quinta-feira, dezembro 16, 2010

"Global boom in resource spending"

O título deste post é a manchete do Financial Times de ontem.
Hoje o Público resolve publicar duas páginas sobre o preço da electricidade em Portugal, essencialmente batendo nos aumentos propostos pela ERSE e na tecla dos custos de interesse geral.
Estranhamente para mim, não aparece uma linha sobre o déficit tarifário, as suas origens e as suas consequências.
O mais interessante do artigo (confuso e em alguns aspectos bastante ínvio) é para mim o boneco com que ilustro este post. Se se reparar bem não há nenhuma relação directa entre o preço da electricidade e o desempenho económico de um país.
Não só a electricidade é uma pequena parte da factura energética, como é ainda uma parte menor dos custos de produção da enorme maioria das empresas.
Como ainda, o custo elevado de um factor de produção tende a produzir mais eficiência no seu uso, pelo que a incorporação global do custo energético por unidade de valor do produto tende a ser menor nos países onde o custo desse factor de produção é mais elevado.
Há no artigo do Público um comentário da ERSE as estes aumentos que de certa forma ilustra o que estou a dizer: a ERSE estima que os aumentos de agora possam pesar cerca de um euro e meio, em média, na factura eléctrica de cada família. Mas, em média, cada família pode diminuir a sua factura eléctrica em seis euros se usar mecanismos disponíveis, como as tarifas bi-horárias. Acrescento eu: não o faz porque não quer e não quer porque a factura eléctrica pesa pouco no seu orçamento familiar.
O que me traz à verdadeira questão ambiental em Portugal, no que diz respeito à energia: é bom lutar por preços transparentes e justos, claro, mas o fundamental é lutar por preços altos da energia (já agora, eléctrica ou não).
O movimento ambiental não deve ter medo de dizer alto e bom som que os preços elevados da energia (dentro de limites, mas podemos usar como padrão, o preço da Alemanha ou da Dinamarca), num país francamente ineficiente no uso da energia, é não só um poderoso instrumento de sustentabilidade ambiental, como de eficiência económica.
É aqui que entra o título deste post.
Quem ler o artigo do Financial Times que tem o título deste post não pode deixar de se espantar por andar tante gente em Portugal a fazer campanha contra aumentos de preços na energia exactamente quando as comodities (energia, açucar, trigo, minerais, incluindo petróleo) estão sob forte pressão de subida dos preços pelo aumento do consumo dos países emergentes e porque anos a fio de baixo investimento conduziram a um desfasamento entre procura e oferta.
Sendo expectável que o aumento de investimento nestes sectores, que motiva o artigo do Financial Times, tenderá a ajustar a oferta à procura, estabilizando e baixando os preços a médio prazo, a verdade é que é bom que nos habituemos a exigir eficiência na criação de riqueza em vez de exigir dos governos preços artificialmente baixos nos factores de produção.
Claro que é uma questão de economia, mas como se diz frequentemente no discurso ambientalista (mas incomparavelmente menos na sua prática) as questões ambientais são essencialmente questões de economia (ou é vice-versa, o discurso ambiental?).
henrique pereira dos santos

6 comentários:

Luís Lavoura disse...

Eu gostaria de saber como é que uma família pode poupar com tarifas bi-horárias, quando com essas tarifas o tarifário mais baixo apenas se aplica a partir da meia-noite. Será que as pessoas ficam acordadas até essa hora para só então porem as máquinas de lavar a funcionar?

Se as tarifas bi-horárias se aplicassem a partir das 22 horas ainda dava, agora à meia-noite... quem está acordado até essa hora?

Nuno disse...

Somo o meu apoio à subida de preços da energia, uma vez que o consumo doméstico de gasolina, gás e electricidade quase que duplicou desde 1995 (era assim tão diferente o estilo de vida?) enquanto que a nossa intensidade energética tem vindo a subir progressivamente para se tornar a mais alta da UE15 (já foi inferior há 10 anos).

