Publico com todo o gosto este texto do Luís Jordão, sobre a mata do Bussaco e recente comunicado da QUERCUS sobre o assunto.
henrique pereira dos santos
Há já muito tempo que vinha pensando em começar a escrever para este blogue.
O Henrique por diversas vezes deixou o desafio, eu por outras tantas fugi a ele porque aquilo que mais me interessaria em termos de blogues seria criar ou aderir a algum que se relacione maioritariamente com fotografia de flora autóctone.
Não porque a discussão aberta de tudo o que tenha a ver com conservação da natureza, biodiversidade e desenvolvimento rural não me interesse (são estas no fundo as grandes linhas onde tenho vindo a trabalhar desde que me conheço como trabalhador), mas porque sempre entendi que outros há, muito mais capacitados e disponíveis para o efeito.
Mas hoje, fui chamado à realidade duas vezes ao longo do dia e em ambos os casos por causa da Mata do Bussaco.
Desde há poucos meses, por via de regular actividade profissional, voltei a confrontar-me com este espaço fantástico, com o qual contactei pela primeira vez há muitos anos como provavelmente a maior parte dos portugueses da minha geração – quando as excursões escolares ao Bussaco, a Mira Daire, a Sintra, ao Gerês e a tantos outros espaços de ar livre ainda não tinham sido substituídas pela Kidzania e outros que tais - e que vi degradar-se ao longos dos anos ao ponto de já não me atrair visitá-lo e conhecê-lo melhor enquanto adulto.
E foi também neste âmbito que fui (re)conhecendo, agora provavelmente com outra visão e com um espírito enviesado para as temáticas acima descritas, que norteiam o meu trabalho/lazer, um Bussaco que para mim era totalmente desconhecido e que inclui espaços de uma natureza singular, aliás já bem estudados e caracterizados, mas que se mantêm totalmente desconhecidos da maioria do público português. Também, neste âmbito, me fui apercebendo das fraquezas e debilidades da Mata, das necessidades de gestão activa que a mesma requer, da enorme escassez de recursos humanos e materiais com que a nova entidade gestora – a Fundação Mata do Buçaco - se debate desde a sua criação e da gestão profissional, empenhada e empreendedora que a norteia, a que se associa um espírito de voluntarismo e empenho de um conjunto de técnicos e estagiários, alguns dos quais não remunerados, alguns dos quais não dotados de todos os conhecimentos necessários (que é o que o está?), mas todos certamente norteados por boas intenções.
Da mesma forma me apercebi, como já vem sendo hábito em questões de conservação da natureza, da escassez de apoio especializado com que a equipa de gestão se debate, das dificuldades em aceder a informação útil à gestão, e de um Plano de Ordenamento e Gestão que, tal como muitos outros instrumentos assim designados no nosso país - independentemente do mérito dos estudos científicos e equipas em que se baseiam - pouco concretiza, pouco detalha, pouco orienta, pouco permite … ordenar e gerir!
Ora vem isto a propósito, no segundo contacto do dia, a respeito do comunicado da Quercus sobre “Azevinhos e sobreiros destruídos na Mata do Buçaco” em que se exige o “apuramento de responsabilidades”. Conheço pouco o caso no sentido de que ainda não tive ocasião de me deslocar ao local em concreto para, com os meus próprios olhos, ver a dimensão dos estragos relatados. Mas invariavelmente, passei em frente às parcelas referidas vários dias seguidos ao longo dos meses de Dezembro e Janeiro para desde logo possuir também a minha própria opinião, que talvez num outro post possa relatar em maior detalhe e que é certamente, apesar de tudo, menos “bombástica” do que as relatadas pela Quercurs e órgãos de comunicação local que têm abordado o assunto.
O que me motiva hoje é o “apuramento de responsabilidades” e, de uma forma geral, o teor agressivo e radical que vem sendo comum à Quercus, como à maioria das ONG´s portuguesas.
Sem prejuízo de um enquadramento que não só denota um conhecimento ligeiro sobre os valores naturais de maior relevo conservacionista existentes na Mata, nos quais talvez pudéssemos incluir certamente o azevinho - tão comum e abundante aqui e novamente noutros locais do Centro do país - , mas porquê o cedro-do-Bussaco, uma ornamental exótica ? Será por ser “do Bussaco”, ou lusitanica? Será que sabemos do que estamos a falar?
Apesar de opiniões eventualmente mais avalizadas para o fazer, e baseando-me apenas na informação técnico-científica que norteia o Plano de Ordenamento Gestão, o valor conservacionista da Mata envolve sobretudo, ao nível florístico, um conjunto de pequenas manchas de habitats reliquiais naturais, um dos quais apenas descrito, no território europeu, para esta Mata Nacional (pergunto-me se a Quercus alguma vez ouviu falar do adernal)! E é exactamente para evitar futuras ameaças a este habitat que se direccionam trabalhos como os que estão na origem da situação (isto sem avalizar a FORMA como os mesmos foram executados).
Segue o comunicado alertando para se ter constatado “os abates dos exemplares de azevinhos, sobreiros e medronheiros”. O bolo vai-se adensando, misturando espécies com alguma protecção legal com outras que – sem negar o seu valor ecológico – não a possuem; isto para nem sequer invocar uma opinião subjectiva, por vezes transmitida neste blogue e que partilho, relativamente à (in)utilidade de alguns destes estatutos legais diferenciadores, especialmente no que ao sobreiro se refere.
