domingo, junho 24, 2012

Um post em causa própria


Tenho com frequência criticado o movimento associativo, em especial de carácter ambiental, mas hoje venho aqui falar da generosidade de duas associações.
Estou completamente envolvido neste projecto, mesmo que formalmente o seu promotor seja a Desafio das Letras, que é uma empresa com quem colaboro muito frequentemente.
O projecto resume-se facilmente: a Desafio das Letras, entre outras coisas, gere programas de visitação. Por uma série de coincidências felizes, começou a ensaiar a inclusão de pessoas com dificuldades de locomoção nos seus passeios. Não se tratava de desenhar passeios para pessoas com deficiência, mas sim de incluir algumas dessas pessoas nos seus passeios normais, sem preocupação de usar caminhos acessíveis. O projecto resume-se pois a comprar o equipamento que permita esta inclusão.
Depois dos primeiros ensaios, a Desafio das Letras encontrou o equipamento que lhe permitia oferecer essa opção. O princípio de não cobrar mais pelos passeios a pessoas com deficiência e, pelo contrário, reduzir em 50% o custo para um acompanhante, torna completamente impossível o retorno financeiro da compra do equipamento. Numas contas rápidas, e considerando um custo do equipamento de 2600 euros e uma inscrição de 20 euros por passeio, seria preciso realizar 130 passeios (admitindo que todo o valor da inscrição é lucro líquido, o que está longe de ser verdade) para pagar o equipamento. Ao ritmo a que são feitos os passeios pela Desafio das Letras, admitindo que em todos eles haveria utilização do equipamento, eram precisos mais de cinco anos para o pagar. Estava fora de causa fazer o investimento numa base estritamente financeira.
Acontece que nos primeiros ensaios, usando equipamentos públicos cedidos pela autarquia da Lousã que tem uma forte política de acessibilidade, participou uma das minhas irmãs que, evidentemente, conheço há décadas. Quando lhe telefonei a saber como tinha corrido, perguntei-lhe se o percurso era interessante. A resposta, vinda de uma pessoa que conheço há décadas, foi para mim absolutamente surpreendente: "não tenho termo de referência porque nunca tinha andado por matas e campos agrícolas sem ser nas estradas normais por onde passa um carro". Eu não tinha consciência de que todo esse mundo tinha estado vedado, até esse dia, à minha irmã. Se já tinha simpatia pela ideia, fiquei rendido.
Do conjunto de coincidências que ocorreram resultou a ideia de recorrer ao "crowdfunding", financiamento pela multidão, que é um sistema em crescimento no mundo. Já escrevi no blog sobre este sistema, aqui e aqui, pelo menos. O primeiro projecto que cito teve êxito, o segundo não.
Ora o que me interessa aqui referir é que nestes sistemas de crowdfunding há sempre recompensas oferecidas pelo apoio dado ao projecto, rescompensas essas definidas pelos promotores.
No caso deste projecto uma das recompensas, para quem queira apoiar com 250 euros (o apoio pode ser só um euro, as recompensas é que variam em função do montante), é a organização de um passeio experience nature, da desafio das letras, especificamente para o apoiante.
Duas associações ambientais resolveram ao mesmo tempo ser solidárias e contribuir para as suas próprias actividades: contribuíram com 250 euros (em fase de formalização) e vão disponibilizar passeios aos seus sócios e apoiantes (pagos ou não é uma opção das respectivas associações), com conteúdos especificamente desenvolvidos para dar resposta aos objectivos das associações.
Só posso estar contente com o movimento ambientalista que foi solidário com esta ideia de abrir as portas do campo a muita gente "que tem dificuldade em pôr um pé à frente do outro".
henrique pereira dos santos

2 comentários:

Anónimo disse...

Será que é desta?
"Aljezur: Dois autarcas do PS condenados por especulação imobiliária" (TSF, hoje 14:45)

Anónimo disse...

Será que é desta 2?
"Macário perde mandato de Faro por violações do PDM em Tavira" (ionline em 4 Jul 2012 - 16:07)