segunda-feira, junho 19, 2006

As alterações climáticas poderão ameaçar os anfíbios e répteis do Sudoeste da Europa

Número de espécies de anfíbios cujas condições climáticas poderão ser desfavoráveis em 2050. Cores quentes representam números elevados de espécies com condições desfavoráveis.

Comunicado de imprensa:

As alterações climáticas previstas poderão causar contracções substanciais nas distribuições de anfíbios e répteis do sudoeste da Europa, de acordo com um novo estudo publicado na revista "Journal of Biogeography". A equipa liderada pelo investigador Miguel Araújo projectou as distribuições de 42 espécies de anfíbios e 66 espécies de répteis, nos próximos 20-50 anos, utilizando 4 cenários de emissões de gases de estufa propostos pelo Painel Inter-governamental sobre Alterações Climáticas assim como 2 modelos climáticos (HadCM3 e CSIRO2). Os investigadores descobriram que os aumentos previstos temperatura não seriam causa provável de declínio das espécies de anfíbios e répteis na Europa. Um cenário de arrefecimento global seria, na realidade, bastante pior.

No entanto, o aumento de aridez previsto para o sudoeste da Europa poderá causar reduções acentuadas na área de distribuição de quase todas as espécies de anfíbios e répteis que ocorrem actualmente em Portugal, Espanha e França. Os impactes que se prevêem para estes Países não são triviais dado o facto de albergarem 62% de todas as espécies de anfíbios e répteis que ocorrem na Europa. A elevada percentagem de anfíbios e répteis que ocorrem nestes três Países deve-se ao facto da Península Ibérica ter constituído um importante refugio para a sobrevivência de espécies de anfíbios e répteis durante os períodos glaciares que antecederam o período quente actual. Segundo Miguel Araújo a verificarem-se as alterações climáticas previstas, "estas regiões que foram chave para a sobrevivência dos anfíbios e répteis poderão transformar-se em regiões com elevadas taxas de extinção".

Pode aceder ao artigo completo aqui

Notícias sobre esta notícia: Blackwell Science; Ciência Hoje; Diario Siglo XXI; Jornal de Notícias; Metro Espanha, MNCN, Rádio Renascença

Respostas a eventuais perguntas sobre este artigo serão dadas no espaço de comentários deste “post”

11 comentários:

Farplex disse...

Tomei conhecimento deste post através de dois jornais (o diário de Viseu e o Jornal de noticias), achei um assunto extremamente interessante, até porque sou estudante de Engenharia do Ambiente.As alterações climáticas fazem se sentir das mais variadas formas no quotidiano, como é o caso dos fenómenos climatéricos da semana anterior.Em relação à diminuição drástica da população de repteis na Europa pode ser catastrófica se enquadrarmos o assunto na cadeia alimentar destas espécies, a alteração da balança ecológica em favor de outras espécies como por exemplo ratos e insectos e o que isso pode afectar organismos primários ou outras espécies, sem contar claro com as próprias modificações inerentes às próprias alterações climáticas que terão os seus efeitos específicos em cada espécie.Estamos perante um novo ciclo evolutivo onde a biodiversidade irá claramente sofrer alterações.Um assunto meritório de estudo aprofundado e diversificado nas suas mais variadas vertentes.

Anónimo disse...

Os meus caros amigos, que tanto sabem sobre as alterações climáticas a observar no ano 2050, importam-se de me dizer se vai haver alterações climáticas no próximo mês de Agosto, durante o qual tenciono dar uma volta pela Europa?
Antecipadamente grato
Jorge Oliveira

Miguel B. Araujo disse...

Caro Jorge Oliveira

Agradeço que tenha feito essa pergunta pois permite-me esclarecer um aspecto que não está escrito no comunicado mas que importa clarificar. Os modelos que utilizamos para prever a resposta das espécies a alterações climáticas são altamente condicionais. Isto é, os seus “outputs” dependem dos “inputs” utilizados, sendo que os “inputs” constituem os cenários climáticos para o futuro.