Não questiono, aliás as fotos são disso esclarecedoras, o abate de espécies como as referidas. Nem questiono também quem cometeu o acto, que me parece ter sido obviamente mais um madeireiro que procedeu ali como em qualquer espaço florestal da sua área de intervenção (e com isto, a Quercus não se preocupa?), nem uma eventual falta de acompanhamento e supervisão por parte da entidade gestora (restando saber porque é que ela se deu, i.e. houve intenção de causar a situação, se havia alguma orientação ou boa prática que norteasse a intervenção e teria permitido evitar a situação, se dispõe de meios humanos e outros que possibilitassem um outro resultado).
E voltamos então ao “apuramento das responsabilidades”. É muito fácil, depois de detectado um erro, apontar os dedos ao seu executor ou executores.
E nisso as ONG´s portuguesas são exímias.
Mas onde está a cadeia de responsabilidade: no madeireiro, que fez o que sempre faz e nunca foi motivado a ter outras práticas? No(s) decisore(s) e técnico(s) da entidade gestora, que se basearam provavelmente na informação de orientação existente e no(s) seus próprios conhecimentos? Também certamente, mas não só.
Qual o papel, em tudo isto, das orientações de gestão (ou da sua inexistência)? Quão concretas elas são e em que medida permitem GERIR e EVITAR este tipo de situações? Com isso, não vejo a Quercus preocupada… apenas com o fim da linha.
Ora como grande parte das vezes neste país, o que me parece que existiu neste caso é um conjunto de boas vontades mal executadas, e que a ausência de verdadeiras ORIENTAÇÕES DE GESTÃO muito para isso contribuiu. Mas diga-se, então como, se até existe um instrumento de gestão – um Plano de Ordenamento e Gestão, último legado da administração central antes de transmitir a gestão da Mata à actual Fundação, ao mesmo tempo que dali retirava todo o corpo técnico, operário e restantes recursos e meios necessários à sua gestão. E o que nos diz este instrumento?
Pois vejam-se em concreto o detalhe proposto neste instrumento, no qual se gastaram vários milhares de euros em estudos técnico-científicos, em consultoria, em equipas multidisciplinares e uns quantos anos de trabalho, conforme sucessivos adiamentos da sua apresentação (que antecedeu a passagem da gestão da administração central para a actual Fundação):
Os quadros atrás, idênticos em detalhe e orientações aos restantes apresentados no Plano de Ordenamento e Gestão, são aplicáveis à área concretamente abrangida pelo caso que a Quercus refere como “ bem representativo da falta de cuidado das entidades que fazem a gestão do património florestal português”. Nesta parcela, seriam pelo menos aplicáveis as medidas 2.2, 4.1. e 4.2, como se poderá verificar pela leitura do documento integral.
Como aqui lemos, qualquer executor estará bem elucidado quanto a aspectos de menor relevância para a GESTÃO como calendarização (p.e. quando é que deve ser feito, com que faseamento, …), situação (p.e. ter em atenção a eventuais exemplares isolados de …) e observações (p.e. recomendável um acompanhamento contínuo, recomendável a aplicação das práticas … e …, recomendável …).
Para esta área, das menos interessantes em termos de vegetação autóctone e das mais “atacadas” por exóticas como as acácias, preconizavam-se sobretudo medidas relacionadas com a contenção/eliminação de espécies invasoras (que colocam em causa, entre muros, a conservação dos habitats naturais existentes, entre os quais o já referido), bem como uma progressiva substituição da do coberto florestal resultante de acção humana maioritariamente um pinhal, ainda que com exemplares provavelmente centenários e também ocupado, de forma pontual, por alguns exemplares de regeneração da mata original como os referidos sobreiros, azevinhos e medronheiros. Trabalhos que, sem prejuízo de uma notória “aceleração” induzida por um eventual estado fitossanitário mais débil dos pinheiros e da aparente ausência de aplicação das práticas mais recomendadas ao controlo de invasoras e ao corte, foram executados, com os erros e resultados que são relatados (muito embora com uma dimensão provavelmente idêntica à de outros espaços florestais públicos e privados, com os quais não tenho visto a Quercus reclamar).
A questão que novamente coloco é: onde estão as responsabilidades, face a um instrumento que, conforme se vê nos exemplos, deixa tanto a desejar ao nível da concretização e da gestão efectiva e operacional? E já agora, onde estão também as responsabilidades da Quercus (e das restantes ONG´s), quando não questionaram esse mesmo instrumento quando o mesmo foi publicamente apresentado há dois anos atrás? Não é também responsabilidade de uma ONG estar atenta a este tipo de situações?
Ah …. Desculpem, esqueci-me que “neste Ano Internacional das Florestas designado pela UNESCO devido à importância da floresta, continuamos dispostos a colaborar voluntariamente com todos os que pretendem fazer uma gestão florestal sustentável, que dignifique o nosso melhor património natural e contribuindo para a conservação da natureza nas nossas Matas Nacionais.” De facto, há dois anos estávamos no Ano Internacional de …. quê?
Luis Jordão
henrique pereira dos santos
Há já muito tempo que vinha pensando em começar a escrever para este blogue.
O Henrique por diversas vezes deixou o desafio, eu por outras tantas fugi a ele porque aquilo que mais me interessaria em termos de blogues seria criar ou aderir a algum que se relacione maioritariamente com fotografia de flora autóctone.
Não porque a discussão aberta de tudo o que tenha a ver com conservação da natureza, biodiversidade e desenvolvimento rural não me interesse (são estas no fundo as grandes linhas onde tenho vindo a trabalhar desde que me conheço como trabalhador), mas porque sempre entendi que outros há, muito mais capacitados e disponíveis para o efeito.
