quarta-feira, março 23, 2011

Paciência de Santos


A tónica da energia barata como condição de desenvolvimento está presente em vários dos comentários de pessoas pró nuclear aos posts anteriores.
Quando se faz notar que não há relação entre índice de desenvolvimento humano e localização do nuclear, a resposta é que não têm nuclear mas têm petróleo.
Aqui ficam então aqui os três mapas: dos reactores nucleares (o primeiro), dos países que produzem petróleo (o segundo) e do índice de desenvolvimento humano.
Duas notas.
1) Não existe correlação perfeita dos três mapas.
2) Existe uma coincidência entre largas áreas do mundo e áreas de concentração de reactores nucleares (não existindo a coincidência inversa, isto é, de áreas de ocorrência de reactores e áreas mais desenvolvidas). Se me fosse possível ter um índice de desenvolvimento humano para os anos 40 (anterior à emergência da energia nuclear), esse mapa coincidiria em grande parte com as áreas com maiores índices de desenvolvimento actual. Ou seja, a dianteira do processo de desenvolvimento dos países da América do Norte e da Europa (pelo menos desses) é anterior à emergência do nuclear. A haver correlação entre desenvolvimento e localização de reactores nucleares a relação é inversa da que é referida pelas pessoas pró-nuclear: é por serem países desenvolvidos e ricos, fortemente consumidores de energia, que estes países construíram reactores nucleares e não a que se pretende, que são ricos por têm reactores nucleares.
E o que é importante é que na sua enorme maioria, estes países pararam posteriormente essa construção e não pararam o processo de desenvolvimento.
Que a energia barata, globalmente barata, influenciou o processo de desenvolvimento dos últimos cem anos, está toda a gente de acordo.
Penso que também existe um acordo genérico no sentido em que pode haver elevados padrões de desenvolvimento local ou regional não assentes em energia nuclear ou produção de petróleo(olhar bem para o mapa do índice de desenvolvimento e verificar os inúmeros exemplos de países que souberam fazê-lo).
Onde existe divergência é em dois pontos:
a) que essa seja a condição de desenvolvimento nos próximos cem anos;
b) que ainda que seja, o nuclear consiga garantir preços competitivos face às alternativas, sobretudo à medida que é obrigado a internalizar questões que nos anos de ouro desta indústria foram passados para a sociedade (resíduos, descomissionamento, risco financeiro, responsabilidade civil, garantias cada vez maiores de resistência a acontecimentos extremos e por aí fora).
henrique pereira dos santos

3 comentários:

Nuno disse...

É importante também referir que a energia nuclear produz energia sob a forma de electricidade e o petróleo é cada vez menos usado para geração sob esta forma, sendo quase exclusivamente canalizado para transportes (ao contrário de outras fósseis mais importantes para a geração de electricidade).
Ou seja, quase não concorrem.

Também não é tão linear a equivalência de energia barata ao desenvolvimento, nomeadamente no caso do petróleo, quando os dois países desenvolvidos com a gasolina mais cara e a mais barata (Noruega e EUA, respectivamente) são ambos grandes extractores de crude.

O verdadeiro sinal de desenvolvimento não é a energia barata necessariamente mas a intensidade energética a par da produtividade, na qual os preços desempenham um factor crucial.
Infelizmente temos tido indicadores negativos a este respeito, o que só salienta mais o papel essencial da eficiência (sobretudo no consumo de combustíveis) sobre os meios de produção e importação de energia.

Não quero com isto fazer uma apologia do nuclear, que não considero por enquanto a opção estratégica para geração de electricidade melhor adaptada a Portugal.

Anónimo disse...

Caro H. Santos,
Depois de ler vários textos que aqui publica, concluo que o Sr. se tem desenrascado na vida à custa de «nomeações por urgente conveniência de serviço» ou de nomeações partidárias, uma vez que os seus comentários são próprios de quem nunca teve de ultrapassar um concurso (concurso a sério) para arranjar um emprego, ou ser seleccionado para fornecer um bem, e obter a partir do trabalho aquela coisa com que se arranjam os melões. Se soubesse o custa ganhar dinheiro, as suas ideias sobre produção de energia seriam muito diferentes, até porque não ia achar graça nenhuma a que o Estado espatifasse o dinheirinho que lhe estava a extorquir a título de impostos, em parvoíces, ou que lhe sacassem o dobro ou o triplo na factura da electricidade do que lhe deviam cobrar. Assim, como o taco lhe cai do céu, está tudo bem…
Já experimentou ir viver para uma comunidade hippie?
Paz e amor.
Américo Costa

Anónimo disse...

Américo Costa, e argumentos para a discussão em causa tem?
É que desde o HPS teve o desplante de colocar factos na conversa (sim, para os defensores no nuclear é uma coisa estranha, falar destas coisas recorrendo a factor), ainda não se viu nenhum comentário que não fosse a falar do HPS. Mas do tema em questão, nicles.