domingo, abril 22, 2012

Cinco anos



É o tempo máximo que digo que o lince demorará a chegar a Portugal. Não um bicho tresmalhado, mas a confirmação da criação. É uma previsão temerária, mas fica feita e daqui a cinco anos verificaremos em que ponto estamos.
henrique pereira dos santos

12 comentários:

aeloy disse...

Pois.Daqui a cinco anos então veremos.
O meu palpite é o oposto, infelizmente nada temerário.
Mas oxalá tenhas razão.
A reintrodução das crias na natureza não seja o fiasco que tem sido até agora.
As áreas selvagens onde o lince pode ter territorialidade não continuem a ser esquartejadas, alteradas no coberto vegetal e até urbanizadas.
O coelho, pois o coelho não continue a sofrer de todas as actuais patologias.
Donanã não continue a ser destruida.
Talvez se isso tudo ocorrer daqui a 5 anos o lince reproduza na natureza e as crias sobrevivam. Ainda.
António Eloy

Henrique Pereira dos Santos disse...

António,
Já fiz um post a explicar um bocadinho melhor as coisas.
A reintrodução é um pormenor razoavelmente marginal nesta história. O que conta é o facto da população de coelho estar a recuperar, como é da teoria: há uma ameaça séria à espécie, de maneira geral uma doença, a maior parte dos indivíduos sucumbem e há meia dúzia de marginais que por acaso têm algum tipo de resistência a essa doença. Se alguma dessas resistências tiver origem em qualquer característica genética, os descendentes desses marginais tornar-se-ão dominantes e a espécie adapta-se às doenças que provavelmente não se extinguirão, manter-se-ão endémicas mas não determinantes na dinâmica das espécies.
Nós somos sobretudo expectadores. Incluindo os libertadores de linces.
henrique pereira dos santos

Henrique Pereira dos Santos disse...

espectadores, claro

Anónimo disse...

Caro António Eloy, não sei como pode dizer que a reintrodução de crias tem sido um fiasco, quando em apenas 24 meses se criaram 2 núcleos populacionais novos que aumentaram as populações existentes em cerca de 15% do número total de linces. Usando linces translocados em idade juvenil que pouca hipótese teriam de sobrevivência por não terem territórios disponíveis nas populações fonte (sim... não havia coelho suficiente para haver mais territórios), e linces produzidos em cativeiro com taxa de sucesso actual (mas impossível de manter assim que começar a solta dura à séria) acima dos 90% - 16 linces reintroduzidos, 1 morto por caixa armadilha de controlo de predadores em Castilla la Mancha (como morrem outros linces nascidos no campo). Todos os outros soltos por solta branda (muito maior taxa de sucesso, mas muito maior investimento envolvido) têm conseguido defender territórios e subsistir, com maiores ou menores problemas, alguns voltam à base para tratamentos (no ex situ) e voltam a saír em condições. Além disso, alguns dos linces reintroduzidos já reproduziram e deixaram descendência viva no campo. Confira em http://www.lifelince.org/.

Partilho da confiança do Henrique, ainda que por razões diametralmente opostas. Porque conheço os métodos usados em Espanha e sei das suas taxas de sucesso, métodos com os quais nos comprometemos quando nos juntámos ao LIFE Ibérico actual (ver link, está lá tudo). Porque temos uma equipa de campo fantástica à beira de começar o trabalho, liderada (tudo leva a crer) por um biólogo de excepção.

Porque os Andaluzes gastaram 50 milhões de euros para saber qual a forma mais efectiva por € de incrementar o coelho, à custa de muito €. Porque finalmente há massa crítica de pessoas e organizações a remar para o mesmo lado em Portugal. O lince vai andar para frente em menos de 5 anos em Portugal garanto eu, que nada tenho a ver com o trabalho de campo nem sou tido nem achado no processo. Mas que já vi como se faz e sei o que custa. Esperar sentado é que não é uma opção.

Acima de tudo, porque a equipa Andaluza de conservação do lince é uma máquina. Afinada. De gente incrível, que trabalha horas a fio, e que não espera sentada pela recuperação do lince vinda de Portugal. E é assim que este magnífico bicho voltará a Portugal. Através do trabalho que aí se fez, e do investimento em que isso se traduziu. Tudo o resto é especulação.