Mas hoje, fui chamado à realidade duas vezes ao longo do dia e em ambos os casos por causa da Mata do Bussaco.
Desde há poucos meses, por via de regular actividade profissional, voltei a confrontar-me com este espaço fantástico, com o qual contactei pela primeira vez há muitos anos como provavelmente a maior parte dos portugueses da minha geração – quando as excursões escolares ao Bussaco, a Mira Daire, a Sintra, ao Gerês e a tantos outros espaços de ar livre ainda não tinham sido substituídas pela Kidzania e outros que tais - e que vi degradar-se ao longos dos anos ao ponto de já não me atrair visitá-lo e conhecê-lo melhor enquanto adulto.
E foi também neste âmbito que fui (re)conhecendo, agora provavelmente com outra visão e com um espírito enviesado para as temáticas acima descritas, que norteiam o meu trabalho/lazer, um Bussaco que para mim era totalmente desconhecido e que inclui espaços de uma natureza singular, aliás já bem estudados e caracterizados, mas que se mantêm totalmente desconhecidos da maioria do público português. Também, neste âmbito, me fui apercebendo das fraquezas e debilidades da Mata, das necessidades de gestão activa que a mesma requer, da enorme escassez de recursos humanos e materiais com que a nova entidade gestora – a Fundação Mata do Buçaco - se debate desde a sua criação e da gestão profissional, empenhada e empreendedora que a norteia, a que se associa um espírito de voluntarismo e empenho de um conjunto de técnicos e estagiários, alguns dos quais não remunerados, alguns dos quais não dotados de todos os conhecimentos necessários (que é o que o está?), mas todos certamente norteados por boas intenções.
Da mesma forma me apercebi, como já vem sendo hábito em questões de conservação da natureza, da escassez de apoio especializado com que a equipa de gestão se debate, das dificuldades em aceder a informação útil à gestão, e de um Plano de Ordenamento e Gestão que, tal como muitos outros instrumentos assim designados no nosso país - independentemente do mérito dos estudos científicos e equipas em que se baseiam - pouco concretiza, pouco detalha, pouco orienta, pouco permite … ordenar e gerir!
Ora vem isto a propósito, no segundo contacto do dia, a respeito do comunicado da Quercus sobre “Azevinhos e sobreiros destruídos na Mata do Buçaco” em que se exige o “apuramento de responsabilidades”. Conheço pouco o caso no sentido de que ainda não tive ocasião de me deslocar ao local em concreto para, com os meus próprios olhos, ver a dimensão dos estragos relatados. Mas invariavelmente, passei em frente às parcelas referidas vários dias seguidos ao longo dos meses de Dezembro e Janeiro para desde logo possuir também a minha própria opinião, que talvez num outro post possa relatar em maior detalhe e que é certamente, apesar de tudo, menos “bombástica” do que as relatadas pela Quercurs e órgãos de comunicação local que têm abordado o assunto.
O que me motiva hoje é o “apuramento de responsabilidades” e, de uma forma geral, o teor agressivo e radical que vem sendo comum à Quercus, como à maioria das ONG´s portuguesas.
Sem prejuízo de um enquadramento que não só denota um conhecimento ligeiro sobre os valores naturais de maior relevo conservacionista existentes na Mata, nos quais talvez pudéssemos incluir certamente o azevinho - tão comum e abundante aqui e novamente noutros locais do Centro do país - , mas porquê o cedro-do-Bussaco, uma ornamental exótica ? Será por ser “do Bussaco”, ou lusitanica? Será que sabemos do que estamos a falar?
Apesar de opiniões eventualmente mais avalizadas para o fazer, e baseando-me apenas na informação técnico-científica que norteia o Plano de Ordenamento Gestão, o valor conservacionista da Mata envolve sobretudo, ao nível florístico, um conjunto de pequenas manchas de habitats reliquiais naturais, um dos quais apenas descrito, no território europeu, para esta Mata Nacional (pergunto-me se a Quercus alguma vez ouviu falar do adernal)! E é exactamente para evitar futuras ameaças a este habitat que se direccionam trabalhos como os que estão na origem da situação (isto sem avalizar a FORMA como os mesmos foram executados).
Segue o comunicado alertando para se ter constatado “os abates dos exemplares de azevinhos, sobreiros e medronheiros”. O bolo vai-se adensando, misturando espécies com alguma protecção legal com outras que – sem negar o seu valor ecológico – não a possuem; isto para nem sequer invocar uma opinião subjectiva, por vezes transmitida neste blogue e que partilho, relativamente à (in)utilidade de alguns destes estatutos legais diferenciadores, especialmente no que ao sobreiro se refere.
Não questiono, aliás as fotos são disso esclarecedoras, o abate de espécies como as referidas. Nem questiono também quem cometeu o acto, que me parece ter sido obviamente mais um madeireiro que procedeu ali como em qualquer espaço florestal da sua área de intervenção (e com isto, a Quercus não se preocupa?), nem uma eventual falta de acompanhamento e supervisão por parte da entidade gestora (restando saber porque é que ela se deu, i.e. houve intenção de causar a situação, se havia alguma orientação ou boa prática que norteasse a intervenção e teria permitido evitar a situação, se dispõe de meios humanos e outros que possibilitassem um outro resultado).
E voltamos então ao “apuramento das responsabilidades”. É muito fácil, depois de detectado um erro, apontar os dedos ao seu executor ou executores.
