terça-feira, agosto 16, 2011

Desertos biológicos


Uso com frequência o título deste post para caraterizar pinhais e eucaliptais por me parecerem bastante semelhantes do ponto de vista do seu desinteresse para a conservação.
Mas claro que há surpresas.
henrique pereira dos santos
PS colaboro pontualmente com a Altri Florestal

15 comentários:

pqt disse...

Existem sempre maneiras diferentes de olhar para um eucaliptal, porque pegando nas conclusões de uma Tese de Mestrado intitulada "Forest’s management impact on tits reproduction" podemos ler: "The general idea, that eucalyptus forest is less suitable for bird species (Pina 1989; Catry et al. 2010) doesn’t seem true, at least compared with other commons monoculture forests. However, the high frequency of cutting doesn’t allow natural sites for the breeding but the nest box placement can minimize it. In order to obtain the best possible results, should be taken into account the edge presence (Paton 1994) and the geographic placement of the nest boxes. The shrubs’ layer cuts should also be done more carefully, in order to have a lower biological impact, due to its importance to the fauna (Díaz 2006)."

Henrique Pereira dos Santos disse...

pqt,
Estou genericamente de acordo com a ideia de que as monoculturas florestais dominantes em Portugal (essencialmente pinheiro e eucalipto, visto que as outras ou são residuais ou não são propriamente culturas) se equivalem no seu interesse para a conservação. E mais, acho que mais que na essência base da cultura é nos modelos de gestão que poderemos encontrar mais diferenças de resultados.
Por exemplo, sendo verdade que uma maior frequência de corte pode ter implicações, não é menos verdade que nos eucaliptais das celuloses (ou seja, cerca de 150 mil em 750 mil que existem no país) 10% são áreas de conservação, que podem funcionar como refúgios muito importantes.
Por isso o post é essencialmente uma defesa da procura de dados empíricos contra ideias feitas sobre povoamentos que se assumem como mais ou menos semelhantes, não o sendo: há mais diferenças entre um eucaliptal bem e outro mal gerido, que entre um eucaliptal e um pinhal igualmente bem ou mal geridos.
henrique pereira dos santos

FredericoV disse...

Dificilmente se pode comparar um pinhal puro com um eucaliptal puro, já que o primeiro é o habitat por excelência de um mamífero que pode ser a base de alimentação de várias espécies de aves e mamíferos carnívoros.
O esquilo está de volta ao nosso país há relativamente pouco tempo e talvez por isso ainda não tenha sido estudada a importância que este regresso teve na nossa biodiversidade.
Uma coisa é certa, pouco tempo depois do tal regresso, começaram a aparecer Martas no norte do país.
Dificilmente um pinhal com esquilos pode ser um deserto biológico, já que atrás destes podem vir as várias espécies das famílias Martes e Mustela, raposas, ginetas, aves de rapina,...

A metade norte deste país já se encontra repovoada com esquilos, talvez fosse altura de alguém estudar o seu efeito nas populações de predadores.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Frederico V,
Mais devagar com as relações de causa efeito. Os esquilos apareceram pelas mesmas razões que as martas ou os corços: porque o abandono rural está a beneficiar os animais da mata e a prejudicar os da clareira.
E o que leva a supor que não existem nos eucaliptais situações semelhantes? Viu o filme do post da altri?
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Estou convencido que a pobreza biológica dos eucaliptais tem a ver com a rápida rotação dos povoamentos e com as técnicas de corte e repovoamento.

Aumente-se o seu ciclo de rotação e modifique-se a estratégia de corte (p.e., deixando uma % de árvores sem cortar e evitando a mobilização da terra plantar novas árvores) e começaremos a ter eucalitais muito mais interessantes do ponto de vista da biodiversidade.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
Em parte terás razão, mas em parte talvez não.
1) Parte da pobreza biológica dos eucaliptais decorre do preconceito dos investigadores. Como já se sabe que não há lá nada com interesse não se vai verificar;
2) Os eucaliptais têm modelos de gestão razoavelmente diferentes, embora todos eles com cortes mais frequentes que nas outras espécies (é nisso que reside a sua vantagem económica comparativa). Mas nos 150 000 hectares das celuloses (deixando de fora os outros 600 000 hectares de eucalipto) há descontinuidades importantes, quer por causa da prevenção de incêndios, quer pelas áreas de conservação (podem coincidir mas muitas vezes não). Dentro das celuloses há também modelos de gestão diferentes, provavelmente com conteúdos biológicos diferentes, não sabemos bem.
3) Não estou convencido de que a mobilização do solo com intervalos de cerca de trinta anos seja assim tão relevante, mas posso estar enganado.
henrique pereira dos santos

Henk Feith disse...

