Vi há bocado no boletim meteorológico que no interior do Algarve o vento soprará de Leste. E pareceu-me ser essa a direcção do vento em quase todo o interior. A ser assim, e a manter-se dois ou três dias, veremos crescer significativamente o problema dos fogos que não acabam (volto a dizer, o problema em Portugal não é tanto o de saber como começam os fogos, mas porque não conseguimos pará-los).
henrique pereira dos santos
segunda-feira, julho 10, 2006
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4 comentários:
Eu de facto não reclamo qualquer rigor científico em relação ao que digo: limito-me a descrever o que vejo, medeado pelo que leio.
Não sou cientista, não sou investigador, não trabalho na área, sou um "pobre homem da póvoa", apesar de não ser da Póvoa.
E no entanto isso não quer dizer que o que eu digo não esteja certo, quer apenas dizer que é uma opinião cientificamente pouco fundamentada, o que são coisas substancialmente diferentes.
henrique pereira dos santos
E já agora.
De facto não se tem verificado o vento Leste cuja possibilidade constava da previsão (talvez qualquer coisa no interior do Algarve) e o facto é que tem havido fogos mas extinguem-se com rapidez.
Anteontem, nove de Julho, houve um pico que quase duplicou o número do fogos do dia 8 e do dia 10 (e foi o dia da morte dos seis bombeiros) mas os fogos foram sendo extintos com mais ou menos facilidade.
Foi exactamente o dia em que o site do instituto de meteorologia apontava, na cartografia do tempo presente, por regiões, mais setinhas de vento leste no interior.
Ontem e hoje já lá não constam setinhas com essa direcção (com excepção do interior do Algarve).
Nenhuma destas observações tem qualquer validade científica, mas lá que é uma coincidência que verifico há anos, lá isso é.
Lembro-me sempre do livro da Susanne Daveau sobre o ritmo e a repartição das chuvas em Portugal, em que exactamente ela interpretava, aí sim, com métodos científicos, os dados de cada valor excepcional nas estações com base nas condições de tempo daquele dia (que é do que trata o boletim meteorológico) em vez de os descartar como valores estatisticamente discrepantes, como era a norma. Há medida que se foi apertando a malha de medição foi também sendo feita a demonstração de como ela, e não os climatologistas, tinha razão.
Eu não sou a Suzanne Daveau, mas acho que o que verdadeiramente faz andar o conhecimento é a interpretação do que não cabe nos modelos e obriga à sua revisão.
henrique pereira dos santos
o meu objectivo não é o de defender o HPS, que não precisa, mas não há qualquer dúvida que os dias de vento leste no Verão são aqueles em que há maior probabilidade de ocorrerem grandes incêndios (assim como os dias frios e secos de vento leste no Inverno são aqueles mais propícios à prática do fogo controlado). Porque são ventos de leste? Não, porque estão invariavelmente associados a massas de ar muito seco e quente e instável, por vezes com trovoadas secas, e este padrão é universal, aqui, na Califórnia ou na Austrália. Os estudos sobre a relação causa-efeito entre estas condições meteorológicas e a velocidade e intensidade do fogo são abundantes. Um estudo na área da meteorologia do fogo para Portugal mostrou que 80% da área ardida concentra-se em muitos poucos dias do ano, e esses poucos dias do ano correspondem exactamente ao tipo de tempo com circulação do quadrante leste.
Agradeço ao Paulo Fernandes a caução científica.
A questão seguinte que se põe é a de saber que sendo assim, isto é, sabendo nós que existem condições estruturais do mundo rural que favorecem a acumulação de combustíveis, sabendo que há condições meteorológicas específicas de uma dúzia de dias no ano que conduzem fatalmente a desastre social dos fogos, sabendo que grande parte dessas condições são específicas, ou pelo menos têm especificidades significativas em Portugal, por que razão insistimos em não tornar isso claro quer nas políticas gerais para o mundo rural, quer no planeamento e combate aos fogos?
henrique pereira dos santos
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