Há algum tempo que não ia ver quem eram os observadores com mais espécies observadas no biodiversity4all.
Hoje fiquei surpreendido ao verificar que embora Francisco Barros continue a ser o observador com mais espécies observadas, havia, muito próximo, um segundo observador de que nunca me tinha apercebido: Rutger Barendse.
Curioso fui verificar que observações eram essas.
São cerca de três dias no Algarve, a meio de Março de 1999, e cerca de quinze dias na Madeira na segunda quinzena de Abril e princípio de Maio, onde são feitas a grande maioria das quase mil observações registadas por Rutger Barendse e com certeza nas últimas semanas vertidas para a base de dados holandesa a que está associado o Biodiversity4all.
Curiosamente dois factos completamente independentes chamaram-me a atenção para a produção de conhecimento em biodiversidade feito por estrangeiros em Portugal e que com frequência passam mais despercebidos do que eventualmente deveriam (vou tendo idade suficiente, e contactos transversais suficientes, para ir conhecendo o meio da conservação, embora não profundamente, e alguns destes nomes parecerem-me pouco frequentes nas discussões sobre fontes de informação de biodiversidade em Portugal).
O primeiro facto, no sábado dia 11, nas jornadas da ATN, em Figueira de Castelo Rodrigo. Uma das apresentações, sobre flora, com dezenas de observações de Horst Engels, da associação trilhos d'esplendor (curiosa associação cujos membros da direcção, da assembleia geral e do conselho fiscal são os mesmos, pelo que Horst Engels é simultaneamente o presidente da direcção, da assembleia geral e do conselho fiscal) cujo trabalho eu desconhecia por completo e sobre o qual não tenho a menor informação de solidez ou não. Mas o facto é que existe trabalho, não apenas de dois meses na Faia Brava, o que linkei acima, mas de muito mais tempo na zona de Quiaios (as observações não estão no biodiversity4all).
O segundo facto já este fim de semana: o acesso a mais um artigo de George Estabrook, para cujo trabalho Carlos Aguiar me chamou a atenção, e como os artigos que eu já conhecia, muito, muito interessante. George Estabrook está a preparar a publicação dos seus oito trabalhos sobre agricultura tradicional e vida rural portuguesa para a Arizona University Press e espero que o livro não demore muito a ser publicado. Curiosamente nos agradecimentos deste artigo, Estabrook agradece o apoio de Horst Engles (a grafia não é a mesma, mas suponho que seja a mesma pessoa).
Claro que tal como os portugueses haverá nestas observações, mais ou menos em férias, e nestes trabalhos, uns mais, outros menos estruturadamente científicos, coisas boas e coisas más, gente que presta e gente que não presta e por aí fora.
Mas o que eu queria era dizer que de repente, de dois pequenos períodos de férias de um holandês curioso e com cultura de registo de observações, saltam quase mil observações, a grande maioria para a Madeira. E que sem as plataformas sociais que hoje conhecemos seriam provalvemente observações que nunca veriam a luz do dia em Portugal.
Nada de relevante está nessas observações?
Talvez, mas quantas mais, de gente que por aí passa, em férias ou não, poderiam estar a ser integradas, nenhuma delas particularmente relevante, mas que no conjunto nos permitiriam conhecer melhor a nossa biodiversidade?
Espero que aos poucos, a resistência de académicos e especialistas a estes modelos caóticos de registo da informação, organizados em bases não caóticas, vá esmorecendo e seja dada a devida importância, nem mais (são sempre, e só, dados ad hoc), nem menos (muitos dados ad hoc formam padrões estatísticos provavelmente fiáveis), a este tipo de procedimentos novos (em Portugal) de produzir ciência em domínios para os quais a quantidade de informação é uma condição (não suficiente, é certo) da sua qualidade.
henrique pereira dos santos
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