Caro Miguel,

Gostava de saber com base em que conhecimentos baseias a tua convicção em relação à pobreza biológica dos eucaliptais.

Sou de opinião contrária da tua, e a minha baseia-se em muitas observações feitas em eucaliptais: são sobretudo os momento a seguir a um corte ou replantação em que os eucaliptais proporcionam oportunidades para várias espécies ameaçadas.

Se queremos encontrar espécies classificadas como ameaçadas pelo IUCN, por exemplo o chasco-ruivo, os dois noitibós e a alcaravão, basta procurar em áreas recém reflorestadas ou cortadas. Estas espécies aproveitam do terreno mobilizado e aberto para nidificar, embora noitibós também nidificam em eucaliptais de alto fuste.

Eucaliptais adultos são muito raros em Portugal por terem idades muito superiores (> 50 anos) à duração normal de uma rotação (10 anos), por isso é arriscado falar sobre o seu suposto mais-valia em termos de biodiversidade, mas é de esperar que oferecem sobretudo niches para espécies florestais já relativamente comuns.

O que as filmagens da Joana Cruz mostram é que há uma biodiversidade literalmente inesperada num eucaliptal ordinaríssimo (eu o conheço: é mesmo ordinaríssimo, apesar de se encontrar dentro do PNTI). Isto não torna os eucaliptais de repente mais valiosos, mas sim mostra que devemos ter muito cuidado quando se afirma algo sobre ecossistemas que foram muito mal estudados.

Espero que o doutoramento da Joana Cruz deite alguma luz sobre o papel dos eucaliptais na biodiversidade e sobretudo sobre como reforçá-la, sem por em causa os legítimos objetivos empresariais dos gestores. E não vamos pelas árvores isoladas deixadas em pé na altura do corte, sinceramente...

Henk Feith

Miguel B. Araujo disse...

Caro Henk,

Relativamente à tua pergunta: "Gostava de saber com base em que conhecimentos baseias a tua convicção em relação à pobreza biológica dos eucaliptais."

Respondo: Com base em observações pessoais que resumi no relatório da minha tese de mestrado "The effect of Eucalyptus globulus Labill. plantations on
biodiversity: a case study in Serra de Portel (South Portugal)" que poderás aceder aqui:
http://www.ibiochange.mncn.csic.es/wordpress/wp-content/uploads/araujo_msc1995.pdf

É um texto antigo, com quase 16 anos de idade, que resume observações parcelares. Ainda assim creio que existem elementos que são válidos ainda hoje.

Em resumo, o que concluí é que a avivauna dos eucaliptais não regista o eucaliptal como um biótopo específico, utilizando este espaço em função do que encontra no sub-coberto. Não é de estranhar pois a nossa fauna não co-evoluiu com os eucalipstos. Ainda assim é de esperar que pudessem aparecer espécies florestais, logo dependentes dos eucaliptos, se tivessemos eucaliptais maduros ou povoamentos com árvores de idades distintas.

As plantações de eucalipto representam uma forma de perturbação (disturbance) para a flora o que afecta o perfil ecológico e evolutivo das plantas que os ocupam. Se a renovação dos eucaliptais não fosse feita com cortes rasos seria possível minimizar o grau de perturbação e permitir o aparecimento de espécies florestais que beneficiam de condições de maior estabilidade.

Está tudo no relatório. Espero que seja útil para compreender o que digo.

Miguel B. Araujo disse...