Rodrigo Serra

Henrique Pereira dos Santos disse...

Rodrigo,
Se alguém cria novos núcleos populacionais em áreas de expansão natural da espécie é perfeitamente natural que tenha muito sucesso, sobretudo se contabilizar a expansão natural da espécie como resultado de lá ter soltado bichos.
henrique pereira dos santos
PS Quanto a Portugal, são cada vez mais intensos, diversos e credíveis os testemunhos de que o lince anda por aí. É portanto garantido o sucesso do que vier a ser feito. Daqui a pouco vai nascer o sol. Se eu for para a rua dizer ao sol para nascer é natural que o êxito dessa exortação seja muito elevado.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Rodrigo,
A tal equipa fantástica, liderada por um biólogo de excepção, foi escolhida por concurso público?
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Olá Henrique,

Já tenho alguma dificuldade em entender os seus argumentos, desculpe-me, quiçá porque são de natureza filosófica e não técnica. Mas vou tentar.

Suponho que os avistamentos sejam tão intensos quanto os avistamentos qie deram os 50 linces resultantes dos inquéritos dos anos 90, é isso? Onde se "viam" 50 linces em Portugal já com ele pré-extinto?

Ou está a falar da enorme maré de avistamentos que se deram de facto quando realmente passou UM lince por aqui, o Caribou (um apenas, reforço), que apenas passou uns dias em Portugal e toda a gente o viu? Como alguém já disse e bem, a noção de lince fantasma é um mito. Ou há, ou não há. E os linces imaginados não contam, infelizmente. Os outros vêem-se.

Segundo sei, a equipa vai ser do ICNB, não entendo para que quer um concurso público. Mais despesas para quê quando as competências necessárias se encontram em "casa"?

Na parte filosófica da questão, continuarei a sair para a rua a exultar o sol enquanto me deixarem e o meu País me quiser, porque até mesmo só essa atitude é mais valiosa do que ficar sentado à espera que o sol nasça porque alguém em Espanha o exultou a fazê-lo.

Haverá linces, mas porque alguém anda a fazer alguma coisa por isso - e gastar dinheiro com isso. É só esse o meu ponto.

Rodrigo Serra

Anónimo disse...

E quanto à área de expansão natural do lince, diga-me: se essas populações podessem chegar lá pelo seu próprio pé em vez de terem de ser reintroduzidas, acha mesmo que alguém sequer pensaria em ter a trabalheira toda de fazer cercados de aclimatação, translocar linces, reforçar coelho, dar coelho manso como alimentação suplementar em cercados criados especialmente para o efeito, e todas as outras milhentas acções, tal como descritas no site do lifelince? Não me parece.

Rodrigo

Henrique Pereira dos Santos disse...