E nisso as ONG´s portuguesas são exímias.
Mas onde está a cadeia de responsabilidade: no madeireiro, que fez o que sempre faz e nunca foi motivado a ter outras práticas? No(s) decisore(s) e técnico(s) da entidade gestora, que se basearam provavelmente na informação de orientação existente e no(s) seus próprios conhecimentos? Também certamente, mas não só.
Qual o papel, em tudo isto, das orientações de gestão (ou da sua inexistência)? Quão concretas elas são e em que medida permitem GERIR e EVITAR este tipo de situações? Com isso, não vejo a Quercus preocupada… apenas com o fim da linha.
Ora como grande parte das vezes neste país, o que me parece que existiu neste caso é um conjunto de boas vontades mal executadas, e que a ausência de verdadeiras ORIENTAÇÕES DE GESTÃO muito para isso contribuiu. Mas diga-se, então como, se até existe um instrumento de gestão – um Plano de Ordenamento e Gestão, último legado da administração central antes de transmitir a gestão da Mata à actual Fundação, ao mesmo tempo que dali retirava todo o corpo técnico, operário e restantes recursos e meios necessários à sua gestão. E o que nos diz este instrumento?
Pois vejam-se em concreto o detalhe proposto neste instrumento, no qual se gastaram vários milhares de euros em estudos técnico-científicos, em consultoria, em equipas multidisciplinares e uns quantos anos de trabalho, conforme sucessivos adiamentos da sua apresentação (que antecedeu a passagem da gestão da administração central para a actual Fundação):
Os quadros atrás, idênticos em detalhe e orientações aos restantes apresentados no Plano de Ordenamento e Gestão, são aplicáveis à área concretamente abrangida pelo caso que a Quercus refere como “ bem representativo da falta de cuidado das entidades que fazem a gestão do património florestal português”. Nesta parcela, seriam pelo menos aplicáveis as medidas 2.2, 4.1. e 4.2, como se poderá verificar pela leitura do documento integral.
Como aqui lemos, qualquer executor estará bem elucidado quanto a aspectos de menor relevância para a GESTÃO como calendarização (p.e. quando é que deve ser feito, com que faseamento, …), situação (p.e. ter em atenção a eventuais exemplares isolados de …) e observações (p.e. recomendável um acompanhamento contínuo, recomendável a aplicação das práticas … e …, recomendável …).
Para esta área, das menos interessantes em termos de vegetação autóctone e das mais “atacadas” por exóticas como as acácias, preconizavam-se sobretudo medidas relacionadas com a contenção/eliminação de espécies invasoras (que colocam em causa, entre muros, a conservação dos habitats naturais existentes, entre os quais o já referido), bem como uma progressiva substituição da do coberto florestal resultante de acção humana maioritariamente um pinhal, ainda que com exemplares provavelmente centenários e também ocupado, de forma pontual, por alguns exemplares de regeneração da mata original como os referidos sobreiros, azevinhos e medronheiros. Trabalhos que, sem prejuízo de uma notória “aceleração” induzida por um eventual estado fitossanitário mais débil dos pinheiros e da aparente ausência de aplicação das práticas mais recomendadas ao controlo de invasoras e ao corte, foram executados, com os erros e resultados que são relatados (muito embora com uma dimensão provavelmente idêntica à de outros espaços florestais públicos e privados, com os quais não tenho visto a Quercus reclamar).
A questão que novamente coloco é: onde estão as responsabilidades, face a um instrumento que, conforme se vê nos exemplos, deixa tanto a desejar ao nível da concretização e da gestão efectiva e operacional? E já agora, onde estão também as responsabilidades da Quercus (e das restantes ONG´s), quando não questionaram esse mesmo instrumento quando o mesmo foi publicamente apresentado há dois anos atrás? Não é também responsabilidade de uma ONG estar atenta a este tipo de situações?
Ah …. Desculpem, esqueci-me que “neste Ano Internacional das Florestas designado pela UNESCO devido à importância da floresta, continuamos dispostos a colaborar voluntariamente com todos os que pretendem fazer uma gestão florestal sustentável, que dignifique o nosso melhor património natural e contribuindo para a conservação da natureza nas nossas Matas Nacionais.” De facto, há dois anos estávamos no Ano Internacional de …. quê?
Luis Jordão
18 comentários:
Se a Quercus protestou contra o abate de sobreiros na Mata do Buçaco, isso não pode deixar de ser anedótico para quem, como eu, é natural da região.
É que os sobreiros são endémicos naquela região da Bairrada, crescem espontâneamente por todo o lado, a Bairrada (na verdade, um pouco mais para noroeste da Mata) está cheia deles, inclusivé o maior sobreiro do território nacional, ao que dizem, que fica no meio da aldeia de Belazaima do Chão, e muitos outros sobreiros enormes, muito maiores do que os que se vêem no Alentejo. Sem contar com os inúmeros sobreiros pequeninos que se vêem a rebentar pelos campos da região, nascidiços.
A Quercus que não se preocupe com os sobreiros na Bairrada porque, se há região do país onde os sobreiros estão bem e recomendam-se, é lá.
Caro Luís,
Em primeiro lugar, penso que estará usando o termo "endémico" equivocadamente. O sobreiro não é, obviamente, uma espécie endémica da região da Bairrada.