Aqui estão algumas das recomendações que fiz na dita tese:

* For each new afforestation with Eucalyptus (or other non-indigenous tree) a fixed percentage of land should be set aside for habitat restoration purposes. This ought to include replanting of native species when necessary. In Sweden an arbitrary proportion of 5% has been proposed (SSNC & WWF, 1995).

* Native or old trees found within sites for afforestation should be maintained and practices to
ensure their survival, after the new plantation, undertaken.

* Strips of natural vegetation should be maintained and encouraged along rivulets and other features of the drainage system. No Eucalyptus planted before 25 meters from these corridors.

* Restocking should be made by coppice growth. A scatter of old trees should be maintained after
restocking.

* Undestore communities should be allowed. When this conflicts with the forest management of the
area (e.g. risk of fire or spread of diseases) scatter patches should be maintained mainly on north facing slopes. Vegetation should be maintained along rides.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
Vou ler a tua tese, mas 60 páginas em inglês não é imediato.
Mas há um comentário imediato que gostaria de fazer a estas tuas recomendações e respectivo contexto:
1) Falar da localização é importante, porque em zonas de maior secura o que se passa nos eucaliptais é bastante diferente do que se passa em zonas acima dos 600 a 700 mm. Nesse sentido Portel pode não ser um padrão. Mas como digo, ainda vou ler a tese;
2) Actualmente as duas celuloses afectam 10% da área de florestação para a conservação, portanto a tua primeira recomendação está cumprida por excesso (em grande parte por causa do FSC, suponho eu);
3) Tanto quanto sei a segunda recomendação também é hoje prática corrente, em especial no que diz respeito ao sobreiro e azinheira, mas também a outras árvores autóctones, sobretudo as mais velhas (mas o Henk saberá melhor se assim é);
4) A terceira recomendação também é genericamente cumprida (embora seja difícil convencer quem confunde valas de drenagem de encosta com linhas de água);
5) A quarta recomendação, se bem comopreendo o inglês, é só parcialmente cumprida, isto é, são feitos três cortes, suponho e só depois nova reflorestação com arranque dos cepos. Há matéria para discussão sobre estas práticas de reflorestação mas tenho as maiores dúvidas, tendo em atenção os 10% de área de conservação e a manutenção das árvors autóctones, que seja razoável a relação custo/ benefício do que aqui propões. Mas tenho dúvidas no inglês;
6) A última recomendação acaba por estar parcialmente coberta pelos tais 10% de áreas de conservação;
7) A questão central, como aliás se depreende das tuas recomendações, é o modelo de gestão e não o ser eucaliptal ou não;
8) Penso que a substituição de parte das operações mecânicas de controlo de máquinas, nomeadamente gradagens, que são um imperativo face ao risco de incêndio pode ser feita a preços competitivos com animais, mas a demonstração está por fazer. Se assim for, penso que haverá ganhos de biodiveridade substanciais, quer por aumento de matéria orgânica do solo, quer por redução da mobilização do solo, quer ainda pelo fecho de ciclo que favorece os decompositores, mas falta demonstrar.
É uma discussão interessante que se põe não apenas em relação aos eucaliptos mas a todos os sistemas altamente manipulados (campos de golfe, olivais intensivos, etc.) que me parece que podem ser mais produtivos do ponto de vista da biodiversidade se forem entendidos na sua lógica de produção mas também na sua lógica de gestores do património natural.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Não discordo do que dizes Henrique. As minhas observações são num contexto particular e podem não ser generalizáveis. No entanto parece-me bastante razoável afirmar que os povoamentos de eucaliptos jovens em Portugal são, hoje, habitat para poucas espécies. As minhas observações levam-me a crer que o que encontramos num povoamento de eucalipto é 1) altamente dependente do tipo de sub-coberto e 2) dependente da existência de habitats mais interessantes ("source") na vizinhança. Portanto, se o objectivo for maximizar a biodiversidade num povoamento de eucalipto (obviamente não é este o objectivo central mas assumamos que é suficientemente importante para condicionar a gestão destes povoamentos) é importante assegurar a presença de outros tipos de habitats na vizinhança, assegurar que o sub-coberto serve os interesses de algumas espécies, e --se quisermos ter espécies directamente dependentes dos eucaliptos-- assegurar que algumas árvores velhas persistem no meio de povoamentos mais jovens. Na realidade o ideal seria ter povoamentos com diferentes níveis etários ainda que reconheça que isto possa induzir custos acrescidos à operação.

