terça-feira, março 22, 2011

Cantos de sereia

Tem sido muito curiosa a argumentação dos nuclearistas (uma designação apenas com valor denotativo, sem nenhuma conotação negativa, que qualifica quem defende a energia nuclear).
Essencialmente tem duas linhas, com variações dentro da primeira (a segunda não tem variações porque é um mantra sem qualquer conteúdo):
1) O que mede o risco é o número de mortes;
2) Sem centrais nucleares o desenvolvimento não existe.
Não vou perder tempo com o segundo de tal forma a realidade o desmente (nem o desenvolvimento depende do preço da energia, como o demonstram todos os países miseráveis que têm preços irrisórios de energia e os países ricos com preços elevados da energia; nem o nuclear é claramente mais barato que nenhuma das alternativas, sendo muito mais caro que algumas delas, com a melhoria da eficiência energética à cabeça).
Mas vale a pena levar o raciocínio baseado no número de mortes até ao seu corolário.
Não morreu ninguém em Fukushima directamente atingido pela radiação.
Note-se que este argumento é um argumento curioso que nos permite dizer que se alguém morrer num incêndio num depósito de gasolina não morreu directamente por beber gasolina, mas apenas porque houve um fogo.
É um argumento que tem o seu esplendor nas afirmações recorrentes de que a radiação é uma coisa natural, portanto não é boa nem má.
Conclui-se portanto que o que matou Sócrates (o legítimo, o verdadeiro) não foi a cicuta, que sendo um produto natural de uma planta não pode ser boa nem má, mas a ignorância de que estava a beber um produto natural, numa demonstração do efeito placebo ao contrário.
Como toda a gente sabe, há um conjunto de trabalhadores que lidam com radiações, e um conjunto de edifícios onde se produzem radiações de diferentes tipos, que apenas por estupidez e ignorância gastam rios de dinheiro em especificações técnicas de contenção das radiações e em procedimentos que evitem a exposição excessiva dos trabalhadores às radiações excessivas.
O mais curioso deste argumento é que não tendo morrido ninguém em Fukushima, e sendo esse o principal critério de medição de perigosidade e risco, então não se passou nada em Fukushima, a não ser a demonstração de que a indústria nuclear é tão segura que mesmo nas excepcionais condições que se verificaram, não houve qualquer problema.
No fim de usarem esta argumentação de forma sistemática, pedem-nos que confiemos no rigor da informação transmitida para lhes passarmos umas autorizações para fazer umas centrais, porque o problema do desenvolvimento em Portugal, como toda a gente sabe, é não haver centrais nucleares.
Se seguíssemos o exemplo do Paquistão, da Argentina, da Arménia, da Roménia estaríamos muito mais desenvolvidos, como acontece nestes países que, entre outros, nos deveriam servir de exemplo.
Pelo contrário, como seguimos o exemplo da Áustria, da Austrália, da Nova Zelândia, da Noruega (estes três últimos são o top 3 do índice de desenvolvimento humano, mas toda a gente sabe que esse índice é feito por ferozes militantes da defesa dos passarinhos com o único objectivo de tentar esvaziar a evidência de relação entre energia nuclear e desenvolvimento humano), nunca saíremos da cepa torta como eles.
henrique pereira dos santos

9 comentários:

Anónimo disse...

HPS,

Mas ponha lá uns painéis na sua casa. Complemente com uma eólica no telhado (até é mais decorativa que uma estátua do Cargaleiro), monte uma turbina no colector de esgotos, e desligue-se da EDP. Até deixa de contribuir para pagar a obscenidade do prémio dos 3,5 milhões de euros ao Dr. Mexia. Alguém lhe está a apontar uma pistola às costas para estar ligado à EDP? Olhe vou mais longe: gasto em média 40€/mês em electricidade. Se um dos distintos técnicos que por aqui andam a dissertar sobre projectos do tipo “I have a dream” me quiser fazer uma proposta só com renováveis pelo mesmo preço, mudo imediatamente! Infelizmente só vejo conversas de académicos de cursos para formar desempregados...

O problema das análises dos greenies – também só com valor denotativo - é que querem fazem uma festa, mas mandar a factura ao mexilhão do costume.