Em segundo, a questão central que se discute gira sobretudo em torno da atribuição de responsabilidades, não sendo tanto sobre o valor intrínseco das espécies em causa [embora se admita que a Quercus se tenha fixado nessa questão devido por um lado à ignorância sobre a caracterização florística da área e por outro devido ao característico tique retórico que as ONGAs costumam usar como trunfo argumentativo].
A questão da complexidade da cadeia de responsabilidade, e, já agora, de responsabilização, é extremamente importante, e faz o Luís Jordão muito bem em argumentar que ela é transversal, não se devendo apontar apenas para os resultados de final de linha.
Contudo, não esqueçamos o seguinte. Mesmo admitindo, que a responsabilidade do incidente se estende a vários níveis dessa cadeia, incluindo ao papel que as ONGAs desempenham ou deveriam desempenhar, e admitindo que não houve nenhuma perda significativa ao nível da biodiversidade do local, a questão é que houve um trabalho mal feito. Um trabalho que foi feito incompetentemente, e provavelmente com um importante impacto a nível estético num local que é sobretudo visitado por causa da sua beleza cénica.
Importa sublinhar a importância de se denunciar as pérolas de incompetência com que a sociedade portuguesa nos vai brindando. O caso terá sido mal apontado, é verdade, mas houve o mérito de o apontar, sendo por essa razão que o caso foi publicitado e que se o está a discutir aqui.
Que se aponte mais ao que está mal, mas que se pense melhor sobre o que se argumenta e como. A QUERCUS, enquanto ONG de Ambiente (que inclui questões paisagísticas e cénicas) poderia sem pudor ter apontado justamente para essas razões, sem ter sentido necessidade de entrar pelo caminho de apontar espécie A ou B. E sim, já agora ter apontado o dedo a si própria, por não ter acompanhado melhor a “linha de montagem” em toda a sua extensão.
Cumprimentos,
Manuel Silva
"O sobreiro não é, obviamente, uma espécie endémica da região da Bairrada."
É. Vi isso num livro sobre as árvores de Portugal, no qual estavam marcadas as regiões onde cada árvore é endémica. Há uma pequna sub-região da Bairrada (por alturas da Anadia e de Águeda) onde o sobrero é endémico.
E, se não acredita, vá dar um passeio por aquela zona. Verá sobreiros, obviamente nascidiços (não plantados), por todo o lado.
Luís,
Sabes mesmo o que é um endemismo?
""Pensa-se que o centro primário de difusão do sobreiro tenha sido a região actualmente coberta pelo mar Tirreno, e que a sua migração se tenha feito através da cordilheira, que no período Mioceno unia as regiões desde o centro primário até à Península Ibérica, agora submersas pelo mar Egeu. Contudo, não existem ainda dados conclusivos relativamente ao centro de difusão da árvore. A única certeza que existe é que, independentemente do local inicial de origem, se estabeleceram centros genéticos importantes no Sudoeste da Península Ibérica – área actual de sobreiro mais extensa. Em Portugal, foram encontrados fósseis do Plioceno no Alentejo."
refirado de http://www.uc.pt/montado/sobreiro/
Gonçalo Rosa
É lamentável... simplesmente lamentável. Como é possível que alguém venha dizer que os sobreiros não devem ser fonte de preocupação porque há muitos na bairrada E os azevinhos de porte centenário? E as leis de protecção destas espécies? Se calhar então será legítimo matar garças vermelhas na Ria de Aveiro porque lá existem várias colónias.
Depois temos os excertos do Plano de Ordenamento realizado pelo Arquitecto Nuno Lecoq, em colaboração com a Universidade de Aveiro para a Autoridade Florestal Nacional. Trata-se de um trabalho meramente académico, sem valor enquanto documento norteador já que possui enormes erros, afirmações e lacunas muito questionáveis, fruto de uma execução singular e de vício de raciocínio de alguém que nada sabe de gestão florestal, muito menos de matas como Buçaco.
Finalmente, seria interessante que Luís Jordão esclarecesse que a sua posição e súbito interesse pelo Buçaco (afinal de onde é que apareceu?) surge apenas e só pelos interesses económicos da empresa Verdes Paisagens na Mata do Buçaco. Diga lá por favor, quanto é que o senhor e a sua empresa vai facturar se a candidatura LIFE que elaborou para o Buçaco, for aprovada. Já agora, diga quais os montantes que estão envolvidos no negócio entre a sua empresa e a Fundação Buçaco na organização da iniciativa "Domingos na Mata", com visitas pagas pelos participantes.
Sejam honestos, deixem o mercantilismo do ambiente em segundo plano quando o que está em causa é a sobrevivência de um espaço mítico como é o Buçaco. Ainda há-de dizer aqui, que trabalhos relevantes fez sobre o Buçaco, quantas vezes lá vai por ano, há quantos anos lá não a antes destas negociatas e, já agora, se para ir ao S. João do Deserto, é melhor ir pela Cruz Alta ou pela Porta das Lapas....
Gonçalo Rosa,
peço desculpa por ter utilizado, de forma imprópria, a palavra "endémico".
Queria na verdade dizer que os sobreiros são árvores que crescem natural e espontâneamente na Bairrada (mais propriamente, numa parte dela), não tendo nela sido introduzidas, que se saiba, pela mão do Homem.
Luís,
Nada de grave. Apenas estranhei a insistência e foi por isso que me dei ao trabalho.
Gonçalo Rosa
Caro anónimo,
O Luís Jordão responderá se e quando quiser ao seu comentário.
Mas neste blog não se permitem ataques pessoais a coberto do anonimato.
Uma coisa é criticar o Luís Jordão, o seu texto e por aí fora, com argumentos e assinando por baixo.