Rodrigo,
Vou servir-me da minha condição de mais velho para lhe dar um conselho, mesmo sabendo que se os conselhos valessem alguma coisa seriam vendidos e não dados: evite partir do princípio de que simplesmente porque as pessoas pensam e dizem coisas diferentes das que o Rodrigo diz elas são todas estúpidas ou ignorantes.
Há muitos anos, mesmo muitos, já eu tinha de avaliar informação sobre conservação do lince. Mais do que isso, tomei decisões sobre o assunto e defendi-as publicamente perante o silêncio de muitos destes heróis que agora se põem em bicos de pés para aparecer nas fotografias da recuperação do lince.
Portanto: 1) sei distinguir muito bem testemunhos credíveis de conversa de café e sei que testemunhos credíveis são apenas isso, testemunhos credíveis, não são necessariamente a verdade; 2) já não é a primeira vez que o Rodrigo se põe na posição de quem está a fazer alguma coisa pela conservação do lince ao contrário de outros, como eu, que se limitam a ficar sentados à espera do que faz Espanha. Não é pelo facto do Rodrigo repetir incessantemente o mesmo argumento que ele passa a ser verdadeiro e legítimo.
Se tem argumentos para responder tecnicamente ao que digo (e já dizia quando previ a recuperação do lince no dia em que recuperasse a população de coelho, quando todos esses especialistas que agora explicam a recuperação com o seu trabalho diziam, com a mesma sobranceria que o Rodrigo usa, que eu só estava a dizer disparates) responda tecnicamente, se não tem, deixe correr, não é grave, há muitas vezes que não estou convencido mas não tenho argumentos e nessas circunstâncias o melhor é aceitar e ir para casa estudar e pensar. Com o tempo ou se muda de opinião, ou se encontra o argumento. É simples e bastante mais proveitoso.
Sim, acho que há gente que acha que os bichos não fazem o que realmente fazem porque não encaixa nos seus modelos mentais. Lembro-me bem de um dos primeiros seguimentos de lince por telemetria ter espantado os biólogos envolvidos porque o bicho atravessou cinco quilómetros de campo agrícola sem refúgios, o que era impossível na cabeça dos investigadores.
Lamento mas posso dar mais de cem exemplos concretos de coisas que os investigadores consideravam impossível (como um crescimento médio anual de 30% da população de lince durante dez anos) e que os bichos, que não estudam biologia, fizeram.
Uma equipa do ICNB vai recuperar o lince em Portugal em cinco anos? Esperemos para ver. Não porque no ICNB não existam pessoas competentes para o trabalho, mas porque não existe no ICNB capacidade para fazer nada de relevante no que é essencial: gerir território em função do coelho em dimensão suficiente. Mas veremos, espero que o Rodrigo tenha razão. E de qualquer maneira felizmente a recuperação do coelho não depende do que o Estado faça.
henrique pereira dos santos

Henrique Pereira dos Santos disse...

Já agora, embora o Rodrigo saiba mas provavelmente não se terá lembrado, muitos outros não saberão, uma das fêmeas que estão nas tais novas áreas onde os bichos não chegariam pelo seu próprio pé, chegou pelo seu próprio pé vinda de uma das outras populações, sem ter sido precisa nenhuma translocação.
Mudou-se, simplesmente, que é uma coisa que os bichos em liberdade fazem, mesmo quando os que os estudam acham que não.
Evidência empírica é isso mesmo, verificar o que aconteceu de facto.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Henrique, não valerá então a pena vir comentar para o seu blog, se acha que venho aqui para o ofender. Muito menos se acha necessário dar-me conselhos sobre o que quer que seja.

Mas o facto de ter outra opinião diversa da sua não me parece fonte de motivação para conselhos. Apenas não concordo com a sua visão do problema, não acho que seja consequente para a resolução do problema do lince, nem tenho medo de o dizer alto e bom som. É só isso. E acho que a sua posição é perigosa, quando na crise actual e no contexto dos cortes de financiamento, se pode atrasar ou afundar o bom trabalho e muito investimento feito até agora em Portugal sobretudo. Porque em Espanha a discussão não é se se deixa de trabalhar para a resolução do problema, é mais como dirigir o investimento necessário.

Se lhe custa ouvir isto de uma pessoa "mais nova", as minhas desculpas. Mas a minha posição não muda, assim que deixarei simplesmente de incomodá-lo com a minha argumentação. O essencial está dito.

Melhores cumprimentos,

Rodrigo

Henrique Pereira dos Santos disse...

Rodrigo,
Se lhe digo que os testemunhos de presença do lince em portugal são mais insistentes e consistentes e o Rodrigo responde como seu eu fosse atrasado mental e andasse atrás de mitos de animais fantasmas está à espera que eu reaja como?
Quanto ao facto da minha posição ser perigosa ou não é-me completamente indiferente (ouço muito esse argumento a propósito dos fogos), o que me interessa discutir é se está certa ou errada.
Se quiser discutir isso, muito bem, se quiser simplesmente defender o financiamento público de acções que, na sua maioria, são dinheiro deitado à rua, tudo bem também, eu limitar-me-ei a discordar apresentando os meus argumentos de forma clara. se estiverem errados é fácil rebatê-los, mas o Rodrigo tem optado por não os discutir. É pena.
henrique pereira dos santos