Porém os aumentos devem ser acompanhados obrigatoriamente de uma campanha tipo "salvação nacional" da Eficiência Energética, abrangendo apoios, desburocratização e informação relativa a substituição/reparação de equipamentos, promoção de transportes públicos, reabilitação de edifícios (com ETICs, AQS mais ambocioso,entre outros), comportamentos de poupança, etc.
O primeiro alvo do programa é dar o exemplo através da função pública, nomeadamente nas suas infraestruturas- só a iluminação pública do país gasta mais energia do que a agricultura no seu todo!

O mais bizarro é que para a média das famílias portuguesas os gastos com transportes e energia doméstica já chegam a 25% (para 15% na UE15) mas mesmo assim o desperdício continua a aumentar.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Luís,
A tua informação é incompleta. Há duas opções de tarifa bi-horária. A que referes, e que no Inverno vai da meia-noite às sete da manhã nos dias de semana, é a do ciclo semanal, que implica quase todo o sábado em vazio (excepção das dez da manhã à uma da tarde e das seis e meia da tarde às dez da noite) e as 24 horas de Domingo em vazio.
Mas podes optar por outra tarifa bi-horária, de ciclo diário, que no Inverno é das dez da noite às oito da manhã, todos os dias da semana.
O que a mim me faz confusão é por que razão os clientes das tarifas bi-horárias têm de pagar a potência contratada mais cara.
henrique pereira dos santos

EcoTretas disse...

HPS,

A informação que deste sobre o custo de potência já está bastante desactualizado. Dantes era assim, mas já não é, conforme podes constatar aqui: http://www.edpsu.pt/pt/particulares/tarifasehorarios/BTN/Pages/TarifasBTNentre2.3e20.7kVA.aspx
E há ainda o tri-horário, mas que dificilmente compensa...

Já agora, e porque o Ecotretas é um ecologista e astuto poupador de watts, deixo aqui o que são garantidamente, para mim, as melhores formas de poupar na conta eléctrica:

1º-Mais importante do que pensar no bi-horário e no consumo, é reduzir a potência contratada. Eu reduzi há uns anos de 10.35 kVAs para 5.75, e há um/dois anos para 3.45 kVAs. Requer uma ginástica muito interessante, mas são quase menos 10 euros/mês!
2º-Investir num wattímetro. O ROI é garantido e praticamente imediato.
3-Depois, investir em extensões com interruptor, especialmente se tiverem uma box de televisão.
4º-No bi-horário, apostar no ciclo semanal; sempre tem quase mais 10% de horas de vazio...

Ecotretas

Henrique Pereira dos Santos disse...

Tretas,
Obrigado pela informação, mas a informação que dei decorre disto, que está exactamente no mesmo site:
"Clientes EDP Serviço Universal - Tarifa Regulada:
O cliente da EDP Serviço Universal poderá escolher entre dois ciclos:
> O ciclo semanal , com 76 horas de vazio por semana, em que de Segunda a Sexta-feira, existem 7 horas de vazio por dia, enquanto que aos Sábados esse valor é de 17 horas e aos Domingos corresponde a 24 horas. Este ciclo semanal favorecerá, em princípio, quem utiliza, com maior intensidade electricidade aos fins-de-semana.
> O ciclo diário , com 70 horas, em que não se faz distinção entre dias de semana ou fim-de-semana, existindo sempre 10 horas de vazio por dia. Este ciclo destina-se a pessoas que têm um consumo de electricidade mais homogéneo ao longo da semana.
Apesar do encargo de potência ser, para a mesma potência contratada, ligeiramente superior ao encargo de potência da tarifa simples, os ganhos conseguidos em termos do custo dos consumos de energia, inferiores em cerca de 45%, nas horas de vazio, permitem normalmente uma poupança significativa.
A adesão a esta tarifa é gratuita e pode ser efectuada preenchendo o formulário de adesão."
henrique pereira dos santos

EcoTretas disse...

HPS,

Eheheheh

Nunca ouviste falar em sites desactualizados?
Olhas com atenção para a factura eléctrica lá de casa?
Vê lá também este link, que tem tudo num único documento PDF: http://www.edpsu.pt/pt/particulares/tarifasehorarios/BTN/brochura/Tarif%C3%A1rio%202010%20-%20de%202,3%20a%2020,7kVa.pdf

LOL,

Ecotretas