Por causa deste post aqui, e da discussão que houve sobre a relevância deste assunto na lista, acabei por pedir em concreto quanto gastou a Assembleia da República em águas engarrafadas.
Com eficiência e rapidez que se regista, aqui está a resposta:
"informo-o de que, por referência ao ano de 2010 e em média, foram consumidas mensalmente na Assembleia da República 3900 garrafas de água (33 cl) e 174 garrafas de água (1,5 l), com um custo mensal total de € 346,80.".
Sabemos agora o custo anual (mais de quatro mil euros) e sabemos as quantidades (pouco mais de 1500 litros de água). Sabemos então que a mesma quantidade em preços da EPAL teria custado aos contribuintes qualquer coisa entre os dois e os três euros (fazendo umas contas generosas).
Houve quem criticasse a minha classificação do Conselho de Administração da AR como novos ricos com o argumento de que há milhares de pessoas que bebem água engarrafada e nem por isso são novos-ricos.
O novo-riquismo não está no facto de só se beber água engarrafada. Há quem não goste da água da torneira, em alguns concelhos com toda a justificação (quando vivi em Rio Maior, durante muito tempo, não bebia água da torneira, mas depois a coisa melhorou).
Mas é preciso esclarecer que este tipo de opções são iguais à de quem não quer comer numa cantina e vai ao restaurante do lado, isto é, é um luxo beber água engarrafada.
Ora o novo-riquismo está em achar normal que sejam os contribuintes a pagar luxos em vez de achar que o dinheiro dos contribuintes deve pagar o essencial.
Dou de barato a iliteracia ambiental que produz a justificação de que as garrafas de água são recicláveis (uma das primeiras medidas emblemáticas de Sócrates, quando foi Secretário de Estado do Ambiente, não foi uma portaria que obrigava ao uso de garrafas de vidro na hotelaria e similares? A Portaria foi revogada? Que nunca foi cumprida sei eu, mas foi revogada?).
A Assembleia da República não é um sítio qualquer.
As suas opções têm um peso simbólico.
E nesta opção que foi feita (e que aparentemente os deputados pretendem reverter, e bem) o que a Assembleia disse foi:
1) não é um luxo beber água engarrafada, quando efectivamente é e o seu IVA não deveria ser 6% mas sim 23%;
2) não é confiável beber água da torneira, o que está por provar;
3) não é fashion nem chique usar jarros de água da torneirra porque pode ser uma porcaria;
4) reduzir não é importante se se pode reciclar, um dos maiores equívocos da gestão de resíduos;
5) é uma complicação logística inultrapassável não usar produtos embalados
6) e por último, gastar ou não gastar 4000 euros por ano do dinheiro dos contribuintes é irrelevante.
O Conselho de Administração da Assembleia da República esqueceu-se do seu papel simbólico.
Não pode depois queixar-se de que os cidadãos também o esqueçam e deixem de a respeitar.
O assunto é mínimo? É.
Quer isso dizer que não tem importância? Não.
Ele reflecte todo um ambiente de falta de respeito pelo dinheiro dos contribuintes e de falta de atenção aos gestos quotidianos que decidem a maior ou menor sustentabilidade das sociedades.
henrique pereira dos santos
4 comentários:
Tem a mais completa razão.
E são estas pequenas manifestações de novo-riquismo que, acumuladas, constituem um enorme obstáculo para uma transição social de larga escala para um regime de maior sustentabilidade.
Manifestados pelas supostas elites, estes gestos têm por um lado menos desculpa uma vez que se supõe que os seus membros sejam mais esclarecidos, e por outro, muito mais impacto social devido à força mimética que exercem sobre quem não é novo-rico, mas que gostaria de o ser. E estes últimos são uma importante fatia da nossa sociedade. Além disso, sim, a questão de quem acarreta os custas dessas pequenas escolhas é fundamental.
Portanto, sim, é importante ir chamando atenção para estas pequenas coisas. A água mineral, o sumo de laranja de que também já tinha falado, as escolhas alimentares, de meio de transporte, e de consumo em geral.
Porque carga de água há agora muito menos reutilização de garrafas de vidro com depósito? E os garrafões de plástico de água de 5 litros que há uns 20 se trocavam nas mercearias? a reutilização é, em geral, uma coisa bastante simples, mas não ajuda muito a crescer o PIB, e dá pinta de forreta, ou pior, de probrezolas...
Votos de continuação do bom trabalho que tem feito,
Manuel Silva
Eu não sou tão radical como o Henrique. Admito que pode haver razões para as pessoas preferirem a água engarrafada.
Mas poder-se-ia fazer uma experiência simples. Nas bancadas os deputados dispunham de água da torneira em jarros. À entrada da sala haveria uma grade com garrafas de água engarrafada, em vidro de tara retornável. Logo se veria quantos deputados se davam ao trabalho de pegar numa garrafa para beber água engarrafada. Mas certamente que haveria muitos que não se dariam a esse trabalho e beberiam dos jarros - já se poupariam algumas massas, e já se divulgaria a opção.
Nota: as águas engarrafadas são muito diferentes. Umas são fraca, outras fortemente mineralizadas. Umas são ácidas, outras alcalinas. Pode-se gostar de algumas águas engarrafadas mas detestar-se outras.
Luís,
Sou muito pouco radical nesta matéria, de maneira geral.
Mas acho que há organismos com responsabilidades especiais, que não se compadecem com questões de gosto.
A EPAL, à cabeça, naturalmente, mas também o Ministério do Ambiente (onde já é assim), o Governo em geral e a Asembleia da República.
Noutros sítios sou totalmente a favor das opções, por isso já propuz num hotel que nas conferências tivessem copos, garrafas de água e jarros com uma explicação semelhante à que dão sobre as toalhas.
E as pessoas que façam as suas opções.
henrique pereira dos santos
A DGERT tem por missão apoiar a concepção das políticas relativas ao emprego e formação profissional e às relações profissionais, incluindo as condições de trabalho e de segurança saúde e bem-estar no trabalho, cabendo-lhe ainda o acompanhamento e fomento da contratação colectiva e da prevenção de conflitos colectivos de trabalho e promover a acreditação das entidades formadoras. Tudo uma grande mentira, as provas são dadas com o despedimento colectivo de 112 pessoas do CASINO ESTORIL
“Para Os Trabalhadores da empresa casino estoril no final se fará justiça, reconhecendo a insustentabilidade de um despedimento Colectivo oportunista promovido por uma empresa que, para além do incumprimento de diversas disposições legais, apresenta elevados lucros e que declara querer substituir os trabalhadores que despede por outros contratados em regime de outsoursing”.
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