Quando me interessava mais por estes temas (não é o caso actualmente), cheguei a visitar uma exploração florestal na Finlândia onde se fazia um corte selectivo das árvores (coníferas) usando uma máquina que se assemelhava a uma aranha com patas compridas. Esta máquina tinha um impacte reduzido no solo e permitia a deslocação dentro de um bosque denso de uma máquina que tinha a capacidade de cortar rapidamente as árvores arrumando-as a um canto, de forma ordenada. Nunca vi estas máquinas pelas nossas paragens mas também nunca ouvi que se fizesse corte selectivo de árvores em Portugal. Talvez se faça em alguns povoamentos de Pinheiro (por exemplo o Pinhal da Aiana tem árvores com idades muito diversas) mas no que diz respeito ao Eucalipto desconheço qualquer exemplo. Mas posso estar enganado.

Henrique Pereira dos Santos disse...

O corte ajardinado de que falas era dominante nas zonas de mini-fúndio, hoje não o será. Tem implicações económicas importantes, mas também de afectação das árvores envolventes quando não é feito de forma tecnicamente evoluída (e grande parte dos nossos prestadores de serviços florestais são muito pouco diferenciados).
As celuloses penso que nunca usaram cortes ajardinados. Também não sei o destino das árvores desse povoamento na Finlândia, que pode ter influência na opção pelos modelos de gestão.
De resto o que dizes faz sentido mas será preciso actualizar o que se sabe sobre a biodiversidade dos eucaliptais na medida em que os modelos e técnicas de gestão evoluíram bastante.
Na área de maior presença do eucaliptal (a fachada Noroeste do País) valia a pena teruma ideia mais precisa do que se passa.
henrique pereira dos santos

Henk Feith disse...

Miguel,

O HPS foi mais rápido, por isso não vou repetir o que disse, para além de afirmar que as tuas orientações de gestão são hoje em dia prática corrente nas empresas de celulose, com algumas atualizações (a prática de deixar algumas árvores em pé na altura de corte foi amplamente aplicada pela Celbi, mas depressa chegou-se à conclusão que na maioria acabam por morrer poucos anos depois devido à exposição repentina das árvore tiradas do meio envolvente do povoamento de alto fuste).

Há dois assuntos misturados na série de comentários:

1 - o valor conservacionista per si de eucaliptais. No meu entender é superior ao o que é convicção corrente, devido ao facto de ser mal estudado, quando comparado com outros sistemas florestais, nomeadamente os montados de sobro e azinho que utilizas na tua tese. Se calhar não falharei muito se estimar que pode haver cem estudos de biodiversidade de montados para cada estudo de biodiversidade em eucaliptais.

2 - o papel da gestão no valor conservacionista dos eucaliptais.

MBA: "se o objectivo for maximizar a biodiversidade num povoamento de eucalipto". Continues que obviamente não é. Mas também não o é no caso dos montados. Não deve haver muitos produtores florestais que dependem das receitas da sua atividade, que têm esse objetivo, seja qual for o tipo de povoamento: eucaliptal, pinhal, montado, souto, carvalhal, choupal. O que se verifica é que certos modelos de gestão tem como consequência dela povoamentos mais ou menos biodiversos. Mas a biodiversidade raramente é o objetivo principal da gestão e quando é raramente depende dos proveitos da sua floresta para financiar a gestão.

O modelo de gestão dominante do eucalipto situa-se numa posição de transição entre a agricultura e a silvicultura. A sua rentabilidade depende desse modelo e não é compatível com modelos nórdicos de silvicultura ou outros estrangeirismos como cortes jardinados, que nasceram por necessidade nas florestas montanhosas de Europa Central.

Se calhar é de olhar para os eucaliptais sem tentar procurar o que não têm (rotações de muitas décadas, com subbosques abundantes, povoamentos irregulares e mistos) mas sim tentar descobrir o que têm para oferecer em termos de biodiversidade. E a sua elevadíssima dinâmica, que acaba por oferecer povoamentos em todas as fases do seu desenvolvimento em simultâneo à escala da paisagem, deve ser visto como uma mais valia e não um defeito.