Outra coisa é isto que o senhor ou a senhora faz (e de caminho atacar também o Nuno Lecoq, e não o seu trabalho).
Para além disso faço-lhe notar que o Luís Jordão diz, com toda a clareza, que o seu novo interesse pelo Buçaco é recente e fruto da sua colaboração com a Fundação.
Diz inclusivamente que o Buçaco que hoje vê lhe era totalmente desconhecido.
Mais que isso, reconhece erros no que foi feito e em nenhum momento diz que o abate de sobreiros e azevinhos é irrelevante.
Ou seja, todas as suas perguntas com algum interesse para a discussão estão respondidas.
Sobra pois a sua curiosidade sobre a actividade profissional do Luís Jordão.
É uma curiosidades razoável quando ela se encaixar na discussão sobre afectação de dinheiros públicos e os resultados de gestão do património comum, é uma curiosidade estúpida quando se encaixa na mera inveja.
Tão estúpida como a sua pergunta sobre qual das portas serve melhor a Cruz Alta. É que se conhece o espaço como as suas mãos, onde esteve durante o tempo todo em que a mata esteve ao abandono?
Eu tenho as minhas responsabilidades e assumo-as: há muitos anos convidaram-me para presidente da régie que se pretendia fazer, à semelhança da que existe (ou existia) para a tapada de Mafra, e não aceitei.
Ou seja, podia ter feito mais pelo Buçaco e não fiz.
Será o seu caso?
henrique pereira dos santos
Corajoso anónimo,
De que tem medo?
Quer discutir o assunto, vamos isso. Pode começar por fazer duas coisas: assinar (não custa nada, vai ver que até se sente melhor) e explicar o que chama comer à custa da fundação.
Se quiser continuar pode até fazer mais uma coisa: a mata do Buçaco está agora a ficar melhor ou pior que nos muitos e muitos anos anteriores em que teve outro modelo de gestão?
É que o importante aqui não é o Luís Jordão ou o zé da esquina, o importante é a mata do Buçaco.
Foi aliás sobre isso que a QUERCUS emitiu um comunicado.
Não acha mais útil discutir isso (é, já agora, sem se esconder cobardemente, como quem ataca pelas costas)?
henrique pereira dos santos
Henrique, Apaguei o comentário do último anónimo pois há limites para as alarvidades anónimas, como se diz claramente nas normas deste blogue.
Boa noite. Tenho assistido a esta discussão (às vezes mais acalorada) e gostaria de partilhar a minha opinião sobre este assunto. Sou do Luso e penso que o Buçaco está pior do que antes, a todos os níveis. Desde logo porque antes, introduziram portagens nas entradas para evitar o acesso a pessoas que nada tinham a ver com um interesse GENUÍNO por aquele espaço e pelo que vale enquanto Floresta. Percursos de visita sinalizados? Os primeiros foram criados em 1994 e 1995 por mim e colegas da Escola Beira-Aguieira em Mortágua. Até havia folhetos guia e de acompanhamento dos mesmos. No entanto, nesta altura a Floresta era bem gerida, com intervenções minimalistas e bem direccionadas, mantendo a colecção de exóticas, embora com escassos recursos humanos, mas grande conhecimento técnico.
Agora fazem-se festas de natal, de páscoa, de tudo e mais alguma coisa, visando a maximização de entradas e pagamentos nas portagens, tentando atrair o máximo de pessoas e, sobretudo, viaturas (porque só essas é que pagam entrada). Já não há problemas de poluição, já não há excesso de visitantes no Verão (semanas e semanas com milhares de carros por dia). Relativamente ao Plano de Ordenamento, tive acesso a uma pequena parte e, pelo que vi, há aspectos do trabalho francamente desajustados à realidade da Mata. Retirar pinheiros e substituir por autóctones numa zona já arborizadas há tantas décadas com várias espécies exóticas pelos serviços florestais? Afinal a Mata é reconhecida por ser a maior Reserva Denrológica da Europa ou pela maior reserva de autóctones? Será que estas não estão já soberbamente respresentadas no Adernal e Medronhal da Cruz Alta? Também relativamente à Tradiscância, reconhecida invasora, o plano prevê a sua substituição por Vinca. Porquê alterar um ecossistema que está perfeitamente equilibrado em termos bioclimáticos com valores de temperatura e humidade estáveis e adequados, com a retirada de uma planta que, lá porque é invasora, não é por isso que deixa de desempenhar um papel altamente importante neste equilibrio? Porquê introduzir outra espécie que, lá porque é autóctone, tem muito menor capacidade de absorção e retenção de água que a invasora. Quais as consequências dum acto que alterará este equilíbrio num ecossitema adaptado a estas condições há décadas.
Finalmente, e porque este texto já vai longo, as intervenções recentemente realizadas, são o fruto de uma equipa altamente deficitária do espaço onde se encontra a trabalhar e das suas especificidades. É evidente que o controlo do madeireiro, a existir, foi muito insuficiente e sobretudo, o que mais temo, é que quem está a gerir a Mata teime em seguir AQUELE Plano de Ordenamento, com falhas, no meu entender, gravíssimas e que pode colocar em risco a Mata do Buçaco.