É nestas alturas que o poder das convicções vem ao de cimo: mostre lá que é capaz de dispensar o contador da EDP, desligue-se e vamos a ver o que acontece... posso oferecer-lhe uns pedais duma bicicleta para ligar a um gerador: não quero que deixe de continuar a escrever estes textos absolutamente cómicos que ombreiam com as conversas delirantes do Eng. Sócrates sobre a situação económica do país…

Mexilhão mas Alegre.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro mexilhão mas alegre, quando acabar o seu curso de novas oportunidades espero que saiba ler.
Nessa altura aconselho-o a ler o que tenho escrito sobre energia.
Verá com certeza um apoio total à poupança e ao uso eficiente (que é diferente de defender a auto-produção). Verá com certeza um apoio à água quente solar. Verá um apoio moderado aos eólicos, com maior transparência na formação do preço. Verá uma defesa clara do fim dos preços políticos na electricidade. Verá uma oposição clara ao fotovoltico que não seja investigação. Verá uma oposição forte ao delírio da biomassa que não resulte de operações complementares de outros processos produtivos. E verá outras coisas mais, como a oposição total ao dinheiro público investido em carros eléctricos.
Pode ver idiotices maiores que as que escreveu, mas o que verá com certeza é sempre argumentos para as basear (certos ou errados, podemos discutir).
Se quer discutir o assunto apresente argumentos e podemos discuti-los, se quer manter o registo por mim esteja como em sua casa.
Nos meus textos há sempre uma assinatura que me responsabiliza. No seu há um anonimato cobardolas de quem tenta esconder a espinha gelatinosa num mau disfarce de palhaço.
Enfim, um trist com nome de Alegre.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Mexilhão mas Alegre, reparou que no texto não aparece uma única vez a palavra «renovável» (ou seus derivados), não reparou?

Anónimo disse...

O seu texto sobre a energia nuclear podia ter sido escrito pelo Marcelo Rebelo de Sousa ou pelo Boaventura de Sousa Santos. Vocês conseguem falar de qualquer assunto sem saberem realmente de nada… é obra!
Carlos Rhua

Anónimo disse...

e é óbvio que se lhe puserem uma estação de gasolina ao lado de uma central nuclear você ainda é capaz de as confundir, ao que estamos entregues… batemos mesmo no fundo… isto está transformado numa república de vendedores de banha da cobra.

Carlos Rhua

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Carlos Rhua,
Estamos de acordo sou um ignorante iodiota e parvo. Arrumadas as questões pessoais em que os dois estamos de acordo, acho que podemos passar aos argumentos e ao texto em si.
O texto, se reparar bem, não é sobre energia nuclear, é sobre discurso público.
Não me diga que para discutir políticas públicas tenho de ter um doutoramento em física nuclear.
Independentemente deste aspecto, que não é lateral (o discurso dos defensores do nuclear com frequência resvala para a defesa da tecnocracia, isto é, o governo dos técnicos que percebem do assunto, em detrimento da democracia, com frequência tratada como o atrevimento característico da ignorância), o melhor mesmo é explicar em que é o que o meu texto tem erros de ignorante que precisam de ser corrigidos.
Isso sim, contribuiria para a minha literacia em matéria nuclear e para me tornar mais consciente no momento de influenciar as decisões com o meu voto.
Não sendo assim, os seus comentários podem estar muito certos, mas são simplesmente inúteis (visto que dou de barato o carácter ofensivo).
henrique pereira dos santos

Spawm disse...

"Se seguíssemos o exemplo do Paquistão, da Argentina, da Arménia, da Roménia estaríamos muito mais desenvolvidos, como acontece nestes países que, entre outros, nos deveriam servir de exemplo.
Pelo contrário, como seguimos o exemplo da Áustria, da Austrália, da Nova Zelândia, da Noruega (estes três últimos são o top 3 do índice de desenvolvimento humano, mas toda a gente sabe que esse índice é feito por ferozes militantes da defesa dos passarinhos com o único objectivo de tentar esvaziar a evidência de relação entre energia nuclear e desenvolvimento humano), nunca saíremos da cepa torta como eles."


Essa comparação até pegaria caso (esses 4 últimos países) não se tratassem de países produtores de petróleo (um deles até um dos maiores produtores mundiais, Noruega), e vastos recursos minerais(carvão, ferro, etc). É que sem ovos não se fazem omoletes, e de preferência ovos baratos.

Anónimo disse...

Spawm, quem veio com o argumento absurdo de que o Japão só era desenvolvido porque tinha energia nuclear foi um dos seus colegas na causa nuclear (que também disse outras pérolas do mesmo calibre).
Eu bem lhe disse para ir estudar os fenómenos de correlação e relação causal mas ele ficou muito ofendido por alguém pôr em causa a sua imensa sabedoria e o seu acutilante argumento.
Argumento esse que é tão forte, mas tão forte que se rebate em 2 parágrafos (aqueles que o Spawn citou).

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Spawn,
Exacto, portanto sendo estes quatro países desenvolvidos por causa da sua produção de petróleo e riqueza em recursos minerais devo concluir que há com certeza um erro na classificação de Angola e da Nigéria no índice de desenvolvimento humano, é isso?
henrique pereira dos santos