Ora, o papel dos que medem os possíveis IMPACTES das alterações climáticas não é modelizar alterações do clima, mas medir possíveis respostas dos sistemas a estas alterações. Portanto, o tipo de incerteza com que lidamos não é tanto a que está associada ao sistema climático – que não modelizamos, i.e., utilizamos modelos existentes – mas a que está associada ao sistema que responde ao clima.

E creia, caro Jorge Oliveira, que estas incertezas não são despiciendas. Mas se ler o artigo agora publicado com alguma atenção verá que o tema das incertezas é tratado não só de forma retórica mas analítica.

Já agora: vejo que faz uma confusão frequente entre “clima” e “tempo”. Os modelos climáticos não prevêem oscilações de tipo, “o vai acontecer em Agosto”. Essas previsões são feitas pelos modelos meteorológicos. Os modelos climáticos prevêem alterações nas tendências e por essa razão os utilizadores deste tipo de modelos recorrem frequentemente a médias climáticas entre vários anos pois assim reduz-se a ilusão de precisão que os modelos não possuem. No caso vertente do nosso artigo recorremos a uma média climática de 30 anos!!! Entre 2020 e 2050. Certamente que haverá erros nos 2 modelos climáticos x 3 cenários de emissões utilizados mas fazendo médias retiramos a tendência geral da alteração prevista em vez de nos detalharmos sobre variações de pormenor que estarão inevitavelmente erradas.

Espero que estes comentários ajudem uma maior clarificação do que está em causa.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Ainda sobre a cadeia alimentar das espécies e a alteração do equilíbrio ecológico, favorecendo espécies perigosas para a saúde pública como é o caso de ratos e insectos, gostaria de chamar a atenção para o facto de que, segundo a opinião de veterinários exercendo na grande área de Lisboa e Vale do Tejo, nos últimos 3 anos se tem feito sentir, nomeadamente nos cães, um aumento significativo de Leishmaniose, que até aqui tem vitimado sobretudo raças grandes mas, este ano já surgiram raças pequenas com despiste positivo. Aliás, há já quem diga que também as pessoas estão já a sofrer do mesmo mal. Será que se repetirá o mesmo que no Brasil?!
Se juntarmos a imundície existente em determinados rios e ribeiras... bem depressa sofreremos dos mesmos males do Terceiro Mundo.

Anónimo disse...

Agradeço as explicações mas mantenho algumas dúvidas :
Qual é, concretamente, a diferença entre “tempo” e “clima”?
Os ambientalistas utilizam modelos diferentes para prever o tempo e o clima?
A Física tem comportamentos distintos, melhor dizendo, necessita de modelos diferentes, consoante o prazo em estudo?
Qual a razão por que as previsões, mediante modelos, falham a partir de alguns dias, digamos dois ou três dias, e hão-de acertar para dezenas de anos?
Fazer previsões, ou projecções, a um século de distância não poderá será uma impostura científica?
Os modelos previram a queda de neve em Portugal no dia 29 de Janeiro, p.p.?
Os modelos são capazes de prever queda de neve no próximo Inverno?
Confesso que alimento fortíssimas dúvidas acerca da validade dos modelos que são utilizados nesta matéria. Parece-me que os ambientalistas alimentam um certo gosto em viver sob a ameaça permanente de desgraças, catástrofes, cataclismos.

Para terminar, recomendo a leitura de dois artigos que considero elucidativos :
O primeiro, no original, pode encontrar aqui :

http://www.cato.org/pubs/regulation/reg15n2j.html

com tradução para português aqui :

http://resistir.info/climatologia/lindzen_rev2.html

O segundo artigo é este :

http://www.john-daly.com/hockey/hockey.htm

com tradução para português aqui :

http://resistir.info/climatologia/falsificacao_da_historia_climatica.html

Os meus cumprimentos
Jorge Oliveira

Miguel B. Araujo disse...

Caro Jorge Oliveira

Agradeço as suas interessantes perguntas. Não sendo climatólogo temo decepciona-lo pois as minhas respostas e comentários roçam, inevitavelmente, a superficialidade ou mesmo a banalidade. Mas enfim, cada um aprofunda aquilo que pode. Em todo o caso existem algumas banalidades que podem ser ditas como resposta às suas perguntas.

---> “Qual é, concretamente, a diferença entre “tempo” e “clima”?”

