No post abaixo Rosário Oliveira traz contributos interessantes ao debate sobre o que fazer como o nosso mundo rural.
Apesar da sua profissão de fé no facto dos pagamentos à produção e o pagamento de serviços estarem em instrumentos separados da PAC, o que evitaria confusões, vale a pena olhar para a realidade mais de perto.
Tomemos o exemplo da agora famosa medida agro-ambiental da redução da lixiviação de agro-químicos para os aquíferos.
A sua origem é exactamente a do tal instrumento do pagamento de serviços ambientais e não a do apoio à produção.
No essencial a medida prevê o pagamento de ajudas pela racionalização (que pressupõe a redução) na utilização de agro-químicos em determinados sistemas de produção agrícola.
Qual é o serviço ambiental produzido pelo agricultor? Nenhum, o agricultor recebe uma compensação por perda de rendimento decorrente da utilização de boas práticas agrícolas.
Ora é este tipo de confusão que tem sido uma tragédia em Portugal, a confusão entre apoio à produção, mesmo que mais ambiental, que é ainda assim apoio à produção e compensação da perda de rendimento, e o verdadeiro serviço ambiental prestado e não apropriável no mercado, por exemplo, quando se apoia a utilização de estrumes ou compostos produzidos a partir dos matos, em que estaremos a pagar o serviço de redução de combustível, redução essa que é uma mais valia produzida pela actividade agrícola mas que não lhe é essencial,(a confusão não decorre dos regulamentos da PAC mas das opções de Portugal na sua aplicação).
Poder-se-iam multiplicar os exemplos, mas parece-me que não vale a pena.
Uma referência ao dinheiro devolvido por falta de capacidade interna para a sua aplicação: muitas das medidas desenhadas pelos regulamentos portugueses de aplicação da PAC contêm entraves à sua aplicação brutais. Alguns deles pura e simplesmente parecem dirigir-se a um país de ficção que não existe. Portanto, uma parte da responsabilidade da devolução poderá ser falta de iniciativa, mas seguramente a maior parte decorre da vontade do país querer fazer uma agricultura cujo modelo é perfeitamente claro na cabeça dos seus mentores, mas tem o pequeno defeito de não ter nenhuma aderência à realidade. Vale a pena, a este respeito, consultar os estudos de Francisco Avillez sobre o rendimento e competitividade agrícolas em Portugal.
Uma última referência à ligação economia e conservação da natureza. Com base nas orientações de gestão do Plano Sectorial da Rede Natura foi desenvolvido pelo Instituto Superior de Agronomia, cordenado por Lima Santos, um estudo encomendado pelo ICN onde exactamente se identificam essas relações e, inclusivamente, se fazem as propostas de medidas, quantificadas, que permitam orientar as explorações agrícolas no sentido da produção de biodiversidade. A adopção de medidas de política nesse sentido (a forma possível dos impostos das comunidades urbanas e industriais pagarem os serviços prestados pelas comunidades rurais, quando o mercado não os valoriza).
Penso que o estudo estará disponível daqui a pouco tempo e constitui um interessante documento para esta discussão.
henrique pereira dos santos
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3 comentários:
"Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo
calai-vos que pode o povo
querer um mundo novo a sério"
António Aleixo
http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/fanhais-embora.html
João
Bioterra
É verdade que há serviços prestados pelos ecossistemas que não são pagos pelo mercado. Porém, se o fossem, quem deveria receber a recompensa? Deverá um proprietário de uma floresta abandonada, que não investe nem labora nela, receber uma recompensa pelos serviços prestados por essa mesma floresta? Isso parece-me ser aquilo a que os economistas chamam de "free ride"...
Respondendo ao Pedro:
Se o acto de "nao gestao" for a forma de gestao que melhor servir a propriedade, o proprietario deve ser recompensado por esse acto.
Mas a remuneracao pelos servicos dos ecossistemas nao presupoe "free ride". Pressupoe que os servicos sejam identificados, quantificados e remunerados na sua justa medida.
Por exemplo, o pequeno proprietario florestal que nada faz na sua propriedade e com isso ajuda a propagacao de incendios nao esta' necessariamente a prestar um servico util a' sociedade. Se, pelo contrario, meter uma cabras que facam a gestao do sub-coberto, pode estar a contribuir para o servico "proteccao contra os incendios". Se o numero de cabras for excessivo, essa gestao pode contribuir para o avanco da erosao, descontando assim nos servicos positivos prestados.
O sistema e' complexo mas ja' funciona na Holanda onde a remuneracao ao agricultor nao e' feita pelo simples contrato de gestao - como funciona em UK ha' bastante tempo - mas pelos resultados dessa gestao em termos de servicos de ecossistemas prestados.
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