Finalmente tenho tempo para este tema.
E logo por coincidência no segundo dia de vento Leste. Não vi as notícias de hoje, não sei se há fogos, mas quase que garanto que amanhã, se continuar o vento Leste como previsto, começarão as notícias sobre fogos.
Mesmo em Maio, mesmo tendo havido um ano com chuva até tarde (o que interessa para efeito do fogo não é se o ano é chuvoso ou não, mas quando chove, mesmo que pouco), tenho poucas dúvidas de que três dias de vento Leste, ainda que não seja forte, são suficientes para que bastantes incêndios apareçam.
Não é muito importante por que razão aparecem, o importante é que nestes dias aparecem facilmente e apagam-se dificilmente.
Quer isto dizer que a culpa dos fogos é do vento Leste? Claro que não, quer simplesmente dizer que o vento Leste é um dos factores da equação.
E onde entra a cabra?
No facto de me parecer que não há maneira mais eficiente de reduzir combustíveis.
Como deixámos de estrumar terras (para o que era preciso ir roçar o mato), como deixámos de nos aquecer e cozinhar a lenha e como reduzimos e muito o gado no monte, os matos acumulam-se.
Ora é esta combinação de acumulação de combustível e de condições climatéricas que tornam muito difícil a gestão do fogo entre nós.
Dir-me-ão que a correcta gestão florestal resolve o problema. Resolve, sim (com custos ambientais muito significativos), mas apenas se a exploração florestal pagar as operações de limpeza, o que não acontece em mais de 50% do território.
Tudo isto são disparates?
Talvez sejam, podem começar a verificar amanhã o grau de fiabilidade das previsões (tendo em atenção o facto de o nosso instituto de meteorologia ser avesso à disponibilização de informação regional).
Daqui para a frente, verifiquem no boletim meteorológico a direcção do vento. Sempre que passar de três dias entre Maio e Outubro, vejam o resultado. E sempre que a previsão, para além da direcção Leste indicar vento forte, verifiquem também.
Lembrem-se de descontar os dias em que choveu minimamente nas duas semanas anteriores.
Hoje o Público no texto do boletim meteorológico não diz a direcção do vento. Mas no desenho do mapa, lá está a direcção do vento.
No fim do Verão conversamos sobre os resultados observados por cada um.
henrique pereira dos santos
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
Ca' esta'. Pareces agoirento ;)
Fogo combatido por 59 bombeiros
Incêndio florestal lavra em Pedrógão Pequeno
Publico online 28.05.2006 - 15h16
Um incêndio florestal está a consumir uma área de pinhal em Vale da Galega, Pedrógão Pequeno, no concelho da Sertã, segundo o Centro Distrital de Operações de Socorro de Castelo Branco.
O fogo deflagrou às 13h00, estando a ser combatido por 59 bombeiros, de seis corporações, apoiados por 16 viaturas e um helicóptero.
Às 14h20 as chamas estavam fora de controlo, ainda de acordo com o Centro Distrital de Operações de Socorro de Castelo Branco, citado pela Lusa.
Não é propriamente agoirar, mas há anos que faço esta verificação. Aliás a Lusa já tinha feito uma outra notícia (já depois do escrevi para não dizerem que fiz batota) a dizer que os fogos tinham saltado de quinta para sexta(o primeiro dia de vento leste). Já agora, esta estatística de que desde o início deste anohá cinco vezes menosfogos que no ano passado não sere para grande coisa: por volta de Março d ano passado houve imensos fogos, numa tal onda de calor fora de tempo.
henrique pereira dos santos
28-05-2006 17:39:00. Fonte LUSA. Notícia SIR-8031414
Temas: desastres incêndios portugal
Incêndios florestais:Quatro fogos ainda por controlar, 144 bombeiros no combate
Lisboa, 28 Mai (Lusa) - Quatro incêndios florestais estão hoje à tarde a ser combatidos nos distritos do Porto, Castelo Branco, Leiria e Santarém, por 144 bombeiros e 37 viaturas, segundo o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil.
O fogo que arde há mais tempo - quatro horas - é o do Lugar da Telha, no concelho de Santo Tirso, distrito do Porto. No combate às chamas, estão envolvidos 19 bombeiros e cinco viaturas.
Em Maljoga de Proença, no concelho de Proença-a-Nova, distrito de Castelo Branco, 74 bombeiros e 18 viaturas combatem as chamas há hora e meia.
Em Carriço, concelho de Pombal, distrito de Leiria, 25 bombeiros e sete viaturas tentam extinguir as chamas há mais de uma hora.
Em Alpiarça, distrito de Santarém, um outro incêndio está por circunscrever há mais de uma hora, apesar dos esforços de 26 bombeiros e sete viaturas.
A subida das temperaturas, nos últimos dias, fez regressar o flagelo português de Verão, os incêndios florestais.
No sábado, registaram-se 164 incêndios (mais vinte que no dia anterior), que foram combatidos por 1.532 bombeiros.
Na última semana, entre 20 e 27 de Maio, os bombeiros portugueses combateram 622 incêndios florestais.