O “tempo” refere-se às condições atmosféricas (temperatura, precipitação, vento, etc) num horizonte temporal limitado: hoje, amanhã, na próxima semana, etc.

O “clima” refere-se as condições do “tempo” num horizonte temporal maior (décadas, séculos, etc).

Por exemplo, pode chover em Junho (tempo) mas tal não obsta que as condições atmosféricas que se vivem em grande parte do País tenham feição Mediterrânea (clima), ou seja, que haja uma tendência para chover mais no inverno do que no verão, sendo que os verões são tradicionalmente quentes e os invernos frescos.

Quando se fala de clima, fala-se de condições atmosféricas médias definindo-se grandes regimes climáticos (polar, tropical húmido, tropical seco, etc). Quando se fala de tempo, fala-se das condições meteorológicas concretas que vão acontecer nas próximas horas ou dias.

---> “Os ambientalistas utilizam modelos diferentes para prever o tempo e o clima?”

A pergunta revela algum preconceito: os ambientalistas não utilizam modelos. Quem os utiliza são os climatólogos que poderão ser, no foro interno, ambientalistas, ou não, mas não é nessa qualidade que fazem modelos e estudam o clima.

Mas respondendo a sua pergunta. As previsões meteorológicas recorrem ao auxílio de imagens de satélite, combinando-os com modelos gerais de circulação da atmosfera, para prever a evolução das condições atmosféricas podendo, assim, fazer previsões bastante precisas em horizontes temporais curtos. Estas previsões podem ser alteradas consoante o evoluir da “realidade” podendo-se prever, com um grau de certeza razoável, o que tempo que fará nos próximos 5 minutos ou uma hora. A precisão perde-se, devido ao famoso “efeito borboleta”, com o aumento do horizonte temporal das previsões.

Como é natural, os climatólogos não dispõem de imagens de satélite para o futuro pelo que qualquer alusão à precisão dos modelos climáticos é meramente ilusória. As projecções feitas em climatologia recorrem a modelos gerais de circulação dos oceanos e da atmosfera e são cada vez mais complexos mas que nunca poderão prever o que se passará no dia 23 de junho de 2080.

---> “A Física tem comportamentos distintos, melhor dizendo, necessita de modelos diferentes, consoante o prazo em estudo?”

O que pode parecer “caos” numa escala próxima pode transformar-se em “ordem” numa escala remota. Este principio aplica-se à climatologia mas também outras as facetas do conhecimento e da vida.

---> “Qual a razão por que as previsões, mediante modelos, falham a partir de alguns dias, digamos dois ou três dias, e hão-de acertar para dezenas de anos?”

Porque a natureza do que se prevê é diferente. É mais difícil prever, com base no conhecimento actual, o “tempo” no dia 2 de Novembro de 2006 do que o “clima” no dia 2 de Novembro de 2016.

---> “Fazer previsões, ou projecções, a um século de distância não poderá será uma impostura científica?”

Palavra impostura é pesada e quem trabalha nestas coisas distingue o conceito de previsão e projecção. Uma previsão é uma estimativa sobre o que vai passar. Uma projecção é o resultado de A + B, sendo que este resultado é obviamente condicionado por A e por B assim como por factores C e D que poderão não ser considerados na equação por ignorância dos processos em causa ou por incapacidade de medir os referidos parâmetros. Quem fala em projecções está a assumir uma postura de grande rigor. Quem fala em previsões, sobretudo quando estas são feitas para horizontes temporais remotos, pode estar a meter-se em sarilhos.

Mas é verdade que a linguagem pode ser fluída e que as pessoas, para colorir as suas afirmações e enriquecer o vocabulário, recorram, por vezes, a expressões menos precisas. Meia culpa pois é provável que o tenha feito alguma vez. Mas também é verdade que o tema climático está bastante politizado – de parte a parte – pelo que a linguagem é usada frequentemente como arma de arremesso (veja-se o seu recurso à palavra impostura, ou ambientalistas, para referir-se aos climatólogos que trabalham na área) mais do que como instrumento de clarificação.

---> “Os modelos previram a queda de neve em Portugal no dia 29 de Janeiro, p.p.? Os modelos são capazes de prever queda de neve no próximo Inverno?”

