segunda-feira, fevereiro 21, 2005

A viragem do ciclo

O resultado das eleições de ontem traz um conjunto de boas notícias. Primeiro, foi o desejado adeus daquele que representou o pior pesadelo da democracia Portuguesa. Espero que o PSD se consiga ver livre da criatura voltando a constituir-se como partido de “quadros” que sempre foi. O País precisa de um PSD forte e liderado por gente competente.

Segundo, foi positivo o PS ter ganho com maioria absoluta. É verdade que a vitória deve-a mais ao demérito do adversário que ao mérito das propostas avançadas na campanha. Espero que o PS entenda a mensagem e a saiba honrar. O fundamental é que o País entendeu que é tempo de estabilidade. A estabilidade não é uma palavra oca. É um imperativo para garantir a planificação e execução de políticas de fundo. Como já referimos neste blog, um dos grandes problemas deste País tem sido a crónica instabilidade política apenas interrompida pelos governos de Cavaco Silva. O PS tem agora condições únicas para mostrar o que vale. Tem, por um lado, uma maioria absoluta e, por outro, uma legislatura superior a quatro anos já que as próximas eleições serão, salvo decisão contrária do Presidente da Républica, em 2009.

Para que esta legislatura não se transforme num fracasso é importante que o próximo Primeiro Ministro evite cair na tentação de distribuir os famigerados “jobs for the boys”. Esta é uma das características mais nocivas da democracia Portuguesa a que não escapam de responsabilidade o PS e o PSD. Algum dia este ciclo tem de ser quebrado sob pena de se eternizarem sequências de pequenas vinganças nos locais de trabalho que só prejudicam o País. Se quisermos tirar o País do atoleiro temos de confiar nos melhores. E isso implica a transição rápida de uma nossa sociedade assente no tráfico de influências para uma sociedade assente no primado do mérito.

As condições objectivas para a mudança foram dadas pelos eleitores. O momento histórico para as reformas está à porta pois são as pessoas que o pedem. E se isto não chegasse temos o imperativo da mundança sob pena de voltarmos à penúria do passado.

Mas um Governo forte requer uma sociedade civil à altura. Estejamos atentos. Sejamos críticos. Sejamos também construtivos. E sobretudo sejamos partícipes da mudança. Uma sociedade constroi-se com sentido de comunidade. E esse ganha-se com a compreensão de que tudo está ligado e de que os nossos pequenos gestos no dia a dia afectam o bem estar dos outros e que este bem estar, por arrasto, acaba por nos afectar a nós. O egoísmo social que Portugal tem vindo a consolidar nos últimos anos é consequência mas também causa do nosso atraso social. Espero sinceramente que o dia de hoje represente o ínicio de um novo ciclo e que este seja melhor que o anterior.

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