Foi publicado hoje um artigo que me ocupou durante quase 10 anos. Poucos trabalhos em que me envolvi tardaram tanto em ver a luz do dia. É uma avaliação exaustiva do efeito que as alterações climáticas projetadas para a Europa poderão ter na biodiversidade das suas áreas protegidas e da Rede Natura 2000.
O artigo pode ser visualizado aqui.
Trechos do comunicado de imprensa que será enviado hoje pode ser lido em baixo:
Até 2080, 58% dos vertebrados terrestres e das plantas poderão perder condições climáticas adequadas à sua ocorrência nas áreas protegidas da Europa. Estas perdas poderão atingir 63% das espécies prioritárias presentes na Rede Natura 2000. Estas e outras conclusões são obtidas num estudo coordenado por Miguel Araújo. O estudo analisa, pela primeira vez, a eficácia das políticas de conservação, num contexto de alterações climáticas, para 75% dos vertebrados terrestres e 10% das plantas presentes na Europa.
A equipa liderada por Miguel Araújo estudou a distribuição potencial de 1883 espécies, 585 vertebrados terrestres e 1298 plantas que ocorrem nestas redes de conservação, em função de vários modelos climáticos. “De acordo com os cenários climáticos disponíveis, as áreas protegidas preservam espécies da fauna e flora Europeias melhor que o território não conservado mas a Rede Natura 2000 é mais vulnerável às alterações climáticas e poderia preservar espécies prioritárias, na Europa, em condições menos propícias que outros territórios não conservados”.
A melhor capacidade de retenção de espécies nas áreas protegidas deve-se ao facto destas se situarem primordialmente em zonas de montanha que têm tendência a actuar como refúgios climáticos. No entanto, além de regiões montanhosas, a Rede Natura 2000 inclui regiões com relevo pouco acidentado, como é o caso das áreas agrícolas, onde os impactes das alterações do clima na distribuição das espécies se intensificam.
Este estudo confirma que o sul da Europa será mais afectado pelas alterações climáticas e que a Escandinávia e as regiões de alta montanha afectarão, negativamente, um conjunto menor de espécies. “Muitas espécies com ampla distribuição na Europa e presentes na Europa central e setentrional beneficiarão da subida de temperaturas. Porém, as espécies mais tolerantes ao frio e que vivem no extremo norte e em maiores altitudes serão expostas a pressões climáticas que poderão afectar seriamente a sua persistência”, diz Miguel Araújo.
Mudança nas políticas de conservação
Segundo os autores do estudo é necessária uma alteração de fundo nas políticas de conservação na Europa, já que estas não consideram as consequências das alterações climáticas na abundância e distribuição das espécies. O carácter fortemente dinâmico da distribuição das espécies, num contexto de alterações climáticas, poderá forçar uma revisão do estatuto actual de algumas áreas protegidas e induzir a classificação de novas áreas. Também se sugere o aprofundamento de mecanismos de gestão integrada da paisagem de modo a facilitar a mobilidade das espécies entre áreas protegidas. “Ainda hoje vigora a ideia de que as estratégias de conservação implicam o isolamento das áreas protegidas face a factores de ameaça externos. Porém, para que sejam eficazes, estas áreas devem mitigar os efeitos das alterações climáticas além de proporcionar uma gestão sustentável dos habitats e ecossistemas locais”. Segundo Miguel Araújo, seria importante rever os mecanismos de gestão das áreas protegidas de modo a contemplar planos para períodos de 20 a 50 anos em função da velocidade das transformações em cada ecossistema. Estes planos deveriam ser revistos regularmente e ser concebidos a escalas relevante para minimizar os impactes do clima.
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3 comentários:
"Até 2080, 58% dos vertebrados terrestres e das plantas poderão perder condições climáticas adequadas à sua ocorrência nas áreas protegidas da Europa."
Este estudo está errado. Tenho dados que até 2080, serão 59%.
Zandinga.
Parabéns, Miguel, por este ambicioso estudo :)
Um facto que comprova este estudo é que a raposa vermelha, está agora a 'colonizar' algumas partes mais a norte da siberia devido ao aumento da temperatura. Isso está prejudicar a raposa-do-artico que poderá ainda ficar mais em risco.
Roberto Faria
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