Dou um simples exemplo, "emprestado" pela Joana Cruz no doutoramento que está a fazer: os simples rodados das máquinas de corte (sim, aquelas de rodas ou rastos, não as de patas, que nunca passaram de uma curiosidade tecnológica) acabam por criar inúmeros pontos de água temporários, proporcionando preciosos locais temporários de procriação de várias espécies de anfíbios, em pleno eucaliptal (cortado). E, lá está, a Joana não estava à espera dessa riqueza, nem a equipa do CIBIO. Hoje, a Joana e sua equipa do CIBIO elaborou um manual prático para a criação de charcos temporários em áreas a florestar, que são fáceis e baratos de construir, tendo lá as máquinas de florestação no terreno.

Tem-se olhado demasiado para a silvicultura nórdica como um exemplo a seguir. Ela funciona bem lá; mas nós devemos encontrar as nossas formas de gerir bem a nossa floresta, à nossa maneira, sem copiar cegamente sistemas que não têm nada a ver com as nossas florestas.

E é pena que te desinteressaste para a gestão florestal, porque tem sido uma área de grande evolução por um lado, e por outro lado onde ainda há espaço (real, terra, hectares, milhares deles) para implementar medidas que promovem a real biodiversidade.

Um abraço,

Henk

PS, já descarreguei a tua tese. Vou arranjar tempo para a ler...

Henrique Pereira dos Santos disse...

Henk,
Os cortes jardinados não são um estrangeirismo, no máximo são um arcaísmo. Sempre foram usados por estas bandas e faziam sentido quando a mão de obra era abundante, a tecnologia incipiente e os objectivos do gestor eram de mera complementaridade com a exploração agrícola.
Estrangeirismo é a nossa silvivultura moderna toda (sobretudo de escola alemã), uma silvivultura de resinosas que só com o eucalipto se começou a autonomizar no enquadramento teórico. De resto Viriato era pastor, não era lenhador.
Mas este é apenas um pormenor.
henrique pereira dos santos

Henk Feith disse...

Henrique,

Cortes salteados é um termo Português deficiente para descrever o modelo de silvicultura que será por ventura um dos mais sofisticados e complexos de Europa, conhecido como Futaie jardinée ou Plenterwald, descritas de forma detalhada pela primeira vez há mais de um século pelo Henry Biolley para a floresta de Couvet, Jura, Suiça. É um sistema puramente silvícola, sem qualquer componente agrosilvopastoril, ao contrário do que é costume nos países mediterrânicos. Baseia-se num equilíbrio estável na distribuição das árvores pelas classes de diâmetros (la Méthode du Contrôle), originando a classica curva "J-invertida". Os cortes jardinados ocorrem com intervalos idealmente de cinco em cinco anos, em que são removidas árvores em todas as classes de diâmetro, garantindo desta forma a manutenção da curva de distribuição. A capacidade de manter esta distribuição dependia em grande parte do mestre florestal, que percorria as parcelas a cortar com a sua equipa, em que todas as árvores eram "sutadas" e registadas, numa operação fantástica em que tive o privilégio de participar em Les Vosges francesas.

Tem havido um esforço muito grande de exportar este modelo de silvicultura para fora do seu "habitat natural" (as florestas de
montanha a base de Abeto Abies alba e Faia Fagus silvestris), no entanto ser grande sucesso, por não reunir as condições únicas daquelas florestas em outros lugares.

Nada disto se aproxima aos cortes salteados promovidos por pequenos proprietários que descreves, por motivos de necessidade de material lenhoso para estacaria ou lenha, muito mais parecido com o sistema Francês de Taillis sous Futaie, a base de carvalhais de baixa altitude de Quercus robur e Quercus petraea, em que os povoamentos em talhadia
mantinham vários exemplares de alto fuste, permintindo desta forma a oferta de madeira de dimensões variadas para os diferentes fins de uso agrícola e habitacional.

Henk Feith