Contudo, este ano, os incêndios florestais, agrícolas e em terrenos incultos e a área ardida desde o início do ano são "cerca de cinco vezes inferiores", relativamente ao mesmo período de 2005, revelou esta semana a Protecção Civil.
Entre 01 de Janeiro e terça-feira passada, registaram-se 3.314 ocorrências de fogo, contra 10.498 em 2005, enquanto a área ardida este ano totaliza 1.585 hectares, contra 10.931,3 em 2005, referiu o comandante operacional nacional do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, Gil Martins.
Em termos comparativos, este ano registam-se menos 7.184 incêndios e menos 9.346,3 hectares de área ardida, acrescentou o responsável, que falava numa acção de formação para jornalistas sobre o sector de socorro relativamente aos fogos.
A detecção rápida e a integração de todos os meios numa única equipa são a grande aposta do dispositivo deste ano de combate aos fogos florestais, segundo o ministro da Administração Interna, António Costa.
A Fase Bravo (a segunda de quatro fases de intervenção e combate aos fogos durante o ano) começou a 15 de Maio e termina a 30 de Junho, seguindo-se uma outra, em que há mais probabilidades de ocorrência de incêndios, de 01 de Julho a 30 de Setembro.
O Instituto de Meteorologia prevê que os termómetros comecem a descer segunda-feira, juntamente com o aumento de nebulosidade, o que poderá diminuir o número de incêndios.
O IM prevê para segunda-feira céu pouco nublado em todo o país, temporariamente muito nublado durante a tarde, com condições favoráveis à ocorrência de aguaceiros e trovoadas, e pequena descida da temperatura máxima nas regiões do litoral.
A temperatura mais elevada prevista será de 36 graus, em Santarém.
Em 2005, os incêndios florestais custaram a vida a 16 pessoas e destruíram 325.226 hectares em Portugal.
MF.
Lusa/Fim
Caro Henrique:
A influência do vento Leste na ignição e alastramento de incêndios tem sido justamente tido em conta por vários estudiosos como variável predictora nas equações que estimam o risco "conjuntural" de incêndio, a par da humidade relativa do ar, do défice hídrico, das temperaturas, &c. O risco "estrutural" é dado pelo declive, composição e densidade do coberto vegetal, ponderado com variáveis antrópicas como a densidade populacional, a distância à rede de estradas, &c.
Ainda na passada semana escutei uma palestra do professor José Miguel Cardoso Pereira do ISA, especialista em fogos florestais, explicar as conclusões a que a sua equipa de investigação tem chegado. Concluiram justamente que o vento Nordeste (e não Leste) é variável predictora muito robusta da deflagração de incêndios. Hás-de consultar os seus artigos.
Por mim, e por motivos de outra ordem, prefiro pensar que nem tudo é verdade no provérbio "de Espanha nem bom vento, nem bom casamento"...
Aproveitaria ainda para sugerir ao Henrique que nem só a cabra serve para reduzir a densidade do coberto vegetal e assim reduzir o risco de incêndio. Os veados também dão uma ajuda muito significativa, desde que os deixemos reproduzirem-se em número suficiente; e têm a vantagem de ser menos vorazes no pastoreio - não têm o hábito de arrancar e comer raízes, como sucede com as cabras.
Caro Pedro,
O busílis está exactamente no "a par de" de que falas. O que digo é que é vento Leste e o " a par de" é redundante.
Conheço naturalmente o trabalho do Zé Miguel Cardoso Pereira, que é de excelente qualidade, mas neste aspecto parece-me que estamos a complicar o que é simples: as condições de tempo associadas ao vento Leste estão sempre presentes nos grandes problemas relacionados com os fogos.
Também em relação à cabra o problema é igual. Não é a cabra, são os ruminantes em geral, mas a cabra é de longe a mais rústica de todos.
Para efeito da discussão essas nuances só servem para tapar o essencial.
henrique pereira dos santos
Confesso que não tive tempo para ler adequadamente o post.. mas fiquei com a sensação do autor ter descoberto a fórmula mágica dos incêndios em Portugal.
Matos + Ventos de Leste + X = Incêndios
Se os matos são o combustível e os ventos o meio de transporte... quem é o condutor?
Sim os incendios estao de volta e como sempre vivemos no pais do faz de contas, onde passamos por cima do essencial, ou seja quem nao tem fomentado politicas de limpeza da floresta?
Eu não tenho, nem existe, fórmulas mágicas dos incêndios. Existem sim dinâmicas de sistema que favorecem a propagação de incêndios.
A questão não saber se existem políticas de limpezas de matas, mas sim se são sustentáveis a longo prazo para contrariar a tendência natural de evolução rápida dos nossos matos.
Pessoalmente não acredito em políticas absurdas do ponto de vista económico.
Por isso vou falando da remoção de matas com pastoreio porque é racional economica e ambientalmente.
Tem problemas de execução, sim senhor, mas os problemas resolvem-se pensando neles e não procurando culpados e interesses obscuros.
henrique pereira dos santos
Enviar um comentário