Por último, deixo aqui um outro ponto de reflexão. É que a serra do Buçaco foi completamente dizimada pelo nemátodo uma vez que se tratava de uma monocultura de pinheiro-bravo. Será que não seria preferível mater os pinheiros bravos no interior da Mata, uma vez que são a espécie preferencial desta praga, como armadilhas vivas? O nemátodo atacas várias resinosas (Cecrus, Pseudo-tsugas, Tsugas, Abies, etc) e esta Mata é maioritariamente constituída por exemplares centenários destas espécies que, não sendo as preferenciais da prga, se não houver mais nada...
Desculpem o testamento.
Pois, pois, quase parece mais grave a actuação da QUERCUS do que o corte dos azevinhos e sobreiros. Não foi a QUERCUS a denunciar a situação, foram denúncias que chegaram ao Núcleo de Coimbra, desmentidas pela Fundação, mas depois confirmadas no terreno. Apurem-se as responsabilidades e fale-se menos daquilo que as ONG deviam fazer, e como deviam fazer, e qual o tom que deviam usar, porque os desgraçadinhos vivem com tantas dificuldades como os gestores da Mata do Bussaco. Talvez os da Mata do Bussaco vivam com mais dificuldades, mas não sobra um bocadinho de clemência para as ONG?
João Paulo,
As mesmas pessoas que há anos e anos determinam a actuação da QUERCUS ainda pedem clemência? Clemência para quê? Para se deixarem envolver numa guerra de capelinhas (lê bem os comentários, não é preciso conhecer o que se passa localmente para perceber). Clemência para insistirem na gravidade do abate de sobreiros e medronheiros? No caso dos sobreiros há a questão, séria, da ilegalidade, mas do ponto de vista substancial, onde está a gravidade?
A pergunta é razoável: onde estava a QUERCUS quando o Buçaço estava a ser gerido de forma a que tivesse sido aprovado o plano de gestão que agora se diz que não presta?
As ONGs não são responsáveis, é isso?
A clemência que pedes é a mesma que usaste para a entidade gestora da mata? Ou a clemência que usaste para a entidade gestora anterior?
O João Silva faz uma crítica cordata no modo e substancial, defendendo que a gestão anterior era preferível.
E falo de modo a que se possa avançar na discussão.
Deve a mata ser apenas para os que têm um interesse genuíno na mata, como defende o João? Quem define o que éum interesse genuíno ou não? Devemos carros ter um limite de entrada? Que valores são ameaçados pela entrada de carros? O plano de gestão não deve ser aplicado porque não serve? Então porque foi encomendado, aceite e pago? E como essa negligência em relação ao plano bate certo com a afirmação de uma gestão anterior melhor?
Como se resolve o problema do nemátodo, cumprindo a lei, ou adoptando a lógica sugerida pelo João Silva?
E qual é o problema das festas de Natal e da maximização do dinheiro das entradas?
São tudo questões bem mais sérias que as que constam do comunicado da QUERCUS.
Clemência? Talvez seja defensável a semelhante à que durante antes acompanhou a gestão das propriedades da QUERCUS.
Mas por mim não vou por aí: a gestão das propriedades da QUERCUS estava longe de ser exemplar, exactamente por clemência a mais para com as ONGs.
Precisamos de ONGs adultas, e não de meninos mimados.
henrique pereira dos santos
Entendo por interesse genuíno, todas as pessoas que procuram visitar o Buçaco para o conhecer, por sua iniciativa, alertados ou não por dinâmicas publicitárias, mas focando a sua essência: a Mata e o seu património, sobretudo, botânico. Uma vez lá chegados, será agradável constatar que existem outros pontos de interesse. Chama-se Mata, não conjunto edificado. O problema das festas de Natal e outras temáticas não implícitas no "espírito da Mata", é a subversão dos valores que a criaram, a desfocalização no que realmente é importante no sítio e a atracção de pessoas que vêm para uma festa e, muitas vezes, sem respeito pelo local e pelo que contém. É perfeitamente possível rentabilizar a mata atraindo um turismo específico, de toda a Europa, dedicado aos valores florísticos e às espécies existentes, algumas cujo único local de observação de exemplares com porte monumental, será no Buçaco (a maior PseudoTsuga da Europa está lá e nunca vi alusão a este outros factos análogos). Portanto, a minha visão sobre a dinâmica turística da mata é radicalmente distinta da dos seus actuais responsáveis, que se dedicam a fazer actividades para o concelho e concelhos limítrofes. Pergunto-me se alguém virá de Leiria ou Lisboa ver o Natal na Mata tendo Óbido ali ao Lado, ou do Norte para ver a Via Sacra tendo Braga como referência nacional ou de Coimbra para ver o Presépio Vivo, com Penela a dois passos.
Percebo pertinência da dinâmica: actividades que custam quase nada a fazer (logo a qualidade salta à vista) e que podem atrair no imediato, o número suficiente de pessoas, que pagam para entra de carro, de modo a fazer o dinheiro que necessitam para ir matendo a estrutura funcionar e, sobretudo, a pagar os ordenados. Mas será impossível que esta estratégia resulte por muito tempo.
