa de ser curioso que a área ardida funciona quase como um postal de boas-vindas a quem chega ao Gerês, no entanto a área mais importante em termos de conservação na Serra do Gerês ficou incólome (a Mata do Cabril foi um acidente e um mau planeamento no combate ao fogo). É um pormenor curioso...
Cordiais cumprimentos,
Duk,
O rio não se desenvolve todo no Ramiscal, tem um antes e um depois, por isso o argumento de que não se pode lá ir não colhe.
Vou-lhe contar uma história.
Quando andei a fazer a discussão pública para a criação do parque do Douro Internacional (e o mesmo noutras circunstâncias) havia pessoas que me garantiam a pés juntos que tinham visto (algumas) ou uma pessoa de inteira confiança lhes tinha dito (a maioria) carrinhas do ICNB (ou apenas carrinhas) em sítios concretos, a horas concretas, em dias concretos a largar bichos (especialmente lobos, mas havia outras indicações, como cobras e ratos) na área do parque do Douro Internacional. Ora o ICNB nunca largou um único lobo e a informação era efectivamente falsa, o que não impedia pessoas sensatas, cordatas e genuinamente convencidas de propagar esse boato com toda a convicção.
Quer apostar comigo um almoço que se eu convencer alguém a fazer uma sessão de pesca eléctrica (e o ICNB lhe der autorização) se vai verificar que o rio não está morto?
Rui Barbosa,
Quem lhe disse que as condições eram as mesmas. As áres protegidas que arderam estão na linha oblíqua do Minho à Serra da Estrela (incluindo em parte o Alvão) em que o país ardeu este ano. Provavelmente porque as condições não eram as mesmas que nos outros sítios.
Quanto ao resto do seu comentário tenho dificuldade em percebê-lo. Não sei de que promessa fala, não sei o que considera das áreas mais importantes do Gerês (eu tenho poucs dúvidas de que a encosta de Vilarinho é ds áreas mais importantes para a conservação no parque) e etc.
Portanto, como digo, tenho dificuldade em perceber onde quer chegar com o comentário.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique,
Compreendo o que diz, mas neste caso só lhe posso recomendar uma visita.
Relativamente ao rio ter um antes e um depois, é obvio, mas quando me refiro ao rio, queira pf subentender que me refiro a zona Ramiscal ZPT e não ao antes nem ao depois.
Duk,
Está a dizer-me que o rio tem trutasantes, tem trutas depois e não tem trutas no meio?
henrique pereira dos santos
Caro HPS,
Não me refiro à encosta de Vilarinho até porque essa está fora dos limites do Parque Nacional (apesar de ser importante para o PNPG por ser uma zona de fronteira com o mesmo).
Será que o Henrique me pode mostrar as diferenças entre a linha oblíqua de fogos e a região de Trás-os-Montes (nomeadamente do Parque Natural de Montesinho?). Por outro lado, podemos questionar as diferenças mais a nível regional; por exemplo porque quase não ocorreram fogos na área de Castro Laboreiro?
Claro que não, estou-lhe a dizer que me refiro ao "meio", antes e depois não faço ideia. O que lhe digo, e apesar de perceber bem o que o Henrique diz, é que apesar de toda a teoria mencionada o vale do Ramiscal (ZPT) é neste momento muito menos rico em fauna do que era antes do incêndio.
Compreenda Henrique, que a minha questão ao comentar nest post, foi tentar perceber qual o grau de recuperação e respectivo espaço temporal que cada area demora (fauna e flora). Se a flora recupera rapido, salvo algumas excepções, que tempo demorará a fauna?
Rui Barbosa,
Sendo então mais preciso, a encosta Sudeste da Serra Amarela que vai mudando de nome ao longo do espaço, como todos os territórios, e que começa sobranceira à que foi a aldeia de Vilarinho da Furna e segue até à fronteira, sendo nessa zona mais conhecida por encosta de Palheiros.
Não, não lhe sei mostrar as diferenças de condições, sei apenas que as condições meteorológicas locais são determinantes na ocorrência de fogos e na definição das suas características. Logo, não havendo outras diferenças de maior entre a encosta que referi e o Planalto de Castro Laboreiro, no que diz respeito aos fogos, o mais natural é que pequenas diferenças meteorológicas locais tenham feito com que o limite das áreas que arderam englobasse a encosta da serra amarela e não Castro Laboreiro.
Repare, quem disse que as condições eram as mesmas foi o Rui, e por isso lhe devolvo a pergunta: tem alguma razão para dizer que eram as mesmas?
Se tem, o que é que na sua opinião explica a diferença do comportamento do fogo?
henrique pereira dos santos
Duk,
Está a dar como adquirido que hoje o rio está mais pobre, o que eu não subscrevo, não porque ache o contrário mas porque não sei e me parece pouco provável que assim seja.
A recuperação da fauna é, de maneira geral, função do tipo de fogo e da sua extenção.
No caso do parque nacional de yellowstone (onde foram feitas afirmações exactamente iguais às suas a propósito dos rios) verificou-se uma recuperação em muito poucos anos, apesar da extensão dos fogos num só ano (80% do parque), que está muito, muito longe da dimensão do fogo do ramiscal (havendo por isso abundante capacidade de recolonização de novas áreas).
