quarta-feira, dezembro 15, 2010
Utilização dos dinheiros públicos
Um dos problemas maiores da utilização dos dinheiros públicos em Portugal é a falta de responsabilização dos gastos indevidos desses dinheiros. À boleia dos fundos da UE muita obra foi feita por esse país fora que não tem a mínima sustentabilidade financeira, que fica às moscas a partir do dia da inauguração, e com custos de manutenção e operação incomportáveis para as entidades que os gerem (muitas vezes as mesmas entidades que desenvolveram o projecto). A fotografia em anexo, da ponte de S. Miguel no Rio Homem ilustra bem o problema. Um projecto financiado pela UE, liderado pelo município de Terras de Bouro e com a participação de várias entidades, incluindo o ICNB, tinha o objectivo de interpretar e melhorar a acessibilidade da Geira Romana. Inicialmente era para ser construída uma ponte de betão ao lado da antiga ponte romana, o que se tornou inviável por razões de ordem técnica. Enquanto estive como Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), a Câmara Municipal propôs a colocação de uma ponte em madeira pré-construída, a que os serviços técnicos do PNPG emitiram um parecer favorável do ponto de vista do Plano de Ordenamento do PNPG. Pouco depois deixei as minhas funções no PNPG, pelo que deixei de acompanhar o projecto. Qual a minha surpresa quando este Verão, ao visitar o local me apercebo que a ponte foi colocada no local, recorrendo a alicerces de betão (que não me lembro estarem originalmente previstos, mas a memória pode falhar-me), mas que a forma como foi colocada leva a um desnível de cerca de 1 metro entre o tabuleiro e o solo, que é compensado com uma escada improvisada de madeira. Não sei qual foi o custo da ponte, mas imagino que será da ordem das muitas dezenas de milhares de Euros. Como é que se pode justificar que passado mais de um ano o acesso não estar regularizado? É realmente extraordinário, mas infelizmente não é único.
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5 comentários:
Tragicómico?
Sim, de tal forma que no Verão quem passa ali prefere atravessar o rio pelas pedras do que trepar o desnível.
Um exemplo entre muitos outros, infelizmente. Aqui, em Trás-os-Montes, não há câmara municipal que não se tenha desfeito em parques ermos na berma de rios, com equipamentos caríssimos oferecidos à devassa pública. Compraram-se milhares de m^2 de deck de ipê importado do Brasil, que custa bem mais de 25 euros o m^2, resiste 5-6 anos aos extremos climáticos nordestinos e tem de ser substituído por pisos mais simples, mais baratos e mais resistentes. Depois, temos os relvados impossível de manter no Verão, os centro de interpretação fechados à chave todo ano, os pavilhões gimnodesportivos em aldeias de velhos, as festas para o emigrante que já não vem, os monumentos grandiosos comprados por catálogo, as rotundas e as circulares sem movimento, os gabinetes de apoio não se sabe a quê às moscas, os sistemas de informação que ninguém usa, os protocolos com associações que já não existem, as bibliotecas, os centros culturais e os auditórios sobre-dimensionados, os centros de actividades tradicionais economicamente inviáveis, e, por fim, as empresas municipais devidamente apetrechadas com recursos humanos que gerem tudo isto. E o que acontece em Trás-os-Montes repete-se no resto do país, amplificado de pela potência demográfica.
Caro Henrique
Aqui à tempos no blog falou-se um pouco a lógica da aplicação do conceito de wilderness na conservação em Portugal.
Que tal fazer um pequeno post sobre o assunto para dar o mote a uma discussão sobre esse assunto?
Cumps
Talvez na próxima semana. Entretanto já este domingo o programa Biosfera terá uma pequena entrevista minha sobre o tema.
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