Os modelos meteorológicos previram o fenómenos com uma antecedência, creio, de menos de uma semana. Alguém que me corrija se estou errado. Se bem lembro, a queda de neve deveu-se a uma descida da massa de ar frio da Sibéria, em virtude da subida para nordeste do Anticiclone dos Açores. Estas dinâmicas são de tipo caótico e não são alvo de previsão por parte dos modelos climáticos. Ou seja, podem ser alvo de projecção mas não constituem uma previsão per se.

---> “Confesso que alimento fortíssimas dúvidas acerca da validade dos modelos que são utilizados nesta matéria. Parece-me que os ambientalistas alimentam um certo gosto em viver sob a ameaça permanente de desgraças, catástrofes, cataclismos.”

As dúvidas são saudáveis. Não há evolução do conhecimento sem dúvida metódica e certamente que as dúvidas são sempre mais importantes do que as certezas. A questão é o que fazer perante as dúvidas e o conhecimento que se vai tendo. Mas essa é outra conversa.

Quanto aos ambientalistas gostarem das más notícias. Também é outra conversa que eu não misturaria com a questão do clima versus tempo + incerteza. Se enveredássemos por aí teríamos que fazer uma mudança de angulo da climatologia para a psicologia social.

Interessantíssimo mas talvez fique para outro “post”.

Cumprimentos,

Anónimo disse...

Caro Miguel Araújo

Eu agradeço a paciência que teve em me responder, mas confesso que continuo muito céptico relativamente aos alegados perigos do "aquecimento global", às míticas benfeitorias do Protocolo de Kyoto e aos cataclimos que nos esperam se não tivermos fé na palavra dos cavalheiros do IPCC.

E isto porque, precisamente, na questão do "aquecimento global", como, aliás, no caso da energia nuclear, as populações foram empurradas para os terrenos da "Fé".

Desde tempos imemoriais que os arautos das desgraças invocam a Fé.

Pela minha parte sou insensível aos anúncios de desgraças. Sobretudo às que são projectadas para daqui a 100 anos.

Os meus cumprimentos
Jorge Oliveira

Miguel B. Araujo disse...

Caro Jorge Oliveira

Entendo a sua posição e respeito-a. Mas sabe, quer o “optimismo” como o “cépticismo”, quando escessivos, sugerem razões de fé. O mais provável é que a virtude esteja algures no meio.

Cumprimentos e obrigado pela oportunidade que me deu de esclarecer alguns pontos de vista menos bem explicados no comunicado que publiquei no blog.

Cumprimentos,

Anónimo disse...

Caro Pedro Martins Barata
Faz todo o sentido a sua observação acerca da confluência de posições que refere. Recorda-me os tempos do PREC (eu tinha 28 anos anos quando aconteceu o 25 de Abril), em que também se tornava estranha a confluência de posições entre o MRPP e os partidos mais à direita ...
Perante situações estranhas é prudente ficar de pé atrás. É exactamente a posição que adopto relativamente ao “aquecimento global”, ao Protocolo de Kyoto, à co-incineração, ao aeroporto da OTA e por aí fora. A gente não entende, a gente tem dúvidas, a gente não tem que aderir.
Cumprimentos
Jorge Oliveira

sofia disse...

era bom que nos preocupassemos com o que acontece daqui a 100 anos, caro jorge oliveira. bla bla gerações futuras, bla bla desenvolvimento sustentável, enfim, penso que sabe..
mais do que isso era bom que o sentíssemos, que sentíssemos que nos devíamos preocupar com o futuro dos filhos, netos, bisnetos de todos nós.
como aquela canção do sting dizia "What might save us me and you
Is that the Russians love their children too". era noutro contexto e agora o que se quer é que todos amem os seus filhos...

Anónimo disse...

Cara Sofia
Compreendo o que diz. Tenho cinco filhos e cinco netos. Já fiz bastante pela demografia nacional ...
Também me preocupo com o futuro deles e com o futuro do planeta em que vão viver.
Mas não quero que vivam no terror do que vai passar-se daqui a cem anos. Quero que se protejam daqueles que os rodeiam ... hoje.
Cumprimentos
Jorge Oliveira