Explico também porque é que considero melhor a anterior gestão: era profissional na gestão florestal, ficava mais barata (basta ler o decreto-lei que cria a Fundação para se perceber quanto é que poderá ser necessário despender apenas em ordenados para 5 pessoas - 1 presidente e 4 administradores, e ainda havia prestação de um serviço público local que agora foi deslocalizado para Coimbra. Existia o que sempre apontei como uma grave falha na recepção, encaminhamento e acompanhamento do visitante. Os milhares de pessoas que ali chegavam, sobretudo no Verão, não dispunham de um gabinete de atendimento/apoio que lhes mostrasse, nem que fosse numas fotos, o que poderiam ver se resolvessem percorrer a Mata. Mas, apesar da Fundação e da sua sede estar no centro da Mata, continuamos na mesma. Apenas os visitantes que saibam previamente da existência da Fundação e da possibilidade de realizar visitas, poderão ser encaminhados adequadamente. Os anónimos, muitos estrangeiros, que ali se deslocam com o tal interesse genuíno (eu sei do que falo porque já lá orientei muitos), continuam sem algo visível, eficiente e com horário adequado, onde se dirigir. Além destes aspectos, a gestão florestal está entregue a pessoas sem o mínimo de conhecimentos sobre este tipo de florestas, com as consequências (graves) que se conhecem.
O Henrique, na crítica que faz à QUERCUS, afirma que o plano de Gestão foi aprovado. Atenção que tal não é verdade. Trata-se apenas de um estudo (Plano de Ordenamento) que, suponho, deveria ser a base para um futuro Plano de Gestão Florestal (PFG) a elaborar e aprovar pela AFN. Assim, a mata não dispõe, efectivamente, de qualquer instrumento norteador e que acomode as acções desenvolvidas recentemente. É muito perigoso que os actuais gestores entendam este plano como o escudo das suas acções e a orientação base. A elaboração de um PGF exige a submissão a consulta pública do documento final onde deverá receber contributos ao seu conteúdo. Tal, nunca aconteceu. Entender aquele documento como "bíblia" pode ter graves consequências como já referi anteriormente.
Relativamente à questão do nemátodo, o que sugeri são experiências que têm vindo a ser desenvolvidas e que poderiam estar de acordo com a lei porque, os pinheiros que foram abatidos no Buçaco, não estavam, na sua maioria, afectados pelo nemátodo, logo a lei não se aplicaria a estes, podendo utilizá-los como armadilhas vivas. Só quem foi ao terreno, como eu, pode atestar a quantidade de rama, perfeitamente verdejante, que havia por lá espalhada e as dezenas de troncos e de troços cortados, cheios de resina, sem sinal de putrefacção ou degradação do lenho. Não havia, na maior parte, casca separada do tronco principal nem descoloração ou murchidão das agulhas.
É mais um sinal evidente que, o cumprimento de um plano, desajustado e ferido de ideias viciadas sem adequação ao espaço, pode trazer graves consequências á Mata. Pergunto apenas: para controlar o acacial que ali vai nascer e para fazer a retancha e a rega das plantações, quanto será necessário investir? Será apenas com o voluntariado? Uma área daquelas? Com a exposição dominante que tem?
Discute-se, discute-se e discute-se... mas o facto é que a mata não está melhor.
Tanto faz concordar ou ser técnico como não... BASTA OLHAR! E quanto a isso, não há política, nem opinião, nem teoria que valha a quem quer que seja.
A questão da gestão florestal, é (infelizmente) apenas a ponta do Iceberg e temo que, em breve, todos estejamos mais pobres.
Este é o problema de Portugal de um modo geral: somos académicos e exímios oradores... mas apenas isso - no terreno, habituamo-nos a lidar com a má gestão como se algo de natural se tratasse... como se fosse um karma e, quando criticam as nossas ideias, depressa nos colocamos na posição de "ofendidos e vitimas".
A vida não é assim, meus caros. O Bussaco é muito mais que um parque dendrológico. Ignorar ou tentar hierarquizar as riquezas do Bussaco (naturalmente dando maior importância às que nos são mais queridas) é um erro básico que não lembra sequer à mente humilde de um Carmelita Descalço.
Ao nível da gestão florestal, posso apenas dizer que não percebo nada, mas mesmo nada do assunto. Sou Gestor e Director de um Hotel que depende (em larga medida) daquilo que o Bussaco é.
Talvez, se dependessem um pouco mais do Bussaco a longo prazo, a maior parte dos raciocínios aqui explícitos, Incluindo a FMB e a QUERCUS, vissem as coisas com outros olhos.
Infelizmente o meu Hotel não tem rodas. Não é como uma emprego que se tem aqui e depois acolá. Está CÁ há 80 anos.. repito: Oitenta!... e é triste ser forçado a olhar para a Fundação Mata do Buçaco, apesar da amizade pessoal que me liga a muita gente lá dentro, como uma inequívoca "parte do problema".
Quanto à parte turístico-hoteleira tenho provas (e não apenas opiniões) que sustentam a minha visão pouco abonatória sobre a gestão da FMB.
Deixo ao "técnicos" as opiniões sobre a questão florestal.
Abraço a todos os que gostam genuinamente do Bussaco.
Nuno Manuel Gouveia Alegre
Tel 914738389
business@alegrehotels.com
No caso do Bussaco é caso para perguntar, onde andaram os criticos ignorantes, durante tantos anos em que a Mata esteve ao abandono?
Agora que as coisas vão levar um rumo... é que aparecem os espertos?
Porque é que não vão dar uma ajuda no terreno e ver em que condições de abandono estão muitas das árvores seculares?
Isso é que era de homens!!!
Bla...!Blá...!Blá...! e nada mais.
E as ONG´s...de que é que estão à espera para ajudar?
Não querem arregaçar as mangas e ajudar a limpar?
Sempre seria mais útil que ficar à espera de um qualquer colunista de imprensa, que nada mais tem que fazer que dar ouvidos sem saber a quem...
Por estas e por outras..., é que temos o país nas condições em que está.
Há sempre espaço para boas ideias.
Muito mais espaço há..., para boas acções.
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