Repito, não estou a dizer que é impossível que a fauna piscícola tenha sido afectada, estou apenas a dizer que me parece pouco provável e que seria neceesária informação mais consistente, porque em situaões do mesmo tipo não se verificam os efeitos descritos por si.
Mas sim, é verdade que pode haver razões concretas locais que dêem origem a uma situação inesperada.
henrique pereira dos santos
Henrique,
Como lhe referi, esta é uma área que se encontra fora da minha formação. No entanto o que lhe referi foi baseado naquilo que todos nós observamos naquela altura em todo o país, isto é uma onda de calor que percorreu o país. Foi com base nesta informação que me baseei para escrever o que escrevi. Não me peça dados científicos, pois não os tenho (como deve compreender a tal linha oblíqua de fogos que o Henrique referiu, paça completamente despercebida à grande maioria de todos nós).
Não tento explicar o comportamento do fogo, não tenho formação para tal. Interessa-me mais saber a sua origem e isso é algo que parece ser tabu na discussão dos fogos que ocorreram no Gerês.
extensão, claro
O Henrique acha possivel que à data actual não haja um acompanhamento tecnico sobre a evolução no Ramiscal?
É que não havendo, é caso para dizer que se está a desaproveitar a oportunidade de perceber o fenomeno e de aprender a lidar melhor com o facto. Já que fala de Yellowstone, permita-me que lhe pergunte se o metodo de gestão é igual (wilderness)? E será este conceito o melhor pós incêndios? Será aceitavel uma "mãozinha" no ordenamento?
Rui,
A questão central a que é preciso dar resposta é: "porque razão o fogo não para?" e não "de que forma começou o fogo?". É que fogos, ignições há todos os dias e para todos os gostos (hoje já vai em 33 e ontem foram 93 registados pelo sistema de defesa contra incêndios, imagine por isso quantas mais pequeninas ignições estão a acontecer agora e não chegam sequer ao tamanho que implica o seu registo no sistema) mas dias em que não se consegue apagar o fogo são uma dúzia no ano.
Duk,
O Parque monitorizou o essencial: o estado geral da mata e a afectação dos azevinhos, mas não monitorizou trutas (parece-me uma afectação de recursos razoável, não há nenhuma razão para supôr que o rio se comporta de forma diferente do que está descrito na literatura sobre o assunto). Monitorizou pelo menos enquanto lá esteve o Henrique Miguel Pereira, que com este director não sei o que se passa, mas percebo que quem pela primeira vez ouve falar de áreas protegidas no dia em que é nomeado director de um departamento de áreas protegidas demore tempo a perceber o que anda a fazer e qual é a sua missão. Já agora, fala-se muito na reestruturação do ICNB a propósito dos fogos (coisa que não tem pés nem cabeça), esquecendo-se as pessoas de dizer que não há estruturação que resista aos hábitos portugueses de nomeação dos amigos para cargos para os quais não têm a mínima preparação.
Quanto ao pós fogo: o Paulo Fernandes mandou-me uma vez uma avaliação feita pelos serviços florestais americanos sobre o efeito das medidas de emergência após fogos. Principal conclusão: numa pequena parte dos casos os resultados eram positivos, numa pequena parte dos casos as medidas tomadas tinham provocado ainda mais problemas que os que decorriam do fogo e na grande maioria dos casos eram irrelevantes, ou seja, era dinheiro deitado fora.
henrique pereira dos santos
Assumo então que mais vale deixar a natureza fazer o seu "trabalho"!
Relativamente ao que diz referente à actual estado do PNPG, é de facil percepção ao mais comum dos mortais que o conceito wilderness também se alargou à direcção...
Obrigado pelos seus esclarecimentos!
Que chatice, eu com tanta coisa para fazer e tinha logo que dar com este comentário recheado de dislates travestidos de sapiência a um comentário meu, feito há vários meses. Estou-me a referir obviamente
ao post de 21-9-2010 da autoria do sempre ripostante, Henrique Pereira dos Santos (HPS). Tamanha presunção e arrogância essa de tentar demonstrar de forma "científca" que não há provas de uma má relação entre o ICNB e as populações. Um pouco de humildade não lhe faria mal caro HPS. Enfim, não vou perder tempo a comentar os restantes disparates, de alguém que tem a presunção de ter uma postura científica para os problemas dos fogos sem ter publicado qualquer trabalho conhecido com base científica nessa área (ou noutra que eu saiba). Alguém me dizia há tempos: "não ligues porque o que ele quer é que lhe respondam porque é esse o hobbie dele", "alimenta-se da polémica". Infelizmente não segui a recomendação e acabei por tropeçar num post da autoria de HPS, sem querer, mas vou tentar não repetir; prometo.
Joaquim,
Eu sou uma merda arrogante, ignorante e sem nenhum trabalho válido feito em lado nenhum e sem qualquer qualificação científica.
Estamos de acordo.
Resolvidas as suas questões pessoais comigo, quer apresentar argumentos e explicar quais são os dislates e por que razão são dislates (como eu fiz em relação aos seus comentários) ou o seu objectivo era mesmo só aliviar-se de frustrações insultando a primeira pessoa que lhe apareceu à frente no momento?
henrique pereira dos santos
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