quinta-feira, março 31, 2011

Efeito das alterações climáticas nas redes de áreas para conservação

Foi publicado hoje um artigo que me ocupou durante quase 10 anos. Poucos trabalhos em que me envolvi tardaram tanto em ver a luz do dia. É uma avaliação exaustiva do efeito que as alterações climáticas projetadas para a Europa poderão ter na biodiversidade das suas áreas protegidas e da Rede Natura 2000.

O artigo pode ser visualizado aqui.

Trechos do comunicado de imprensa que será enviado hoje pode ser lido em baixo:

Até 2080, 58% dos vertebrados terrestres e das plantas poderão perder condições climáticas adequadas à sua ocorrência nas áreas protegidas da Europa. Estas perdas poderão atingir 63% das espécies prioritárias presentes na Rede Natura 2000. Estas e outras conclusões são obtidas num estudo coordenado por Miguel Araújo. O estudo analisa, pela primeira vez, a eficácia das políticas de conservação, num contexto de alterações climáticas, para 75% dos vertebrados terrestres e 10% das plantas presentes na Europa.

A equipa liderada por Miguel Araújo estudou a distribuição potencial de 1883 espécies, 585 vertebrados terrestres e 1298 plantas que ocorrem nestas redes de conservação, em função de vários modelos climáticos. “De acordo com os cenários climáticos disponíveis, as áreas protegidas preservam espécies da fauna e flora Europeias melhor que o território não conservado mas a Rede Natura 2000 é mais vulnerável às alterações climáticas e poderia preservar espécies prioritárias, na Europa, em condições menos propícias que outros territórios não conservados”.

A melhor capacidade de retenção de espécies nas áreas protegidas deve-se ao facto destas se situarem primordialmente em zonas de montanha que têm tendência a actuar como refúgios climáticos. No entanto, além de regiões montanhosas, a Rede Natura 2000 inclui regiões com relevo pouco acidentado, como é o caso das áreas agrícolas, onde os impactes das alterações do clima na distribuição das espécies se intensificam.

Este estudo confirma que o sul da Europa será mais afectado pelas alterações climáticas e que a Escandinávia e as regiões de alta montanha afectarão, negativamente, um conjunto menor de espécies. “Muitas espécies com ampla distribuição na Europa e presentes na Europa central e setentrional beneficiarão da subida de temperaturas. Porém, as espécies mais tolerantes ao frio e que vivem no extremo norte e em maiores altitudes serão expostas a pressões climáticas que poderão afectar seriamente a sua persistência”, diz Miguel Araújo.

Mudança nas políticas de conservação
Segundo os autores do estudo é necessária uma alteração de fundo nas políticas de conservação na Europa, já que estas não consideram as consequências das alterações climáticas na abundância e distribuição das espécies. O carácter fortemente dinâmico da distribuição das espécies, num contexto de alterações climáticas, poderá forçar uma revisão do estatuto actual de algumas áreas protegidas e induzir a classificação de novas áreas. Também se sugere o aprofundamento de mecanismos de gestão integrada da paisagem de modo a facilitar a mobilidade das espécies entre áreas protegidas. “Ainda hoje vigora a ideia de que as estratégias de conservação implicam o isolamento das áreas protegidas face a factores de ameaça externos. Porém, para que sejam eficazes, estas áreas devem mitigar os efeitos das alterações climáticas além de proporcionar uma gestão sustentável dos habitats e ecossistemas locais”. Segundo Miguel Araújo, seria importante rever os mecanismos de gestão das áreas protegidas de modo a contemplar planos para períodos de 20 a 50 anos em função da velocidade das transformações em cada ecossistema. Estes planos deveriam ser revistos regularmente e ser concebidos a escalas relevante para minimizar os impactes do clima.

3 comentários:

Anónimo disse...

"Até 2080, 58% dos vertebrados terrestres e das plantas poderão perder condições climáticas adequadas à sua ocorrência nas áreas protegidas da Europa."

Este estudo está errado. Tenho dados que até 2080, serão 59%.
Zandinga.

Pedro Almeida Vieira disse...

Parabéns, Miguel, por este ambicioso estudo :)

Anónimo disse...

Um facto que comprova este estudo é que a raposa vermelha, está agora a 'colonizar' algumas partes mais a norte da siberia devido ao aumento da temperatura. Isso está prejudicar a raposa-do-artico que poderá ainda ficar mais em risco.


Roberto Faria